Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

'Dama da Canção' encaixota belos discos que Nana não vestiu de bolero

Resenha de caixa de CDs
Título: Nana Caymmi - A Dama da Canção
Artista: Nana Caymmi
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * * * *

Posta nas lojas pela EMI Music neste mês de dezembro de 2012, sem poupar o coração e o bolso (pelo preço, cotado em cerca de R$ 450) dos fãs de Nana Caymmi, a caixa A Dama da Canção embala  18 álbuns dos tempos em que a cantora não vestia sua discografia de bolero. A rigor, há até dois títulos dedicados ao ritmo espanhol que se espalhou pela América Latina entre os 18 CDs encaixotados com capricho por Rodrigo Faour sob a supervisão de Jorge Lopes, Luiz Garcia e Ricardo Moreira. Trata-se de  Bolero (álbum de 1993 que viabilizou a volta da intérprete à EMI, após hiato de quatro anos em que Nana gravou somente, em 1992, um dos 12 discos da padronizada série Academia Brasileira de Música, não incluído na caixa por questões editoriais) e Sangre de Mi Alma (refinadíssimo álbum de 2000 que não bisou o êxito comercial do antecessor de 1993). Contudo, o tom dos (primorosos) discos da caixa é outro. A rigor, todos os 18 álbuns encaixotados já tinham sido reeditados em CD, mas de forma avulsa, por vezes até desleixada. A Dama da Canção agrupa todos esses discos lançados por Nana entre 1965 e 2000 com  as suas capas, contracapas e encartes originais - um dado especialmente importante no que diz respeito aos álbuns Nana Caymmi (disco de 1973 feito para a gravadora argentina Trova) e Nana (RCA-Victor, 1977), ambos nunca reeditados em CD no Brasil com suas capas originais. A excelência da remasterização - feita por Luigi Hoffer e Carlos Savalla - também contribui para que as atuais reedições ofereçam ganho na qualidade do som, inclusive nos casos dos dois álbuns da CID, Nana Caymmi (1975) e Renascer (1976), já alvos de recente remasterização. Ganhos técnicos à parte, o que salta aos ouvidos - e permanece inalterada ao longo das décadas - é a alta qualidade dos arranjos e do repertório irretocável de Nana Caymmi. Do Nana de 1965 (primeiro álbum solo da artista, lançado pela extinta Elenco) ao consagrador Resposta ao Tempo (EMI Music, 1998), que estourou o bolero que lhe dá título, Nana Caymmi deu voz ao supra-sumo da música brasileira em repertório que realçou belas páginas dos cancioneiros de compositores como Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994), Claudio Nucci, Dominguinhos, Fátima Guedes, Ivan Lins, Milton Nascimento, Sueli Costa e, claro, o mestre e patriarca da musical Família Caymmi. A despeito de Dorival Caymmi (1914 - 2008) ser o grande intérprete de sua própria obra, Nana sempre impôs seu estilo e cantou seu pai à sua moda com interpretações também grandiosas. Em que pese tanta qualidade e estilo, ou talvez mesmo por causa dela, Nana poucas vezes alcançou o sucesso popular, de massa, com suas gravações. A primeira vez aconteceu quando sua regravação do samba-canção Se Queres Saber (Peter Pan) foi veiculada em escala nacional na abertura da minissérie Quem Ama Não Mata, exibida pela TV Globo em 1982 - e, nesse ponto, o alentado texto escrito por Faour para o libreto da caixa se equivoca ao creditar a lotação esgotada dos shows feitos por Nana em 1977 e 1978 nos projetos Pixinguinha e Seis e Meia (com Ivan Lins e Dori Caymmi) ao sucesso de Se Querer Saber, pois cinco anos separam o lançamento do disco (o Nana de 1977 feito para a RCA) da exposição nacional da faixa na minissérie da Globo. De todo modo, a lotação dos shows da cantora naquela época abriu para Nana as portas da EMI-Odeon, gravadora na qual ela registrou a partir de 1979, com regularidade quase anual (algo então inédito em sua espaçada carreira fonográfica), títulos emblemáticos de sua discografia. São dessa fase pérolas como Nana Caymmi (1979), Mudança dos Ventos (1980), ...E a Gente Nem Deu Nome (1981), Voz e Suor (1983 - disco de voz e piano feito com César Camargo Mariano), Chora Brasileira (1985) e Nana (1988). São álbuns de um tempo em que o canto de Nana - de início um diamante bruto a ser lapidado - já se mostrava depurado. Basta ouvir qualquer gravação da cantora na época - como a pungente Meu Silêncio (Claudio Nucci e Luiz Fernando Gonçalves), lançada em Mudança dos Ventos - para sentir a força do canto emotivo de Nana. Analisados em perspectiva na caixa A Dama da Canção (à qual foi adicionada a coletânea dupla Eu Sei que Vou te Amar, produzida com esmero por Faour com a reunião de 41 fonogramas avulsos da discografia da cantora), os 18 primeiros álbuns de Nana Caymmi corroboram a coerência e a personalidade desta digníssima dama da canção popular brasileira.

