Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 9 de março de 2016

Sai de cena Naná Vasconcelos, percussionista que expandiu batuque nativo

Juvenal de Holanda Vasconcelos (2 de agosto de 1944 - 9 de março de 2016) - conhecido no mundo da música como o genial percussionista Naná Vasconcelos - sai de cena hoje no Recife (PE), cidade vizinha e irmã da Olinda (PE) onde o músico nasceu há 71 anos e sete meses. Vítima de complicações decorrentes de câncer no pulmão, Naná expandiu o batuque nativo, fazendo com que o mundo reverenciasse o toque de uma percussão desenvolvido a partir da trama dos tambores do maracatu - referência na vida e obra do artista - com a liberdade que pauta a obra dos grandes músicos. Percutido no tempo da delicadeza, o batuque planetário de Naná Vasconcelos poderia tanto emergir das águas quanto interagir com o toque de orquestra sinfônica, como fez no disco Saudades (WEA, 1979), em que o toque do berimbau foi imerso no universo da música clássica. Redimensionado pelo músico, o berimbau foi o principal instrumento percutido por Naná, mas ele tocou - com a maestria dos deuses - todos os instrumentos de percussão. E ainda tirou sons percussivos de onde não se esperava. Cidadão musical do mundo, laureado com oito prêmios no Grammy Awards e eleito o melhor percussionista do ano entre 1984 e 1990 pela revista norte-americana Downbeat, Naná saiu do Recife (PE), mas os sons do Recife (PE) nunca saíram dele, estando presentes já no primeiro álbum do artista, Africadeus (Saravah, 1972), disco gravado na França - quando Naná morava em Paris - em que o percussionista explicitou a ideia de que a África é a matriz da música do mundo. O primeiro álbum feito e lançado no Brasil, Amazonas, saiu em 1973 pela gravadora Philips, consolidando o nome de Naná como percussionista hábil na combinação de vozes e batuques. Como músico sem fronteiras, Naná construiu discografia gregária que interagiu com nomes como Egberto Gismonti - com quem fez álbuns como Duas vozes (EMI-Odeon, 1984) - e chegou até o universo do jazz. Na virada da década de 1970 para a de 1980, Naná gravou três  álbuns com o trompetista norte-americano de jazz Don Cherry (1936 - 1995) - outro músico que derrubou fronteiras no universo da música - e com o percussionista norte-americano Collin Walcott (1945 - 1984). Batizados com o nome do trio, os álbuns Codona (ECM / WEA, 1979), Codona 2 (ECM / WEA, 1981) e Codona 3 (ECM / WEA, 1983) ratificaram a liberdade deste músico do mundo, cuja discografia lançada em vida se encerrou no ano passado com a edição de Café no bule (Selo Sesc, 2015), álbum dividido com Paulo Lepetit e Zeca Baleiro. Com o espírito sempre gregário, Naná também uniu forças com o inquieto Itamar Assumpção (1949 - 2003), com que gravou o álbum Isso vai dar repercussão (Elo Music, 2004), lançado um ano após a saída de cena de Itamar. Sempre sem limites musicais, Naná compôs trilhas sonoras de filmes - a animação nacional O menino e o mundo (Brasil, 2013), indicada ao Oscar deste ano de 2016, teve música de Naná na trilha sonora - e gravou com nomes de universos musicais tão díspares quanto o cantor e compositor brasileiro Milton Nascimento (o toque da percussão de Naná no álbum Milagre dos peixes, lançado em 1973, exemplifica a habilidade do músico ao evocar a estratosfera com batidas e vozes que pareciam mover o mundo), o bluesman norte-americano B.B. King (1925 - 2015) e o grupo norte-americano Talking Heads. Mais do que um grande músico, dos maiores do mundo, Naná Vasconcelos foi ser humano integrado com a música e a cultura do povo. Fez trabalhos socais, dirigiu festivais de percussão - como o famoso Percpan, sediado em Salvador (BA) - e procurou integrar seres humanos na sociedade a partir da música. Naná Vasconcelos foi deus na percussão...

