Mauro Ferreira no G1

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sexta-feira, 6 de maio de 2016

'Afrofuturista' reafirma força da raça de Oléria ao reciclar negritude ancestral

Resenha de álbum
Título: Afrofuturista
Artista: Ellen Oléria
Gravadora: Edição independente da artista
Cotação: * * * 1/2

Não, Ellen Oléria não foi nuvem passageira. Projetada em escala nacional ao sair vitoriosa da primeira temporada do programa The voice Brasil, exibida em 2012 pela TV Globo, a cantora e compositora de Brasília (DF) - recém-radicada na cidade de São Paulo (SP) - retoma o fluxo autoral da discografia solo aos 33 anos com a edição de Afrofuturista. Terceiro álbum solo dessa artista que já tem discos gravados com as bandas Pretu.utu e Soatá, Afrofuturista investe na reciclagem de ritmos da música preta brasileira com as programações e beats eletrônicos do tecladista Felipe Viegas, piloto do disco na produção formatada em Brasília (DF) e assinada com Oléria. O toque dos atabaques e agogôs do percussionista baiano Gabi Guedes - integrante da exuberante Orkestra Rumpilezz - revolve a raiz negra do som, revitalizada na mixagem com as batidas contemporâneas. Mendes é músico fundamental na arquitetura de faixas como a regravação do Afoxé do Mangue (Elielson Coelho, 2015), precedida no CD por introdução composta pelo arranjador da faixa, Felipe Martins, e gravada com mix de vozes, violões, teclados e efeitos percussivos. Sem reinventar a roda, Afrofuturista transita nessa ponte entre o ancestral e o contemporâneo sem se escorar em sucessos da música brasileira, pilar que sustentou o antecessor Ellen Oléria (Universal Music, 2012), álbum que tirou a artista do gueto black e com o qual Oléria driblou interferências e ruídos da gravadora, fazendo valer, no fim das contas, a personalidade indomada que a jogou novamente às margens do selvagem mercado fonográfico. Sem músicas de gigantes da música brasileira, como Jorge Ben Jor e Milton Nascimento, Afrofuturista apresenta repertório autoral de menor estatura, mas cresce com a força da mistura e (re)afirma a força da raça de Oléria. "Ofereço o que eu posso ofertar / Minha voz no ar", avisa de cara a cantora, compositora e multi-instrumentista na música-síntese do conceito do disco, Afrofuturo (Ellen Oléria). Alocada na abertura do álbum, Afrofuturo reaparece no fecho, em remix azeitado feito pelo produtor e DJ curitibano Nave Beatz. Entre uma versão e outra da música, Oléria evoca traços da arquitetura concreta da Brasília (DF) natal em A nave (Ellen Oléria) e baixa a voltagem rítmica do ritmo em duas canções, Slow motion (Ellen Oléria) e Luz do amor (Ellen Oléria), de natureza romântica. A propósito, a esposa, empresária e musa da artista, Poliana Martins, tem o caloroso e sensual poema Eu posso ser mais recitado por Oléria no disco ao som dos teclados de Felipe Viegas, Contudo, é quando cai no suingue do Forró da Olinta (Ellen Oléria) - tema que está mais para Ile Aiyê do que para Luiz Gonzaga (1912 - 1989) - e do Samba da Zefa (Ellen Oléria) que a cantora e compositora mais brilha em Afrofuturista. O fogo da mistura aquece e eleva o disco em que Oléria também se conecta com a cantora e compositora cubana Yusa, parceira e convidada de Areia, fluida balada bilíngue (em português e em espanhol) valorizada pelos belos vocais (em tons similares ao do grupo Boca Livre) do arranjo assinado por Oléria com Juninho de Souza e com Pedro Martins. Já Mandala (Ellen Oléria) remexe em poeira ruralista espalhada pelo vento espacial-futurista que carrega o álbum para uma galáxia musical até então nunca habitada por Oléria. À vontade nesse espaço sideral e ancestral, sem (re)negar a força da raça, Ellen Oléria continua se recusando a sumir como nuvem passageira na poeira da estrada...

