Mauro Ferreira no G1

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segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Com a voz nas alturas, Stevie Wonder se sente em casa em show no Rio

Resenha de show
Título: Stevie Wonder
Artista: Stevie Wonder (em foto de Marcos Hermes)
Local: Imperator - Centro Cultural João Nogueira (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 24 de dezembro de 2012
Cotação: * * * * 1/2
Em cartaz na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro (RJ), em 25 de dezembro de 2012

Era somente a terceira apresentação de Stevie Wonder no Rio de Janeiro. Mas parecia que o palco do Imperator era a sala da casa do cantor e compositor norte-americano, um dos gigantes da música negra dos Estados Unidos. Falante, interativo, com a vigorosa voz intacta (atingindo tons altos inimagináveis para seus 62 anos), o artista mostrou - pela terceira vez aos cariocas - porque é um dos gênios da música do século XX. Discípulo que se tornou mestre do funk e do soul, Wonder entrou em cena com azeitada big-band e, de cara, deu voz a um tema do repertório do cantor norte-americano de soul Sam Cooke (1931 - 1964). Wonderful World (Sam Cooke, Herb Alpert e Lou Adler, 1959) deu logo o tom participativo do show. Já neste primeiro número, tal qual um entertainer, o artista regeu as vozes, orquestrou as palmas e comando as batidas dos pés da plateia, que entrou imediatamente na onda de Wonder, esquecendo a irritação pelo atraso de duas horas na entrada do cantor em cena (atraso motivado por problemas técnicos que saltaram aos ouvidos em um ou outro momento do show). Já era segunda-feira, 24 de dezembro de 2012, quando o cantor foi conduzido a um dos teclados alocados ao centro do palco do Imperator. Ao quebrar de imediato o clima de irritação, Wonder passou a desfiar seu abrangente rosário de pérolas negras, tirando coelhos da cartola. Bird of Beauty (Stevie Wonder, 1974), literalmente um obscuro lado B do álbum Fulfillingness' First Finale (1974), ganhou levada que evocou o samba carioca. Mas a bossa de Stevie - que levou Garota de Ipanema (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1962) na gaita e incentivou o público a cantar a letra em português deste clássico mundial da música brasileira, tal como fizera em sua memorável apresentação no Rock in Rio 2011 - é mesmo o funk, o soul e o r & b. Vibrante, Master Blaster (Jammin') (Stevie Wonder, 1980) pulsou no balanço típico do mestre. Que surpreendeu ao iniciar  Knocks me Off My Feet (Stevie Wonder, 1976) somente com sua voz e seu piano, em clima mais íntimo. Ambientada nesse mesmo clima, a balada You and I (Stevie Wonder, 1972) se tornou um dos pontos altos da apresentação. Com outro tempero, Don't You Worry 'Bout a Thing (Stevie Wonder, 1973) ganhou molho de salsa ao fim. Na sequência, The Secret Life of Plants (Stevie Wonder, 1979) marcou a primeira entrada em cena do convidado Gilberto Gil. Em que pese o afeto reinante entre Gil e Wonder, o encontro não surtiu todo o efeito que poderia - até porque Gil precisou cantar lendo a letra. Na sequência, o hit Send One Your Love (Stevie Wonder, 1979) fez o link com o número anterior por também ser tema extraído do repertório do álbum Stevie Wonder's Journey Through The Secret Life of Plants (1979). Outro hit, Sir Duke (Stevie Wonder, 1976), ostentou todo o poder de sedução da música de Stevie Wonder, fazendo irresistível convite à dança, reiterado por Signed, Sealed, Delivered, I'm Yours (Stevie Wonder, Lee Garrett, Lula Mae Hardaway e Syreeta Wright, 1970) - outro ponto mais alto de um roteiro sem baixos - e por Living in The City (Stevie Wonder, 1973), improvisada a pedido de alguns espectadores. Na parte final, temas natalinos - What Christmas Means to Me (Anna Gaye, Allen Story, George Gordy, 1967) e Merry Christmas, Baby (Lou Baxter e Johnny Moore, 1947), este em ritmo de blues - se justificaram pela data do show e tiveram entre eles versão bilíngue da brasileira Boas Festas (Assis Valente, 1933), puxada em português e em inglês por Gil no momento em que foi chamado de volta ao palco por Wonder. É quando Gil e Wonder improvisaram diálogos musicais que tornaram o show ligeiramente menos sedutor. Ainda que o arremate - com Superstition (Stevie Wonder, 1972) e My Cherie Amour (Stevie Wonder, Henry Cosby e Sylvia Moy, 1969) - tenha corroborado a sensação de que o terceiro show de Stevie Wonder em palcos cariocas foi histórico como seus antecessores. O mestre se sentiu em casa...

