Mauro Ferreira no G1

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sábado, 1 de dezembro de 2012

Imersão da obra de Belchior no blues preserva sua (datada) contundência

Resenha de CD
Título: Belchior Blues
Artistas: Vários
Gravadora: Edição digital independente
Cotação: * * *
O disco pode ser baixado de forma gratuita e legalizada no site Belchior Blues

No momento em que o nome de Belchior volta à mídia, por conta de atribulações de natureza pessoal, a obra do cantor e compositor cearense - de grande projeção na segunda metade da década de 70 - tem reiterada sua contundência e originalidade em Belchior Blues, projeto fonográfico arquitetado em 2011 pelos jornalistas Luiz Carlos Carvalho e Roberto Maciel para celebrar os 65 anos que o artista completou em 26 de outubro do ano passado e os 40 anos da estreia fonográfica do artista em compacto de 1971 que apresentou Na Hora do Almoço (Belchior), música regravada sem tempero especial no tributo pela cearense Artur Menezes Blues Band. Concretizado efetivamente neste ano de 2012, o disco acaba de ser disponibilizado para download em site criado para divulgar o projeto. No CD Belchior Blues, 14 músicas do compositor - sucessos, em sua grande maioria - são inseridas no universo do blues por artistas brasileiros (de várias regiões do país) que cultuam o gênero norte-americano. São registros que harmonizam guitarras e gaitas de blues com o canto torto dos solistas convidados. Reouvidas em perspectiva, tais músicas mostram o quão datada - mas o quão forte também - é a obra de Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes. Com gosto amargo, o cancioneiro do artista  está embebido no clima de ressaca da primeira metade dos anos 70. O sonho acabara, como sentenciou John Lennon (1940 - 1980), e coube a artistas como Belchior inventariar as perdas, os ganhos e os danos da era hippie. Até a chegada do amor é envolta em angústia na obra do artista, como explicitado em Divina Comédia Humana (Belchior, 1978), música revivida pela banda paranaense Mister Jack com toques de blues e rock, mas não exatamente como um blues. Já o grupo cearense Blues Label cruza Paralelas (Belchior, 1975) com a pegada mais típica do blues. Que também tinge Velha Roupa Colorida (Belchior, 1976) com a tonalidade tradicional da carioca Big Joe Manfra Blues Band. Já A Palo Seco (Belchior, 1974) é tema pontuado pela harmônica do carioca Jefferson Garcia. Pena que o canto jovial de Luana Dias não corte fundo feito faca, diluindo o desespero contido na letra que inclui ironicamente versos como "Por força deste destino, um tango argentino me vai bem melhor que um blues". Há mais densidade no toque da guitarra posta por Otávio Rocha no registro de Mucuripe (Belchior e Fagner, 1972) dividido pela veterana banda carioca Blues Etílicos com o cantor Sambê. Já a banda mineira Ted & Blue Drop encara Medo de Avião (Belchior, 1979) sem reverência, com passagens instrumentais que evidenciam o toque da guitarra de Ted McNeely. Por sua vez,  a dupla cearense Marcelo Justa & Diogo Farias faz Galos, Noites e Quintais (Belchior, 1976) cantar em tom acústico e rural. Justa pilota violão, slide e voz enquanto Farias toca gaita. Já o guitarrista e cantor paulista Vasco Faé redesenha Pequeno Mapa do Tempo (Belchior, 1977), retrato menos conhecido das inquietações que pautam o cancioneiro de Belchior e uma das poucas músicas de Belchior Blues que não foram sucesso nos anos 70. Outra, Comentário a Respeito de John (Belchior e José Luiz Penna, 1979),  ganha registro da banda do pianista e baixista paulista Adriano Grineberg. Música ambientada em clima de blues, Como Nossos Pais (Belchior, 1976) - música já gravada de forma definitiva por Elis Regina (1945 - 1982) - ganha registro denso (de mais de sete minutos) e surpreende ao apresentar a melhor voz do (irregular) time de vocalistas de Belchior Blues, a da carioca Taryn Szpilman. Outro destaque do disco, Fotografia 3 x 4 (Belchior, 1976) é retratada como um blues rural pela capixaba Big Bat Blues Band. Música que consolidou a carreira fonográfica do compositor que migrara de Sobral (CE) para o Rio de Janeiro (RJ), vindo do interior sem dinheiro no banco e sem parentes importantes, Apenas Um Rapaz Latino Americano (Belchior, 1976) vira mesmo (encorpado) blues na (boa) gravação da banda capitaneada pelo cantor cearense Felipe Cazaux. Por fim, Coração Selvagem (Belchior, 1977) - outro grande hit radiofônico de Belchior em sua década áurea - bate no enérgico compasso blues do registro que junta o cantor mineiro Rodrigo Nézio com o Duocondé Blues. No todo, Belchior Blues experimenta outros tons em cancioneiro que, a despeito de estar atrelado ao seu tempo (e lugar), ainda é sedutor.

