Mauro Ferreira no G1

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segunda-feira, 9 de julho de 2012

Jeneci te dá o ceu ao interpretar 'canções perfeitas' de Roberto e Erasmo

Resenha de show
Título: Marcelo Jeneci Canta Roberto Carlos
Artista: Marcelo Jeneci (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Circo Voador (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 8 de julho de 2012
Cotação: * * * * 1/2

Após cantar O Divã (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1972) na estreia carioca do show em que aborda músicas propagadas na voz de Roberto Carlos, Marcelo Jeneci ressaltou para o público do Circo Voador a importância de Erasmo Carlos ("Ele está sempre ali, lado a lado") na arquitetura de canções caracterizadas como "perfeitas" por Jeneci. Pois Jeneci roça a perfeição pop ao dar voz a algumas dessas canções no show criado em abril de 2012 para o projeto Outro Repertório, do Sesc Belenzinho, de São Paulo (SP). Compositor que vem se revelando expressivo intérprete, mesmo não tendo uma voz especialmente marcante ou potente, Jeneci cresceu ouvindo em casa as canções de Roberto e Erasmo. Em seu primeiro disco, Feito pra Acabar (2010), é nítida a influência da Jovem Guarda na construção de sua obra autoral, sobretudo em temas como Dar-Te-Ei (Marcelo Jeneci, Helder Lopes, Zé Miguel Wisnik e Verônica Pessoa), canção não por acaso incluída no roteiro da apresentação carioca de Marcelo Jeneci Canta Roberto Carlos, show - que salvo alguma mudança de planos - saiu definitivamente de cena na madrugada de domingo, 8 de julho. Leve e solto na companhia de banda que incluía trio de metais, Jeneci cantou Roberto Carlos com paixão, enfileirando canções gravadas pelo Rei da Juventude entre 1965 e 1974. Em cena, o fervor do spiritual Jesus Cristo (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1970) - número que abre o show já com certo impacto - se irmana com a celebração do cotidiano romântico de Rotina (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1973) e com as divagações pessoais da supra-citada O Divã, música que Nara Leão (1942 - 1989) releu lindamente em tom seresteiro no álbum de 1978 em que deu voz às canções de Roberto e Erasmo quando a dupla ainda era alvo de preconceito na elite da MPB. Partner vocal de Jeneci, Laura Lavieri assume a interpretação de O Astronauta (Helena dos Santos e Edson Ribeiro, 1970), número de vibe roqueira. Em Do Outro Lado da Cidade (música de 1969, creditada a Helena dos Santos por iniciativa de Roberto Carlos, mas na verdade de autoria do cantor), Jeneci faz a segunda voz enquanto se reveza nos teclados e na percussão. Já o dueto de Esqueça (Mark Anthony em versão de Roberto Corte Real, 1966) reitera a harmonia vocal entre Jeneci e Lavieri. De forma geral, os arranjos de músicas como a balada Como Vai Você? (Antonio Marcos, 1972) soam reverentes aos registros originais de Roberto sem fidelidade cega. "São muitas emoções", brincou Jeneci, imitando a fala de Roberto após tocar acordeom em Um Leão Está Solto nas Ruas (Rossini Pinto, 1965), número solado por Lavieri em ritmo veloz. Entre o rock Quando (Roberto Carlos, 1967) e a emblemática canção Detalhes (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1971), abordada no bis em registro cool de vozes e acordeom (pilotado pelo próprio Jeneci), Eu Te Amo, Te Amo, Te Amo (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1968) se revela mais uma vez a perfeição em forma de canção. Após a música, cujo refrão é cantado em coro pelo público, Jeneci distribui rosas vermelhas para a plateia, repetindo o gesto clássico do Rei em sua fase mais madura. Das canções autorais de Jeneci, Pense Duas Vezes Antes de me Esquecer (Marcelo Jeneci, Arnaldo Antunes e Ortinho, 2010) se impõe em cena como a versão anos 2000 do iê-iê-iê romântico propagado por Roberto Carlos nas jovens tardes de domingo dos anos de 1965, 1966 e 1967. No fim, a humanista Eu Quero Apenas (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1974) celebra a comunhão de gerações e amigos no show em que Marcelo Jeneci geralmente te dá o céu ao cantar o repertório de Roberto Carlos.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

