Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 3 de março de 2016

Larissa Luz conquista território com álbum que afia discurso da mulher negra

Resenha de álbum
Título: Território conquistado
Artista: Larissa Luz
Gravadora: Edição independente da artista
Cotação: * * * *

"Eu quero voar, escrever meu enredo / Liberdade é não ter medo", sentencia Larissa Luz em versos de Descolonizada (Larissa Luz e Pedro Itan), primeira das dez músicas de Território conquistado, segundo álbum solo desta cantora soteropolitana projetada como vocalista do grupo baiano Ara Ketu, função que ocupou de 2007 a 2012, ano em que já lançou o primeiro álbum solo, MunDança (Independente, 2014). No segundo álbum solo, gravado com recursos financeiros obtidos no projeto Natura musical, Luz azeita o mix pop de eletrônica e batuque afro-brasileiro. O voo solo é feito com enredo que afirma e afia o discurso de libertação da mulher negra. Território conquistado é disco feminino de conceito pautado pela antropóloga Goli Guerreiro. Musicalmente, a produção - capitaneada pela própria artista com Pedro Tiê, JR Tostoi e Pedro Itan (parceiro de Luz em sete das dez músicas) - liberta a cantora das amarras e clichês da música afro-pop-baiana, ainda que uma composição como Banho de mar (Larissa Luz e Luis Pereira) faça emergir uma baianidade nagô que não se deixa enquadrar em estereótipos. A alta dose de eletrônica - mais precisamente de dubstep e de trap - envolve músicas como Bonecas pretas (Larissa Luz e Pedro Itan), reiterando discurso que combate a opressão da mulher negra com "identificação transformadora", como diz a letra que alveja o comércio e a publicidade por forjar e vender a idealização da mulher branca. Mama chama - parceria de Larissa Luz com Manuela Rodrigues, outra cantora e compositora da Bahia que ergue obra pautada por estética mais contemporânea - reacende o discurso feminino. A faixa tem a participação de Thalma de Freitas, que recita versos de poema de Lívia Natália, escritora negra da Bahia. Letras negras (Larissa Luz e Pedro Itan), a propósito, cita nominalmente a escritora mineira Carolina de Jesus (1914 - 1977), dona de página importante na literatura brasileira. Nollywood (Larrisa Luz e Pedro Itan) se conecta à mãe África para celebrar as jovens letras negras da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie. Com estética negra contemporânea que embute influências dos movimentos Afrofuturismo e Afropunk, Território conquistado avança também pelo rap, inserindo  discurso próximo do gênero na prosódia de Transe, composição cuja letra inclui trechos de versos da já mencionada poeta Lívia Natália. A presença da negra Elza Soares contribui para legitimar o ímpeto feroz da música-título Território conquistado (Larissa Luz e Pedro Itan), cuja letra ratifica o discurso feminino libertador. "Eu sou uma mulher / Livre da sina e da obsessão", dizem versos da composição. Ora disposta a vingar as mulheres pelos séculos vividos sob o jugo da opressão masculina, como em Violenta (Larissa Luz e Pedro Itan), em que brada a capella versos como "Minha voz vai te ferir / Meu sorriso vai fazer você sangar", ora despudorada e ciente do poder vaginal, como em Meu sexo (Larissa Luz e Pedro Itan), Larissa Luz conquista território com este disco de som quente formatado pelo naipe de produtores com a percussão de Michelle Abu, as guitarras de Pedro Itan, o sinth bass de Pedro Tie e a voz incandescente de Luz. Sem medo, e livre, Larissa Luz alça alto voo.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ "Eu quero voar, escrever meu enredo / Liberdade é não ter medo", sentencia Larissa Luz em versos de Descolonizada (Larissa Luz e Pedro Itan), primeira das dez músicas de Território conquistado, segundo álbum solo desta cantora soteropolitana projetada como vocalista do grupo baiano Ara Ketu, função que ocupou de 2007 a 2012, ano em que já lançou o primeiro álbum solo, MunDança (Independente, 2014). No segundo álbum solo, gravado com recursos financeiros obtidos no projeto Natura musical, Luz azeita o mix pop de eletrônica e batuque afro-brasileiro. O voo solo é feito com enredo que afirma e afia o discurso de libertação da mulher negra. Território conquistado é disco feminino de conceito pautado pela antropóloga Goli Guerreiro. Musicalmente, a produção - capitaneada pela própria artista com Pedro Tiê, JR Tostoi e Pedro Itan (parceiro de Luz em sete das dez músicas) - liberta a cantora das amarras e clichês da música afro-pop-baiana, ainda que uma composição como Banho de mar (Larissa Luz e Luis Pereira) faça emergir uma baianidade nagô que não se deixa enquadrar em estereótipos. A alta dose de eletrônica - mais precisamente de dubstep e de trap - envolve músicas como Bonecas pretas (Larissa Luz e Pedro Itan), reiterando discurso que combate a opressão da mulher negra com "identificação transformadora", como diz a letra que alveja o comércio e a publicidade por forjar e vender a idealização da mulher branca. Mama chama - parceria de Larissa Luz com Manuela Rodrigues, outra cantora e compositora da Bahia que ergue obra pautada por estética mais contemporânea - reacende o discurso feminino. A faixa tem a participação de Thalma de Freitas, que recita versos de poema de Lívia Natália, escritora negra da Bahia. Letras negras (Larissa Luz e Pedro Itan), a propósito, cita nominalmente a escritora mineira Carolina de Jesus (1914 - 1977), dona de página importante na literatura brasileira. Nollywood (Larrisa Luz e Pedro Itan) se conecta à mãe África para celebrar as jovens letras negras da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie. Com estética negra contemporânea que embute influências dos movimentos Afrofuturismo e Afropunk, Território conquistado avança também pelo rap, inserindo discurso próximo do gênero na prosódia de Transe, composição cuja letra inclui trechos de versos da já mencionada poeta Lívia Natália. A presença da negra Elza Soares contribui para legitimar o ímpeto feroz da música-título Território conquistado (Larissa Luz e Pedro Itan), cuja letra ratifica o discurso feminino libertador. "Eu sou uma mulher / Livre da sina e da obsessão", dizem versos da composição. Ora disposta a vingar as mulheres pelos séculos vividos sob o jugo da opressão masculina, como em Violenta (Larissa Luz e Pedro Itan), em que brada a capella versos como "Minha voz vai te ferir / Meu sorriso vai fazer você sangar", ora despudorada e ciente do poder vaginal, como em Meu sexo (Larissa Luz e Pedro Itan), Larissa Luz conquista território com este disco de som quente formatado pelo naipe de produtores com a percussão de Michelle Abu, as guitarras de Pedro Itan, o sinth bass de Pedro Tie e a voz incandescente de Luz. Sem medo, e livre, Larissa Luz alça alto voo.

Unknown disse...

Álbum maravilhoso!!

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.