Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 15 de junho de 2011

Apesar de erros e omissões, coletânea traz de fato o essencial de Bebeto

Resenha de CD
Título: Essencial
Artista: Bebeto
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * *

De início apontado como mero diluidor do suingue de Jorge Ben, o paulistano Roberto Tadeu de Souza - o Bebeto - é hoje cultuado até em algumas pistas europeias por conta do balanço de seu samba-rock de espírito carioca. A coletânea ora editada pela gravadora Som Livre na série Essencial leva vantagem sobre as anteriores porque reúne fonogramas dos arquivos das gravadoras Copacabana (hoje incorporados à EMI Music) e RCA (em poder da Sony Music desde a fusão com a BMG), as duas que companhias que concentram a parte mais expressiva da obra fonográfica do cantor. Ou seja, a compilação apresenta de fato o essencial de Bebeto através de 14 fonogramas selecionados René Jr. e masterizados por Robson Araújo. Pena que erros e omissões na ficha técnica empanem o brilho desta coletânea que teria tudo para ser a melhor do artista. Faixa-título do segundo álbum feito por Bebeto na Copacabana, gravadora que lançou seus discos entre 1975 e 1981 e mais tarde entre 1989 e 1991, Esperanças Mil (Bebeto e Dhema, 1977) aparece creditada no encarte e na contracapa como Esperança Mil. Além de não reproduzir as letras, a coletânea sequer informa o ano das gravações originais. Com tanta economia de informação, o ouvinte fica sem saber que Segura Nêga (Bebeto e Luiz Vagner) é sucesso emplacado por Bebeto em seu primeiro álbum (Bebeto, 1975) e que Neguinho Poeta - parceria do cantor com Carlinhos PQD e com o hoje celebrado Serginho Meriti - é fonograma do álbum Malícia (1980). Ainda assim, a seleção é tão boa que a coletânea resiste a tais desleixos. Temas como Menina Carolina (Bedeu e Leleco Teles, 1981) e A Beleza É Você, Menina (grande hit do álbum Cheio de Razão, editado em 1979 pela Copacabana) são fonte de inspiração para o som feito atualmente por nomes como Seu Jorge. Diluído em balanço mais digerível, o samba-rock de Bebeto resultou sempre mais popular do que o de colegas como Luis Vagner - autor de Como?, outra música presente na seleção - inclusive por conta de sua temática. Mulher, praia e futebol eram temas recorrentes no repertório de Bebeto. Sucesso do álbum que marcou sua estreia na gravadora RCA (Batalha Maravilhosa, 1981), Praia e Sol (Bebeto e Adilson Silva) é uma das músicas que mais bem sintetizam a ideologia deste artista que reinou soberano nos bailes dos subúrbios do Rio de Janeiro (RJ) e da Baixada Fluminense na segunda metade dos anos 70 e no início dos anos 80. A partir de 1983, ano em que gravou o álbum Simplesmente Bebeto (do qual Essencial rebobina Salve Ela, parceria do cantor com Luiz Comanche e Bebeto que lembra muito a levada de Jorge Ben), o artista ingressa em fase de menor popularidade, emplacando apenas alguns sucessos ocasionais como Jéssica (Tatá), lançado no álbum Bebeto 20 (1991), mas  ouvido na compilação em registro ao vivo de CD editado em 2000 pela MZA Music. É desse período crepuscular a suingante regravação de Como É Grande o meu Amor por Você (Roberto Carlos), feita pelo cantor em 1992 em seu álbum Bebeto, o único lançado por ele na extinta gravadora RGE. E o fato é que, ouvida em retrospecto, a obra de Bebeto soa mais sedutora, interessante e até mesmo mais original do que supunham seus detratores iniciais - apesar de em tese ser indissociável do suingue do Zé Pretinho. Até mesmo músicas menos badaladas - caso de Minha Preta (Bedeu, Alexandre e Bebeto), faixa do álbum Cheio de Razão (1979) - merecem especial atenção. Em que pese todo o desleixo na sua edição, Essencial cumpre sua função de resumir a obra de Bebeto. Agora resta esperar por reedições de seu raríssimos álbuns originais, uma vez que o acervo da Copacabana Discos já começa a ser revitalizado pela Microservice neste ano de 2011.

