Mauro Ferreira no G1

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sábado, 15 de dezembro de 2012

Com força estranha, Roberto mostra que o sol ainda brilha na sua estrada

Resenha de show
Título: Roberto Carlos 
Artista: Roberto Carlos (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Maracanãzinho (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 14 de dezembro de 2012
Cotação: * * * *
Show em cartaz no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, em 15 e 16 de dezembro de 2012

O sol ainda brilha na estrada. Aos 71 anos, Roberto Carlos mostrou que ainda é o cara diante das quase 12 mil pessoas que lotaram o ginásio carioca Maracanãzinho, na noite de 14 de dezembro de 2012, para vê-lo cantar as mesmas músicas de sempre, dizer os mesmos textos de sempre, apresentar os mesmos (cúmplices) músicos de sempre e refazer com leveza ao longo de duas horas - mais uma vez - seu invencível jogo de cena. E, diante da constatação inevitável de que Roberto Carlos ainda é o Rei para grande parte do público brasileiro, uma pergunta fica no ar: que força estranha é essa que leva tamanho público a cantar as músicas do artista como se elas fossem a novidade? O tempo não pára, Roberto envelhece - a ponto de aludir à fartura dos cabelos brancos com gesto feito durante verso de Desabafo (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1979) - e, no entanto, seu reinado parece inabalável. Que força estranha leva quase 12 mil pessoas a cantar Como É Grande o Meu Amor por Você (Roberto Carlos, 1967) no início do show, na Overture regida pelo fiel maestro Eduardo Lages, e novamente no fim do show, quando a singela e até pueril canção de 1967 reaparece no roteiro na voz de seu autor e intérprete? Talvez seja o imensurável carisma do cantor. Talvez seja a postura conservadora do artista, seu apego às tradições. Ou talvez seja a habilidade para dar a impressão de estar sempre lançando novidade quando, a rigor, oferece sempre mais do mesmo. Sim, a seu modo, Roberto inseriu sutis novidades no roteiro do show (re)apresentado neste fim de semana no Maracanãzinho. Pela primeira vez, o Rei cantou ao vivo uma música sobre a batida do remix de um DJ. Pois o carioca Marcello Mansur, o Memê, entrou em cena e, ao encarar Fera Ferida (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1982) com seu arsenal house, ambientou o show por alguns minutos no clima de uma rave. Funcionou. Mas Esse Cara Sou Eu funcionou ainda mais. Mesmo sem roçar a beleza das clássicas canções de amor criadas pelo compositor no período mais fértil de sua produção autoral, a balada propagada na trilha sonora da novela Salve Jorge (TV Globo, 2012) - e lançada em CD-single que fez Roberto vender novamente um milhão de cópias de um disco, como era quase regra nos anos 70 e 80 - enreda o ouvinte na sua trama melódica, simples, mas sedutora. Em cena, aliás, Roberto faz o papel de um cara simples. O cara que louva a mãe já falecida em Lady Laura (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1978), que roga sua fé católica em números como Nossa Senhora (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1993) - sempre um momento de emoção real nos shows do cantor pela força pungente do tema - e que relembra saudoso suas jovens tardes de domingo. Não, o tempo não pára - e Roberto volta e meia faz uma alusão à passagem incessante do tempo nos textos decorados com que se dirige à plateia. Paradoxalmente, o tempo parece esperar por Roberto Carlos. É no seu tempo todo próprio e lento que o artista - já com cabelos brancos na fronte - digere novidades antes de apresentá-las ao seu público. E o mais incrível é que tudo parece estar no seu devido tempo e lugar. Talvez porque a música de Roberto Carlos esteja no fundo de cada vontade encoberta. E, por isso, uma força estranha leva todo mundo a cantar suas músicas, como no show de 14 de dezembro de 2012, em que ficou claro que o sol ainda brilha na estrada de Roberto Carlos.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

