Mauro Ferreira no G1

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sábado, 22 de dezembro de 2012

Entre samba e baião, paixão nordestina de Bena prevalece em 'Valentia'

Resenha de CD
Título: Valentia
Artista: Bena Lobo
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * 

"Tem que ter valentia", receita Bena Lobo, num canto abafado pelas programações eletrônicas do produtor Daniel Gonzaga, na introdução de Baião Valente (Bena Lobo e Rômulo Pacheco), primeira das dez inéditas alinhadas pelo cantor e compositor carioca em seu quarto CD, Valentia, nas lojas neste mês de dezembro de 2012 com o selo da gravadora Biscoito Fino. Sim, tem que ter valentia para fazer seu próprio caminho numa estrada pavimentada por gênios como Edu Lobo, pai de Bena. Valente, Bena rejeita conexões com o pai neste álbum gravado entre novembro de 2011 e agosto de 2012 no Meio do Mato, o estúdio mantido por Daniel Gonzaga em sítio de Miguel Pereira (RJ). Mas o d.n.a. musical de certa forma está impresso nas dez inéditas autorais, compostas dentro das tradições da MPB, mas gravadas com um toque pop e contemporâneo (com a dose exata de eletrônica). Herança do compositor pernambucano Fernando Lobo (1915 - 1996), avô de Bena, a vivência nordestina do artista salta aos ouvidos ao longo do disco, exposta já no título de músicas como Sertão (Bena Lobo, Úrsula Corona e Rômulo Pacheco) e Paixão Nordestina (Bena Lobo e Paulo César Pinheiro). O gosto aguçado pela música da Nação Nordestina prevalece entre sambas e baiões. A ponto de a homenagem a Luiz Gonzaga (1912 - 1989) - prestada com Velho Lua (Bena Lobo e Edu Krieger), destaque do repertório, inclusive por conta dos versos poéticos de Krieger - soar mais natural em Valentia do que o tributo aos bambas do samba carioca, feito em O Samba Não Morre (Bena Lobo e Rômulo Pacheco). Quase no fim, Osso Duro (Bena Lobo, Úrsula Corona e Gabriel Moura) - tema amaciado pelos metais orquestrados por Daniel Gonzaga e pela Henrique Band - injeta certo suingue e pressão carioca no sangue nordestino de Valentia com citação de verso maroto de sucesso de Raul Seixas (1945 - 1989), Como Vovó Já Dizia (Raul Seixas e Paulo Coelho, 1975). Bem mais interessante em sua primeira metade, o álbum por vezes deixa a sensação de que os versos - como os escritos por Paulo César Pinheiro para LabaredaDefesa, duas das quatro parcerias do poeta com Bena registradas no disco - são mais fortes do que as músicas em si. De todo modo, Valentia mostra um artista já não tão jovem à procura de seu lugar ao sol numa estrada já desbravada por compositores do quilate de Luiz Gonzaga e Edu Lobo. E, somente por ter feito um disco à sua moda, do seu jeito indie, sem escorar a ficha técnica do álbum no (nobre) sobrenome familiar, Bena Lobo já merece crédito.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

"Tem que ter valentia", receita Bena Lobo, num canto abafado pelas programações eletrônicas do produtor Daniel Gonzaga, na introdução de Baião Valente (Bena Lobo e Rômulo Pacheco), primeira das dez inéditas alinhadas pelo cantor e compositor carioca em seu quarto CD, Valentia, nas lojas neste mês de dezembro de 2012 com o selo da gravadora Biscoito Fino. Sim, tem que ter valentia para fazer seu próprio caminho numa estrada pavimentada por gênios como Edu Lobo, pai de Bena. Valente, Bena rejeita conexões com o pai neste álbum gravado entre novembro de 2011 e agosto de 2012 no Meio do Mato, o estúdio mantido por Daniel Gonzaga em sítio de Miguel Pereira (RJ). Mas o d.n.a. musical de certa forma está impresso nas dez inéditas autorais, compostas dentro das tradições da MPB, mas gravadas com um toque pop e contemporâneo (com a dose exata de eletrônica). Herança do compositor pernambucano Fernando Lobo (1915 - 1996), avô de Bena, a vivência nordestina do artista salta aos ouvidos ao longo do disco, exposta já no título de músicas como Sertão (Bena Lobo, Úrsula Corona e Rômulo Pacheco) e Paixão Nordestina (Bena Lobo e Paulo César Pinheiro). O gosto aguçado pela música da Nação Nordestina prevalece entre sambas e baiões. A ponto de a homenagem a Luiz Gonzaga (1912 - 1989) - prestada com Velho Lua (Bena Lobo e Edu Krieger), destaque do repertório, inclusive por conta dos versos poéticos de Krieger - soar mais natural em Valentia do que o tributo aos bambas do samba carioca, feito em O Samba Não Morre (Bena Lobo e Rômulo Pacheco). Quase no fim, Osso Duro (Bena Lobo, Úrsula Corona e Gabriel Moura) - tema amaciado pelos metais orquestrados por Daniel Gonzaga e pela Henrique Band - injeta certo suingue e pressão carioca no sangue nordestino de Valentia com citação de verso maroto de sucesso de Raul Seixas (1945 - 1989), Como Vovó Já Dizia (Raul Seixas e Paulo Coelho, 1975). Bem mais interessante em sua primeira metade, o álbum por vezes deixa a sensação de que os versos - como os escritos por Paulo César Pinheiro para Labareda e Defesa, duas das quatro parcerias do poeta com Bena registradas no disco - são mais fortes do que as músicas em si. De todo modo, Valentia mostra um artista já não tão jovem à procura de seu lugar ao sol numa estrada já desbravada por compositores do quilate de Luiz Gonzaga e Edu Lobo. E, somente por ter feito um disco à sua moda, do seu jeito indie, sem escorar a ficha técnica do álbum no (nobre) sobrenome familiar, Bena Lobo já merece crédito.

Rafael disse...

Ainda não ouvi o disco, mas dizem ser bom. Ao menos o disco "Sábado", do Bena, é ótimo.