Mauro Ferreira no G1

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sexta-feira, 24 de junho de 2011

Não... Manuela Rodrigues não é uma qualquer em 'Uma outra qualquer por aí'

Resenha de CD
Título: Uma Outra Qualquer por Aí
Artista: Manuela Rodrigues
Gravadora: Garimpo Música
Cotação: * * * * 1/2

 Oito anos após Rotas (2003), Manuela Rodrigues mostra com seu segundo excelente álbum, Uma outra qualquer por aí, que não é uma qualquer como diria Alcione, marrom como esta cantora baiana de som moderno que passa longe da batida já industrializada da axé music - ainda que o disco traga regravação estilosa de sucesso do Olodum. Basta dizer que a faixa que nomeia o álbum produzido pela própria Manuela Rodrigues com Tadeu Mascarenhas, Uma outra qualquer por Aí, é da lavra dos inspirados paulistas Romulo Fróes e Clima. Fróes ainda assina e canta com a artista Por um fio, canção cool alocada como faixa-bônus ao fim do disco. Sim, além de ser boa cantora de voz aguda e segura, Manuela Rodrigues se revela compositora igualmente talentosa. É dela o samba Barraqueira, lançado por Márcia Castro em seu CD Pecadinho (2007) e agora regravado com muita propriedade pela própria autora com efeitos e samples do DJ Mauro Telefunksoul, coprodutor da faixa. Ainda dentro do universo do samba, mas em formato mais tradicional, Vende-se um poema expõe o humor irônico dos versos do poeta baiano Álvaro Lemos, musicados por Manuela e cantados na companhia do autor. Há verve também em Profissional liberal, tema autoral em que Manuela perfila os que abriram mão de cumprir expediente. O arranjo - que simula com samples o peso de uma orquestra sinfônica em determinadas passagens - é exemplo da sonoridade moderna e personalíssima de Uma outra qualquer por aí. CD que abre com Genius (Manuela Rodrigues e Tadeu Mascarenhas), faixa-vinheta instrumental urdida com sons do brinquedo homônimo da Estrela. Tal como no show Reverse, apresentado pela cantora em 2007, Genius introduz Neurose, canção autoral de Manuela que se conecta com a modernidade contemporânea da obra de artistas como Adriana Calcanhotto e Tulipa Ruiz (o mesmo podendo ser dito de Doce de limão, de Leandro Morais). Menos cool, Moça de família é tema autoral cheio de atitude, com letra contundente escrita na espivitada linha moleca do samba Barraqueira. Sim, a artista tem atitude. Mesmo que o CD apresente uma ou outra faixa melodicamente menos sedutora, como Desencanto (parceria de Manuela Rodrigues com Leandro Morais), Uma outra qualquer por aí é álbum que contradiz seu título porque, entre tantas cantoras com pouco ou nada a dizer, Manuela Rodrigues apresenta um disco com estilo e com letras tão expressivas quanto seu som. "Sou ainda canção / Esse é meu fazer / Exclusivo exercer do meu grato querer", poetiza a artista em versos do samba torto Teve reflexo. E a regravação camerística de Berimbau (Pierre Onasis, Marquinhos e Germano Meneghel) - sucesso do grupo afro-baiano Olodum, repaginado em registro de tons épicos que ultrapassa os oito minutos e  evidencia a letra impregnada de consciência social e orgulho da negritude - é estratégica para mostrar que Manuela Rodrigues não nega a raça e a origem, mas se permite construir sua identidade musical fora do caldeirão fervente do pop afro-baiano. Axé para esta artista que não é uma qualquer no populoso país das cantoras e que - por isso mesmo - merece ser muito ouvida além das fronteiras de sua Bahia natal, porque sua bela música ignora tais fronteiras.

