Mauro Ferreira no G1

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domingo, 1 de março de 2015

Jair Naves arde na fogueira das paixões que consome 'Trovões a me atingir'

Resenha de CD
Título: Trovões a me atingir
Artista: Jair Naves
Gravadora: Edição independente do artista
Cotação: * * *
Disco disponível para download gratuito no site oficial do artista


 Não, Jair Naves não está mais sozinho, mas a rigor continua só. O cantor e compositor brasiliense - radicado na cidade de São Paulo (SP) - buscou a companhia dos músicos de sua banda - Felipe Faraco (teclados e sintetizadores), Rafael Findans (baixo), Renato Ribeiro (violão e guitarra) e Thiago Babalu (bateria) - para formatar e eventualmente até criar o cancioneiro autoral de seu segundo álbum, Trovões a me atingir, disco que ganha edição física em CD neste mês de março de 2015, um mês após ter sido lançado em edição digital. Embora formatado na contramão do caminho solitário seguido pelo artista na produção de seu elogiado primeiro álbum, E você se sente numa cela escura, planejando a sua fuga, cavando o chão com as próprias unhas (Travolta Discos / Popfuzz Records, 2012), Trovões a me atingir também versa sobre solidão e uma alma em ebulição. Com voz grave que ecoa cantos do britânico Ian Curtis (1956 - 1980) e do cearense Belchior, cujo timbre é evocado em especial na interpretação da boa balada Prece atendida (Jair Naves), apresentada em janeiro para anunciar o álbum gravado de agosto a outubro de 2014, Naves continua passando longe da via cool que pavimenta a cena indie brasileira. Ao contrário: o artista novamente arde na fogueira das paixões. As nove músicas de Trovões a me atingir mostram que o espírito de Naves continua desassossegado, como explicitam versos inflamados como os de Resvala (Jair Naves), rock que abre o disco disponibilizado na web para download gratuito em 3 de fevereiro de 2015. Aflições, Agonias, angústias, impaciências e tensões pautam a composição de letras que reiteram que o coração inquieto do artista é um fardo a ser carregado, como apontam os versos de Um trem descarrilhado (Jair Naves), balada que fecha o bom álbum. Todas as letras são da lavra solitária de Naves. Os músicos colaboraram eventualmente na composição das melodias. Embora o repertório de seu antecessor seja mais sedutor, no todo, Trovões a me atingir confirma o talento deste artista visceral que iniciou sua trajetória musical na década de 1990 como baixista da banda punk paulistana Okotô e que começou a ser notado ao fundar nos anos 2000 o grupo Ludovic. Aliás, o passado punk de Nave reverbera entre os ruídos de Em concreto (Jair Naves) e a ambiência noise de No meu encalço (Jair Naves, Felipe Faraco, Rafael Findans, Renato Ribeiro e Thiago Babalu). Entre referências do rock e da MPB, Trovões a me atingir também embute canção de arquitetura mais pop como Deixe / force (Jair Naves), cujos versos são como raio de sol em tempo geralmente nublado. Faixa cantada mais por Barbara Eugênia do que por Naves, B (Jair Naves, Felipe Faraco, Rafael Findans, Renato Ribeiro e Thiago Babalu) se engrandece no confronto final entre o trompete de Guizado e a percussão de Caio Bologna e Igor Bologna. Mas são as letras confessionais que sobressaem no disco. Incêndios (O claro de bombas a explodir) (Jair Naves e Renato Ribeiro) vai direto ao ponto: Jair Naves até vê a luz no fim do (seu) túnel, mas continua imerso na escuridão existencial, consumido pela fogueira das paixões que ilumina o CD.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Jair Naves não está mais sozinho, mas a rigor continua só. O cantor e compositor paulistano buscou a companhia dos músicos de sua banda - Felipe Faraco (teclados e sintetizadores), Rafael Findans (baixo), Renato Ribeiro (violão e guitarra) e Thiago Babalu (bateria) - para formatar e eventualmente até criar o cancioneiro autoral de seu segundo álbum, Trovões a me atingir, disco que ganha edição física em CD neste mês de março de 2015, um mês após ter sido lançado em edição digital. Embora formatado na contramão do caminho solitário seguido pelo artista na produção de seu elogiado primeiro álbum, E você se sente numa cela escura, planejando a sua fuga, cavando o chão com as próprias unhas (Travolta Discos / Popfuzz Records, 2012), Trovões a me atingir também versa sobre solidão e uma alma em ebulição. Com voz grave que ecoa cantos do britânico Ian Curtis (1956 - 1980) e do cearense Belchior, cujo timbre é evocado em especial na interpretação da boa balada Prece atendida (Jair Naves), apresentada em janeiro para anunciar o álbum gravado de agosto a outubro de 2014, Naves continua passando longe da via cool que pavimenta a cena indie brasileira. Ao contrário: o artista novamente arde na fogueira das paixões. As nove músicas de Trovões a me atingir mostram que o espírito de Naves continua desassossegado, como explicitam versos inflamados como os de Resvala (Jair Naves), rock que abre o disco disponibilizado na web para download gratuito em 3 de fevereiro de 2015. Aflições, Agonias, angústias, impaciências e tensões pautam a composição de letras que reiteram que o coração inquieto do artista é um fardo a ser carregado, como apontam os versos de Um trem descarrilhado (Jair Naves), balada que fecha o bom álbum. Todas as letras são da lavra solitária de Naves. Os músicos colaboraram eventualmente na composição das melodias. Embora o repertório de seu antecessor seja mais sedutor, no todo, Trovões a me atingir confirma o talento deste artista visceral que iniciou sua trajetória musical na década de 1990 como baixista da banda punk paulistana Okotô e que começou a ser notado ao fundar nos anos 2000 o grupo Ludovic. Aliás, o passado punk de Nave reverbera entre os ruídos de Em concreto (Jair Naves) e a ambiência noise de No meu encalço (Jair Naves, Felipe Faraco, Rafael Findans, Renato Ribeiro e Thiago Babalu). Entre referências do rock e da MPB, Trovões a me atingir também embute canção de arquitetura mais pop como Deixe / force (Jair Naves), cujos versos são como raio de sol em tempo geralmente nublado. Faixa cantada mais por Barbara Eugênia do que por Naves, B (Jair Naves, Felipe Faraco, Rafael Findans, Renato Ribeiro e Thiago Babalu) se engrandece no confronto final entre o trompete de Guizado e a percussão de Caio Bologna e Igor Bologna. Mas são as letras confessionais que sobressaem no disco. Incêndios (O claro de bombas a explodir) (Jair Naves e Renato Ribeiro) vai direto ao ponto: Jair Naves até vê a luz no fim do (seu) túnel, mas continua imerso na escuridão existencial, consumido pela fogueira das paixões.

Luca disse...

se não é cool os críticos não gostam