10 comentários:

Mauro Ferreira disse...

No momento em que o nome de Belchior volta à mídia, por conta de atribulações de natureza pessoal, a obra do cantor e compositor cearense - de grande projeção na segunda metade da década de 70 - tem reiterada sua contundência e originalidade em Belchior Blues, projeto fonográfico arquitetado em 2011 pelos jornalistas Luiz Carlos Carvalho e Roberto Maciel para celebrar os 65 anos que o artista completou em 26 de outubro do ano passado e os 40 anos da estreia fonográfica do artista em compacto de 1971 que apresentou Na Hora do Almoço (Belchior), música regravada sem tempero especial no tributo pela cearense Artur Menezes Blues Band. Concretizado efetivamente neste ano de 2012, o disco acaba de ser disponibilizado para download em site criado para divulgar o projeto. No CD Belchior Blues, 14 músicas do compositor - sucessos, em sua grande maioria - são inseridas no universo do blues por artistas brasileiros (de várias regiões do país) que cultuam o gênero norte-americano. São registros que harmonizam guitarras e gaitas de blues com o canto torto dos solistas convidados. Reouvidas em perspectiva, tais músicas mostram o quão datada - mas o quão forte também - é a obra de Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes. Com gosto amargo, o cancioneiro do artista está embebido no clima de ressaca da primeira metade dos anos 70. O sonho acabara, como sentenciou John Lennon (1940 - 1980), e coube a artistas como Belchior inventariar as perdas, os ganhos e os danos da era hippie. Até a chegada do amor é envolta em angústia na obra do artista, como explicitado em Divina Comédia Humana (Belchior, 1978), música revivida pela banda paranaense Mister Jack com toques de blues e rock, mas não exatamente como um blues. Já o grupo cearense Blues Label cruza Paralelas (Belchior, 1975) com a pegada mais típica do blues. Que também tinge Velha Roupa Colorida (Belchior, 1976) com a tonalidade tradicional da carioca Big Joe Manfra Blues Band. Já A Palo Seco (Belchior, 1974) é tema pontuado pela harmônica do carioca Jefferson Garcia. Pena que o canto jovial de Luana Dias não corte fundo feito faca, diluindo o desespero contido na letra que inclui ironicamente versos como "Por força deste destino, um tango argentino me vai bem melhor que um blues". Há mais densidade no toque da guitarra posta por Otávio Rocha no registro de Mucuripe (Belchior e Fagner, 1972) dividido pela veterana banda carioca Blues Etílicos com o cantor Sambê. Já a banda mineira Ted & Blue Drop encara Medo de Avião (Belchior, 1979) sem reverência, com passagens instrumentais que evidenciam o toque da guitarra de Ted McNeely. Por sua vez, a dupla cearense Marcelo Justa & Diogo Farias faz Galos, Noites e Quintais (Belchior, 1976) cantar em tom acústico e rural. Justa pilota violão, slide e voz enquanto Farias toca gaita.

Mauro Ferreira disse...