8 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Não, Ellen Oléria não foi nuvem passageira. Projetada em escala nacional ao sair vitoriosa da primeira temporada do programa The voice Brasil, exibida em 2012 pela TV Globo, a cantora e compositora de Brasília (DF) - recém-radicada na cidade de São Paulo (SP) - retoma o fluxo autoral da discografia solo aos 33 anos com a edição de Afrofuturista. Terceiro álbum solo dessa artista que já tem discos gravados com as bandas Pretu.utu e Soatá, Afrofuturista investe na reciclagem de ritmos da música preta brasileira com as programações e beats eletrônicos do tecladista Felipe Viegas, piloto do disco na produção formatada em Brasília (DF) e assinada com Oléria. O toque dos atabaques e agogôs do percussionista baiano Gabi Mendes - integrante da exuberante Orkestra Rumpilezz - revolve a raiz negra do som, revitalizada na mixagem com as batidas contemporâneas. Mendes é músico fundamental na arquitetura de faixas como a regravação do Afoxé do Mangue (Elielson Coelho, 2015), precedida no CD por introdução composta pelo arranjador da faixa, Felipe Martins, e gravada com mix de vozes, violões, teclados e efeitos percussivos. Sem reinventar a roda, Afrofuturista transita nessa ponte entre o ancestral e o contemporâneo sem se escorar em sucessos da música brasileira, pilar que sustentou o antecessor Ellen Oléria (Universal Music, 2012), álbum que tirou a artista do gueto black e com o qual Oléria driblou interferências e ruídos da gravadora, fazendo valer, no fim das contas, a personalidade indomada que a jogou novamente às margens do selvagem mercado fonográfico. Sem músicas de gigantes da música brasileira, como Jorge Ben Jor e Milton Nascimento, Afrofuturista apresenta repertório autoral de menor estatura, mas cresce com a força da mistura e (re)afirma a força da raça de Oléria. "Ofereço o que eu posso ofertar / Minha voz no ar", avisa de cara a cantora, compositora e multi-instrumentista na música-síntese do conceito do disco, Afrofuturo (Ellen Oléria). Alocada na abertura do álbum, Afrofuturo reaparece no fecho, em remix azeitado feito pelo produtor e DJ curitibano Nave Beatz. Entre uma versão e outra da música, Oléria evoca traços da arquitetura concreta da Brasília (DF) natal em A nave (Ellen Oléria) e baixa a voltagem rítmica do ritmo em duas canções, Slow motion (Ellen Oléria) e Luz do amor (Ellen Oléria), de natureza romântica. A propósito, a esposa, empresária e musa da artista, Poliana Martins, tem o caloroso e sensual poema Eu posso ser mais recitado por Oléria no disco ao som dos teclados de Felipe Viegas, Contudo, é quando cai no suingue do Forró da Olinta (Ellen Oléria) - tema que está mais para Ile Aiyê do que para Luiz Gonzaga (1912 - 1989) - e do Samba da Zefa (Ellen Oléria) que a cantora e compositora mais brilha em Afrofuturista. O fogo da mistura aquece e eleva o disco em que Oléria também se conecta com a cantora e compositora cubana Yusa, parceira e convidada de Areia, fluida balada bilíngue (em português e em espanhol) valorizada pelos belos vocais (em tons similares ao do grupo Boca Livre) do arranjo assinado por Oléria com Juninho de Souza e com Pedro Martins. Já Mandala (Ellen Oléria) remexe em poeira ruralista espalhada pelo vento espacial-futurista que carrega o álbum para uma galáxia musical até então nunca habitada por Oléria. À vontade nesse espaço sideral e ancestral, sem (re)negar a força da raça, Ellen Oléria continua se recusando a sumir como nuvem passageira na poeira da estrada...

Vinny disse...

Ellen é uma das maiores vozes do país, estou muito ansioso pra ouvir o Afrofuturista, sem a castraçõao da gravadora, apesar de gostar muito do CD antigo.

Rhenan Soares disse...

Eu estava bem louco de ansiedade esperando por esta resenha, hein? Mas, como sei que você é um só, fiquei quietinho. Ellen é uma deusa, maravilhosa. E sempre foi, desde que começou a encantar Brasília nos shows abertos que fazia em meio aos monumentos da cidade. Tenho muita admiração e muito respeito. Uma artista honestíssima com o trabalho, que valoriza muito os músicos e as pessoas que trabalham com ela, e por isso consegue resultados incríveis. Amei o disco, tenho escutado muito e adoro que é um disco longo (a versão digital tem 17 faixas). Na terça-feira pude vê-la cantando um repertório especial, com trilhas de novelas, no evento de recepção da tocha olímpica aqui em Brasília. Fiquei impressionado com a interpretação de "Pavão Mysterioso". Precisa entrar pros shows. É uma artista enorme e eu espero que o Brasil ofereça o prestígio que ela merece. Certamente esta resenha contribuirá muito para isso. <3

Rafael disse...

O disco parece estar muito bom, ainda não escutei o mesmo...

Unknown disse...

Bom dia, Mauro! Escrevo-lhe primeiramente parabenizando-lhe pelo seu trabalho e pelas suas resenhas, sempre ricas em informações relevantes.
Escrevo também para sugerir uma correção na resenha do novo disco da Ellen Oléria: no texto, o nome do percussionista da Rumpilezz que participa do disco aparece como Gabi Mendes, mas o correto é Gabi Guedes, mestre da percussão, além de ser uma pessoa de uma simplicidade ímpar.
Até breve!

Mauro Ferreira disse...

Grato pelo toque, Pedro. Já corrige o sobrenome do Gabi. Abs, MauroF

Henrique disse...

Lucy Alves e Ellen Oléria são as grandes artistas que o The Voice nos deixou até agora.

Narciso disse...

Só digo uma coisa: há uma semana "Afrofuturista" nao sai da minha playlist.
#Viciado