Após cantar O Divã (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1972) na estreia carioca do show em que aborda músicas propagadas na voz de Roberto Carlos, Marcelo Jeneci ressaltou para o público do Circo Voador a importância de Erasmo Carlos ("Ele está sempre ali, lado a lado") na arquitetura de canções caracterizadas como "perfeitas" por Jeneci. Pois Jeneci roça a perfeição pop ao dar voz a algumas dessas canções no show criado em abril de 2012 para o projeto Outro Repertório, do Sesc Belenzinho, de São Paulo (SP). Compositor que vem se revelando expressivo intérprete, mesmo não tendo uma voz especialmente marcante ou potente, Jeneci cresceu ouvindo em casa as canções de Roberto e Erasmo. Em seu primeiro disco, Feito pra Acabar (2010), é nítida a influência da Jovem Guarda na construção de sua obra autoral, sobretudo em temas como Dar-Te-Ei (Marcelo Jeneci, Helder Lopes, Zé Miguel Wisnik e Verônica Pessoa), canção não por acaso incluída no roteiro da apresentação carioca de Marcelo Jeneci Canta Roberto Carlos, show - que salvo alguma mudança de planos - saiu definitivamente de cena na madrugada de domingo, 8 de julho. Leve e solto na companhia de banda que incluía trio de metais, Jeneci cantou Roberto Carlos com paixão, enfileirando canções gravadas pelo Rei da Juventude entre 1965 e 1974. Em cena, o fervor do spiritual Jesus Cristo (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1970) - número que abre o show já com certo impacto - se irmana com a celebração do cotidiano romântico de Rotina (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1973) e com as divagações pessoais da supra-citada O Divã, música que Nara Leão (1942 - 1989) releu lindamente em tom seresteiro no álbum de 1978 em que deu voz às canções de Roberto e Erasmo quando a dupla ainda era alvo de preconceito na elite da MPB. Partner vocal de Jeneci, Laura Lavieri assume a interpretação de O Astronauta (Helena dos Santos e Edson Ribeiro, 1970), número de vibe roqueira. Em Do Outro Lado da Cidade (música de 1969, creditada a Helena dos Santos por iniciativa de Roberto Carlos, mas na verdade de autoria do cantor), Jeneci faz a segunda voz enquanto se reveza nos teclados e na percussão. Já o dueto de Esqueça (Mark Anthony em versão de Roberto Corte Real, 1966) reitera a harmonia vocal entre Jeneci e Lavieri. De forma geral, os arranjos de músicas como a balada Como Vai Você? (Antonio Marcos, 1972) soam reverentes aos registros originais de Roberto sem fidelidade cega. "São muitas emoções", brincou Jeneci, imitando a fala de Roberto após tocar acordeom em Um Leão Está Solto nas Ruas (Rossini Pinto, 1965), número solado por Lavieri em ritmo veloz. Entre o rock Quando (Roberto Carlos, 1967) e a emblemática canção Detalhes (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1971), abordada no bis em registro cool de vozes e acordeom (pilotado pelo próprio Jeneci), Eu Te Amo, Te Amo, Te Amo (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1968) se revela mais uma vez a perfeição em forma de canção. Após a música, cujo refrão é cantado em coro pelo público, Jeneci distribui rosas vermelhas para a plateia, repetindo o gesto clássico do Rei em sua fase mais madura. Das canções autorais de Jeneci, Pense Duas Vezes Antes de me Esquecer (Marcelo Jeneci, Arnaldo Antunes e Ortinho, 2010) se impõe em cena como a versão anos 2000 do iê-iê-iê romântico propagado por Roberto Carlos nas jovens tardes de domingo dos anos de 1965, 1966 e 1967. No fim, a humanista Eu Quero Apenas (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1974) celebra a comunhão de gerações e amigos no show em que Marcelo Jeneci geralmente te dá o céu ao cantar o repertório de Roberto Carlos.