Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 29 de março de 2016

Brown (re)vitaliza ternuras antigas nos tons amorosos de 'ARTEFIREACCUA'

Resenha de álbum
Título: ARTEFIREACCUA - Incinerando o inferno
Artista: Carlinhos Brown
Gravadora: Candyall Music
Cotação: * * * 1/2

A aparentemente ininterrupta profusão de ideias e sons gerados pela mente efervescente de Carlinhos Brown por vezes embotou o fluxo e o conceito dos álbuns do cantor, compositor e percussionista baiano. Brown nunca pecou pela falta, mas por excessos. Contudo, ARTEFIREACCUA - álbum de músicas inéditas lançado nas plataformas digitais em 25 de março de 2016, por via independente - organiza o movimento e os elementos, guiado pelo sentimento amoroso que pauta as onze composições inéditas e autorais. Brown (re)vitaliza ternuras antigas - mas não velhas - em canções apaixonadas. E o alvo da paixão romantizada pode ser a mulher amada - musa da canção Dois grudados (Carlinhos Brown), na qual o cantor exercita a região aguda da voz em falsete ouvido antes de Arnaldo Antunes recitar em tom grave os versos do poema Repertório de felicidades (Carlinhos Brown) - quanto uma cidade. No caso, a cidade do Rio de Janeiro (RJ), berço da filha caçula do artista, Leila. Em Ruidinho nu (Carlinhos Brown), o baiano inicia a saudação emulando com voz grave e profunda o universo mítico do seminal compositor conterrâneo Dorival Caymmi (1914 - 2008), povoado por mares, ventos e sereias. Só que, quando se espera a ode à Bahia, Ruidinho nu deságua na celebração ao Rio, feita com a adesão do canto de outra filha de Brown, Clara de Holanda, cujo timbre remete ao canto da sereia Marisa Monte, antiga parceira do pai. ARTEFIREACCUA soa menos miscigenado do que discos anteriores de Brown. Ainda assim, os múltiplos elementos da música do artista se harmonizam na produção dirigida pelo próprio Brown com colaborações adicionais de Fernando Deeplick, Mario Adnet e Thiago Pugas. Alocada logo na abertura do álbum, a instrumental  música-título Artefireaccua (Carlinhos Brown) expõe de cara o baticum desse percussionista tribal, de toque tão nacional e ao mesmo tempo tão universal, tão ancestral e ao mesmo tempo tão atual. Brown ignora fronteiras e derruba muros estéticos mundo afora. Afinal, Brown é também o Carlito Marrón do mercado hispânico. E, por isso, soa natural quando ele firma parceria com o compositor espanhol David Bisbal para carnavalizar a felicidade romântica em Dia iluminado. Por isso também, a guitarra árabe tocada pelo tribalista em Pós-guerra (Carlinhos Brown) se harmoniza com as cordas orquestradas por Mario Adnet nesta canção que sonha com a paz. E por falar em sonho, Pra vizinho olhar - música de Brown concluída por Arnaldo Antunes - veio ao baiano durante o sono e se transformou em onírica homenagem aos 50 anos da carreira da cantora baiana Maria Bethânia, filha de Oyá. Detalhe: a música foi lançada na Espanha antes do disco, em versão em castelhano, como trilha de novela local. Composição que acabou virando o subtítulo do álbum, Incinerando o inferno (Carlinhos Brown) alterna peso rocker - alavancado pelo toque da guitarra de Chico Freitas e da marcação da bateria de Miguel Freitas, filhos de Brown - e leveza de canção que acredita no amor como o combustível que dilui o fogo das trevas humanas. Mais festiva, Sambo e beijo (Carlinhos Brown) fala de capoeira enquanto se joga artesanalmente na pista eletrônica com as programações de Thiago Pugas, arranjador da faixa ao lado do próprio Brown. Pugas também ajudou Brown a arranjar Gente singular (Carlinhos Brown), música menos sedutora que celebra o povo da cidade baiana de Cachoeira, terra natal do bisavô de Brown, Augusto Teixeira de Freitas, um dos musos inspiradores de Meia-lua inteira, música que projetou em 1989, na voz de Caetano Veloso, a produção autoral de Brown como compositor. Uma das canções mais inspiradas e fortes do disco, Ocaso é bonita e melodiosa balada arranjada com piano e cordas. Iniciada por Brown, a canção foi concluída pelo compositor carioca Jorge Vercillo com brilho. No fecho do disco, Canção do Lar Natal arremata o tom amoroso do disco ao celebrar o símbolo terreno do amor máximo, Jesus Cristo. A canção é angelical como as vozes do coral do Conservatório de Música Mozart. Com título que combina os quatro elementos fundamentais (ar, terra, fogo e ar), ARTEFIREACCUA é, em síntese, disco de amor, ora expresso com ternura, ora carnavalizado pelo som plural de artista do mundo que parece estar em frequente ebulição criativa.