22 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Posta nas lojas pela EMI Music neste mês de dezembro de 2012, sem poupar o coração e o bolso (pelo preço, cotado em cerca de R$ 450) dos fãs de Nana Caymmi, a caixa A Dama da Canção embala 18 álbuns dos tempos em que a cantora não vestia sua discografia de bolero. A rigor, há até dois títulos dedicados ao ritmo espanhol que se espalhou pela América Latina entre os 18 CDs encaixotados com capricho por Rodrigo Faour sob a supervisão de Jorge Lopes, Luiz Garcia e Ricardo Moreira. Trata-se de Bolero (álbum de 1993 que viabilizou a volta da intérprete à EMI, após hiato de quatro anos em que Nana gravou somente, em 1992, um dos 12 discos da padronizada série Academia Brasileira de Música, não incluído na caixa por questões editoriais) e Sangre de Mi Alma (refinadíssimo álbum de 2000 que não bisou o êxito comercial do antecessor de 1993). Contudo, o tom dos (primorosos) discos da caixa é outro. A rigor, todos os 18 álbuns encaixotados já tinham sido reeditados em CD, mas de forma avulsa, por vezes até desleixada. A Dama da Canção agrupa todos esses discos lançados por Nana entre 1965 e 2000 com as suas capas, contracapas e encartes originais - um dado especialmente importante no que diz respeito aos álbuns Nana Caymmi (disco de 1973 feito para a gravadora argentina Trova) e Nana (RCA-Victor, 1977), ambos nunca reeditados em CD no Brasil com suas capas originais. A excelência da remasterização - feita por Luigi Hoffer e Carlos Savalla - também contribui para que as atuais reedições ofereçam ganho na qualidade do som, inclusive nos casos dos dois álbuns da CID, Nana Caymmi (1975) e Renascer (1976), já alvos de recente remasterização.

Mauro Ferreira disse...

