Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 15 de abril de 2015

Cícero recobra n'A praia' parte da inspiração que sumira no fraco 'Sábado'

Resenha de CD
Título: A praia
Artista: Cícero
Gravadora: Deck
Cotação: * * *
Disco disponível para download gratuito no site oficial do artista

Cantor e compositor carioca que integrou a banda indie Alice de 2003 a 2008, antes de se lançar em carreira solo, Cícero Rosa Lins teve seu nome envolvido em aura hype há quatro anos por conta da boa repercussão de seu primeiro álbum solo, Canções de apartamento (Independente, 2011), jogado na web para download gratuito em ação que atiçou a curiosidade de meio meio milhão de ouvintes. Dois anos depois, Cícero - como o cantautor assina seu nome artístico - frustrou expectativas com um segundo álbum, Sábado (Deck, 2013), de tom mais esmaecido, mas de maior introspecção e melancolia. Terceiro álbum de Cícero, A praia - lançado em edição física em CD, mas também já disponibilizado para download gratuito no site oficial do artista - apresenta safra autoral mais inspirada e menos tristonha. Por vezes até solar, como na canção que lhe dá título, A praia alinha dez músicas autorais gravadas dentro da atmosfera cool que pauta o som do artista. Com versos poéticos que sinalizam que o compositor manteve o nível denso de suas letras introspectivas, Soneto de Santa Cruz sobressai entre as dez músicas inéditas da lavra solitária do artista. Sim, há ecos do som do grupo carioca Los Hermanos na arquitetura (Camomila) e/ou na formatação (O bobo, música arranjada com sopros orquestrados por Cícero com Felipe Pinaud) das canções. Mas Cícero, aos poucos, disco a disco, vem esboçando seu próprio universo. Em A praia, álbum de tom acústico produzido por Cícero com Bruno Schulz, o cantautor arrisca Frevo por acaso nº 2 (o primeiro foi lançado em Sábado), se posiciona como voyeur em Cecília e a máquina - faixa de delicadeza instrumental e clima quebrado pela voz de Luiza Mayall - e derrama poesia urbana em canções como Terminal Alvorada, moldadas para vidas e existências que seguem sem alarde. A questão é que os produtores de A praia dão tom intencionalmente desbotado ao repertório. Tudo é elevado à máxima potência cool - o que dilui a vivacidade do toque da zambumba, do triângulo e do acordeom que evocam a rítmica da música nordestina em De passagem, para citar somente um exemplo. Dentro dessa ambiência cool, o artista apresenta disco de tons pastéis como seu canto. Mas, entre nuvens carregadas de melancolia e solidão, há poesia e alguma beleza nas canções que vieram dar n'A praia de Cícero.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Cantor e compositor carioca que integrou a banda indie Alice de 2003 a 2008, antes de se lançar em carreira solo, Cícero Rosa Lins teve seu nome envolvido em aura hype há quatro anos por conta da boa repercussão de seu primeiro álbum solo, Canções de apartamento (Independente, 2011), jogado na web para download gratuito em ação que atiçou a curiosidade de meio meio milhão de ouvintes. Dois anos depois, Cícero - como o cantautor assina seu nome artístico - frustrou expectativas com um segundo álbum, Sábado (Deck, 2013), de tom mais esmaecido, mas de maior introspecção e melancolia. Terceiro álbum de Cícero, A praia - lançado em edição física em CD, mas também já disponibilizado para download gratuito no site oficial do artista - apresenta safra autoral mais inspirada e menos tristonha. Por vezes até solar, como na canção que lhe dá título, A praia alinha dez músicas autorais gravadas dentro da atmosfera cool que pauta o som do artista. Com versos poéticos que sinalizam que o compositor manteve o nível denso de suas letras introspectivas, Soneto de Santa Cruz sobressai entre as dez músicas inéditas da lavra solitária do artista. Sim, há ecos do som do grupo carioca Los Hermanos na arquitetura (Camomila) e/ou na formatação (O bobo, música arranjada com sopros orquestrados por Cícero com Felipe Pinaud) das canções. Mas Cícero, aos poucos, disco a disco, vem esboçando seu próprio universo. Em A praia, álbum de tom acústico produzido por Cícero com Bruno Schulz, o cantautor arrisca Frevo por acaso nº 2 (o primeiro foi lançado em Sábado), se posiciona como voyeur em Cecília e a máquina - faixa de delicadeza instrumental e clima quebrado pela voz de Luiza Mayall - e derrama poesia urbana em canções como Terminal Alvorada, moldadas para vidas e existências que seguem sem alarde. A questão é que os produtores de A praia dão tom intencionalmente desbotado ao repertório. Tudo é elevado à máxima potência cool - o que dilui a vivacidade do toque da zambumba, do triângulo e do acordeom que evocam a rítmica da música nordestina em De passagem, para citar somente um exemplo. Dentro dessa ambiência cool, o artista apresenta disco de tons pastéis como seu canto. Mas, entre nuvens carregadas de melancolia e solidão, há poesia e alguma beleza nas canções que vieram dar n'A praia de Cícero.

Unknown disse...

"boa repercussão de seu primeiro álbum solo, Canções de apartamento" razoável...
___

"...frustrou expectativas com um segundo álbum, Sábado"
concordo plenamente! (zzz... bom para quem sofre de insônia.)
___

a praia: "mais inspirada e menos tristonha"
concordo... terminal alvorada toca fácil na rádio...

BIGODE disse...

Esse disco é infinitamente melhor que o 'Sabádo'
Ainda que inferior ao 'Canções de Apartamento'
Cicero é um artista muito interessante