Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 20 de agosto de 2014

5 a Seco costura referências da música pop brasileira no bom 'Policromo'

Resenha de CD
Título: Policromo
Artista: 5 a Seco
Gravadora: Edição independente do artista 
Cotação: * * * 1/2

"No badauê / Tristan tzara / Pirou no dadá / Ou endoidou". Tirada de onda com os termos inventivos de algumas letras da música brasileira, a canção Eu amo Djavan (Tó Brandileone e Ricardo Teté) - uma das 14 músicas inéditas do primeiro álbum de estúdio do grupo paulistano 5 a Seco, Policromo - enfileira palavras estranhas ouvidas em hits de nomes com Caetano Veloso, Chico César, Maria Gadú e a dupla Toquinho & Vinicius ao mesmo tempo em que dá a pista das influências e referências utilizadas pelo quinteto na composição de seu repertório autoral. Álbum gravado em São Paulo (SP) de 25 de fevereiro a 12 de março de 2014, com patrocínio obtido no projeto Natural Musical, Policromo confirma a sintonia de Leo Bianchini, Pedro Altério, Pedro Viáfora, Tó Brandileone e Vinicius Calderoni com o universo musical  da MPB dos anos 1970 e - sobretudo - com a música pop brasileira mais contemporânea que também bebeu na fonte da MPB e que se impôs a partir dos anos 1990. É nítida, por exemplo, a influência da obra do compositor pernambucano Lenine na arquitetura da canção que abre o disco, Épocas (Pedro Viáfora), e em menor grau em Geografia sentimental (Leo Bianchini e Vinicius Calderoni). E não é por acaso que o 5 a Seco estabelece conexão com outro expressivo nome da geração de Lenine, Lula Queiroga, parceiro de Tó Brandileone na apaixonada e delicada canção Ninguém nem eu. Só que o 5 a Seco não reabre o pano do passado. Confiada a Alê Siqueira, a produção de Policromo recusa ares nostálgicos e cria sonoridade que se afina com os dias de hoje, embora distante da estética da cena contemporânea paulistana. De todo modo, uma canção como Você  e eu (Pedro Altério e Rita Altério) ecoa referências de Caetano Veloso e Chico César. Já Nhem tchum sobressai pela engenhosa letra verborrágica de Celso Viáfora, parceiro de Leo Bianchini no tema que lista (im)possibilidades mais prováveis do que a morena mais difícil cair na rede do protagonista da canção. Também verborrágica, Fiat lux (Vinicius Calderoni) é música tensa que tangencia a forma do canto falado sem emular clichês do hip hop e que expõe a ligeira superioridade de Vinicius Calderoni sobre seus colegas na arte da composição. De todo modo, Policromo tem o mérito de ser um disco coeso que investe na canção. A sonoridade urdida pelo produtor Alê Siqueira com unidade contribui para o êxito do disco, mas parece posta sobretudo a serviço de canções como Vem e vai (Tó Brandileone e Vinicius Calderoni) e O sonho (Pedro Altério e Tó Brandileone). São músicas que, a exemplo da funkeada e sincopada Festa de rua (Leo Bianchini, Pedro Altério e Pedro Viáfora), reprocessam elementos da MPB e do pop nativo na busca de identidade artística própria, pessoal. "Escuto histórias das estrelas / Enquanto recolho ideias que / Repousam ao rés do chão", dizem versos de Não tem paz (Vinicius Calderoni), outra expressiva música de Calderoni calcada nas tensões contemporâneas. Mesmo sem impressionar, Policromo confirma a boa expectativa gerada por Ao vivo no Auditório Ibirapuera (Independente, 2012), o combo duplo de CD e DVD que apresentou o 5 a Seco ao mercado fonográfico há dois anos. O bom nível do repertório é o mesmo, sinalizando que o quinteto ama não somente Djavan, mas também Lenine, Chico César e outros nomes que pavimentaram a estrada da música brasileira trilhada pelo 5 a Seco.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

