Mauro Ferreira no G1

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domingo, 16 de dezembro de 2012

Álbum de Jesuton marca o desencontro da boa voz com a arte de cantar

Resenha de CD
Título: Encontros
Artista: Jesuton
Gravadora: Slap / Som Livre
Cotação: * *

Primeiro álbum de Jesuton, Encontros é a prova de que não basta uma cantora ter boa voz para gravar um bom disco. Inglesa de 27 anos, Rachel Jesuton decidiu fixar residência no Brasil neste ano de 2012 após ter transitado por alguns países da América Latina. Formada em Ciências Humanas na Inglaterra, Jesuton se descobriu cantora no Peru e, uma vez no Brasil, cantou nas ruas do Rio de Janeiro (RJ), onde ganhou projeção graças ao poder da internet. Vídeos em que cantava músicas como Wild Horses (Mick Jagger e Keith Richards) - clássico de Sticky Fingers, álbum lançado pelo grupo inglês Rolling Stones em 1971 - caíram na rede e propagaram o canto intuitivo de Jesuton. No embalo, a inglesa - filha de pai nigeriano e mãe jamaicana - contou sua história em programas de TV e foi contratada pelo selo Slap, da Som Livre, gravando na sequência CD produzido por Rodrigo Vidal. Diplomada na escola norte-americana do soul e do r & b, a voz de Jesuton é inegavelmente bela e forte. Mas seu álbum marca o desencontro dessa boa voz com a arte de cantar (bem). Encontros soa arrastado, não raro chato, ao longo de suas 13 músicas, 12 cantadas em inglês. Quem desafia o domínio da língua inglesa é O Mundo É um Moinho (Cartola, 1976), entoada em carregado português em registro que une a voz de Jesuton somente à guitarra de Ricardo Silveira (formato minimalista também usado na faixa Between The Bar, sucesso do cantor e compositor norte-americano de indie folk Elliot Smith). Ao dar voz a músicas como Some Mistake (balada do segundo álbum do cantor inglês James Blunt) e The Blower's Daughter (o tema sublime do irlandês Damien Rice, diluído na popular versão cantada por Ana Carolina com Seu Jorge), Jesuton parece ter sido levada a enfatizar suas habilidades vocais em prejuízo da interpretação. Por conta da assepsia padronizada dos arranjos e do canto da artista, pungente reggae de Bob Marley (1945 - 1981) - Redemption Song (1980), ode à liberdade de pensamento - soa no mesmo tom de Sodade, melancólica morna propagada na voz cabo-verdiana de Cesária Évora (1941 - 2011). Encontros resulta polido em excesso. Falta intensidade e falta emoção real às interpretações da artista. Quando Jesuton esboça pegada mais visceral, como no soul Try a Little Tenderness (Jimmy Campbell, Reg Connelly e Harry M. Woods, 1933), Encontros ameaça decolar. Mas aí o disco já acaba, enfileirando alguns poucos altos - como Wild Horses e a vigorosa abordagem de Time Is Running Out (Matthew James Bellamy), pop rock do grupo inglês Muse - e muitos baixos, caso da inacreditável Us, versão em inglês (escrita por Jesuton) de Nós (Tião Carvalho), sucesso na voz de Cássia Eller (1962 - 2001). Tomara que num segundo disco a voz de Jesuton se encontre com a arte de cantar bem sem jogar nota fora e sem a obrigação de se provar grande cantora.

