Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 22 de abril de 2015

Silvério canta Jackson com reverência e a cabeça feita pelo 'Rei do ritmo'

Resenha de CD
Título: Cabeça feita - Silvério Pessoa canta Jackson do Pandeiro
Artista: Silvério Pessoa
Gravadora: Casa de Farinha produções / Vo Music
Cotação: * * * 1/2

Um dos pilares da música nordestina, o repertório de José Gomes Filho (31 de agosto de 1919 - 10 de julho de 1982), o Jackson do Pandeiro, caía no suingue, fazendo a festa, sem se deixar pautar pelas justas lamúrias recorrentes nas vidas secas dos sertanejos da região. O epíteto de Rei do ritmo se ajustou com perfeição a esse artista paraibano que cantava com apurado senso rítmico. Cantor e compositor pernambucano projetado a partir de 1995 como vocalista do grupo recifense Cascabulho, Silvério Pessoa canta Jackson do Pandeiro no álbum Cabeça feita sem a destreza ímpar do Rei do ritmo. Mas nem por isso deixa de vencer o desafio de encarar 24 músicas - distribuídas nas 15 faixas do CD editado de forma independente neste mês de abril de 2015 - já enraizadas na afetiva memória musical da nação nordestina. Silvério canta Jackson com total reverência aos cânones do cancioneiro do artista. O fato de ter baixado sua cabeça para a estrutura original desse repertório impede novo olhar sobre a obra - e, nesse sentido, é sintomático que a primeira música do disco seja a composição que lhe dá título, Cabeça feita (Sebastião Ferreira da Silva e Jackson do Pandeiro, 1981). Ao mesmo tempo, o álbum expõe a modernidade atemporal deste repertório delicioso que passa por ritmos como coco, xote e xaxado sem deixar de cair no samba, como A ordem é samba (Jackson do Pandeiro e Severino Ramos, 1966) já explicita no título. Sim, o paraibano Jackson começou a fazer sucesso em Pernambuco, mas sedimentou sua carreira na cidade do Rio de Janeiro (RJ) e se deixou influenciar por ritmos e modismos da cidade. Dois medleys evidenciam a influência carioca em seu repertório. O que junta Secretária do diabo (Oswaldo Oliveira e Reynaldo Costa, 1966), Vou sambalançar (Antônio Barros e Jackson do Pandeiro, 1966) e Samba do ziriguidum (Luiz Bittencourt e Jadir de Castro, 1962) lembra que o Rei do ritmo também caiu no suingue do samba sincopado que deu o tom na primeira metade dos anos 1960. Outro medley demarca explicitamente, em músicas como Xote de Copacabana (Jackson do Pandeiro, 1957), o território carioca ocupado por Jackson  a partir da década de 1950. Situado no Rio ou no Nordeste, caso da junina Casaca de couro (Rui Moraes e Silva, 1960), o repertório do artista  tinha humor malicioso, era descontraído e exalava alegria, mesmo quando dava seus toques como o do Coco social (Rosil Cavalcanti, 1956), gravado por Silvério com o toque do saxofone do maestro Spok. Cantando muito bem, Silvério lança um disco que vai fazer a cabeça de quem desconhece a obra de Jackson. Aliás, o repertório selecionado para Cabeça feita é irretocável. Doze anos após abordar a obra carnavalesca de Jackson do Pandeiro em Batidas urbanas - Micróbio do frevo (A & M Records, 2003), Silvério Pessoa reverencia o artista com disco fiel à estética original do vitalício Rei do ritmo.  Há mal nenhum nisso.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Um dos pilares da música nordestina, o repertório de José Gomes Filho (31 de agosto de 1919 - 10 de julho de 1982), o Jackson do Pandeiro, caía no suingue, fazendo a festa, sem se deixar pautar pelas justas lamúrias recorrentes nas vidas secas dos sertanejos da região. O epíteto de Rei do ritmo se ajustou com perfeição a esse artista paraibano que cantava com apurado senso rítmico. Cantor e compositor pernambucano projetado a partir de 1995 como vocalista do grupo recifense Cascabulho, Silvério Pessoa canta Jackson do Pandeiro no álbum Cabeça feita sem a destreza ímpar do Rei do ritmo. Mas nem por isso deixa de vencer o desafio de encarar 24 músicas - distribuídas nas 15 faixas do CD editado de forma independente neste mês de abril de 2015 - já enraizadas na afetiva memória musical da nação nordestina. Silvério canta Jackson com total reverência aos cânones do cancioneiro do artista. O fato de ter baixado sua cabeça para a estrutura original desse repertório impede novo olhar sobre a obra - e, nesse sentido, é sintomático que a primeira música do disco seja a composição que lhe dá título, Cabeça feita (Sebastião Ferreira da Silva e Jackson do Pandeiro, 1981). Ao mesmo tempo, o álbum expõe a modernidade atemporal deste repertório delicioso que passa por ritmos como coco, xote e xaxado sem deixar de cair no samba, como A ordem é samba (Jackson do Pandeiro e Severino Ramos, 1966) já explicita no título. Sim, o paraibano Jackson começou a fazer sucesso em Pernambuco, mas sedimentou sua carreira na cidade do Rio de Janeiro (RJ) e se deixou influenciar por ritmos e modismos da cidade. Dois medleys evidenciam a influência carioca em seu repertório. O que junta Secretária do diabo (Oswaldo Oliveira e Reynaldo Costa, 1966), Vou sambalançar (Antônio Barros e Jackson do Pandeiro, 1966) e Samba do ziriguidum (Luiz Bittencourt e Jadir de Castro, 1962) lembra que o Rei do ritmo também caiu no suingue do samba sincopado que deu o tom na primeira metade dos anos 1960. Outro medley demarca explicitamente, em músicas como Xote de Copacabana (Jackson do Pandeiro, 1957), o território carioca ocupado por Jackson a partir da década de 1950. Situado no Rio ou no Nordeste, caso da junina Casaca de couro (Rui Moraes e Silva, 1960), o repertório do artista tinha humor malicioso, era descontraído e exalava alegria, mesmo quando dava seus toques como o do Coco social (Rosil Cavalcanti, 1956), gravado por Silvério com o toque do saxofone do maestro Spok. Cantando muito bem, Silvério lança um disco que vai fazer a cabeça de quem desconhece a obra de Jackson. Aliás, o repertório selecionado para Cabeça feita é irretocável. Doze anos após abordar a obra carnavalesca de Jackson do Pandeiro em Batidas urbanas - Micróbio do frevo (A & M Records, 2003), Silvério Pessoa reverencia o artista com disco fiel à estética original do vitalício Rei do ritmo. Há mal nenhum nisso.

Rafael disse...

Quero muito ouvir essa homenagem do Silvério ao mestre Jackson.