Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 2 de junho de 2011

Instrumento do criador, voz rara de Leila Maria valoriza canções e momentos

Resenha de Show - Projeto Música no Solar
Título: Leila Maria & Bandoo
Artista: Leila Maria (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Solar de Botafogo (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 1º de junho de 2011
Cotação: * * * * 1/2

♪ O Brasil (ainda) continua sem saber que Leila Maria é cantora tão boa quanto as incensadas intérpretes norte-americanas de pop jazz. Às vezes, até melhor - como mostrou no primoroso show que apresentou na noite de quarta-feira, 1º de junho de 2011, no Solar de Botafogo, no Rio de Janeiro (RJ), dentro do projeto Música no Solar. Enquanto começa a pré-produção de CD com canções raras de Marina Lima, a ser editado pela gravadora Joia Moderna, a cantora carioca arquiteta um segundo disco feito com o grupo liderado pelo pianista Tomás Improta. É a prévia deste projeto - intitulado Leila Maria & Bandoo - que a intérprete vem apresentando em shows pelo circuito carioca com a alta categoria vocal já conhecida pelos músicos. Somente a abordagem dada por Leila e seu Bandoo a Dindi (Tom Jobim e Aloysio de Oliveira, 1959 - com letra em inglês de Ray Gilbert) já faz com que o show mereça o céu. É uma das coisas mais lindas que existem na música neste ano de 2011, inclusive pelo arranjo arrebatador de Improta, grande músico que merecia figurar com mais frequência nas fichas técnicas dos discos gravados no Brasil. Pena que, no bis, ao repetir Dindi, Leila tenha se atrapalhado com a letra e o arranjo, tirando a perfeição de um show curto, cujo roteiro totaliza apenas dez números (já incluído o bis). Mas é nos menores frascos que estão os melhores perfumes, como diz o dito popular. Do início ao fim da apresentação, ouve-se uma cantora em sintonia com seus músicos, em estado de graça. Uma cantora cuja voz é um instrumento que interage prazerosamente o tempo todo com o piano de Improta, o sax de Chico Costa, o baixo de Rodrigo Ferreira e a bateria de Lúcio Vieira. Este entra em cena somente no segundo número, alterando a pulsação de Canções e momentos (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1986). Sim, como dizem os versos do sensível Brant, "há canções e momentos em que a voz é um instrumento que amarra todos nós e é só um sentimento na plateia e na voz". Foi assim com a pequena plateia que se encantou com a voz de Leila Maria em muitos momentos do show, iniciado com Amor em paz (Tom Jobim e Vinicius de Moraes, 1959). A música soberana de Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994) domina o roteiro que entrelaça samba e bossa nova com o viés jazzístico do Bandoo - perceptível especialmente em Desafinado (Tom Jobim e Newton Mendonça, 1958). Em cena, Leila Maria é do tipo de cantora que se porta como um músico. Suas expressões de prazer enquanto os arranjos se desenrolam sinalizam que ninguém está mais seduzida pela música do que ela, a cantora, dona de apurado senso rítmico, qualidade comprovada em So nice, a célebre versão em inglês do Samba de verão (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, 1964).  E é justamente por ser cantora de absoluta musicalidade que ela sustenta nos vocalises a Coisa nº 5 (Moacir Santos e Mário Telles, 1965), mais conhecida como Nanã. Com sua voz, instrumento criador e do dom divino, Leila Maria busca harmonias que se escondem em cada obscuro vão - para citar um verso de Todos os instrumentos, a  excelente música de Joyce Moreno que Gal Costa - então no ápice vocal - lançou em 1987 e que Leila revive com seu Bandoo numa interpretação que rivaliza com a de Gal. Neste número, Leila se permite usar a linguagem corporal para realçar com gestos e expressões o sentido dos versos de Joyce. Todos os instrumentos é grande canção que origina (um outro) grande momento desse show sofisticado que reiterou a grande injustiça de o Brasil (ainda) não saber quem é a grande cantora Leila Maria. Até quando??!!

12 comentários:

Mauro Ferreira disse...

