Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


sábado, 4 de abril de 2015

Caixa com álbuns de Paulinho nos anos 1970 tem a elegância do artista

Resenha de caixa de CDs
Título: Ruas que sonhei - 68 até 79
Artista: Paulinho da Viola
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * * * 1/2

A ausência do primeiro álbum solo de Paulinho da Viola na caixa Ruas que sonhei - por questões jurídicas relativas à reprodução da capa  do disco em reedições no formato de CD - jamais tira o mérito da produção feita pela gravadora Universal Music sob curadoria do jornalista Vagner Fernandes. Primeiro, porque a qualidade da remasterização - capitaneada por Ricardo Garcia no Rio de Janeiro (RJ) em 2014 - aprimora o som dos álbuns na comparação com as reedições produzidas em 1997 pela EMI-Music com remasterização nos estúdios Abbey Road, em Londres. Além de límpido, o som atual é mais fiel ao que se ouvia nos LPs originais. Outro fator que legitima a edição da caixa é a elegância das embalagens em digipack que reproduzem integralmente a arte gráfica das capas, contracapas e encartes dos discos. Por fim, há o fato de que 18 anos separam as reedições anteriores das atuais - tempo mais do que suficiente para que novas gerações tenham desenvolvido interesse pela aquisição (em CD) de uma das obras mais fundamentais do universo do samba e do choro. Ruas que sonhei concentra o supra-sumo da produção fonográfica de Paulinho da Viola. São dez álbuns de estúdio lançados via Odeon entre 1970 e 1979 - a década mais produtiva do artista no que diz respeito à gravação de discos. Dos anos 1980 em diante, o cantor e compositor carioca gravaria cada vez menos - a ponto de já estar há 19 anos sem lançar um disco de inéditas (o último, Bebadosamba, saiu em 1996 pela BMG-Ariola). Todos os discos embalados em Ruas que sonhei são de altíssimo nível melódico, poético e instrumental. São discos que revitalizam as tradições do samba e do choro com o toque de modernidade atemporal de um artista que, eventualmente, também trilhou inusitados caminhos jazzísticos, como observado no torto samba-choro Roendo as unhas (Paulinho da Viola, 1973), música do álbum Nervos de aço (Odeon, 1973). Mesmo quando transita por ruas mais conhecidas do samba e do choro, Paulinho o faz com elegância ímpar. Há uma nobreza no canto, nos arranjos e na composição dos repertórios desses dez álbuns que resistem bem ao tempo, como se os discos tivessem sido gravados neste ano de 2015. Qual o coração que não se deixa levar diante de Foi um rio que passou em minha vida (1970), álbum de tom mais interiorizado que apresentou pérolas como Tudo se transformou (Paulinho da Viola, 1970) e Para não contrariar você (Paulinho da Viola, 1970)? Os dois álbuns de 1971 - ambos intitulados Paulinho da Viola - reforçaram a ligação do artista com os compositores e ritmistas da Velha Guarda da Portela, um dos nortes do timoneiro na condução de seu barco. Álbum que pôs Guardei minha viola (Paulinho da Viola, 1972) e No pagode do Vavá (Paulinho da Viola, 1972) nas rodas de samba, A dança da solidão (1972) reiterou a habilidade do cantor e compositor para beber da chama do passado para saciar a sede do presente e avançar. Fiel à ideologia do artista, o Paulinho da Viola de 1975 trouxe para a avenida um samba-enredo Amor à natureza (Paulinho da Viola, 1975) que partiu em defesa da consciência ambiental quando o tema ecologia ainda não estava em pauta. Os gêmeos Memórias cantando e Memórias chorando, lançados em 1976 de forma avulsa, são discos complementares que mostraram que samba e choro andam harmoniosamente amalgamados na obra de Paulinho, intérprete hábil para cantar histórias do cotidiano, algumas até trágicas, sem jamais carregar nos tons ou apelar para o melodrama. Paulinho da Viola (1978) e Zumbido (1979) completam os dez álbuns da caixa, que inclui libreto - com textos de Vagner Fernandes sobre cada disco - e a coletânea Raridades, com 13 gravações avulsas lançadas em período que vai de 1966 - ano de Canção para Maria (Maria, Mariô), música de festival lançada em compacto editado pela gravadora RGE - a 2003, ano em que Paulinho gravou com a cantora carioca Marisa Monte o choro-canção Carinhoso (Pixinguinha e João do Barro, 1917 / 1937). Entre fonogramas que não fazem jus ao status de raridades, como a gravação do samba Pecado Capital (Paulinho da Viola, 1975) para a trilha sonora da novela homônima produzida às pressas pela TV Globo naquele ano de 1975, e outros realmente raros, caso do registro de Filosofia (Paulinho da Viola e Sidney Miller) para o álbum Brasil, do Guarani ao Guaraná (Elenco, 1968), a compilação reitera o requinte que pauta a obra fonográfica de Paulinho e rebobina o lírico tema que batiza a caixa, Ruas que sonhei, música lançada em compacto de 1969 e não no fecho do álbum Foi um rio que passou em minha vida, como afirma erroneamente Fernandes em seu texto, confundindo a edição original do LP de 1970 com a reedição em CD de 1997 (na qual Ruas que sonhei foi alocada como faixa-bônus ao fim do disco). De todo modo, a caixa Ruas que sonhei é mais do que oportuna por repor em catálogo, com a elegância típica do artista, uma discografia essencial para compreensão dos caminhos seguidos pelo samba e pelo choro ao longo da década de 1970.

