Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Socorro Lira canta a Amazônia sem recorrer aos clichês (dos sons) do Norte

Resenha de CD
Título: Amazônia - Entre águas e desertos
Artista: Socorro Lira
Gravadora: Edição independente da artista / Tratore 
Cotação: * * * *

 Cantora e compositora paraibana, natural de Brejo da Cruz (PB), Socorro Lira foi à Amazônia captar sons e buscar inspiração para compor o repertório de seu décimo álbum. Foi numa cabana de madeira de hotel da região que a artista compôs as melodias de Deixa viver - batuque com jeito de samba embasado com percussões, sons da floresta e versos em macuxi recitados por filho de índia da Guiana Inglesa com brasileiro - e a iluminada canção Gema, posteriormente letrada por Roberto Adami Tranjan. As duas músicas figuram no repertório de Amazônia - Entre águas e desertos, belo disco produzido pela própria Socorro Lira sob a direção musical de Jorge Ribbas, criador dos arranjos acústicos das 14 faixas do CD. Socorro desfia a lira amazônia sem recorrer aos clichês dos sons do Norte, já exauridos pelas cantoras oriundas do Pará em discos feito com a intenção de conquistar o Brasil no rastro da exposição nacional de Gaby Amarantes. Amazônia se banha até na praia do reggae - ritmo que dita Porque é da natureza (Cátia de França e Abel Silva, 1980), oportuna lembrança da obra da paraibana Cátia de França - e sobretudo na delicadeza que pauta a singela discografia de Socorro Lira. Por mais que regrave dois standards da região, como Uirapuru (1934) e Tamba-tajá (1934), clássicos da obra do compositor paraense Waldemar Henrique (1905 - 1995) abordados na cadência de xote (Uirapuru) e de canção (Tamba-tajá), Socorro dribla as trilhas mais previsíveis quando revive o verborrágico ponteio Saga da Amazônia (Vital Farias, 1982) e quando se embrenha pelo universo da floresta ao som da autoral canção abolerada O desejo, diálogo com a banda kitsch do cancioneiro brasileiro. Baião de Luiz Gonzaga (1912 - 1989) e Lourival Passos que dá a receita de iguarias da região, Tacacá (1956) tem seu sabor nortista realçado na levada do carimbó em faixa que dialoga como o álbum anterior da cantora, O samba do rei do baião (Genesis Music / Instituto Memória Brasil, 2013). Com seu canto suave e afinado, Lira também dá voz à bela canção Gaia (Nilson Chaves e Eliakin Rufino, 2000), música-título de álbum lançado há 14 anos por Nilson Chaves, uma das referências nacionais da música do Norte do Brasil. Misto de baião e ciranda, A Lua (Zeneida Lima) ilumina a inspiração de Socorro Lira na seleção do repertório. O marabaixo A dança (Socorro Lira e Joãozinho Gomes) e a canção Calme (Socorro Lira) também contribuem para perfilar a Amazônia lírica da artista no bonito álbum, corroborando a (boa) sensação de que há sons inusitados na floresta de Socorro Lira.

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Cantora e compositora paraibana, natural de Brejo da Cruz (PB), Socorro Lira foi à Amazônia captar sons e inspiração para compor o repertório de seu nono álbum. Foi numa cabana de madeira de hotel da região que a artista compôs as melodias de Deixa viver - batuque com jeito de samba embasado com percussões, sons da floresta e versos em macuxi recitados por filho de índia da Guiana Inglesa com brasileiro - e a iluminada canção Gema, posteriormente letrada por Roberto Adami Tranjan. As duas músicas figuram no repertório de Amazônia - Entre águas e desertos, belo disco produzido pela própria Socorro Lira sob a direção musical de Jorge Ribbas, criador dos arranjos acústicos das 14 faixas do CD. Socorro desfia a lira amazônia sem recorrer aos clichês dos sons do Norte, já exauridos pelas cantoras oriundas do Pará em discos feito com a intenção de conquistar o Brasil no rastro da exposição nacional de Gaby Amarantes. Amazônia se banha até na praia do reggae - ritmo que dita Porque é da natureza (Cátia de França e Abel Silva, 1980), oportuna lembrança da obra da paraibana Cátia de França - e sobretudo na delicadeza que pauta a singela discografia de Socorro Lira. Por mais que regrave dois standards da região, como Uirapuru (1934) e Tamba-tajá (1934), clássicos da obra do compositor paraense Waldemar Henrique (1905 - 1995) abordados na cadência de xote (Uirapuru) e de canção (Tamba-tajá), Socorro dribla as trilhas mais previsíveis quando revive o verborrágico ponteio Saga da Amazônia (Vital Farias, 1982) e quando se embrenha pelo universo da floresta ao som da autoral canção abolerada O desejo, diálogo com a banda kitsch do cancioneiro brasileiro. Baião de Luiz Gonzaga (1912 - 1989) e Lourival Passos que dá a receita de iguarias da região, Tacacá (1956) tem seu sabor nortista realçado na levada do carimbó em faixa que dialoga como o álbum anterior da cantora, O samba do rei do baião (Genesis Music / Instituto Memória Brasil, 2013). Com seu canto suave e afinado, Lira também dá voz à bela canção Gaia (Nilson Chaves e Eliakin Rufino, 2000), música-título de álbum lançado há 14 anos por Nilson Chaves, uma das referências nacionais da música do Norte do Brasil. Misto de baião e ciranda, Lua (Socorro Lira) ilumina a inspiração da artista na arte da composição. O marabaixo A dança (Socorro Lira e Joãozinho Gomes) e a canção Calme (Socorro Lira) também contribuem para perfilar a Amazônia lírica da artista no bonito CD, corroborando a boa sensação de que há sons inusitados na floresta de Socorro Lira.

Galex disse...

Moro na Amazônia e fico feliz que a ótima artista Socorro Lira tenha se inspirado nessa região para compor mais esse belo trabalho, fugindo dos clichês comerciais.
Joãozinho Gomes, que assina com ela "A dança", é um dos melhores compositores da Amazônia, consagrado ano passado no disco "Zulusa" da amapaense Patricia Bastos. O marabaixo é o ritmo típico do Amapá, onde vivo, lugar de muita musicalidade.







lurian disse...

Grande artista. Dessa sou fã!

Denilson Santos disse...

Caramba!!! Como eu gosto da Socorro Lira. Conheci o trabalho dela desde os tempos pré Internet, através de um programa da Rede Vida da Igreja Católica em que ela se apresentou. Foi então que escrevi para a caixa postal dela e adquiri seu cd da época.
Desde então, vou aos seus shows e compro seus cds. Que maravilha saber que mais um belo trabalho dessa grande cantora e compositora está disponível.

Abração
Denilson