16 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Juvenal de Holanda Vasconcelos (2 de agosto de 1944 - 9 de março de 2016) - conhecido no mundo da música como o genial percussionista Naná Vasconcelos - sai de cena hoje no Recife (PE), cidade onde nasceu há 71 anos e sete meses. Vítima de complicações decorrentes de câncer no pulmão, Naná expandiu o batuque nativo, fazendo com que o mundo reverenciasse o toque de uma percussão desenvolvido a partir da trama dos tambores do maracatu - referência na vida e obra do artista - com a liberdade que pauta a obra dos grandes músicos. O batuque planetário de Naná Vasconcelos poderia tanto emergir das águas quanto interagir com o toque de orquestra sinfônica, como fez no disco Saudades (WEA, 1979), em que o toque do berimbau foi imerso no universo da música clássica. O berimbau foi o principal instrumento percutido por Naná, mas ele tocou - com a maestria dos deuses - todos os instrumento de percussão. E ainda tirou sons percussivos de onde não se esperava. Cidadão musical do mundo, laureado com oito prêmios no Grammy Awards e eleito o melhor percussionista do ano entre 1984 e 1990 pela revista norte-americana Downbeat, Naná saiu do Recife (PE), mas os sons do Recife (PE) nunca saíram dele, estando presentes já no primeiro álbum do artista, Africadeus (Saravah, 1972), disco gravado na França - quando Naná morava em Paris - em que o percussionista explicitou a ideia de que a África é a matriz da música do mundo. O primeiro álbum feito e lançado no Brasil, Amazonas, saiu em 1973 pela gravadora Philips, consolidando o nome de Naná como percussionista hábil na combinação de vozes e batuques. Como músico sem fronteiras, Naná construiu discografia gregária que interagiu com nomes como Egberto Gismonti - com quem fez álbuns como Duas vozes (EMI-Odeon, 1984) - e chegou até o universo do jazz. Na virada da década de 1970 para a de 1980, Naná gravou três álbuns com o trompetista norte-americano de jazz Don Cherry (1936 - 1995) - outro músico que derrubou fronteiras no universo da música - e com o percussionista norte-americano Collin Walcott (1945 - 1984). Batizados com o nome do trio, os álbuns Codona (ECM / WEA, 1979), Codona 2 (ECM / WEA, 1981) e Codona 3 (ECM / WEA, 1983) ratificaram a liberdade deste músico do mundo, cuja discografia lançada em vida se encerrou no ano passado com a edição de Café no bule (Selo Sesc, 2015), álbum dividido com Paulo Lepetit e Zeca Baleiro. Com o espírito sempre gregário, Naná também uniu forças com o inquieto Itamar Assumpção (1949 - 2003), com que gravou o álbum Isso vai dar repercussão (Elo Music, 2004), lançado um ano após a saída de cena de Itamar. Sempre sem limites musicais, Naná compôs trilhas sonoras de filmes - a animação nacional O menino e o vento (Brasil, 2013), indicada ao Oscar deste ano de 2016, teve música de Naná na trilha - e gravou com nomes de universos musicais tão díspares quanto o cantor e compositor brasileiro Milton Nascimento, o bluesman norte-americano B.B. King (1925 - 2015) e o grupo norte-americano Talking Head. Mais do que um grande músico, dos maiores do mundo, Naná Vasconcelos foi ser humano integrado com a música e a cultura do povo. Fez trabalhos socais, dirigiu festivais de percussão - como o famoso Percpan, sediado em Salvador (BA) - e procurou integrar seres humanos na sociedade a partir da música. Naná Vasconcelos foi deus na percussão...

Eduardo Cáffaro disse...

Que pena ....sempre gostei dos seus sons mágicos e ancestrais ...sua participação no album Mar de Sophia ...de Bethânia tb foi genial ...descanse em paz ...

lurian disse...

Naná era um ícone da cultura pernambucana, mundial. Ouvi-lo ao vivo era de calar, fechar os olhos e se transportar por outros universos. Um artista é grande quando fala de seu Eu ao mesmo tempo em que carrega as vozes de séculos de um povo, e isso ele fazia com maestria. Outro dia mesmo falei dele aqui... Que os tambores da terra e dos céus e o recebam em festa! Asé.

Gerlande Diogo disse...

A partir de agora já faz falta :(

Henrique disse...

Descanse em paz Mestre!

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Mais um dia de luto não só para a música brasileira

Unknown disse...

Absolutamente genial sua participação no miltoniano "Milagre dos Peixes", de 1973. Vai deixar saudades!

Larissa Pereira Gouveia disse...

Que pena,um músico imenso - imensurável.Ancestral,telúrico; caudaloso.Dos que modificam até a dimensão da relevância
dos instrumentos que tocou.Aliás,um percussionista morre no plural - com toda sua infinidade de possibilidades instrumentais,sob o mesmo batuque ancestral que é ordem corpórea essencial mas está sempre em mutação,ao sabor do ritmo (re)descoberto livremente(além partituras).Naná era o instrumento em si - na sua noção de ritmo perene.Percussionistas não extraem um som dum instrumento recíproco para com sua capacidade musical,fabricam-no diretamente de si.Gente,aliás capaz de gerar música em praticamente qualquer material,libertos da condição dum só formato de instrumento musical...Pois,morre(ram) Naná(s).

A turma da ancestralidade (sendo) rejuvenescida, com seus atilados
batuques elétricos(moços talentosos como os do Afroelectro),com certeza foram beber nesse manancial;muitas outras gerações sedentas seguirão fazendo isso.Só podemos concluir:"Longa é a arte/breve é a vida"...

Em tempos:Belo réquiem pra o Naná,Mauro!Pinçando sua relevância inconteste e suas grandes obras, e sobretudo, sua multiplicidade artística.Naná foi um Brasil(telúrico,remido) que mereceu o Brasil!

Rafael disse...

Perda irreparável no cenário da percussão brasileira... Que possa descansar em paz agora!!!

Martins disse...

Uma das muitas participações está no álbum "Os Borges" na faixa Família com muito peso.
Criativo e inventivo fará
falta a nossa musica e mundial.

Bernardo Barroso Neto disse...

Esse vai fazer muita falta. Músico e percussionista genial como poucos no mundo.

Dave6165 disse...

Aqui da Itália também to muito triste pelo falecimento se desse que foi um dos grandes percussionista do mundo, que tocou entre outros com Pat Metheny e o nosso querido Pino Daniele.

joao Ahrens disse...

Rip, Náná!...

Unknown disse...

Bravo Naná!!!! Bravo!!!

ADEMAR AMANCIO disse...

O Brasil profundo precisa ouvir Naná.