Mauro Ferreira no G1

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domingo, 16 de agosto de 2015

Gandelman se renova ao reciclar 'velhas ideias' em álbum que celebra Casé

Resenha de CD
Título: Velhas ideias novas - O sax da gafieira ao sambajazz
Artista: Leo Gandelman
Gravadora: Sax Samba
Cotação: * * * *

Aos 59 anos, recém-completados em 10 de agosto de 2015, Leo Gandelman viveu ao longo da última década a melhor fase de sua carreira fonográfica, iniciada em 1987 com álbuns voltados para um jazz fusion à brasileira de tom eventualmente pop. Lançado neste mês de agosto, o 16º álbum solo do saxofonista carioca, Velhas ideias novas - O sax da gafieira ao sambajazz, consolida virada iniciada há nove anos com a edição do álbum Radamés e o sax (Biscoito Fino, 2006), cujo repertório girava em torno do legado do músico e arranjador gaúcho Radamés Gnattali (1906 - 1988). Desde então, Gandelman tem deixado seu repertório autoral em segundo plano e soprado seu sax na direção do passado, revolvendo os sons que deram linguagem brasileira ao instrumento. Após discos como Sabe você (Sax Samba / EMI Music, 2008), dedicado ao samba-canção, e Ventos do Norte (Sax Samba, 2013), tributo aos saxofonistas de origem nordestina, o músico apresenta álbum que cai no suingue do samba de gafieira e do samba-jazz (gênero derivado da Bossa Nova) para celebrar o legado de José Ferreira Godinho Filho, o genial saxofonista e clarinetista conhecido como Casé (Guaxupé - MG, 26 de junho de 1932 / São Paulo - SP 1º de dezembro de 1978), morto aos 46 anos sem o devido reconhecimento pela atuação nos bailes e salões de dança dos anos 1950 e 1960. Músico virtuoso, Casé era mestre nos improvisos e dominava o idioma do jazz. Por isso, a tal influência do jazz pauta algumas gravações do coeso álbum de Gandelman, como Cidade vazia (Baden Powell e Lula Freire, 1965). Por falar no compositor e violonista fluminense Baden Powell (1937 - 2000), a maior pérola pescada por Gandelman no baú para o tributo a Casé - Quem quiser encontrar o amor (1957), rara parceria de Carlos Lyra com Geraldo Vandré - remete, no registro de Gandelman, à pulsação dos afro-sambas compostos por Baden com Vinicius de Moraes (1913 - 1980). Como sugere o subtítulo O sax da gafieira ao sambajazz, o álbum Velhas ideias novas cai no suingue dos anos 1950 e 1960, pondo balanço em Feitio de oração (Noel Rosa e Vadico, 1933) e em Feitiço da Vila (Noel Rosa e Vadico, 1934) e um toque de jazz no samba Se acaso você chegasse (Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins, 1938). Sambalanços como Menina moça (Luiz Antonio, 1959) e Tamanco no samba (Orlandivo e Helton Menezes, 1960) se ajustam ao tom e ao suingue deste disco com o qual Leo Gandelman se renova a partir da reciclagem de (grandes) velhas ideias, sinalizando que já reencontrou seu caminho no sax.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Aos 59 anos, recém-completados em 10 de agosto de 2015, Leo Gandelman viveu ao longo da última década a melhor fase de sua carreira fonográfica, iniciada em 1987 com álbuns voltados para um jazz fusion à brasileira de tom eventualmente pop. Lançado neste mês de agosto, o 16º álbum solo do saxofonista carioca, Velhas ideias novas - O sax da gafieira ao sambajazz, consolida virada iniciada há nove anos com a edição do álbum Radamés e o sax (Biscoito Fino, 2006), cujo repertório girava em torno do legado do músico e arranjador gaúcho Radamés Gnattali (1906 - 1988). Desde então, Gandelman tem deixado seu repertório autoral em segundo plano e soprado seu sax na direção do passado, revolvendo os sons que deram linguagem brasileira ao instrumento. Após discos como Sabe você (Sax Samba / EMI Music, 2008), dedicado ao samba-canção, e Ventos do Norte (Sax Samba, 2013), tributo aos saxofonistas de origem nordestina, o músico apresenta álbum que cai no suingue do samba de gafieira e do samba-jazz (gênero derivado da Bossa Nova) para celebrar o legado de José Ferreira Godinho Filho, o genial saxofonista e clarinetista conhecido como Casé (Guaxupé - MG, 26 de junho de 1932 / São Paulo - SP 1º de dezembro de 1978), morto aos 46 anos sem o devido reconhecimento pela atuação nos bailes e salões de dança dos anos 1950 e 1960. Músico virtuoso, Casé era mestre nos improvisos e dominava o idioma do jazz. Por isso, a tal influência do jazz pauta algumas gravações do coeso álbum de Gandelman, como Cidade vazia (Baden Powell e Lula Freire, 1965). Por falar no compositor e violonista fluminense Baden Powell (1937 - 2000), a maior pérola pescada por Gandelman no baú para o tributo a Casé - Quem quiser encontrar o amor (1957), rara parceria de Carlos Lyra com Geraldo Vandré - remete, no registro de Gandelman, à pulsação dos afro-sambas compostos por Baden com Vinicius de Moraes (1913 - 1980). Como sugere o subtítulo O sax da gafieira ao sambajazz, o álbum Velhas ideias novas cai no suingue dos anos 1950 e 1960, pondo balanço em Feitio de oração (Noel Rosa e Vadico, 1933) e em Feitiço da Vila (Noel Rosa e Vadico, 1934) e um toque de jazz no samba Se acaso você chegasse (Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins, 1938). Sambalanços como Menina moça (Luiz Antonio, 1959) e Tamanco no samba (Orlandivo e Helton Menezes, 1960) se ajustam ao tom e ao suingue deste disco com o qual Leo Gandelman se renova a partir da reciclagem de (grandes) velhas ideias, sinalizando que já reencontrou seu caminho no sax.

ADEMAR AMANCIO disse...

Quem quiser encontrar o amor - deve ter muita gente que pensa ser de Baden e Vinicius,como eu pensava até pouco tempo.