Mauro Ferreira no G1

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sábado, 12 de março de 2016

Em show, Jussara oscila sem inventar lua nova para clarear Beto e Ronaldo

Resenha de show
Título: Pedras que rolam, objetos luminosos
Artista: Jussara Silveira (em foto de Rodrigo Goffredo)
Local: Arena do Espaço Sesc Copacabana (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 11 de março de 2016
Cotação: * * 1/2

Jussara Silveira é daquelas grandes cantoras do Brasil capazes de reproduzir no palco a emissão perfeita de gravação de estúdio. Foi assim no primeiro número da estreia carioca do show Pedras que rolam, objetos luminosos, baseado no homônimo álbum de 2015 em que a cantora de origem mineira dá voz cristalina a dez parcerias de Beto Guedes com Ronaldo Bastos. Ao cantar O amor não precisa razão (Beto Guedes, Ricardo Milo e Ronaldo Bastos, 1984) na penumbra, com a arena do Espaço Sesc Copacabana quase às escuras, Jussara expôs de cara toda a luminosidade dessa canção até então esquecida na discografia de Guedes. Mas, à medida que a apresentação de 11 de março de 2016 foi evoluindo, a cantora oscilou e revelou surpreendente insegurança com as letras de algumas músicas, sobretudo com a de O sal da terra (Beto Guedes e Ronaldo Bastos, 1981), lida em cena pela intérprete. Para arrematar, problema em uma das caixas de som levou o show a ser interrompido por alguns minutos para que a questão técnica fosse sanada. E o fato é que - ao menos na estreia carioca - o show soou inferior ao álbum Pedras que rolam, objetos luminosos, lançado pela Dubas Música. A cantora era ótima. As músicas eram boas. A banda arregimentada para o show - Alberto Continentino (baixo), André Valle (guitarra), Humberto Barros (piano e teclados) e Marcelo Costa (bateria) - se revelou um quarteto fantástico, hábil ao reproduzir ao vivo, em músicas como Pedras rolando (Beto Guedes e Ronaldo Bastos, 1979), a sonoridade meio prog que deu o tom de várias gravações de Beto Guedes. Compositor mineiro que esteve presente (como intérprete) no célebre álbum duplo Clube da Esquina (EMI-Odeon, 1972), Guedes encontrou nos versos do poeta e compositor fluminense Ronaldo Bastos - sócio do clube mineiro e parceiro de Milton Nascimento na antológica Cais, música lindamente cantada por Jussara em outro instante de luminosidade no show (inclusive pela sonoridade inebriante do arranjo) - o parceiro ideal para propagar ideais de amor e paz. De certa forma, a positivista parceria de Beto e Ronaldo - profícua entre a segunda metade da década de 1970 e a primeira metade dos anos 1980 - reverberou uma ideologia riponga, traduzida no show inclusive pelo figurino casual da cantora. É uma música que flertava tanto com a MPB quanto com o universo pop da época. Lumiar (Beto Guedes e Ronaldo Bastos, 1977), cantada por Jussara na batida do pop rock, exemplifica com perfeição a natureza da obra dos compositores. Parafraseando verso de Cais, Jussara Silveira não inventa lua nova para clarear outros horizontes da parceria. O tributo é reverente e, no show, extrapola a parceria. Às dez músicas do disco, Jussara acrescenta outras cinco. São músicas de Beto e Ronaldo com outros parceiros, caso de Luz e mistério (1978), parceria bissexta de Beto com Caetano Veloso. Até uma parceria dos irmãos Lô Borges e Márcio Borges, Um girassol da cor de seu cabelo (1972), aparece no roteiro. Só que nem tudo caiu bem na voz de Jussara. Feira moderna (Beto Guedes, Lô Borges e Fernando Brant, 1970), por exemplo, pareceu fora do tom no canto da intérprete. A rigor, o show nem sempre evidenciou a luminosidade das canções. Já Choveu (Beto Guedes e Ronaldo Bastos, 1977) fez florescer tempo de delicadeza no toque do piano de Humberto Barros - cujos teclados foram essenciais para a recriação da sonoridade da obra de Beto - em número lírico que culminou com a reprodução em off, na voz de Leonel Pereda, de versos de Zorongo, escritos pelo poeta e dramaturgo espanhol Federico García Lorca (1898 - 1937). Enfim, houve luz. Mas houve também o mistério, o imponderável. Um disco excelente resultou em cena em show de luminosidade irregular.