13 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ A aparentemente ininterrupta profusão de ideias e sons gerados pela mente efervescente de Carlinhos Brown por vezes embotou o fluxo e o conceito dos álbuns do cantor, compositor e percussionista baiano. Brown nunca pecou pela falta, mas por excessos. Contudo, ARTEFIREACCUA - álbum de músicas inéditas lançado nas plataformas digitais em 25 de março de 2016, por via independente - organiza o movimento e os elementos, guiado pelo sentimento amoroso que pauta as onze composições inéditas e autorais. Brown (re)vitaliza ternuras antigas - mas não velhas - em canções apaixonadas. E o alvo da paixão romantizada pode ser a mulher amada - musa da canção Dois grudados (Carlinhos Brown), na qual o cantor exercita a região aguda da voz em falsete ouvido antes de Arnaldo Antunes recitar em tom grave os versos do poema Repertório de felicidades (Carlinhos Brown) - quanto uma cidade. No caso, a cidade do Rio de Janeiro (RJ), berço da filha caçula do artista, Leila. Em Ruidinho nu (Carlinhos Brown), o baiano inicia a saudação emulando com voz grave e profunda o universo mítico do seminal compositor conterrâneo Dorival Caymmi (1914 - 2008), povoado por mares, ventos e sereias. Só que, quando se espera a ode à Bahia, Ruidinho nu deságua na celebração ao Rio, feita com a adesão do canto de outra filha de Brown, Clara de Holanda, cujo timbre remete ao canto da sereia Marisa Monte, antiga parceira do pai. ARTEFIREACCUA soa menos miscigenado do que discos anteriores de Brown. Ainda assim, os múltiplos elementos da música do artista se harmonizam na produção dirigida pelo próprio Brown com colaborações adicionais de Fernando Deeplick, Mario Adnet e Thiago Pugas. Alocada logo na abertura do álbum, a instrumental música-título Artefireaccua (Carlinhos Brown) expõe de cara o baticum do percussionista tribal, de toque tão nacional e ao mesmo tempo tão universal, tão ancestral e ao mesmo tempo tão atual. Brown ignora fronteiras e derruba muros estéticos mundo afora. Afinal, Brown é também o Carlito Marrón do mercado hispânico. E, por isso, soa natural quando ele firma parceria com o compositor espanhol David Bisbal para carnavalizar a felicidade romântica em Dia iluminado. Por isso também, a guitarra árabe tocada pelo tribalista em Pós-guerra (Carlinhos Brown) se harmoniza com as cordas orquestradas por Mario Adnet nesta canção que sonha com a paz.

Mauro Ferreira disse...