"No badauê / Tristan tzara / Pirou no dadá / Ou endoidou". Tirada de onda com os termos inventivos de algumas letras da música brasileira, a canção Eu amo Djavan (Tó Brandileone e Ricardo Teté) - uma das 14 músicas inéditas do primeiro álbum de estúdio do grupo paulistano 5 a Seco, Policromo - enfileira palavras estranhas ouvidas em hits de nomes com Caetano Veloso, Chico César, Maria Gadú e a dupla Toquinho & Vinicius ao mesmo tempo em que dá a pista das influências e referências utilizadas pelo quinteto na composição de seu repertório autoral. Álbum gravado em São Paulo (SP) de 25 de fevereiro a 12 de março de 2014, com patrocínio obtido no projeto Natural Musical, Policromo confirma a sintonia de Leo Bianchini, Pedro Altério, Pedro Viáfora, Tó Brandileone e Vinicius Calderoni com o universo musical da MPB dos anos 1970 e - sobretudo - com a música pop brasileira mais contemporânea que também bebeu na fonte da MPB e que se impôs a partir dos anos 1990. É nítida, por exemplo, a influência da obra do compositor pernambucano Lenine na arquitetura da canção que abre o disco, Épocas (Pedro Viáfora), e em menor grau em Geografia sentimental (Leo Bianchini e Vinicius Calderoni). E não é por acaso que o 5 a Seco estabelece conexão com outro expressivo nome da geração de Lenine, Lula Queiroga, parceiro de Tó Brandileone na apaixonada e delicada canção Ninguém nem eu. Só que o 5 a Seco não reabre o pano do passado. Confiada a Alê Siqueira, a produção de Policromo recusa ares nostálgicos e cria sonoridade que se afina com os dias de hoje, embora distante da estética da cena contemporânea paulistana. De todo modo, uma canção como Você e eu (Pedro Altério e Rita Altério) ecoa referências de Caetano Veloso e Chico César. Já Nhem tchum sobressai pela engenhosa letra verborrágica de Celso Viáfora, parceiro de Leo Bianchini no tema que lista (im)possibilidades mais prováveis do que a morena mais difícil cair na rede do protagonista da canção. Também verborrágica, Fiat lux (Vinicius Calderoni) é música tensa que tangencia a forma do canto falado sem emular clichês do hip hop e que expõe a ligeira superioridade de Vinicius Calderoni sobre seus colegas na arte da composição. De todo modo, Policromo tem o mérito de ser um disco coeso que investe na canção. A sonoridade urdida pelo produtor Alê Siqueira com unidade contribui para o êxito do disco, mas parece posta sobretudo a serviço de canções como Vem e vai (Tó Brandileone e Vinicius Calderoni) e O sonho (Pedro Altério e Tó Brandileone). São músicas que, a exemplo da funkeada e sincopada Festa de rua (Leo Bianchini, Pedro Altério e Pedro Viáfora), reprocessam elementos da MPB e do pop nativo na busca de identidade artística própria, pessoal. "Escuto histórias das estrelas / Enquanto recolho ideias que / Repousam ao rés do chão", dizem versos de Não tem paz (Vinicius Calderoni), outra expressiva música de Calderoni calcada nas tensões contemporâneas. Mesmo sem impressionar, Policromo confirma a boa expectativa gerada por Ao vivo no Auditório Ibirapuera (Independente, 2012), o combo duplo de CD e DVD que apresentou o 5 a Seco ao mercado fonográfico há dois anos. O bom nível do repertório é o mesmo, sinalizando que o quinteto ama não somente Djavan, mas também Lenine, Chico César e outros nomes que pavimentaram a estrada da música brasileira trilhada pelo 5 a Seco.

Marcos disse...

Após ouvir algumas vezes esse disco,concordo com boa parte do que escreveu Mauro.
Acredito que os dois pontos altos do disco sejam "Eu amo Djavan" e "Festa de Rua",aliás esta que traz o funk de Stevie Wonder para cancioneiro nacional (sacada muito boa).
Fiat Lux me lembra muito "Trovoa" do Maurício Pereira, mais tem um refrão que acaba jogando para baixo.
Esses dois pontos altos,na minha visão,jogam o grupo para uma casa à frente da que eles estavam.O que é muito bom, pois o primeiro disco foi algo grande para o primeiro passo do grupo.
A qualidade é nítida nas letras e melodias e a forma com que eles interagem nos shows alternando instrumentos e trabalhando para o grupo é de fazer admirar.

Pedro Progresso disse...

o disco é bom e passa na prova do 2° trabalho tranquilamente. eles cantam bem e isso faz falta hj por parte dos cantores... ali nao tem the voice. e fora que são todos tão bonitinhos!... deveriam estampar a capa do disco hahahhaha