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

De início apontado como mero diluidor do suingue de Jorge Ben, o paulistano Roberto Tadeu de Souza - o Bebeto - é hoje cultuado até em algumas pistas europeias por conta do balanço de seu samba-rock de espírito carioca. A coletânea ora editada pela gravadora Som Livre na série Essencial leva vantagem sobre as anteriores porque reúne fonogramas dos arquivos das gravadoras Copacabana (hoje incorporados à EMI Music) e RCA (em poder da Sony Music desde a fusão com a BMG), as duas que companhias que concentram a parte mais expressiva da obra fonográfica do cantor. Ou seja, a compilação apresenta de fato o essencial de Bebeto através de 14 fonogramas selecionados René Jr. e masterizados por Robson Araújo. Pena que erros e omissões na ficha técnica empanem o brilho desta coletânea que teria tudo para ser a melhor do artista. Faixa-título do segundo álbum feito por Bebeto na Copacabana, gravadora que lançou seus discos entre 1975 e 1981 e mais tarde entre 1989 e 1991, Esperanças Mil (Bebeto e Dhema, 1977) aparece creditada no encarte e na contracapa como Esperança Mil. Além de não reproduzir as letras, a coletânea sequer informa o ano das gravações originais. Com tanta economia de informação, o ouvinte fica sem saber que Segura Nêga (Bebeto e Luiz Vagner) é sucesso emplacado por Bebeto em seu primeiro álbum (Bebeto, 1975) e que Neguinho Poeta - parceria do cantor com Carlinhos PQD e com o hoje celebrado Serginho Meriti - é fonograma do álbum Malícia (1980). Ainda assim, a seleção é tão boa que a coletânea resiste a tais desleixos. Temas como Menina Carolina (Bedeu e Leleco Teles, 1981) e A Beleza É Você, Menina (grande hit do álbum Cheio de Razão, editado em 1979 pela Copacabana) são fonte de inspiração para o som feito atualmente por nomes como Seu Jorge. Diluído em balanço mais digerível, o samba-rock de Bebeto resultou sempre mais popular do que o de colegas como Luis Vagner - autor de Como?, outra música presente na seleção - inclusive por conta de sua temática. Mulher, praia e futebol eram temas recorrentes no repertório de Bebeto. Sucesso do álbum que marcou sua estreia na gravadora RCA (Batalha Maravilhosa, 1981), Praia e Sol (Bebeto e Adilson Silva) é uma das músicas que mais bem sintetizam a ideologia deste artista que reinou soberano nos bailes dos subúrbios do Rio de Janeiro (RJ) e da Baixada Fluminense na segunda metade dos anos 70 e no início dos anos 80. A partir de 1983, ano em que gravou o álbum Simplesmente Bebeto (do qual Essencial rebobina Salve Ela, parceria do cantor com Luiz Comanche e Bebeto que lembra muito a levada de Jorge Ben), o artista ingressa em fase de menor popularidade, emplacando apenas alguns sucessos ocasionais como Jéssica (Tatá), lançado no álbum Bebeto 20 (1991), mas ouvido na compilação em registro ao vivo de CD editado em 2000 pela MZA Music. É desse período crepuscular a suingante regravação de Como É Grande o meu Amor por Você (Roberto Carlos), feita pelo cantor em 1992 em seu álbum Bebeto, o único lançado por ele na extinta gravadora RGE. E o fato é que, ouvida em retrospecto, a obra de Bebeto soa mais sedutora, interessante e até mesmo mais original do que supunham seus detratores iniciais - apesar de em tese ser indissociável do suingue do Zé Pretinho. Até mesmo músicas menos badaladas - caso de Minha Preta (Bedeu, Alexandre e Bebeto), faixa do álbum Cheio de Razão (1979) - merecem especial atenção. Em que pese todo o desleixo na sua edição, Essencial cumpre sua função de resumir a obra de Bebeto. Agora resta esperar por reedições de seu raríssimos álbuns originais, uma vez que o acervo da Copacabana Discos já começa a ser revitalizado pela Microservice neste ano de 2011.

KL disse...

coletânea a gente faz download na Net. Não quero nem de presente.
Queremos, na verdade, os álbuns originais dele. E separados, nada de 2 em 1.

Luis disse...

Não tem "Mona Lisa"? Então não compro. =)

Luca disse...

Luis, tem Monalisa, vi num site de vendas, o Mauro é que não falou da faixa, mas coletÂNEA sem informação não merece que a gente compre.