Já o guitarrista e cantor paulista Vasco Faé redesenha Pequeno Mapa do Tempo (Belchior, 1977), retrato menos conhecido das inquietações que pautam o cancioneiro de Belchior e uma das poucas músicas de Belchior Blues que não foram sucesso nos anos 70. Outra, Comentário a Respeito de John (Belchior e José Luiz Penna, 1979), ganha registro da banda do pianista e baixista paulista Adriano Grineberg. Música ambientada em clima de blues, Como Nossos Pais (Belchior, 1976) - música já gravada de forma definitiva por Elis Regina (1945 - 1982) - ganha registro denso (de mais de sete minutos) e surpreende ao apresentar a melhor voz do (irregular) time de vocalistas de Belchior Blues, a da carioca Taryn Szpilman. Outro destaque do disco, Fotografia 3 x 4 (Belchior, 1976) é retratada como um blues rural pela capixaba Big Bat Blues Band. Música que consolidou a carreira fonográfica do compositor que migrara de Sobral (CE) para o Rio de Janeiro (RJ), vindo do interior sem dinheiro no banco e sem parentes importantes, Apenas Um Rapaz Latino Americano (Belchior, 1976) vira mesmo (encorpado) blues na (boa) gravação da banda capitaneada pelo cantor cearense Felipe Cazaux. Por fim, Coração Selvagem (Belchior, 1977) - outro grande hit radiofônico de Belchior em sua década áurea - bate no enérgico compasso blues do registro que junta o cantor mineiro Rodrigo Nézio com o Duocondé Blues. No todo, Belchior Blues experimenta outros tons em cancioneiro que, a despeito de estar atrelado ao seu tempo (e lugar), ainda é sedutor.

Cláudio disse...

Mauro,

Este CD será comecializado no formato físico ou apenas as músicas serão vendidas na internet?

Mauro Ferreira disse...

O CD pode ser baixado de graça, Cláudio. Haverá uma pequena tiragem física dirigida a formadores de opinião. Abs, MauroF

lurian disse...

Belchior pode seduzir sim, prova disso é que uma das melhores músicas do disco Janelas do Brasil de Amelinha é justamente a excelente releitura da não tão conhecida "Galos, noites e quintais".

Anônimo disse...

Esse lance de música datada dá pano para manga.
Vejam só.
Eu não acho a música do Belchior datada. Acho as angústias cantadas por ele atemporais.
São questionamentos, dúvidas, incertezas e comportamentos inerentes a qualquer época da história da humanidade.

"Estava mais angustiado que o goleiro na hora do gol"

"Mas é vc que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem"

"Quem me deu uma nova consciência está em casa contando vil metal"

Bem, só se o Mauro quis falar em relação ao modelo comportamental ditado para nossa época atual.
Mas mesmo as "virgens existenciais", como diria Lobão, se identificarão em algum momento de suas vidas com alguns versos do velho Belquior.
Afinal, ninguém passa incólume pela vida doce.


Rafael disse...

Excelente disco de tributo ao Belchior. Vale a pena alguma gravadora como a Deckdisc ou Discobertas lançá-lo numa tiragem comercial. Belchior é um dos titãs da nossa música. Suas letras são precisas, envolventes e grandiosas. Pena que o cantor esteja, por vontade própria, tão deesaparecido da mídia e do mundo musical.

ADEMAR AMANCIO disse...

A música e letra quando é datada mas é boa, a gente desdata na hora.

Coisas do Sertão disse...

Emanuel Andrade

Belchior será sempre atualíssimo. Um grande intelectual, poeta , desenhista e compositor que não teve mais o valor merecido. Humano, sério, educado e superior a antipatia do colega Fagner. Alô Zé Pedro, vale um projeto, mas com as cantoras a altura de sua obra. Juro que compro. Belchior salvou o repertório de Falso Brilhante, de Elis, sem dúvida

ADEMAR AMANCIO disse...

Sem dúvida, as duas músicas de Belchior elevou a categoria de Falso brilhante.