Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 17 de março de 2016

Taviani acerta ao caminhar pelas rotas mais seguras de 'Carpenters avenue'

Resenha de álbum
Título: Carpenters avenue
Artista: Isabella Taviani
Gravadora: Coqueiro Verde Records
Cotação: * * * 1/2

Seis anos se passaram entre as primeiras sessões de gravação do álbum que veio a se chamar Carpenters avenue e a efetiva edição do disco em que a cantora e compositora carioca Isabella Taviani pela primeira vez se apresenta somente como intérprete ao dar voz a 14 músicas gravadas pela dupla norte-americana The Carpenters entre 1970 e 1977. Em atividade entre 1969 e 1983, ano em que se desfez forçosamente com a saída de cena de Karen Carpenter (1950 – 1983), a dupla gravou repertório melodioso que se tornou a trilha sonora da vida de muitos que se deixaram seduzir pela música pop norte-americana tocada no rádio ao longo da década de 1970. O pop envolvente dos irmãos Karen Carpenter e Richard Carpenter marcou a vida de Taviani, cantora que vem podando excessos vocais nos últimos títulos de discografia iniciada em 2003. Álbum gravado na ponte Brasil-Estados Unidos, entre abril de 2010 e outubro de 2014, Carpenters avenue reforça a busca da cantora por fraseados mais elegantes e menos passionais. Sob a direção musical de Taviani, quatro produtores – Marco Brito, Rodrigo Rios, Clemente Magalhães e a própria Taviani – deram forma ao disco, conceituado pela artista, no texto de agradecimento publicado no encarte da edição em CD, como uma “aventura nostálgica”. De fato, Carpenters avenue transita, com reverência, por via pavimentada pela saudade de um tempo em que a música pop mundial era mais melódica, melancólica, romântica e emotiva, ainda que - verdade seja dita - o romantismo, a melancolia, a melodia e a emoção sobrevivam no universo pop, como provam os cancioneiros autorais de cantores e compositores atualmente sob os holofotes, como os ingleses Adele e Sam Smith. A questão é que, para quem viveu o tempo dos Carpenters, o álbum editado pela gravadora Coqueiro Verde Records vai ser ouvido como mera celebração de inspirado repertório já belamente gravado por Karen Carpenter e Richard Carpenter. Já os ouvintes mais novos talvez possam se encantar com a beleza atemporal de músicas como We’ve only just begun (Roger Nichols e Paul Williams, 1970), faixa forrada com os teclados do produtor Marco Brito. De cara, Taviani já revela um canto mais contido nessa faixa que abre os caminhos de Carpenters avenue. Embora mais encorpada do que a de Karen Carpenter, a voz da cantora carioca se apresenta sempre bem colocada ao longo do álbum. De todo modo, We’ve only just begun é cartão de visitas inadequado para o disco. Usados de modo excessivo na faixa, os vocais de Juliano Cortuah e Mariana Féo prejudicam a fluência e a fruição da canção. Faixa eleita o primeiro single do álbum, a abordagem de (They long to be) Close to you (Burt Bacharach e Hal David, 1963) – gravada por Taviani com a adesão da cantora norte-americana Dionne Warwick, uma das primeiras intérpretes do tema que os Carpenters gravariam somente em 1970 – honra mais o legado da dupla. Produzida por Rodrigo Rios, a faixa evoca o tempo de delicadeza típico do cancioneiro dos Carpenters no arranjo conduzido pelo piano de Larry Goldings. Até os metais sopram suaves, em sintonia com a natureza da canção. Na sequência, a balada Only yesterday (Richard Carpenter e John Bettis, 1975) sinaliza que Taviani geralmente não se descola da matriz – o canto de Karen Carpenter – ao dar voz ao repertório da dupla, ainda que a percussão de Marcos Suzano cai em suingue mais brasileiro. Nacionalidades à parte, Taviani acerta justamente quando caminha pelas rotas mais seguras da obra dos Carpenters, em reverência explicitada na fonte gráfica escolhida para expor o nome da cantora na capa do disco (é a mesma fonte usada em discos da dupla). O acerto vem sobretudo da elegância do canto. Mesmo que a voz de Taviani possua naturalmente maior ardência do que a voz de Karne, a cantora jamais peca pelo excesso. Mas peca ao dissipar a melancolia e boa parte da beleza da canção For all we know (Fred Karlin, Robert Royer e Jimmy Griffin, 1970) em gravação que embute solo do violão de Tim May e que se afasta equivocadamente da levada do registro dos Carpenters. É a faixa mais infeliz do disco, inclusive pelo erro grotesco dos créditos dos compositores. Na contracapa externa da edição em CD do álbum, For all we know é errada e equivocadamente creditada a John Bush, Joshua Colbert, Derick Cordoba e Chad Neptune, compositores da música homônima lançada pela banda norte-americana de rock Further Seems Forever no álbum Hide nothing (Tooth & Nail Records, 2004). Com resultado mais harmonioso, a gravação de Superstar (Bonnie Bramlett, Delaney Bramlett e Leon Russell, 1969) – música que exemplifica a habilidade dos Carpenters de trazer composições de lavra alheia para o universo melódico da dupla – é conduzida pelos violões tocados por Marcos Vasconcellos, Claudio Bezz e a própria Taviani, que assina com Clemente Magalhães a produção dessa faixa que embute o toque sutil do bandolim de Marcus Moletta. Já a gravação reverente de Rainy days and mondays (Roger Nichols e Paulo Williams, 1971) é embaçada pelo mesmo uso excessivo e kitsch dos vocais de Juliano Cortuah e Mariana Féo observado em We've only just begun. Uma das músicas mais associadas à dupla norte-americana, Please, Mr. postman (Georgia Dobbins, William Garrett, Freddie Gorman, Brian Holland e Robert Bateman, 1961) tem a levada da gravação dos Carpenters reproduzida no registro de Taviani, mas cortada por incisivo solo de guitarra de João Gaspar. Um dos pontos mais altos de Carpenters avenue, a balada Solitarie (Neil Sedaka e Phil Cody, 1975) destila a melancolia entranhada em boa parte das canções dos Carpenters e que se ajustava com perfeição a voz de Karen Carpenter. Por sua vez, Sometimes (Henry Mancini e Felice Mancini, 1971) justifica os chiados da introdução por reproduzir o inédito (e preciso) toque do piano de Henry Mancini (1924 – 1994), captado (mas não usado) na gravação dos Carpenters. De valor tão documental quanto musical, o registro do piano de Henry foi cedido a Taviani por uma das filhas do músico norte-americano, Monica Mancini, discreta convidada da gravação de Taviani, conduzida – após a introdução de Henry – pelo piano de Mike Levy. Lados B de seleção de repertório justificadamente pautada por músicas mais conhecidas da dupla, as baladas Love me for what I am (Palma Pascale e John Bettis, 1975) – cujo arranjo destaca o sax de Brandon Fields – e Can’t smile without you (Christian Arnold, David Martin e Geoff Morrow, 1976) podem soar como boas novas para fãs que curtiram somente os hits dos Carpenters. Já A song for you (Leon Russell, 1971) vai causar estranheza mais pela inserção de rabeca e de guitarra baiana – ambas tocadas por Marcos Moletta – no arranjo da gravação produzida por Taviani com Clemente Magalhães. Música da banda canadense de rock progressivo Klaatu, Calling occupants of interplanetary craft (Terry Draper e John Woloschuck, 1976) é ambientada em clima previsivelmente espacial. Por fim, Eventide (Richard Carpenter e John Bettis, 1975) fecha o disco no tom íntimo de registro de voz e piano que se alinha com a rota seguida pelos Carpenters em discografia doce. Com afeto, mas sem usar açúcar em excesso, Taviani caminha com segurança pela avenida dos Carpenters, nas beiradas, geralmente sem se expor ao perigo de se desviar do rumo já esperado pelos ouvintes de canções que fizeram a trilha sonora da aventura nostálgica da cantora carioca e de toda uma geração pop.

