Mauro Ferreira no G1

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sábado, 22 de dezembro de 2012

Livro dá corda às emoções do violão ao refazer travessia do instrumento

Resenha de livro
Título: Violão Ibérico
Autor: Carlos Galilea
Editora: Trem Mineiro Produções Artísticas (com patrocínio da Vale)
Cotação: * * * *

Como diz o pesquisador Sérgio Cabral no prefácio escrito para Violão Ibérico, livro que traça a rota do violão, da Europa ao Brasil, o autor Carlos Galilea recolheu informações suficientes para escrever um dicionário ou enciclopédia sobre o instrumento. Felizmente, Galilea optou por fugir da linha acadêmica / didática e, sem prejuízo da informação, apresenta livro fluente que refaz, com certa poesia, a travessia intercontinental do violão. Da Península Ibérica, aonde chegou através dos mouros no século VII, até aportar no Brasil, passando pela necessária escala em Portugal, o violão unifica emoções. Ao entrelaçar dados históricos com entrevistas com violonistas dos três países que formam o eixo central da narrativa (Brasil, Espanha e Portugal), Galilea humaniza sua saga. Dar corda aos sentimentos e às percepções dos músicos no toque de seus violões é um dos méritos do livro."...O violão é feito escova de dente. Você é envolvido por ele. A maneira como reverbera no seu corpo muda de instrumento para instrumento. Muda tudo", pontua Lenine, entre declarações similares de nomes como Gilberto Gil e João Bosco.Ao historiar o violão com ênfase na presença do instrumento no triângulo Brasil - Espanha - Portugal, o autor puxa corda cuja ponta vem lá do antigo Egito, terra das liras e harpas. Por conta da elegância da escrita de Galilea, Violão Ibérico segura a atenção do leitor até quando a narrativa se prende a explicações teóricas sobre a gênese do instrumento. Com estilo, o autor esclarece que as raízes da guitarra são tão europeias quanto árabes, reconta a saga do espanhol Andrés Segovia (1893 - 1987) - "O violonista clássico mais universal do século XX", na definição de Galilea - e conclui, páginas adiante, que, no Brasil, é tênue a fronteira que separa o violão clássico do violão popular. Talvez por isso mesmo, haja preconceito contra o instrumento dentro do universo da música erudita. "A gente era um pouco o primo pobre dentro do mundo da música clássica", ressalta o violonista Marco Pereira. Com dois belos cadernos de imagens, nos quais salta aos olhos a foto de Gilberto Gil abraçado afetuosamente a seu vioão, Violão Ibérico dedica generosas páginas ao flamenco - gênero iniciado como o espanhol Francisco Rodríguez (1795 - 1848), El Murciano. É quanto entram em cena os virtuoses identificados com essa escola de violão como o espanhol Paco de Lucía e o brasileiro Raphael Rabello (1962-1995). Na sequência, o autor dá corda à guitarra portuguesa, alma do fado. Na parte final do livro, ligeiramente menos sedutora, Galilea aplica questionário idêntico a alguns virtuoses do violão brasileiro. Mas ainda aí há a paixão que motivou esse espanhol - estudioso da música popular - a traçar a rota do violão neste ótimo livro que celebra João Gilberto e Paco de Lúcia e que vai enredar tanto músicos como amantes da musa música.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Como diz o pesquisador Sérgio Cabral no prefácio escrito para Violão Ibérico, livro que traça a rota do violão, da Europa ao Brasil, o autor Carlos Galilea recolheu informações suficientes para escrever um dicionário ou enciclopédia sobre o instrumento. Felizmente, Galilea optou por fugir da linha acadêmica / didática e, sem prejuízo da informação, apresenta livro fluente que refaz, com certa poesia, a travessia intercontinental do violão. Da Península Ibérica, aonde chegou através dos mouros no século VII, até aportar no Brasil, passando pela necessária escala em Portugal, o violão unifica emoções. Ao entrelaçar dados históricos com entrevistas com violonistas dos três países que formam o eixo central da narrativa (Brasil, Espanha e Portugal), Galilea humaniza sua saga. Dar corda aos sentimentos e às percepções dos músicos no toque de seus violões é um dos méritos do livro."...O violão é feito escova de dente. Você é envolvido por ele. A maneira como reverbera no seu corpo muda de instrumento para instrumento. Muda tudo", pontua Lenine, entre declarações similares de nomes como Gilberto Gil e João Bosco.Ao historiar o violão com ênfase na presença do instrumento no triângulo Brasil - Espanha - Portugal, o autor puxa corda cuja ponta vem lá do antigo Egito, terra das liras e harpas. Por conta da elegância da escrita de Galilea, Violão Ibérico segura a atenção do leitor até quando a narrativa se prende a explicações teóricas sobre a gênese do instrumento. Com estilo, o autor esclarece que as raízes da guitarra são tão europeias quanto árabes, reconta a saga do espanhol Andrés Segovia (1893 - 1987) - "O violonista clássico mais universal do século XX", na definição de Galilea - e conclui, páginas adiante, que, no Brasil, é tênue a fronteira que separa o violão clássico do violão popular. Talvez por isso mesmo, haja preconceito contra o instrumento dentro do universo da música erudita. "A gente era um pouco o primo pobre dentro do mundo da música clássica", ressalta o violonista Marco Pereira. Com dois belos cadernos de imagens, nos quais salta aos olhos a foto de Gilberto Gil abraçado afetuosamente a seu vioão, Violão Ibérico dedica generosas páginas ao flamenco - gênero iniciado como o espanhol Francisco Rodríguez (1795 - 1848), El Murciano. É quanto entram em cena os virtuoses identificados com essa escola de violão como o espanhol Paco de Lucía e o brasileiro Raphael Rabello (1962-1995). Na sequência, o autor dá corda à guitarra portuguesa, alma do fado. Na parte final do livro, ligeiramente menos sedutora, Galilea aplica questionário idêntico a alguns virtuoses do violão brasileiro. Mas ainda aí há a paixão que motivou esse espanhol - estudioso da música popular - a traçar a rota do violão neste ótimo livro que celebra João Gilberto e Paco de Lúcia e que vai enredar tanto músicos como amantes da musa música.

lurian disse...

O violão flamenco é uma coisa espetacular, sou fã do paco de Lucia (Es), e também do português Pedro Caldeira Cabral(Pt) e Pedro Joia.