O Brasil (ainda) continua sem saber que Leila Maria é cantora tão boa quanto as incensadas intérpretes norte-americanas de pop jazz. Às vezes, até melhor - como mostrou no primoroso show que apresentou na noite de quarta-feira, 1º de junho de 2011, no Solar de Botafogo, no Rio de Janeiro (RJ), dentro do projeto Música no Solar. Enquanto começa a pré-produção de CD com canções raras de Marina Lima, a ser editado pela gravadora Joia Moderna, a cantora carioca arquiteta um segundo disco feito com o grupo liderado pelo pianista Tomás Improta. É a prévia deste projeto - intitulado Leila Maria & Bandoo - que a intérprete vem apresentando em shows pelo circuito carioca com a alta categoria vocal já conhecida pelos músicos. Somente a abordagem dada por Leila e seu Bandoo a Dindi (Tom Jobim e Aloysio de Oliveira, 1959 - com letra em inglês de Ray Gilbert) já faz com que o show mereça o céu. É uma das coisas mais lindas que existem na música neste ano de 2011, inclusive pelo arranjo arrebatador de Improta, grande músico que merecia figurar com mais frequência nas fichas técnicas dos discos gravados no Brasil. Pena que, no bis, ao repetir Dindi, Leila tenha se atrapalhado com a letra e o arranjo, tirando a perfeição de um show curto, cujo roteiro totaliza apenas dez números (já incluído o bis). Mas é nos menores frascos que estão os melhores perfumes, como diz o dito popular. Do início ao fim da apresentação, ouve-se uma cantora em sintonia com seus músicos, em estado de graça. Uma cantora cuja voz é um instrumento que interage prazerosamente o tempo todo com o piano de Improta, o sax de Chico Costa, o baixo de Rodrigo Ferreira e a bateria de Lúcio Vieira. Este entra em cena somente no segundo número, alterando a pulsação de Canções e Momentos (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1986). Sim, como dizem os versos de Brant, "há canções e momentos em que a voz é um instrumento que amarra todos nós e é só um sentimento na plateia e na voz". Foi assim com a pequena plateia que se encantou com a voz de Leila Maria em muitos momentos do show, iniciado com Amor em Paz (Tom Jobim e Vinicius de Moraes, 1959). A música soberana de Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994) domina o roteiro que entrelaça samba e bossa nova com o viés jazzístico do Bandoo - perceptível especialmente em Desafinado (Tom Jobim e Newton Mendonça, 1958). Em cena, Leila Maria é do tipo de cantora que se porta como um músico. Suas expressões de prazer enquanto os arranjos se desenrolam sinalizam que ninguém está mais seduzida pela música do que ela, a cantora, dona de apurado senso rítmico, qualidade comprovada em So Nice, a célebre versão em inglês do Samba de Verão (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, 1964). E é justamente por ser cantora de absoluta musicalidade que ela sustenta nos vocalises a Coisa nº 5 (Moacir Santos e Mário Telles, 1965), mais conhecida como Nanã. Com sua voz, instrumento criador e do dom divino, Leila Maria busca harmonias que se escondem em cada obscuro vão - para citar um verso de Todos os Instrumentos, a excelente música de Joyce que Gal Costa - então no ápice vocal - lançou em 1987 e que Leila revive com seu Bandoo numa interpretação que rivaliza com a de Gal. Neste número, Leila se permite usar a linguagem corporal para realçar com gestos e expressões o sentido dos versos de Joyce. Todos os Instrumentos é grande canção que origina um (outro) grande momento desse show sofisticado que reiterou a injustiça de o Brasil (ainda) não saber quem é a cantora Leila Maria.

igor disse...

Gosto muito da Leila Maria, só que sinto falta de shows dela no Rio, nde eu encontro a agenda dela ?

Anônimo disse...

No Brasil atual não há espaço para cantoras tão boas como a Leila Maria, uma pena.

Luca disse...

Ela tá a cara da Sarah Vaughan nos anos 40/50!

Fabio disse...

Pois é, Leila Maria, Ithamara Koorax...elas não tem espaço na midia, uma pena. Pessoal prefere algo mais "mainstream". Somos obrigados a ouvir Claudia Leite!

CLAUDIO disse...

Eu conheço conheço a excelente Leila Maria e tenho a sorte de ter seu excelente e raro CD "Da Cabeça aos pés".

Marcelo disse...

Eu não sou obrigado a nada!! Só ouço coisa boa, por isso é raro ligar o rádio hoje em dia!! E dá-lhe cd!!! Elis, Gal, Leilas, Janes e Vânias da vida...

tomás disse...

Mauro, muito obrigado pelos elogios.Para nós,músicos que não estão na mídia convencional, é muito importante. Eu queria sua permissão para divulgar seu texto por e-mail (pra minha mala pessoal)e também no meu site, que ficou pronto mes passado.
Gostaria tb de informar as próximas datas do nosso show, todas em julho: dia 5, Teatro Carlos Gomes. dia 9, Teatro Café Pequeno e dia 30, no Triboz.
Mais uma vez, muitíssimo obrigado.

Mauro Ferreira disse...

Tomás, você tem toda a permissão para reproduzir o texto em seus canais de comunicação. Abs, obrigado, MauroF

kyllia disse...

Adoro Leila Maria, pena que moro numa cidade onde vai ser difícil ela vir (Poços de Caldas), amo quando escuto ela cantar "All of You ".
Mas vou até o Rio de Janeiro para ver algum show dela em breve.

Kyllia Trindade

CN disse...

Leila Maria é uma lady singer sensível, delicada, doce e elegante. Sou seu fã e ouví-la é sempre uma experiência que aquece alma e coração. Um beijo a ela e seus músicos impecáveis. Carlos Navas

Rafael disse...

Uma grande cantora, mas fiquei sinceramente triste e brabo com ela de ter declinado do convite de gravar um disco pela Jóia Moderna em tributo a Marina Lima. Foi um verdadeiro tiro no pé que ela deu. Iria ficar algo belíssimo as canções da Marina em sua voz. Mas infelizmente ficou pra semente o projeto....