Ganhos técnicos à parte, o que salta aos ouvidos - e permanece inalterada ao longo das décadas - é a alta qualidade dos arranjos e do repertório irretocável de Nana Caymmi. Do Nana de 1965 (primeiro álbum solo da artista, lançado pela extinta Elenco) ao consagrador Resposta ao Tempo (EMI Music, 1998), que estourou o bolero que lhe dá título, Nana Caymmi deu voz ao supra-sumo da música brasileira em repertório que realçou belas páginas dos cancioneiros de compositores como Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994), Claudio Nucci, Dominguinhos, Fátima Guedes, Ivan Lins, Milton Nascimento, Sueli Costa e, claro, o mestre e patriarca da musical Família Caymmi. A despeito de Dorival Caymmi (1914 - 2008) ser o grande intérprete de sua própria obra, Nana sempre impôs seu estilo e cantou seu pai à sua moda com interpretações também grandiosas. Em que pese tanta qualidade e estilo, ou talvez mesmo por causa dela, Nana poucas vezes alcançou o sucesso popular, de massa, com suas gravações. A primeira vez aconteceu quando sua regravação do samba-canção Se Queres Saber (Peter Pan) foi veiculada em escala nacional na abertura da minissérie Quem Ama Não Mata, exibida pela TV Globo em 1982 - e, nesse ponto, o alentado texto escrito por Faour para o libreto da caixa se equivoca ao creditar a lotação esgotada dos shows feitos por Nana em 1977 e 1978 nos projetos Pixinguinha e Seis e Meia (com Ivan Lins e Dori Caymmi) ao sucesso de Se Querer Saber, pois cinco anos separam o lançamento do disco (o Nana de 1977 feito para a RCA) da exposição nacional da faixa na minissérie da Globo. De todo modo, a lotação dos shows da cantora naquela época abriu para Nana as portas da EMI-Odeon, gravadora na qual ela registrou a partir de 1979, com regularidade quase anual (algo então inédito em sua espaçada carreira fonográfica), títulos emblemáticos de sua discografia. São dessa fase pérolas como Nana Caymmi (1979), Mudança dos Ventos (1980), ...E a Gente Nem Deu Nome (1981), Voz e Suor (1983 - disco de voz e piano feito com César Camargo Mariano), Chora Brasileira (1985) e Nana (1988). São álbuns de um tempo em que o canto de Nana - de início um diamante bruto a ser lapidado - já se mostrava depurado. Basta ouvir qualquer gravação da cantora na época - como a pungente Meu Silêncio (Claudio Nucci e Luiz Fernando Gonçalves), lançada em Mudança dos Ventos - para sentir a força do canto emotivo de Nana. Analisados em perspectiva na caixa A Dama da Canção (à qual foi adicionada a coletânea dupla Eu Sei que Vou te Amar, produzida com esmero por Faour com a reunião de 41 fonogramas avulsos da discografia da cantora), os 18 primeiros álbuns de Nana Caymmi corroboram a coerência e a personalidade desta digníssima dama da canção popular brasileira.

Maria disse...

Muito bom Mauro!
Nana é uma intérprete única vou adquirir a caixa.

Rafael disse...

Belíssima box da Nana. Finalmente fizeram um box para ela, e um box decente. Dá gosto de ver os discos remasterizados e com a arte gráfica original. Pena que o mesmo esteja tão caro.

Fabio disse...

R$450 não dá!

Insensato Mundo disse...

O box é excente! Tenho a reedição do álbum da série Academia Brasileira de Música com o título "Brilhante", que traz a foto de Nana na capa do CD. O repertório é muito bom, ainda que o formato de junção de duas canções em cada faixa não me agrade muito. Mesmo assim Nana dá um show, como sempre, cantando músicas de certa maneira "batidas" e fortemente associadas a outras e outros intérpretes, como Vitoriosa, Dois Prá Lá, Dois Prá Cá, De Volta Pro Aconchego, Dom de Iludir, Faltando um Pedaço, etc.

ouisa55 disse...

Comprei em pré order na Fnac em plena Black Friday e saiu bem em conta! Devo receber ainda esta semana, em casa. Enfim, agora só falta a da Silvinha Telles. Roendo unhas, pura ansiedade! Chega logo! Parabéns Mauro! E obrigado por todo esse tempo nos colocando em dia com a nossa música. A melhor do mundo, na minha humilde opinião!

KL disse...

uma alternativa comercial interessante seria lançar esse projeto também em álbuns avulsos. Se não todos, pelo menos as iscas do box: o álbum gravado na Argentina e o da RCA, justamente por conta de virem com as capas originais. Isso porque os fãs já têm praticamente todos os cds, e ficaria caro comprar tudo isso de novo. Fica aqui a sugestão.

Rafael disse...

Ouisa55, espero que não se importe, mas não resisto a perguntar: por quanto saiu esse box para você na Fnac por conta da Black Friday? Vi que tinha algumas promoções por conta deste dia, mas que não eram tantas. Muita gente reclamou, e com razão, que no fim das contas era Black Fraude.

Rafael disse...

Essa caixa deveria sair no máximo a uns 200 reais. 450 é inconcebível, ainda mais se tratando de um país onde o salário mínimo é orçado em 660 reais. Sem contar que não se justifica vender essa mesma caixa a esse preço salgado, sendo que a mesma não traz nenhum livreto adicional, algo de relevante a mais para que justifique um preço tão caro como esse.