10 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Seis anos se passaram entre as primeiras sessões de gravação do álbum que veio a se chamar Carpenters avenue e a efetiva edição do disco em que a cantora e compositora carioca Isabella Taviani pela primeira vez se apresenta somente como intérprete ao dar voz a 14 músicas gravadas pela dupla norte-americana The Carpenters entre 1970 e 1977. Em atividade entre 1969 e 1983, ano em que se desfez forçosamente com a saída de cena de Karen Carpenter (1950 – 1983), a dupla gravou repertório melodioso que se tornou a trilha sonora da vida de muitos que se deixaram seduzir pela música pop norte-americana tocada no rádio ao longo da década de 1970. O pop envolvente dos irmãos Karen Carpenter e Richard Carpenter marcou a vida de Taviani, cantora que vem podando excessos vocais nos últimos títulos de discografia iniciada em 2003. Álbum gravado na ponte Brasil-Estados Unidos, entre abril de 2010 e outubro de 2014, Carpenters avenue reforça a busca da cantora por fraseados mais elegantes e menos passionais. Sob a direção musical de Taviani, quatro produtores – Marco Brito, Rodrigo Rios, Clemente Magalhães e a própria Taviani – deram forma ao disco, conceituado pela artista, no texto de agradecimento publicado no encarte da edição em CD, como “aventura nostálgica”. De fato, Carpenters avenue transita, com reverência, por via pavimentada pela saudade de um tempo em que a música pop mundial era mais melódica, melancólica, romântica e emotiva, ainda que - verdade seja dita - o romantismo, a melancolia, a melodia e a emoção sobrevivam no universo pop, como provam os cancioneiros autorais de cantores e compositores atualmente sob os holofotes, como os ingleses Adele e Sam Smith. A questão é que, para quem viveu o tempo dos Carpenters, o álbum editado pela gravadora Coqueiro Verde Records vai ser ouvido como mera celebração de inspirado repertório já belamente gravado por Karen Carpenter e Richard Carpenter. Já ouvintes mais novos talvez possam se encantar com a beleza atemporal de músicas como We’ve only just begun (Roger Nichols e Paul Williams, 1970), faixa forrada com os teclados do produtor Marco Brito. De cara, Taviani já revela um canto mais contido nessa faixa que abre os caminhos de Carpenters avenue. Embora mais encorpada do que a de Karen Carpenter, a voz da cantora carioca se apresenta sempre bem colocada ao longo do álbum. De todo modo, We’ve only just begun é cartão de visitas inadequado para o disco. Usados de modo excessivo na faixa, os vocais de Juliano Cortuah e Mariana Féo prejudicam a fluência e a fruiçã da canção. Faixa eleita o primeiro single do álbum, a abordagem de (They long to be) Close to you (Burt Bacharach e Hal David, 1963) – gravada por Taviani com a adesão da cantora norte-americana Dionne Warwick, uma das primeiras intérpretes do tema que os Carpenters gravariam somente em 1970 – honra mais o legado da dupla. Produzida por Rodrigo Rios, a faixa evoca o tempo de delicadeza típico do cancioneiro dos Carpenters no arranjo conduzido pelo piano de Larry Goldings. Até os metais sopram suaves, em sintonia com a natureza da canção. Na sequência, a balada Only yesterday (Richard Carpenter e John Bettis, 1975) sinaliza que Taviani geralmente não se descola da matriz – o canto de Karen Carpenter – ao dar voz ao repertório da dupla, ainda que a percussão de Marcos Suzano cai em suingue mais brasileiro.

