Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 9 de junho de 2011

Anelis honra a dinastia dos Assumpção em inquieto primeiro álbum solo

Resenha de CD
Título: Sou Suspeita Estou Sujeita Não Sou Santa
Artista: Anelis Assumpção
Gravadora: Scubidu Records
Cotação: * * * 1/2

Presença recorrente no circuito paulista de shows ao longo dos anos 2000, Anelis Assumpção lança, enfim, seu primeiro álbum solo, Sou Suspeita Estou Sujeita Não Sou Santa, produzido pela artista com o tecladista Zé Nigro. De título incomum, extraído da canção acústica Deita, o disco honra a dinastia da artista, filha de Itamar Assumpção (1949 - 2003), cuja voz é ouvida logo na abertura. Sampleada pela baterista Simone Sou, a voz de Itamar anuncia Mulher Segundo meu Pai - música da lavra do compositor, um dos pilares da vanguarda paulista - e se faz ouvir também nos beatboxs que pontuam a faixa. Na sequência, Bola com os Amigos (Anelis Assumpção) flerta com o dub e, ao expor o trabalho autoral da cantora, sinaliza o parentesco eventual do som de Anelis com o de Céu - nome, não por acaso, recorrente na ficha técnica do disco. Céu faz, por exemplo, alguns vocais de Secret, faixa em inglês assinada por Anelis com a guitarrista Cris Scabello que desagua na praia do reggae. Aliás, o ritmo jamaicano também embala Neverland (Anelis Assumpção e Beto Villares), faixa de tom onírico que ostenta as vozes da mesma Céu e de Thalma de Freitas, colegas de Anelis no trio Negresko Sis e convidadas também da jazzy Alta Madrugada (Anelis Assumpção). De poética inusitada ("Eu quero ter uma vida sustentável com o meu amor / Consumir conscientemente gozo e angústias"), Amor Sustentável (Anelis Assumpção e Cris Scabello) combina a voz incidental do ator Gero Camilo com a guitarra de Gustavo Ruiz enquanto Passando a Vez (Anelis Assumpção) cai bem no samba com suave arsenal percussivo. Fora da seara autoral, Sou Suspeita Estou Sujeita Não Sou Santa surpreende ao flertar com o afrobeat em Sonhando, tema de Karina Burh, gravado por Anelis com apropriada citação de fonograma de Fela Kuti (1938 - 1997), pioneiro ícone do gênero. Os metais esquentam a faixa. Já a temperatura de Estrela (Anelis Assumpção) - canção que soa quase como vinheta, por conta da letra próxima de um hai kai - é intencionalmente mais baixa. E por falar em poesia, Quaresmeira (Anelis Assumpção e Jerry Espíndola) salpica fina poesia no tempo da delicadeza, quase como se a música estivesse suspensa no ar. O encontro da voz de Anelis com a da convidada Alzira E resulta bonito. Entre faixa em inglês cantada em clima de cabaré (One Day, de Anelis Assumpção) e tema que recorre ao canto falado do rap (Como É Gostoso, faixa-bônus da edição digital e do vinil), Sou Suspeita Estou Sujeita Não Sou Santa apresenta a sequência da faixa Deita e reitera a assinatura musical da artista em Luz nos Meus Olhinhos (Anelis Assumpção, Rubi Assumpção e Jerry Espíndola). No todo, ao longo de suas 17 faixas (O Importante É o que Interessa é faixa-bônus turbinada com rap de Rodrigo Brandão e alocada somente no vinil e na edição digital), o inquieto disco confirma a força de Anelis Assumpção independentemente de sua nobre origem.

12 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Presença recorrente no circuito paulista de shows ao longo dos anos 2000, Anelis Assumpção lança, enfim, seu primeiro álbum solo, Sou Suspeita Estou Sujeita Não Sou Santa, produzido pela artista com o tecladista Zé Nigro. De título incomum, extraído da canção acústica Deita, o disco honra a dinastia da artista, filha de Itamar Assumpção (1949 - 2003), cuja voz é ouvida logo na abertura. Sampleada pela baterisa Simone Sou, a voz de Itamar anuncia Mulher Segundo meu Pai - inédita da lavra do compositor, um dos pilares da vanguarda paulista - e se faz ouvir também nos beatboxs que pontuam a faixa. Na sequência, Bola com os Amigos (Anelis Assumpção) flerta com o dub e, ao expor o trabalho autoral da cantora, sinaliza o parentesco eventual do som de Anelis com o de Céu - nome, não por acaso, recorrente na ficha técnica do disco. Céu faz, por exemplo, alguns vocais de Secret, faixa em inglês assinada por Anelis com a guitarrista Cris Scabello que desagua na praia do reggae. Aliás, o ritmo jamaicano também embala Neverland (Anelis Assumpção e Beto Villares), faixa de tom onírico que ostenta as vozes da mesma Céu e de Thalma de Freitas, colegas de Anelis no trio Negresko Sis e convidadas também da jazzy Alta Madrugada (Anelis Assumpção). De poética inusitada ("Eu quero ter uma vida sustentável com o meu amor / Consumir conscientemente gozo e angústias"), Amor Sustentável (Anelis Assumpção e Cris Scabello) combina a voz incidental do ator Gero Camilo com a guitarra de Gustavo Ruiz enquanto Passando a Vez (Anelis Assumpção) cai bem no samba com suave arsenal percussivo. Fora da seara autoral, Sou Suspeita Estou Sujeita Não Sou Santa surpreende ao flertar com o afrobeat em Sonhando, tema de Karina Burh, gravado por Anelis com apropriada citação de fonograma de Fela Kuti (1938 - 1997), pioneiro ícone do gênero. Os metais esquentam a faixa. Já a temperatura de Estrela (Anelis Assumpção) - canção que soa quase como vinheta, por conta da letra próxima de um hai kai - é intencionalmente mais baixa. E por falar em poesia, Quaresmeira (Anelis Assumpção e Jerry Espíndola) salpica fina poesia no tempo da delicadeza, quase como se a música estivesse suspensa no ar. O encontro da voz de Anelis com a da convidada Alzira E resulta bonito. Entre faixa em inglês cantada em clima de cabaré (One Day, de Anelis Assumpção) e tema que recorre ao canto falado do rap (Como É Gostoso, faixa-bônus da edição digital e do vinil), Sou Suspeita Estou Sujeita Não Sou Santa apresenta a sequência da faixa Deita e reitera a assinatura musical da artista em Luz nos Meus Olhinhos (Anelis Assumpção, Rubi Assumpção e Jerry Espíndola). No todo, ao longo de suas 17 faixas (O Importante É o que Interessa é faixa-bônus turbinada com rap de Rodrigo Brandão e alocada somente no vinil e na edição digital), o inquieto disco confirma a força de Anelis Assumpção independentemente de sua nobre origem.