E por falar em sonho, Pra vizinho olhar - música de Brown concluída por Arnaldo Antunes - veio ao baiano durante o sono e se transformou em onírica homenagem aos 50 anos da carreira da cantora baiana Maria Bethânia, filha de Oyá. Detalhe: a música foi lançada na Espanha antes do disco, em versão em castelhano, como trilha de novela local. Composição que acabou virando o subtítulo do álbum, Incinerando o inferno (Carlinhos Brown) alterna peso rocker - alavancado pelo toque da guitarra de Chico Freitas e da marcação da bateria de Miguel Freitas, filhos de Brown - e leveza de canção que acredita no amor como o combustível que dilui o fogo das trevas humanas. Mais festiva, Sambo e beijo (Carlinhos Brown) fala de capoeira enquanto se joga artesanalmente na pista eletrônica com as programações de Thiago Pugas, arranjador da faixa ao lado do próprio Brown. Pugas também ajudou Brown a arranjar Gente singular (Carlinhos Brown), música menos sedutora que celebra o povo da cidade baiana de Cachoeira, terra natal do bisavô de Brown, Augusto Teixeira de Freitas, um dos musos inspiradores de Meia-lua inteira, música que projetou em 1989, na voz de Caetano Veloso, a produção autoral de Brown como compositor. Uma das canções mais inspiradas e fortes do disco, Ocaso é bonita e melodiosa balada arranjada com piano e cordas. Iniciada por Brown, a canção foi concluída pelo compositor carioca Jorge Vercillo com brilho. No fecho do disco, Canção do Lar Natal arremata o tom amoroso do disco ao celebrar o símbolo terreno do amor máximo, Jesus Cristo. A canção é angelical como as vozes do coral do Conservatório de Música Mozart. Com título que combina os quatro elementos fundamentais (ar, terra, fogo e ar), ARTEFIREACCUA é, em síntese, disco de amor, ora expresso com ternura, ora carnavalizado pelo som plural de artista do mundo que parece estar em frequente ebulição criativa.

Unknown disse...

Já ouvi o disco umas 5 vezes no deezer e não consigo parar de escutar o disco é muito bom, estava ancioso pela critica e juro que não entendi a cotação de 3 e meia pra mim sinceramente 4 estrelas ou até 4 e meia
Mais o que mais me intriga são seus elogios e sua cotação de 3 e meia

Rafael disse...

Brown é genial, e esse disco deve estar muito bom mesmo...

Anônimo disse...

Não tem previsão de uma edição física? Carlinhos tem tanto esmero no estúdio, carrega consigo tantas nuances em termos de harmonia de instrumentos e objetos, que é um pecado ouvir tudo isso num formato de áudio comprimido das plataformas digitais.

Mauro Ferreira disse...

Por enquanto, não, Juliano. Também lamento a inexistência de uma edição física do álbum de Brown. Abs, MauroF

O blog disse...

Achei o disco bom. Brown, na minha opinião, pecou por colocar muitas músicas românticas. O disco começa bem com a instrumental Artefireaccua, mas perde fôlego ao partir para uma canção mais romântica. Acho que poderia ter deixado as românticas para o final do disco e ter colocado mais canções, já que Brown é um ótimo compositor e tendo em vista que o disco é em edição digital. Foi merecido 3 estrelas e meio.

Henrique disse...

Mauro, Brown disse em uma entrevista que pretende distribuir 200 mil cópias em Salvador e depois também lançar nacionalmente. Assim espero!

Luca disse...

Italo, o Mauro mais descreve o disco do que elogia, acho que ele gosta do Brown e não quis se comprometer

Eduardo Cáffaro disse...

Mas vai ser lançado em CD, edição física ? porque o coisa dificil conseguir ter a discografia dessa Brown ...miséricórdia ...as vezes tenho de pedir pra um amigo lá da Bahia me enviar porque aqui SP não acho nada dele.

Mauro Ferreira disse...

Cáffaro, a assessoria de Brown me disse que ainda não havia previsão para a edição física. Contudo, o artista disse que vai distribuir discos na Bahia. Acredito que seja aquela edição mais simples, em que o CD é embalado em um envelope. Abs. MauroF

Eduardo Cáffaro disse...

Obrigado Mauro ...mas poxa Brown com a divulgação que o THE VOICE deu pra seu trabalho, deveria lançar os albuns em escala nacional. Eu tenho 2 discos dele que só consegui porque um amigo me mandou da Bahia, um deles saiu encartado num Jornal de Salvador, e o outro vendia lá no Candeal onde eles ensaiam pro carnaval. Uma pena né ? São 2 albuns maravilhosos. Um chama MARABÔ -com 17 músicas, e o outro SARAU DU BROWN Ritual Beat System , que é muito bom mesmo. Mas nunca vi nas lojas nenhum dos dois.

Damião Costa disse...

Esse CD tem uma pérola, a música Dois grudados.