6 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ A ausência do primeiro álbum solo de Paulinho da Viola na caixa Ruas que sonhei - por questões jurídicas relativas à reprodução da capa do disco em reedições no formato de CD - jamais tira o mérito da produção feita pela gravadora Universal Music sob curadoria do jornalista Vagner Fernandes. Primeiro, porque a qualidade da remasterização - capitaneada por Ricardo Garcia no Rio de Janeiro (RJ) em 2014 - aprimora o som dos álbuns na comparação com as reedições produzidas em 1997 pela EMI-Music com remasterização nos estúdios Abbey Road, em Londres. Além de límpido, o som atual é mais fiel ao que se ouvia nos LPs originais. Outro fator que legitima a edição da caixa é a elegância das embalagens em digipack que reproduzem integralmente a arte gráfica das capas, contracapas e encartes dos discos. Por fim, há o fato de que 18 anos separam as reedições anteriores das atuais - tempo mais do que suficiente para que novas gerações tenham desenvolvido interesse pela aquisição (em CD) de uma das obras mais fundamentais do universo do samba e do choro. Ruas que sonhei concentra o supra-sumo da produção fonográfica de Paulinho da Viola. São dez álbuns de estúdio lançados via Odeon entre 1970 e 1979 - a década mais produtiva do artista no que diz respeito à gravação de discos. Dos anos 1980 em diante, o cantor e compositor carioca gravaria cada vez menos - a ponto de já estar há 19 anos sem lançar um disco de inéditas (o último, Bebadosamba, saiu em 1996 pela BMG-Ariola). Todos os discos embalados em Ruas que sonhei são de altíssimo nível melódico, poético e instrumental. São discos que revitalizam as tradições do samba e do choro com o toque de modernidade atemporal de um artista que, eventualmente, também trilhou inusitados caminhos jazzísticos, como observado no torto samba-choro Roendo as unhas (Paulinho da Viola, 1973), música do álbum Nervos de aço (Odeon, 1973). Mesmo quando transita por ruas mais conhecidas do samba e do choro, Paulinho o faz com elegância ímpar. Há uma nobreza no canto, nos arranjos e na composição dos repertórios desses dez álbuns que resistem bem ao tempo, como se os discos tivessem sido gravados neste ano de 2015. Qual o coração que não se deixa levar diante de Foi um rio que passou em minha vida (1970), álbum de tom mais interiorizado que apresentou pérolas como Tudo se transformou (Paulinho da Viola, 1970) e Para não contrariar você (Paulinho da Viola, 1970)? Os dois álbuns de 1971 - ambos intitulados Paulinho da Viola - reforçaram a ligação do artista com os compositores e ritmistas da Velha Guarda da Portela, um dos nortes do timoneiro na condução de seu barco. Álbum que pôs Guardei minha viola (Paulinho da Viola, 1972) e No pagode do Vavá (Paulinho da Viola, 1972) nas rodas de samba, A dança da solidão (1972) reiterou a habilidade do cantor e compositor para beber da chama do passado para saciar a sede do presente e avançar.

Mauro Ferreira disse...

Fiel à ideologia do artista, o Paulinho da Viola de 1975 trouxe para a avenida um samba-enredo Amor à natureza (Paulinho da Viola, 1975) que partiu em defesa da consciência ambiental quando o tema ecologia ainda não estava em pauta. Os gêmeos Memórias cantando e Memórias chorando, lançados em 1976 de forma avulsa, são discos complementares que mostraram que samba e choro andam harmoniosamente amalgamados na obra de Paulinho, intérprete hábil para cantar histórias do cotidiano, algumas até trágicas, sem jamais carregar nos tons ou apelar para o melodrama. Paulinho da Viola (1978) e Zumbido (1979) completam os dez álbuns da caixa, que inclui libreto - com textos de Vagner Fernandes sobre cada disco - e a coletânea Raridades, com 13 gravações avulsas lançadas em período que vai de 1966 - ano de Canção para Maria (Maria, Mariô), música de festival lançada em compacto editado pela gravadora RGE - a 2003, ano em que Paulinho gravou com a cantora carioca Marisa Monte o choro-canção Carinhoso (Pixinguinha e João do Barro, 1917 / 1937). Entre fonogramas que não fazem jus ao status de raridades, como a gravação do samba Pecado Capital (Paulinho da Viola, 1975) para a trilha sonora da novela homônima produzida às pressas pela TV Globo naquele ano de 1975, e outros realmente raros, caso do registro de Filosofia (Paulinho da Viola e Sidney Miller) para o álbum Brasil, do Guarani ao Guaraná (Elenco, 1968), a compilação reitera o requinte que pauta a obra fonográfica de Paulinho e rebobina o lírico tema que batiza a caixa, Ruas que sonhei, música lançada em compacto de 1969 e não no fecho do álbum Foi um rio que passou em minha vida, como afirma erroneamente Fernandes em seu texto, confundindo a edição original do LP de 1970 com a reedição em CD de 1997 (na qual Ruas que sonhei foi alocada como faixa-bônus ao fim do disco). De todo modo, a caixa Ruas que sonhei é mais do que oportuna por repor em catálogo, com a elegância típica do artista, uma discografia essencial para compreensão dos caminhos seguidos pelo samba e pelo choro ao longo da década de 1970.

ADEMAR AMANCIO disse...

Se fosse popularesco seria o rei do samba,como não é se tornou o príncipe.

Rafael disse...

Belíssima caixa, todos devem comprá-la. Apesar do enorme erro de não chegarem a um acordo por conta da capa de 68, ainda assim essa caixa vale a compra.

Unknown disse...

Mauro boa noite um conhecido meu lançou um disco de samba VC por acaso se intereçaria a ouvir e derrepente lançar poder lançar uma critica ? Se puder ficarei agradecido, se não entendo obrigado desde já

Marcelo Barbosa disse...

LUXO!!