Douglas Carvalho disse...

Não acho 450 reais por 20 cds um valor caro. Um Cd avulso anda custando por aí cerca de 30 reais ou mais, portanto a caixa está por volta de 23 reais por cd. Sem contar que comprando pela internet com cartão de crédito pode-se parcelar em muitas vezes.

Caro foi o valor que vi outro dia da mesma caixa aqui no aeroporto de Salvador: mais de 800 reais.

André Queiroz disse...

Comprei esse box no site da FNAC numa promoção com desconto progressivo no dia 19/11 por R$352,40(o preço era de R$469,90)e está chegando amanhã com frete grátis.R$17,62 por CD!!!!!

Um ótimo presente de Natal que faz jus a expressão "Disco é Cultura" que vem na contracapa de Cds.

Agora é esperar 2013 e torcer para que saia o box da Sylvia Telles.

Rafael disse...

André, você teve até um desconto bom no preço da caixa. Pouco mais de 100 reais já ajuda bastante, mas ainda assim acho o preço elevado. Não se justifica ser tão caro esse box.

lurian disse...

Tudo remasterizado... Pena que já tenho todos esses discos, muitos até em cd e vinil...

KL disse...

acho que, para justificar a compra/venda de um box grande como esse, cada cd deveria custar no máximo R$ 15,00. Do contrário, o mais sensato seria vender os álbuns separados; eu pagaria até R$ 40,00 pela unidade de qualquer um dos títulos raros que eu ainda não tenho.

Luca disse...

a caixa do Marcos Valle não tinha esse preço, acho que custava 200 reais ou nem isso

Eduardo Cáffaro disse...

Muito Caro, Créduuu ! Adoro Nana, tenho quase todos, da vontade de comprar pela remasterização... Mas não sou filho de político pra poder gastar tanta grana com cds ! 450 é uma paulada na cabeça !

Rafael disse...

Eduardo, bota paulada na cabeça do consumidor. Acho o fim da picada quererem cobrar um box por 450 reais. Deveria ser no máximo 200 reais, e olhe lá. E digo isso referente a qualquer box no mercado. Eu não pagaria 40 reais pelos títulos raros, caso o box fosse desmembrado. 20 reais, e olhe lá. Porque por mais belos que sejam os discos, e mais caprichada seja a remasterização, o encarte e a ficha técnica (que obrigatoriamente deve ser sempre assim), não justifica dar 40 reais num único CD, que é antigo.

Rafael disse...

Douglas,

Não me leve a mal, mas para você dizer que não é caro 450 reais por um box desse, no mínimo você deve ser filho de algum político e está com dinheiro sobrando. Acertei?

Douglas Carvalho disse...

Errou longe, Rafael. Aliás, sequer comprei o BOX. Sou apenas justo. 23 reais por CD não é um valor caro.

lurian disse...

Os 11 discos da Simone custam em torno de R$ 198,00. Acho o preço da caixa da Nana bem salgado, mas vale à pena tendo em vistas que a maior parte dos discos entre as décadas de 70-80 captou Nana em sua melhor fase (Nana, Nana e Cesar Camargo Mariano, etc), a despeito do sucesso só atingido nos fins dos anos 90. A meu ver um dos melhores discos da fase já não tão recente foi "Alma serena" e passou meio desapercebido pela maioria.

noca disse...

Muito bem lembrado Lurian,Alma Serena é discaço,bem no nível dos seus grandes trabalhos.Passou desapercebido e por isso foi motivo de muita queixa de Nana na época.A partir disso ela ficou meio receosa de se arriscar mais.Mas Mauro disse tudo ai.E acrescento:a Nana de hoje,acomodada,voltada aos projetos de família,do excesso do bolero com pouca assimilação criativa nas escolhas de repertorio e nas interpretações,reflete uma artista em fim de carreira,sem a força estupenda e determinada que a tornou ímpar.E muito,muito distante de seus melhores parceiros musicos e compositores,inclusive de Dori.P.S.Nana é apenas boa cantora de boleros,mas genial,magnamica cantora de musica brasileira.