Mauro Ferreira no G1

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sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Em sintonia com Hamilton, Diogo reitera sua evolução no show 'Bossa negra'

Resenha de show
Título: Bossa negra
Artistas: Diogo Nogueira e Hamilton de Holanda (em foto de Rodrigo Goffredo)
Local: Theatro Net Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 27 de agosto de 2014
Cotação: * * * * 1/2
Show em cartaz na casa Imperator, no Rio de Janeiro (RJ), em 10 de setembro de 2014

O show Bossa negra mostra a quem quiser ouvir - sem preconceito - que Diogo Nogueira se tornou um excelente cantor. Projetado na segunda metade dos anos 2000, o artista carioca se revelou inseguro nos shows iniciais, mas foi se aprimorando na escola do palco e, nos últimos espetáculos, já vinha mostrando grande progresso e desenvoltura em cena. O projeto com Hamilton de Holanda - nascido de um show feito pelo cantor carioca com o bandolinista também carioca em 2009, em Miami (EUA) - é a coroação da evolução do filho de João Nogueira (1941 - 2000), que dá show de interpretação em músicas como Doce flor (Hamilton de Holanda, Marcos Portinari, Diogo Nogueira, André Vasconcellos e Thiago da Serrinha, 2014). Feita na sequência imediata do lançamento do disco, recebido com unanimidade positiva pela crítica, a estreia nacional do show Bossa negra reitera o upgrade do cantor. Para Hamilton, o projeto reafirma a sua maestria no toque do bandolim e adiciona dose de popularidade ao seu nome por juntá-lo com um artista jovem que já tem público fiel. Para Diogo, Bossa negra - tanto o disco como o show que debutou em cena no Theatro Net Rio, no Rio de Janeiro (RJ), de 25 a 27 de agosto de 2014 - representa aquisição de status no mercado fonográfico. Não fosse pela interpretação menos rigorosa de Sem compromisso (Nelson Trigueiro e Geraldo Pereira, 1954), samba abordado já no relaxado bis, o show teria reeditado a perfeição do disco gravado sob a direção de Hamilton. Em cena, a Bossa negra tem realçado o tempero jazzístico entranhado na sonoridade do CD. O jazz cheio de bossa bem brasileira é percebido já no toque do bandolim de Hamilton na execução do exuberante samba que dá título ao projeto, Bossa negra (Hamilton de Holanda, Marcos Portinari e Diogo Nogueira, 2014), primeira das 20 músicas enfileiradas no roteiro da apresentação de 27 de agosto. São 20 músicas se contabilizada a citação de Berimbau (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1964) feita ao fim do afro-samba Canto de Ossanha (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1966), música ausente do disco, mas presente em espírito, já que os afro-sambas foram a principal fonte de inspiração do projeto. O show ressalta também o acento percussivo do toque do bandolim de Hamilton, evidente em sambas como Bicho da terra (Diogo Nogueira, Bruno Barreto, Wallace Perez e Hamilton de Holanda, 2014) e no já mencionado Canto de Ossanha. Com seu canto exteriorizado, Diogo se mostra totalmente à vontade na divisão e nos scats imprimidos em Batendo a porta (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1974). Neste sucesso de seu pai, João Nogueira, o jazz vem também do toque do baixo de André Vasconcellos, músico que divide o palco com Diogo, Hamilton e com o percussionista Thiago da Serrinha. Já Brasil de hoje (Hamilton de Holanda, Arlindo Cruz, Marcos Portinari e Diogo Nogueira, 2014) sobressai em cena (também) pela entrada do coro infantil formado pelos filhos dos artistas. É quando Diogo senta no palco e direciona o seu microfone para as crianças, que cantam sem virtuosismos vocais, com a naturalidade e a espontaneidade de suas poucas idades. Sempre em fina sintonia com Hamilton, o cantor remexe no Vatapá de Dorival Caymmi (1914 - 2008) sem aguar a receita dada pelo centenário compositor baiano em 1942. Ao fim do número, Diogo, Hamilton e Thiago da Serrinha batucam nos tamborins que formam o cenário interativo criado pela designer Marina Ribas com Fred Gelli. Dois números mais tarde, abordagem apoteótica do samba-canção Risque (Ary Barroso, 1952) confirma a interação entre Diogo e Hamilton em cena.  A bossa negra conserva no palco a pegada do excelente CD homônimo.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

