Mauro Ferreira no G1

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sábado, 21 de julho de 2012

Zambujo rejuvenesce o fado e dosa conexões com Brasil no belo 'Quinto'

Resenha de CD
Título: Quinto
Artista: António Zambujo
Gravadora: Universal Music Portugal
Cotação: * * * *

Em seu belo quinto álbum, ainda inédito no mercado nacional, o fadista alentejano António Zambujo - conhecido no Brasil por suas conexões com artistas como Ney Matogrosso e Roberta Sá - concilia a poesia, o som e o sentimento do fado tradicional com uma linguagem mais coloquial, leve e contemporânea que rejuvenesce o gênero musical que identifica Portugal no mapa-múndi da música. De título preguiçoso, Quinto é álbum pautado por repertório inédito. A exceção é Rua dos Meus Ciúmes, sucesso da fadista Helena Tavares (1932 - 1980), uma das faixas representantes da ala mais tradicional, ao lado de Só Pode Ser Amor e de Noite Estrelada, fados ambientados em clima típico do gênero. Em oposição a esses temas de sentimento mais classicista, realçado pela guitarra portuguesa tocada por Bernardo Couto e/ou  por Luís Guerreiro, Quinto apresenta músicas mais arejadas pela produção do baixista Ricardo Cruz. Fado Desconcertado abre o álbum com leveza, som contemporâneo e versos coloquiais, como se o fadista desajustado incorporasse o cantor desafinado da Bossa Nova. Aliás, Zambujo dosa em Quinto as conexões com a música brasileira, traços determinantes de seus dois álbuns anteriores, Outro Sentido (2007) e Guia (2010). Embora Quinto tenha até um cavaquinista (Jon Luz) na banda, a ligação com os sons do Brasil está mais diluída ao longo das 15 músicas do álbum. De todo modo, há toques de samba e choro em Flagrante, cujos versos (de Maria do Rosário Pedreira) reforçam com humor a coloquialidade do repertório de tom mais contemporâneo. E há Maré, lindo tema de Rodrigo Maranhão que fecha este disco que adota discurso juvenil em Lambreta, destila melancolia em A Casa Fechada e inaugura a parceria de Zambujo com Pedro da Silva Martins (do grupo Deolindas), letrista de Algo Estranho Acontece (outra faixa de pegada contemporânea) e de Queria Conhecer-te Um Dia. Martins vem se juntar a um time de poetas que inclui João Monge, José Eduardo Agualusa (letrista de Milagrário Pessoal, tema no qual o clarinete de José Miguel Conde sopra frescor) e Miguel Araújo Jorge (do grupo Os Azeitonas), entre outros. O brasileiro Márcio Faraco é o compositor de Fortuna, faixa que expõe a influência das mornas de Cabo Verde no fado de Zambujo. Que revive o canto de seu Alentejo em O Que É Feito Dela. Tema mais denso do disco, Não Vale Mais Um Dia soa doído, quase cool, de uma ambiência jazzy amplificada pelo solo de uma guitarra não portuguesa. Em qualquer tom ou latitude, a música de António Zambujo prima pela beleza, pelo apuro. Seja rejuvenescendo o fado ou evocando as tradições desse gênero talhado para a voz grave e profunda do cantor, Quinto reitera a força do artista.

3 comentários:

Caetano Completo disse...

Mauro, lá venho eu reclamar de novo! Que raio de moda é essa de colocar o título relacionando a sequência do disco?
Que bom que você concorda comigo, rs. É preguiça!

Mauro Ferreira disse...

Em seu belo quinto álbum, ainda inédito no mercado nacional, o fadista alentejano António Zambujo - conhecido no Brasil por suas conexões com artistas como Ney Matogrosso e Roberta Sá - concilia a poesia, o som e o sentimento do fado tradicional com uma linguagem mais coloquial, leve e contemporânea que rejuvenesce o gênero musical que identifica Portugal no mapa-múndi da música. De título preguiçoso, Quinto é álbum pautado por repertório inédito. A exceção é Rua dos Meus Ciúmes, sucesso da fadista Helena Tavares (1932 - 1980), uma das faixas representantes da ala mais tradicional, ao lado de Só Pode Ser Amor e de Noite Estrelada, fados ambientados em clima típico do gênero. Em oposição a esses temas de sentimento mais classicista, realçado pela guitarra portuguesa tocada por Bernardo Couto e/ou por Luís Guerreiro, Quinto apresenta músicas mais arejadas pela produção do baixista Ricardo Cruz. Fado Desconcertado abre o álbum com leveza, som contemporâneo e versos coloquiais, como se o fadista desajustado incorporasse o cantor desafinado da Bossa Nova. Aliás, Zambujo dosa em Quinto as conexões com a música brasileira, traços determinantes de seus dois álbuns anteriores, Outro Sentido (2007) e Guia (2010). Embora Quinto tenha até um cavaquinista (Jon Luz) na banda, a ligação com os sons do Brasil está mais diluída ao longo das 15 músicas do álbum. De todo modo, há toques de samba e choro em Flagrante, cujos versos (de Maria do Rosário Pedreira) reforçam com humor a coloquialidade do repertório de tom mais contemporâneo. E há Maré, lindo tema de Rodrigo Maranhão que fecha este disco que adota discurso juvenil em Lambreta, destila melancolia em A Casa Fechada e que abre a parceria de Zambujo com Pedro da Silva Martins (do grupo Deolindas), letrista de Algo Estranho Acontece (outra faixa de pegada contemporânea) e de Queria Conhecer-te Um Dia. Martins vem se juntar a um time de poetas que inclui João Monge, José Eduardo Agualusa (letrista de Milagrário Pessoal, tema no qual o clarinete de José Miguel Conde sopra frescor) e Miguel Araújo Jorge (do grupo Os Azeitonas), entre outros. O brasileiro Márcio Faraco é o compositor de Fortuna, faixa que expõe a influência das mornas de Cabo Verde no fado de Zambujo. Que revive o canto de seu Alentejo em O Que É Feito Dela. Tema mais denso do disco, Não Vale Mais Um Dia soa doído, quase cool, de uma ambiência jazzy amplificada pelo solo de uma guitarra não portuguesa. Em qualquer tom ou latitude, a música de António Zambujo prima pela beleza, pelo apuro. Seja rejuvenescendo o fado ou evocando as tradições desse gênero talhado para a voz grave e profunda do cantor, Quinto reitera a força do artista.

Teo Dantas disse...

Tá saindo no Brasil o disco? Zambujo é fantástico.