O sol ainda brilha na estrada. Aos 71 anos, Roberto Carlos mostrou que ainda é o cara diante das quase 12 mil pessoas que lotaram o ginásio carioca Maracanãzinho, na noite de 14 de dezembro de 2012, para vê-lo cantar as mesmas músicas de sempre, dizer os mesmos textos de sempre, apresentar os mesmos (cúmplices) músicos de sempre e refazer com leveza ao longo de duas horas - mais uma vez - seu invencível jogo de cena. E, diante da constatação inevitável de que Roberto Carlos ainda é o Rei para grande parte do público brasileiro, uma pergunta fica no ar: que força estranha é essa que leva tamanho público a cantar as músicas do artista como se elas fossem a novidade? O tempo não pára, Roberto envelhece - a ponto de aludir à fartura dos cabelos brancos com gesto feito durante verso de Desabafo (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1979) - e, no entanto, seu reinado parece inabalável. Que força estranha leva quase 12 mil pessoas a cantar Como É Grande o Meu Amor por Você (Roberto Carlos, 1967) no início do show, na Overture regida pelo fiel maestro Eduardo Lages, e novamente no fim do show, quando a singela e até pueril canção de 1967 reaparece no roteiro na voz de seu autor e intérprete? Talvez seja o imensurável carisma do cantor. Talvez seja a postura conservadora do artista, seu apego às tradições. Ou talvez seja a habilidade para dar a impressão de estar lançando novidade quando, a rigor, oferece sempre mais do mesmo. Sim, a seu modo, Roberto inseriu novidades no roteiro do show apresentado neste fim de semana no Maracanãzinho. Pela primeira vez, o Rei cantou ao vivo uma música sobre a batida do remix de um DJ. Pois o carioca Marcello Mansur, o Memê, entrou em cena e, ao encarar Fera Ferida (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1982) com seu arsenal house, ambientou o show por alguns minutos no clima de uma rave. Funcionou. Mas Esse Cara Sou Eu funcionou ainda mais. Mesmo sem roçar a beleza das clássicas canções de amor criadas pelo compositor no período mais fértil de sua produção autoral, a balada propagada na trilha sonora da novela Salve Jorge (TV Globo, 2012) - e lançada em CD-single que fez Roberto vender novamente um milhão de cópias de um disco, como era quase regra nos anos 70 e 80 - enreda o ouvinte na sua trama melódica, simples, mas sedutora. Em cena, aliás, Roberto faz o papel de um cara simples. O cara que louva a mãe já falecida em Lady Laura (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1978), que roga sua fé católica em números como Nossa Senhora (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1993) - sempre um momento de emoção real nos shows do cantor pela força pungente do tema - e que relembra saudoso suas jovens tardes de domingo. Não, o tempo não pára - e Roberto volta e meia faz uma alusão à passagem incessante do tempo nos textos decorados com que se dirige à plateia. Paradoxalmente, o tempo parece esperar por Roberto Carlos. É no seu tempo todo próprio e lento que o artista - já com cabelos brancos na fronte - digere novidades antes de apresentá-las ao seu público. E o mais incrível é que tudo parece estar no seu devido tempo e lugar. Talvez porque a música de Roberto Carlos esteja no fundo de cada vontade encoberta. E, por isso, uma força estranha leva todo mundo a cantar suas músicas, como no show de 14 de dezembro de 2012, em que ficou claro que o sol ainda brilha na estrada de Roberto Carlos.

Anônimo disse...

A força estranha é basicamente a nostalgia. Lembranças de sonhos realizados, outros perdidos.
Seus clássicos são eternos porque falam de maneira coloquial, e também poética, de sentimentos que acometem todas as pessoas indiferente de classe social.
Enfim, as pessoas em um show do Robertão passam por uma espécie de divã onde elas mesmas são o paciente e o psicólogo.

PS: O que mais me chama a atenção no setentão Robertão é sua forma vocal. O cara canta igual, ou até melhor, que há, sei lá, trinta anos.

Reiiiiiii!