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Jussara Silveira é daquelas grandes cantoras do Brasil capazes de reproduzir no palco a emissão perfeita de gravação de estúdio. Foi assim no primeiro número da estreia carioca do show Pedras que rolam, objetos luminosos, baseado no homônimo álbum de 2015 em que a cantora de origem mineira dá voz cristalina a dez parcerias de Beto Guedes com Ronaldo Bastos. Ao cantar O amor não precisa razão (Beto Guedes, Ricardo Milo e Ronaldo Bastos, 1984) na penumbra, com a arena do Espaço Sesc Copacabana quase às escuras, Jussara expôs de cara toda a luminosidade dessa canção até então esquecida na discografia de Guedes. Mas, à medida que a apresentação de 11 de março de 2016 foi evoluindo, a cantora oscilou e revelou surpreendente insegurança com as letras de algumas músicas, sobretudo com a de O sal da terra (Beto Guedes e Ronaldo Bastos, 1981), lida em cena pela intérprete. Para arrematar, problema em uma das caixas de som levou o show a ser interrompido por alguns minutos para que a questão técnica fosse sanada. E o fato é que - ao menos na estreia carioca - o show soou inferior ao álbum Pedras que rolam, objetos luminosos, lançado pela Dubas Música. A cantora era ótima. As músicas eram boas. A banda arregimentada para o show - Alberto Continentino (baixo), André Valle (guitarra), Humberto Barros (piano e teclados) e Marcelo Costa (bateria) - se revelou um quarteto fantástico, hábil ao reproduzir ao vivo, em músicas como Pedras rolando (Beto Guedes e Ronaldo Bastos, 1979), a sonoridade meio prog que deu o tom de várias gravações de Beto Guedes. Compositor mineiro que esteve presente (como intérprete) no célebre álbum duplo Clube da Esquina (EMI-Odeon, 1972), Guedes encontrou nos versos do poeta e compositor fluminense Ronaldo Bastos - sócio do clube mineiro e parceiro de Milton Nascimento na antológica Cais, música lindamente cantada por Jussara em outro instante de luminosidade no show (inclusive pela sonoridade inebriante do arranjo) - o parceiro ideal para propagar ideais de amor e paz. De certa forma, a positivista parceria de Beto e Ronaldo - profícua entre a segunda metade da década de 1970 e a primeira metade dos anos 1980 - reverberou uma ideologia riponga, traduzida no show inclusive pelo figurino casual da cantora. É uma música que flertava tanto com a MPB quanto com o universo pop da época. Lumiar (Beto Guedes e Ronaldo Bastos, 1977), cantada por Jussara na batida do pop rock, exemplifica com perfeição a natureza da obra dos compositores. Parafraseando verso de Cais, Jussara Silveira não inventa lua nova para clarear outros horizontes da parceria. O tributo é reverente e, no show, extrapola a parceria. Às dez músicas do disco, Jussara acrescenta outras cinco. São músicas de Beto e Ronaldo com outros parceiros, caso de Luz e mistério (1978), parceria bissexta de Beto com Caetano Veloso. Até uma parceria dos irmãos Lô Borges e Márcio Borges, Um girassol da cor de seu cabelo (1972), aparece no roteiro. Só que nem tudo caiu bem na voz de Jussara. Feira moderna (Beto Guedes, Lô Borges e Fernando Brant, 1970), por exemplo, pareceu fora do tom no canto da intérprete. A rigor, o show nem sempre evidenciou a luminosidade das canções. Já Choveu (Beto Guedes e Ronaldo Bastos, 1977) fez florescer tempo de delicadeza no toque do piano de Humberto Barros - cujos teclados foram essenciais para a recriação da sonoridade da obra de Beto - em número lírico que culminou com a reprodução em off, na voz de Leonel Pereda, de versos de Zorongo, escritos pelo poeta e dramaturgo espanhol Federico García Lorca (1898 - 1937). Enfim, houve luz. Mas houve também o mistério, o imponderável. Um disco excelente resultou em cena em show de luminosidade irregular.

Luca disse...

Mauro sempre babou pra tudo que Jussara faz, se tá falando mal desse show, imagino que deve ser ruim mesmno

Fernando Lima disse...

Difícil show ruim com uma cantora como Jussara, essa banda e esse repertório. Vou aguardar pra ver.

Marcelo disse...

Jussara precisa urgentemente de um produtor ou alguém q a ajude! Concordo com o Mauro. Desde o figurino até a presença e movimentação no palco. A insegurança e a leitura excessiva das letras. Tudo veio contra. Uma pena, pq o disco e ela são maravilhosos!