15 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Oito anos após Rotas (2003), Manuela Rodrigues mostra com seu segundo excelente álbum, Uma Outra Qualquer por Aí, que não é uma qualquer como diria Alcione, marrom com esta cantora baiana de som moderno que passa longe da batida já industrializada da axé music ainda que o disco traga regravação estilosa de sucesso do Olodum. Basta dizer que a faixa que nomeia o álbum produzido pela própria Manuela Rodrigues com Tadeu Mascarenhas, Uma Outra Qualquer por Aí, é da lavra dos inspirados paulistas Romulo Fróes e Clima. Fróes ainda assina e canta com a artista Por um Fio, canção cool alocada como faixa-bônus ao fim do disco. Sim, além de ser boa cantora de voz aguda e segura, Manuela Rodrigues se revela compositora igualmente talentosa. É dela o samba Barraqueira, lançado por Márcia Castro em seu CD Pecadinho (2007) e agora regravado com muita propriedade pela autora com efeitos e samples do DJ Mauro Telefunksoul, coprodutor da faixa. Ainda dentro do universo do samba, mas em formato mais tradicional, Vende-se um Poema expõe o humor irônico dos versos do poeta baiano Álvaro Lemos, musicados por Manuela e cantados na companhia do autor. Há verve também em Profissional Liberal, tema autoral em que Manuela perfila os que abriram mão de cumprir expediente. O arranjo - que simula com samples o peso de uma orquestra sinfônica em determinadas passagens - é exemplo da sonoridade personalíssima de Uma Outra Qualquer por Aí. Que abre com Genius (Manuela Rodrigues e Tadeu Mascarenhas), faixa-vinheta instrumental urdida com sons do brinquedo homônimo da Estrela. Tal como no show Reverse, apresentado pela cantora em 2007, Genius introduz Neurose, canção autoral de Manuela que se conecta com a modernidade contemporânea da obra de artistas como Adriana Calcanhotto e Tulipa Ruiz (o mesmo podendo ser dito de Doce de Limão, de Leandro Morais). Menos cool, Moça de Família é tema autoral cheio de atitude, com letra contundente escrita na espivitada linha moleca do samba Barraqueira. Sim, a artista tem atitude. Mesmo que apresente uma ou outra faixa melodicamente bem pouco sedutora, como Desencanto (parceria de Manuela Rodrigues com Leandro Morais), Uma Outra Qualquer por Aí é álbum que contradiz seu título porque, entre tantas cantoras com pouco ou nada a dizer, Manuela Rodrigues apresenta um disco com estilo e com letras tão expressivas quanto seu som. "Sou ainda canção / Esse é meu fazer / Exclusivo exercer do meu grato querer", poetiza a artista em versos do samba torto Teve Reflexo. E a regravação camerística de Berimbau (Pierre Onasis, Marquinhos e Germano Meneghel) - sucesso do grupo afro-baiano Olodum, repaginado em registro de tons épicos que ultrapassa os oito minutos e evidencia a letra impregnada de consciência social e orgulho da negritude - é estratégica para mostrar que Manuela Rodrigues não nega a raça e a origem, mas se permite construir sua identidade musical fora do caldeirão fervente do pop afro-baiano. Axé para esta artista que não é uma qualquer no populoso país das cantoras e que - por isso mesmo - merece ser muito ouvida além das fronteiras da Bahia!!

Luca disse...

Nunca tinha ouvido falar na Manuela mas conheço a Márcia Castro, quando ela lança outro disco?

Natival disse...

Tive a oportunidade de assistir a um show de Manuela aqui em Salvador no ano de 2009. Ela canta muito bem, uma técnica incrível.

Sobre Marcia, o cd novo "De Pés No chão" deverá sair em meados de agosto.

http://marciacastroblog.blogspot.com/

Anônimo disse...

Sem dúvida nenhuma, uma das vozes mais doces que eu já ouvi! E quanta personalidade... Encantadora intérprete! Bravo, MANUELA RODRIGUES! Nunca mais cale a sua voz!
Bravo!

Nielson Souza disse...

Indescritível esse CD!A Manuela me liga a Salvador de uma forma nada convencional!Ela une técnica vocal e uma qualidade artística incrível.Sou fã!

Marlon Marcos disse...