Mauro Ferreira disse...

Nacionalidades à parte, Taviani acerta justamente quando caminha pelas rotas mais seguras da obra dos Carpenters, em reverência explicitada na fonte gráfica escolhida para expor o nome da cantora na capa do disco (é a mesma fonte usada em discos da dupla). O acerto vem sobretudo da elegância do canto. Mesmo que a voz de Taviani possua naturalmente maior ardência do que a voz de Karne, a cantora jamais peca pelo excesso. Mas peca ao dissipar a melancolia e boa parte da beleza da canção For all we know (Fred Karlin, Robert Royer e Jimmy Griffin, 1970) em gravação que embute solo do violão de Tim May e que se afasta equivocadamente da levada do registro dos Carpenters. É a faixa mais infeliz do disco, inclusive pelo erro grotesco dos créditos dos compositores. Na contracapa externa da edição em CD do álbum, For all we know é equivocadamente creditada a John Bush, Joshua Colbert, Derick Cordoba e Chad Neptune, compositores da música homônima lançada pela banda norte-americana de rock Further Seems Forever no álbum Hide nothing (Tooth & Nail Records, 2004). Com resultado mais harmonioso, a gravação de Superstar (Bonnie Bramlett, Delaney Bramlett e Leon Russell, 1969) – música que exemplifica a habilidade dos Carpenters de trazer composições de lavra alheia para o universo melódico da dupla – é conduzida pelos violões tocados por Marcos Vasconcellos, Claudio Bezz e a própria Taviani, que assina com Clemente Magalhães a produção dessa faixa que embute o toque sutil do bandolim de Marcus Moletta. Já a gravação reverente de Rainy days and mondays (Roger Nichols e Paulo Williams, 1971) é embaçada pelo mesmo uso excessivo e kitsch dos vocais de Juliano Cortuah e Mariana Féo observado em We've only just begun. Uma das músicas mais associadas aos Carpenters, Please, Mr. postman (Georgia Dobbins, William Garrett, Freddie Gorman, Brian Holland e Robert Bateman, 1961) tem a levada da gravação dos Carpenters reproduzida no registro de Taviani, mas cortada por incisivo solo de guitarra de João Gaspar. Um dos pontos mais altos de Carpenters avenue, a balada Solitarie (Neil Sedaka e Phil Cody, 1975) destila a melancolia entranhada em boa parte das canções dos Carpenters e que se ajustava com perfeição a voz de Karen Carpenter. Por sua vez, Sometimes (Henry Mancini e Felice Mancini, 1971) justifica os chiados da introdução por reproduzir o inédito (e preciso) toque do piano de Henry Mancini (1924 – 1994), captado (mas não usado) na gravação dos Carpenters. De valor tão documental quanto musical, o registro do piano de Henry foi cedido a Taviani por uma das filhas do músico norte-americano, Monica Mancini, discreta convidada da gravação de Taviani, conduzida – após a introdução de Henry – pelo piano de Mike Levy. Lados B de seleção de repertório justificadamente pautada por músicas mais conhecidas da dupla, as baladas Love me for what I am (Palma Pascale e John Bettis, 1975) – cujo arranjo destaca o sax de Brandon Fields – e Can’t smile without you (Christian Arnold, David Martin e Geoff Morrow, 1977) podem soar como boas novas para fãs que curtiram somente os hits dos Carpenters. Já A song for you (Leon Russell, 1971) vai causar estranheza mais pela inserção de rabeca e de guitarra baiana – ambas tocadas por Marcos Moletta – no arranjo da gravação produzida por Taviani com Clemente Magalhães. Música da banda canadense de rock progressivo Klaatu, Calling occupants of interplanetary craft (Terry Draper e John Woloschuck, 1976) é ambientada em clima previsivelmente espacial. Por fim, Eventide (Richard Carpenter e John Bettis, 1975) fecha o disco no tom íntimo de registro de voz e piano que se alinha com a rota seguida pelos Carpenters em discografia doce. Com afeto, mas sem usar açúcar em excesso, Taviani caminha com segurança pela avenida dos Carpenters, nas beiradas, geralmente sem se expor ao perigo de se desviar do rumo já esperado pelos ouvintes de canções que fizeram a trilha sonora da aventura nostálgica da cantora carioca e de toda uma geração pop.