Luca disse...

Pela turma envolvida no disco, só pode ser mesmo bom. Sai em cd normal, pra comprar na loja?

Tombom disse...

Acabei de ouvir o CD inaugural de Anelis: merece repeat muitas vezes. E a resenha de MF — sempre antenado com a cena musical — serviu-me de orientação e deleite para a audição. Valeu!

Anônimo disse...

Baixei e acabei de ouvir.
Se fosse eu teria dado uma enxugada(tá muito longo), mas gostei bastante!
As boas são realmente boas!
Sou fã dos discos com 12 faixas.

PS: Pra mim junto com o disco do Criolo, até agora, são os melhores do ano.

jose disse...

O show aqui em São Paulo no Sesc Pinheiros foi arrasador. Coisa de gente grande e competente. Anelis sabe o que faz e faz a diferença.

lurian disse...

Também daria uma enxugada. Achei um pouco acima da média, não é daqueles que vc não para de ouvir, mas é um disco interessante, sobretudo "Neverland", uma das melhores do disco.
Nesse momento o que tem me pegado de jeito é o novo da Marina Lima que precisa de audições e audições pra se ambientar ao som da (ainda) gata!

Anônimo disse...

Se enxugar vira daqueles que não se para de ouvir.
Enxuguei e fiz um cdr nota 10.
Eis como ficou:

- Mulher segundo meu pai
- Bola com os amigos
- Amor sustentável
- Neverland
- Passando a vez
- Sonhando
- Estrela
- Quaresmeira
- Alta madrugada
- Luz dos meus olhinhos
- O importante é o que interessa
- Como é gostoso

PS: Anelis não a de se importar, quando ela vier fazer show em Recife eu vou e levo uma cópia pra ela. rsrsrs

Ouçammmm, muito bom!

Felipe dos Santos disse...

Quem ouviu (e curtiu) o por hora desativado Donazica já sabia do talento de Anelis.

Aliás, dela e de tantos outros(as): Gustavo Ruiz, Guizado, Andreia Dias, Iara Rennó, Mariá Portugal...

Obrigatório ouvir. "Mulher segundo meu pai" deve ter ficado uma belezoca de versão.

Felipe dos Santos Souza

P.S.: A participação das Negresko Sis era pule de dez. Mais certo do que ela, só o fato de que o encarte do CD de final de ano do Robertão terá a cor azul. (risos)

Caio Faiad disse...

Eu adorei o cd... Como eu sou fã de cd com bastante músicae discordo que ele tenha que ser enxuto.
A surpresa pra mim foi Sonhando, já tinha essa música canta somente pela Karina Buhr, mas a versão desse aĺbum fico massa pra kraio.
Outra coisa que gostei foi a presença da Negresko Sis, pois eu só tenho Bubuia em boa qualidade agora tem mais duas ou três (em Nerverland só a CéU canta)...to loko prum álbum dessas moçoilas!!!

Felipe Grilo disse...

Mauro, vc disse que mulher segundo meu pai é inédita, mas já havia sido gravada pela Luiza Possi no CD ao vivo.

Quanto ao CD, baixei mas ainda não dei a devida atenção a ele, depois preciso arrumar tempo pra ouvir com mais atenção.

Mauro Ferreira disse...

Felipe, grato por me lembrar da gravação da Luiza. De fato, tinha esquecido dela. Abs, MauroF

Caio Faiad disse...

Digo mais. Mulher Segundo Meu Pai também está no álbum Filme Brasileiro da DonaZica, grupo cujas vocalistas eram (são?) a própria Anelis, Andreia Dias e Iara Rennó. Sendo assim, as três possuem músicas gravadas primeiramente pela DonaZica em seus belíssimos álbuns solos.