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Era somente a terceira apresentação de Stevie Wonder no Rio de Janeiro. Mas parecia que o palco do Imperator era a sala da casa do cantor e compositor norte-americano, um dos gigantes da música negra dos Estados Unidos. Falante, interativo, com a voz vigorosa atingindo tons altos (inimagináveis para seus 62 anos), o artista mostrou - pela terceira vez aos cariocas - porque é um dos gênios da música do século XX. Discípulo que se tornou mestre do funk e do soul, Wonder entrou em cena com azeitada big-band e, de cara, deu voz a um tema do repertório do cantor norte-americano de soul Sam Cooke (1931 - 1964). Wonderful World (Sam Cooke, Herb Alpert e Lou Adler, 1959) deu logo o tom participativo do show. Já neste primeiro número, tal qual um entertainer, o artista regeu as vozes, orquestrou as palmas e comando as batidas dos pés da plateia, que entrou imediatamente na onda de Wonder, esquecendo a irritação pelo atraso de duas horas na entrada do cantor em cena (atraso motivado por problemas técnicos que saltaram aos ouvidos em um ou outro momento do show). Já era segunda-feira, 24 de dezembro de 2012, quando o cantor foi conduzido a um dos teclados alocados ao centro do palco do Imperator. Ao quebrar de imediato o clima de irritação, Wonder passou a desfiar seu abrangente rosário de pérolas negras, tirando coelhos da cartola. Bird of Beauty (Stevie Wonder, 1974), literalmente um obscuro lado B do álbum Fulfillingness' First Finale (1974), ganhou levada que evocou o samba carioca. Mas a bossa de Stevie - que levou Garota de Ipanema (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1962) na gaita e incentivou o público a cantar a letra em português deste clássico mundial da música brasileira, tal como fizera em sua memorável apresentação no Rock in Rio 2011 - é mesmo o funk, o soul e o r & b. Vibrante, Master Blaster (Jammin') (Stevie Wonder, 1980) pulsou no balanço típico do mestre. Que surpreendeu ao iniciar Knocks me Off My Feet (Stevie Wonder, 1976) somente com sua voz e seu piano, em clima mais íntimo. Ambientada nesse mesmo clima, a balada You and I (Stevie Wonder, 1972) se tornou um dos pontos altos da apresentação. Com outro tempero, Don't You Worry 'Bout a Thing (Stevie Wonder, 1973) ganhou molho de salsa ao fim. Na sequência, The Secret Life of Plants (Stevie Wonder, 1979) marcou a primeira entrada em cena do convidado Gilberto Gil. Em que pese o afeto reinante entre Gil e Wonder, o encontro não surtiu todo o efeito que poderia - até porque Gil precisou cantar lendo a letra. Na sequência, o hit Send One Your Love (Stevie Wonder, 1979) fez o link com o número anterior por também ser tema extraído do repertório do álbum Stevie Wonder's Journey Through The Secret Life of Plants (1979). Outro hit, Sir Duke (Stevie Wonder, 1976), ostentou todo o poder de sedução da música de Stevie Wonder, fazendo irresistível convite à dança, reiterado por Signed, Sealed, Delivered, I'm Yours (Stevie Wonder, Lee Garrett, Lula Mae Hardaway e Syreeta Wright, 1970) - outro ponto mais alto de um roteiro sem baixos - e por Living in The City (Stevie Wonder, 1973), improvisada a pedido de alguns espectadores. Na parte final, temas natalinos - What Christmas Means to Me (Anna Gaye, Allen Story, George Gordy, 1967) e Merry Christmas, Baby (Lou Baxter e Johnny Moore, 1947), este em ritmo de blues - se justificaram pela data do show e tiveram entre eles versão bilíngue da brasileira Boas Festas (Assis Valente, 1933), puxada em português e em inglês por Gil no momento em que foi chamado de volta ao palco por Wonder. É quando Gil e Wonder improvisaram diálogos musicais que tornaram o show ligeiramente menos sedutor. Ainda que o arremate - com Superstition (Stevie Wonder, 1972) e My Cherie Amour (Stevie Wonder, Henry Cosby e Sylvia Moy, 1969) - tenha corroborado a sensação de que o terceiro show de Stevie Wonder em palcos cariocas foi histórico como seus antecessores. O mestre se sentiu em casa...

Rafael disse...

Excelente repertório cantado pelo mestre do soul. Pena que ele só canta no Rio quando vem ao Brasil. Poderia levar o show dele para vários outros estados. Acho que ele deve isso aos fãs dele.

KL disse...

fenômeno musical em vários âmbitos, e essa voz "tinindo e trincando" nos agudos, aos 62 anos, merece entrar para o Guiness Book, na categoria Garganta de Aço Inoxidável.

Anônimo disse...

Canta muito esse cara, ele foi presenteado po Deus com essa bela voz. Afinal: qual o timbre de voz do Stivie Wonder? Pra mim ele parece um tenor lírico, mas tenho dúvida! E alguém souber me passa pra mim valeu? Paz!