Rafael disse...

Ainda não ouvi o disco, mas creio que esse não é um tributo à altura da obra dos Carpenters... Não acho que a voz da cantora casa bem com o repertório intocável da dupla... Desde cedo disse que tinha medo desse disco, e dessa vez o mesmo não é diferente...

Unknown disse...

Já ouvi a versão de "Close To You", que tem a participação da Dionne Warwick e é uma delícia.

Unknown disse...

Já tenho o CD e já curtia Carpenters antes da Isabella gravar, por isso me sinto segura pra dizer que o disco tá lindo, suave, como devia ser.... Bela homenagem aos Carpenters, sem contar na realização do sonho da Isabella. O som tá lindo, o repertório impecável, Isabella interpretou ou as músicas sem com isso excluir sua bela voz...o que deixou o trabalho ainda melhor... e eu como fã, estou muito feliz em poder ouvir e em breve assistir a esse show. Parabéns aos produtores e a Isabella.

Unknown disse...

Sou fã da IT, acho sua voz algo peculiar e delicioso para se ouvir. Ótima cantora, excelente compositora. Ousou e muito ao cantar Karen Carpertens, eu particularmente daria nota 8,0 a todas canções que ouvi, não pelo arranjo, pelo cuidado, pela voz da IT, mas alcançar o timbre e a ternura de Karen é humanamente impossível. Ela foi se não a melhor, uma das melhores que já passou por aqui.

Angélica Miná disse...

Sempre fui fã dos The Carpenters, assim como sou fã da Isabella Taviani. Escutei apenas duas músicas desse novo álbum (que ainda não teve o seu lançamento oficial), e acredito que a homenagem da cantora aos Carpenters está a altura de tudo o que essa dupla representou e marcou na vida de muitas pessoas. Parabéns a Isabella Taviani e a toda sua produção que só enchem de orgulho aqueles que apreciam música boa e de qualidade.

Estalactites hemorrágicas disse...

Ela mandou bem, sem nenhuma invencionice.
Ricardo Sérgio.

Priscila Dias disse...

Engraçado que a crítica se apega àquilo que dá a personalidade ao disco. Isto é o resultado de uma homenagem e não uma réplica imigratória. Respeitando os estilos vocais dos Carpenters e também da Isabella, o que vemos é um ajuste temporal de um pop que ao longo do tempo também foi reconstruído. Diante disso, parabenizo a cantora pela agradável forma de nos presentear com música de qualidade no século XXI.��

Eduardo disse...

Não gosto, embora reconheça que é um pouco menos pior do que esperava.