Mauro Ferreira no G1

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sexta-feira, 17 de junho de 2011

'Mamonas pra Sempre' foca história do grupo com a lente da afetividade

Resenha de documentário
Título: Mamonas pra Sempre (Tatu Filmes, 2010)
Direção: Cláudio Kahns
Roteiro e pesquisa: Diana Zatz Musi
Cotação: * * * 1/2
Em cartaz nos cinemas brasileiros a partir desta sexta-feira, 17 de junho de 2011

Se o jato que levava os Mamonas Assassinas não tivesse caído ao se chocar contra montanha na Serra da Cantareira (SP), na noite de 2 de março de 1996, o grupo paulista teria tido a chance de passar pela sempre temida prova do segundo disco. Talvez Dinho (voz), Samuel Reoli (baixo), Júlio Rasec (teclados), Sérgio Reoli (bateria) e Bento Hinoto (guitarra) tivessem conseguido reeditar o sucesso fenomenal de seu primeiro álbum, Mamonas Assassinas (1995), que ultrapassou os dois milhões de cópias vendidas a reboque de hits como Pelados em Santos, Vira-Vira e Robocop Gay. Talvez a piada musical do quinteto soasse velha e sem graça neste segundo disco. Mas isso ninguém nunca vai poder afirmar porque o acidente áereo acabou com o futuro dos Mamonas Assassinas. Resta também revolver o passado do grupo - e isso é o que faz o documentário Mamonas pra Sempre, dirigido por Cláudio Kahns. Em cartaz nos cinemas brasileiros a partir desta sexta-feira, 17 de junho de 2011, o filme recorre ao uso de grafismos para esboçar linguagem pop que remete ao visual das histórias em quadrinhos. Contudo, tais bossas não disfarçam a forma linear com que o documentário reconstitui a trajetória da banda de 1990 - ano em que foi formado o Utopia, o grupo de rock de Guarulhos (SP) que em 1995 daria origem aos Mamonas Assassinas - até o fatídico 2 de março de 1996. Cronológica, a reconstituição é feita através de depoimentos e de fartas imagens dos músicos desde os tempos em que sua (relativa) projeção ficava restrita ao público de sua cidade natal. Em especial, dois depoimentos retrospectivos dados para o filme costuram a narrativa e lhe dão base. São os depoimentos de Rick Bonadio (produtor do álbum dos Mamonas) e do empresário do grupo, Samy Elia. Se este tem a tendência de romantizar o cotidiano do grupo, Bonadio parece mais focado na realidade. É ele que conceitua o caráter de cada músico e seu respectivo papel na banda e na engrenagem do sucesso, impedindo o filme de ficar chapa branca. É Bonadio também quem deixa claro o quanto a presença da namorada de Dinho (a modelo Valéria Zopello) na turnê ocasionalmente atrapalhava o funcionamento dessa mesma engrenagem por deixar os outros músicos pouco à vontade. Contudo, as valiosas imagens de arquivo falam por si só em determinadas passagens do filme. O discurso raivoso de Dinho no show feito pelos Mamonas em janeiro de 1996 no estádio Paschoal Thomeo - o mesmo estádio de Guarulhos no qual o Utopia tinha implorado em vão para tocar em 1992 - mostra que o coração moleque do carismático vocalista também guardava muita mágoa dos tempos em que as portas do mundo da música não se abriam para ele. Mesmo assim, o humor parecia mesmo reger a música e o cotidiano do grupo- bem como a vida dos músicos. Muitas cenas de bastidores dão leveza e graça ao filme por reviverem as  piadas improvisadas pelos Mamonas em camarins de TV, ônibus, palcos e nas entrevistas. Mamonas pra Sempre reconta com zelo uma história já contada pelo programa Por Toda Minha Vida, exibido pela TV Globo em 2008 e editado em DVD em janeiro de 2010. Ao focar sobretudo a ascensão dos Mamonas, sem se deter na queda do avião que tirou o grupo tragica e precocemente de cena, o diretor Cláudio Kahns fez filme tão divertido quanto informativo, com a lente da afetividade.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Se o jato que levava os Mamonas Assassinas não tivesse caído ao se chocar contra montanha na Serra da Cantareira (SP), na noite de 2 de março de 1996, o grupo paulista teria tido a chance de passar pela sempre temida prova do segundo disco. Talvez Dinho (voz), Samuel Reoli (baixo), Júlio Rasec (teclados), Sérgio Reoli (bateria) e Bento Hinoto (guitarra) tivessem conseguido reeditar o sucesso fenomenal de seu primeiro álbum, Mamonas Assassinas (1995), que ultrapassou os dois milhões de cópias vendidas a reboque de hits como Pelados em Santos, Vira-Vira e Robocop Gay. Talvez a piada musical do quinteto soasse velha e sem graça neste segundo disco. Mas isso ninguém nunca vai poder afirmar porque o acidente áereo acabou com o futuro dos Mamonas Assassinas. Resta também revolver o passado do grupo - e isso é o que faz o documentário Mamonas pra Sempre, dirigido por Cláudio Kahns. Em cartaz nos cinemas brasileiros a partir desta sexta-feira, 17 de junho de 2011, o filme recorre ao uso de grafismos para esboçar linguagem pop que remete ao visual das histórias em quadrinhos. Contudo, tais bossas não disfarçam a forma linear com que o documentário reconstitui a trajetória da banda de 1990 - ano em que foi formado o Utopía, o grupo de rock de Guarulhos (SP) que em 1995 daria origem aos Mamonas - até o fatídico 2 de março de 1996. Cronológica, a reconstituição é feita através de depoimentos e de fartas imagens dos músicos desde os tempos em que sua (relativa) projeção ficava restrita ao público de sua cidade natal. Em especial, dois depoimentos retrospectivos dados para o filme costuram a narrativa e lhe dão base. São os depoimentos de Rick Bonadio (produtor do álbum dos Mamonas) e do empresário do grupo, Samy Elia. Se este tem a tendência de romantizar o cotidiano do grupo, Bonadio parece mais focado na realidade. É ele que conceitua o caráter de cada músico e seu respectivo papel na banda e na engrenagem do sucesso, impedindo o filme de ficar chapa branca. É Bonadio também quem deixa claro o quanto a presença da namorada de Dinho (a modelo Valéria Zopello) na turnê ocasionalmente atrapalhava o funcionamento dessa mesma engrenagem por deixar os outros músicos pouco à vontade. Contudo, as valiosas imagens de arquivo falam por si só em determinadas passagens do filme. O discurso raivoso de Dinho no show feito pelos Mamonas em janeiro de 1996 no estádio Paschoal Thomeo - o mesmo estádio de Guarulhos no qual o Utopia tinha implorado em vão para tocar em 1992 - mostra que o coração moleque do carismático vocalista também guardava muita mágoa dos tempos em que as portas do mundo da música não se abriam para ele. Mesmo assim, o humor parecia mesmo reger a música e o cotidiano do grupo- bem como a vida dos músicos. Muitas cenas de bastidores dão leveza e graça ao filme por reviverem as piadas improvisadas pelos Mamonas em camarins de TV, ônibus, palcos e nas entrevistas. Mamonas pra Sempre reconta com zelo uma história já contada pelo programa Por Toda Minha Vida, exibido pela TV Globo em 2008 e editado em DVD em janeiro de 2010. Ao focar sobretudo a ascensão dos Mamonas, sem se deter na queda do avião que tirou o grupo tragica e precocemente de cena, o diretor Cláudio Kahns fez filme tão divertido quanto informativo, com a lente da afetividade.

Luca disse...

precisava mesmo fazer um filme sobre o assunto?