O show Bossa negra mostra a quem quiser ouvir - sem preconceito - que Diogo Nogueira se tornou um excelente cantor. Projetado na segunda metade dos anos 2000, o artista carioca se revelou inseguro nos shows iniciais, mas foi se aprimorando na escola do palco e, nos últimos espetáculos, já vinha mostrando grande progresso e desenvoltura em cena. O projeto com Hamilton de Holanda - nascido de um show feito pelo cantor carioca com o bandolinista também carioca em 2009, em Miami (EUA) - é a coroação da evolução do filho de João Nogueira (1941 - 2000), que dá show de interpretação em músicas como Doce flor (Hamilton de Holanda, Marcos Portinari, Diogo Nogueira, André Vasconcellos e Thiago da Serrinha, 2014). Feita na sequência imediata do lançamento do disco, recebido com unanimidade positiva pela crítica, a estreia nacional do show Bossa negra reitera o upgrade do cantor. Para Hamilton, o projeto reafirma a sua maestria no toque do bandolim e adiciona dose de popularidade ao seu nome por juntá-lo com um artista jovem que já tem público fiel. Para Diogo, Bossa negra - tanto o disco como o show que debutou em cena no Theatro Net Rio, no Rio de Janeiro (RJ), de 25 a 27 de agosto de 2014 - representa aquisição de status no mercado fonográfico. Não fosse pela interpretação menos rigorosa de Sem compromisso (Nelson Trigueiro e Geraldo Pereira, 1954), samba abordado já no relaxado bis, o show teria reeditado a perfeição do disco gravado sob a direção de Hamilton. Em cena, a Bossa negra tem realçado o tempero jazzístico entranhado na sonoridade do CD. O jazz cheio de bossa bem brasileira é percebido já no toque do bandolim de Hamilton na execução do exuberante samba que dá título ao projeto, Bossa negra (Hamilton de Holanda, Marcos Portinari e Diogo Nogueira, 2014), primeira das 20 músicas enfileiradas no roteiro da apresentação de 27 de agosto. São 20 músicas se contabilizada a citação de Berimbau (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1964) feita ao fim do afro-samba Canto de Ossanha (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1966), música ausente do disco, mas presente em espírito, já que os afro-sambas foram a principal fonte de inspiração do projeto. O show ressalta também o acento percussivo do toque do bandolim de Hamilton, evidente em sambas como Bicho da terra (Diogo Nogueira, Bruno Barreto, Wallace Perez e Hamilton de Holanda, 2014) e no já mencionado Canto de Ossanha. Com seu canto exteriorizado, Diogo se mostra totalmente à vontade na divisão e nos scats imprimidos em Batendo a porta (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1974). Neste sucesso de seu pai, João Nogueira, o jazz vem também do toque do baixo de André Vasconcellos, músico que divide o palco com Diogo, Hamilton e com o percussionista Thiago da Serrinha. Já Brasil de hoje (Hamilton de Holanda, Arlindo Cruz, Marcos Portinari e Diogo Nogueira, 2014) sobressai em cena (também) pela entrada do coro infantil formado pelos filhos dos artistas. É quando Diogo senta no palco e direciona o seu microfone para as crianças, que cantam sem virtuosismos vocais, com a naturalidade e a espontaneidade de suas poucas idades. Sempre em fina sintonia com Hamilton, o cantor remexe no Vatapá de Dorival Caymmi (1914 - 2008) sem aguar a receita dada pelo centenário compositor baiano em 1942. Ao fim do número, Diogo, Hamilton e Thiago da Serrinha batucam nos tamborins que formam o cenário interativo criado pela designer Marina Ribas com Fred Gelli. Dois números mais tarde, abordagem apoteótica do samba-canção Risque (Ary Barroso, 1952) confirma a interação total entre Diogo e Hamilton em cena. A bossa negra conserva no palco a pegada do arrebatador CD recém-posto nas lojas.