7 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Primeiro álbum de Jesuton, Encontros é a prova de que não basta uma cantora ter boa voz para gravar um bom disco. Inglesa de 27 anos, Rachel Jesuton decidiu fixar residência no Brasil neste ano de 2012 após ter transitado por alguns países da América Latina. Formada em Ciências Humanas na Inglaterra, Jesuton se descobriu cantora no Peru e, uma vez no Brasil, cantou nas ruas do Rio de Janeiro (RJ), onde ganhou projeção graças ao poder da internet. Vídeos em que cantava músicas como Wild Horses (Mick Jagger e Keith Richards) - clássico de Sticky Fingers, álbum lançado pelo grupo inglês Rolling Stones em 1971 - caíram na rede e propagaram o canto de Jesuton. No embalo, a inglesa - filha de pai nigeriano e mãe jamaicana - contou sua história em programas de TV e foi contratada pelo selo Slap, da Som Livre, gravando na sequência CD produzido por Rodrigo Vidal. Diplomada na escola norte-americana do soul e do r & b, a voz de Jesuton é inegavelmente bela e forte. Mas seu álbum marca o desencontro dessa boa voz com a arte de cantar (bem). Encontros soa arrastado, não raro chato, ao longo de suas 13 músicas, 12 cantadas em inglês. Quem desafia o domínio da língua inglesa é O Mundo É um Moinho (Cartola, 1976), entoada em carregado português em registro que une a voz de Jesuton somente à guitarra de Ricardo Silveira (formato minimalista também usado em Between The Bar, sucesso do cantor e compositor norte-americano de indie folk Elliot Smith). Ao dar voz a músicas como Some Mistake (balada do segundo álbum do cantor inglês James Blunt) e The Blower's Daughter (o tema sublime do irlandês Damien Rice, diluído na popular versão cantada por Ana Carolina com Seu Jorge), Jesuton parece ter sido levada a enfatizar suas habilidades vocais em prejuízo da interpretação. Por conta da assepsia padronizada dos arranjos e do canto da artista, pungente reggae de Bob Marley (1945 - 1981) - Redemption Song (1980), ode à liberdade de pensamento - soa no mesmo tom de Sodade, melancólica morna propagada na voz cabo-verdiana de Cesária Évora (1941 - 2011). Encontros resulta polido em excesso. Falta intensidade e falta emoção real às interpretações da artista. Quando Jesuton esboça pegada mais visceral, como no soul Try a Little Tenderness (Jimmy Campbell, Reg Connelly e Harry M. Woods, 1933), Encontros ameaça decolar. Mas aí o disco já acaba, enfileirando alguns altos - como Wild Horses e a vigorosa abordagem de Time Is Running Out (Matthew James Bellamy), pop rock do grupo inglês Muse - e muitos baixos, caso da inacreditável Us, versão em inglês (escrita por Jesuton) de Nós (Tião Carvalho), sucesso na voz de Cássia Eller (1962 - 2001). Tomara que num segundo disco a voz de Jesuton se encontre com a arte de cantar bem sem jogar nota fora e sem a obrigação de se provar grande cantora.

Rafael disse...

Realmente Jesuton canta muito bem, porém achei ela perdida na escolha de repertório desse seu primeiro álbum. Se fizesse algo mais parecido musicalmente com o que faz Esperanza Spalding, talvez teria ficado o resultado final mais interessante.

Eduardo Cáffaro disse...

Que capa sem graça ... não me despertou nenhum interesse. Para mim , a capa é importante quando tem a função de divulgar um produto novo.

Maria disse...

Cantoras como Leela James, Sara Gazarek, Shemekia Copeland, Diana Panton já mereciam uma notinha aqui no blog Mauro!
Elas são ótimas fica a dica.

Daniel disse...

O repertório dela nas ruas e shows anteriores ao estrelato era ótimo: Coldplay, James Blunt, Amy Winehouse, Adele, grandes nomes da música britânica. No album ainda foram man com acento tidos alguns e eu até gosto da versão Soul dela pra Same Mistake, há exageros vocais, mas sao comuns às cantoras de R&b e Soul. Ela tem uma bela voz, mas preciso ouvir o álbum todo pra avaliar melhor. (O dueto dela com a Ana Carolina no premio Multishow por sinal foi fantástico)

Guni disse...

Também achei a capa muda...a fotografia deve falar por si...e não traduz nada...

Guni disse...

Também achei a capa muda...a fotografia deve falar por si...e não traduz nada...