Mauro Ferreira no G1

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domingo, 26 de junho de 2011

Emicida seduz 'manos' cariocas com rap consciente, rimado sem rancor

Resenha de show
Projeto: Viva Voz
Título: Emicídio Tour 2011
Artista: Emicida (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro do Oi Futuro Ipanema (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 25 de junho de 2011
Cotação: * * * *

"Para quem nunca foi a um show de rap, o que acabou de acontecer aqui se chama freestyle", disse Emicida, didático, para a plateia carioca que via o segundo dos dois shows que o rapper paulista fez neste fim de semana no projeto Viva Voz, do Oi Futuro Ipanema, no Rio de Janeiro (RJ). Freestyle é o momento de improviso dos shows de rap e, instantes antes, ao criar na hora versos sobre os figurinos da plateia da apresentação de 25 de junho de 2011, Emicida provou que sua fama de grande improvisador é justa. Sem concessões, o rapper paulista fez um show que começou bem monocórdio, só que foi crescendo e acabou seduzindo os manos cariocas. Não fosse pelo visual classe média do público, que incluía até o rapper carioca Marcelo D2, algum espectador dessituado poderia pensar que o show acontecia na Zona Leste de São Paulo (SP), celeiro do hip hop na periferia da cidade em que Leandro Roque de Olivieira nasceu em agosto de 1985. Com agilidade, sob as batidas e scratches de seu fiel escudeiro, o DJ Nyack, Emicida cuspiu seus versos e suas rimas sobre os duros cotidianos das comunidades. Como se ouviu em Triunfo, o ótimo tema que encerrou o show (antes do bis arrepiante em que a convidada Fabiana Cozza citou trecho da Suíte dos Pescadores, de Dorival Caymmi, entre versos de Pra Não Ter Tempo Ruim), as letras verborrágicas de Emicida são impregnadas de consciência social, mas o rapper não adota uma postura rancorosa em cena, procurando, ao contrário, ser simpático para se conectar com a plateia. Ele tampouco bate excessivamente na tecla da injustiça social.  Como mostraram os versos amorosos de Ela Diz, acompanhados em coro pelos manos cariocas que lotaram o teatro do Oi Futuro Ipanema em 25 de junho de 2011, seu rap tem também uma face romântica que expõe a mulher com dignidade. Esse tratamento respeitoso aparece sobretudo em Vacilão, tema que toma partido do lado feminino ao retratar separação de casal. Vacilão integra o EP Sua Mina Ouve meu Rap Tamem..., lançado em fevereiro de 2010. O EP é sucessor de Pra Quem Mordeu um Cachorro por Comida, Até que Eu Cheguei Bem Longe..., o CD/mixtape editado em 2009 que deu projeção a Emicida fora das fronteiras dos guetos periféricos onde se ouve e se consome hip hop. A exemplo de A Cada VentoVai Ser Rimando, incluídas no roteiro da apresentação carioca, boa parte do repertório do show veio desta gravação seminal, embora Emicida já esteja promovendo um terceiro disco, Emicídio, lançado no segundo semestre de 2010. Seja como for, seu show mostrou que continua havendo vida e versos inteligentes no rap brasileiro que caminha às margens periféricas da indústria da música. Emicida é sangue bom!!

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

"Para quem nunca foi a um show de rap, o que acabou de acontecer aqui se chama freestyle", disse Emicida, didático, para a plateia carioca que via o segundo dos dois shows que o rapper paulista fez neste fim de semana no projeto Viva Voz, do Oi Futuro Ipanema, no Rio de Janeiro (RJ). Frestyle é o momento de improviso dos shows de rap e, instantes antes, ao criar na hora versos sobre os figurinos da plateia da apresentação de 25 de junho de 2011, Emicida provou que sua fama de grande improvisador é justa. Sem concessões, o rapper paulista fez um show que começou monocórdio, mas foi crescendo e acabou seduzindo os manos cariocas. Não fosse pelo visual classe média do público, que incluía até o rapper carioca Marcelo D2, algum espectador dessituado poderia pensar que o show acontecia na Zona Leste de São Paulo (SP), celeiro do hip hop na periferia da cidade em que Leandro Roque de Olivieira nasceu em agosto de 1985. Com agilidade, sob as batidas e scratches de seu fiel escudeiro, o DJ Nyack, Emicida cuspiu seus versos e suas rimas sobre os cotidianos das comunidades. Como se ouviu em Triunfo, o tema que encerrou o show (antes do bis arrepiante em que a convidada Fabiana Cozza citou trecho da Suíte dos Pescadores, de Dorival Caymmi, entre versos de Pra Não Ter Tempo Ruim), as letras verborrágicas de Emicida são impregnadas de consciência social, mas o rapper não adota postura rancorosa em cena, procurando, ao contrário, ser simpático para se conectar com a plateia. Ele tampouco bate excessivamente na tecla da injustiça social. Como mostraram os versos de Ela Diz, acompanhados em coro pelos manos cariocas que lotaram o teatro do Oi Futuro Ipanema em 25 de junho de 2011, seu rap tem também uma face romântica que expõe a mulher com dignidade. Esse tratamento respeitoso aparece sobretudo em Vacilão, tema que toma partido do lado feminino ao retratar separação de casal. Vacilão integra o EP Sua Mina Ouve meu Rap Tamem..., lançado em fevereiro de 2010. O EP é sucessor de Pra Quem Mordeu um Cachorro por Comida, Até que Eu Cheguei Bem Longe..., o CD/mixtape editado em 2009 que deu projeção a Emicida fora das fronteiras dos guetos periféricos onde se ouve e se consome hip hop. A exemplo de A Cada Vento e Vai Ser Rimando, incluídas no roteiro da apresentação carioca, boa parte do repertório do show veio desta gravação seminal, embora Emicida já esteja promovendo um terceiro disco, Emicídio, lançado no segundo semestre de 2010. Seja como for, seu show mostrou que continua havendo vida e versos inteligentes no rap brasileiro que caminha às margens periféricas da indústria da música. Emicida é sangue bom!!

Luca disse...

Você às vezes me surpreende, Mauro! Nunca te imaginei escrevendo sobre um show de rap.

Diogo Santos disse...

Ia escrever a mesma coisa que o leitor, meu caro. Conheci o Emicida depois do (desastroso) Urban Music Festival no mês passado em São Paulo(SP) e ele de fato foge um pouco das ladainhas típicas do rap e em nada lembra (ou pouco lembra) a marra repetitiva de D2 em sua incasável procura ...

Anônimo disse...

Nessa praia do rap eu fico com o Criolo.
Lançou um discaço!
Aliás, Mauro, vc devia resenhar.
É sem dúvida um dos lançamentos do ano.
O disco do cara tem afrobeat, samba, reggae, dub e até um brega legítimo.
Tudo isso em um disco que nunca deixa de ser de rap.
Sem contar a instantâneamente clássica "Não Existe Amor em SP"
Ouçam!