Manuela Rodrigues reacendeu a composição no cenário musical baiano. Antenada e destemida, inventiva e criteriosa, ela traz novidades, reconta o existente e viaja num tipo de excelência musical que fará bem ao Brasil.
Uma cantora-compositora que captou tão precisamente o que a Bahia precisava fazer para melhorar musicalmente. Esta linda mulher deve alçar novos voos, definir diversas rotas, incrementar a lista dos novíssimos baianos, encabeçada por Tiganá Santana, para mostrar ao mundo que a Bahia ainda sabe fazer.
Valeu, Manuela. Sua voz e musicalidade produz gozo em nossa audição.

Marlon Marcos disse...

Manuela Rodrigues reacendeu a composição no cenário musical baiano. Antenada e destemida, inventiva e criteriosa, ela traz novidades, reconta o existente e viaja num tipo de excelência musical que fará bem ao Brasil.
Uma cantora-compositora que captou tão precisamente o que a Bahia precisava fazer para melhorar musicalmente. Esta linda mulher deve alçar novos voos, definir diversas rotas, incrementar a lista dos novíssimos baianos, encabeçada por Tiganá Santana, para mostrar ao mundo que a Bahia ainda sabe fazer.
Valeu, Manuela. Sua voz e musicalidade produz gozo em nossa audição.

Tâmara Rossene disse...

Pós Rotas, eu como fã incondicional de Manuela, posso dizer que é mais do que visível o seu crescimento e amadurecimento profissional. No palco ela é enorme..em voz, em presença, em interpretação... Por isso foi uma satisfação enorme encontrar essa leitura sobre a cantora aqui, com tantos rótulos que a Bahia carrega por aí afora. Diversifiquem, experimentem, ouçam. Particularmente recomendo Vende-se Poema, mas há controvérsias entre os que apreciam...

Van disse...

Manu Rodrigues tem uma voz encantadora e uma presença de palco inigualável... a capa e o conteúdo dessa obra linda estão em linha com sua beleza. É realmente um motivo de orgulho ter uma cantora baiana desse nível.

Fau Produção & Comunicação disse...

Parabéns pra Manuela!! O disco dela é maravilhoso e ela é uma grande artista!! O segundo semestre de 2011 promete boas surpresas na música baiana (leia-se: produções de músicos e bandas do estado). Após o período dos festejos juninos, o mercado fonográfico vai receber uma enxurrada de lançamentos, que confirmam a riqueza deste caldeirão cultural chamado Bahia.

Hamilton Hafif disse...

Quem conhece um pouco Manuela Rodrigues não se surpreende pelo resultado deste trabalho. Ela já constituiu um séquito de seguidores na Bahia que curte, admira e sabe a qualidade das coisas que ela faz. Este é um disco mais que aguardado, desejado. Manuela tem seus diferenciais. Como bem foi expresso, traz um trabalho "com estilo e com letras tão expressivas quanto seu som".
Logo, logo ela ganha o Brasil... Experimentem!

Carlos Cardoso disse...

Estou feliz por tal reconhecimento. Espero que seja o início de novos tempos musicais para Bahia.
Salve Manuela Rodrigues
Salve a nova-velha música da Bahia!!

Thais Alves disse...

A primeira vez que eu vi/ouvi Manuela Rodrigues (Manu), fiquei encantada... E desde então, sempre que ouço Manu, dispara um novo encantamento... ELA tem alma de ARTISTA; Tem o DOM. Para mim ela é CAMALEONICA. Ver Manuela no palco é ter a possibilidade de poder experimentar uma alma diversa: cantora, atriz, mulher mais que mulher, furacão, doce, leoa, “peixinha”, Loba...
Quando MANUELA RODRIGUES canta ela conta histórias...
Sou fã fã fã....
Que os anjos divinos estejam sempre abençoando a sua arte.

Mauro Ferreira disse...

Caros navegantes que admiram o trabalho de Manuela, eis o link do texto que o DJ Zé Pedro escreveu sobre o disco:

http://www.djzepedro.com.br/texto.php?id=173

Recomendo a leitura. Abs, MauroF

Pedro Progresso disse...

que delícia de disco! moderno (sem a pretensão chata de Karina Buhr), ousado.

uma verdadeira (e grata) descoberta.