Mauro Ferreira no G1

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domingo, 29 de julho de 2012

'Baião' aborda em tons contemporâneos o gênero que projetou Gonzaga

Resenha de CD
Título: 100 Anos de Gonzagão - Baião
Artistas: Vários
Gravadora: Lua Music
Cotação: * * * 

Terceiro CD do box 100 Anos de Gonzagão, tributo triplo produzido por Thiago Marques Luiz para celebrar o centenário de nascimento de Luiz Gonzaga (1912 - 1989), Baião põe em evidência os timbres da guitarra e das programações de Rovilson Pascoal, diretor musical do projeto (em função dividida com o baixista André Bedurê). Mais do que as interpretações em si do elenco convidado, o que salta aos ouvidos são as tentativas de repaginar o baião - gênero que projetou e consagrou Gonzagão na virada dos anos 40 para os 50 - com arranjos de tom contemporâneo. Essa abordagem mais atual pauta os registros de Baião (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1949), Imbalança (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1952) e Paraíba (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1950) - clássicos defendidos com correção por Wanderléa, Paulo Neto e Marcia Castro, respectivamente. Zeca Baleiro imprime sua personalidade musical no disco ao revitalizar Respeita Januário (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1950) como balada de alma roqueira. Nem tudo é baião, a rigor, no repertório deste CD de conceito mais frouxo. Caracterizada como polca em sua gravação original de 1949, Lorota Boa (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) é o veículo ideal para a manifestação do espírito lúdico de Silvia Machete em ótima gravação valorizada pelo trompete de Sidmar Vieira e os efeitos de Tatá Aeroplano. Originalmente um coco, Siri Jogando Bola (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1956) faz China marcar golaço ao conectar (mais uma vez) Pernambuco com o mundo. Outro coco, Derramaro o Gai (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1950) faz explodir a influência de Lenine no som do grupo 5 a Seco. Título mais recente e desconhecido do cancioneiro de Gonzaga, Deixa a Tanga Voar (Luiz Gonzaga e João Silva, 1985) é ambientado em gostoso clima nortista na gravação de Ela. Presença emblemática no elenco por ter sido rotulada como a Princesinha do Baião nos anos 50 pelo próprio Luiz Gonzaga, Claudette Soares põe dengo e bossa em Baião de Dois (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1950) em gravação realçada pelo arranjo suingante do B3 Organ Trio, grupo que assina a faixa com Claudette. Silvia Maria reitera sua técnica primorosa em belo registro do xote Mangaratiba (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1956), dividido com DaLua. Escorado na pegada roqueira da Banda Monomotor, cujo som evoca a era do iê-iê-iê, Edy Star (se) diverte no pot-pourri que agrega Dezessete e Setecentos (Luiz Gonzaga e Miguel Lima, 1945), O Torrado (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1950) e Calango da Lacraia (Luiz Gonzaga e Jeová Portella, 1946). Por fim, Nation Beat veste Madame Baião (Luiz Gonzaga e David Nasser, 1951) com roupa indie, deixando a sensação de que o maior mérito deste 100 Anos de Gonzagão é mostrar que a obra de Luiz Gonzaga é tão grande e tão universal - ainda que paradoxalmente enraizada no Nordeste do Brasil - que resiste bem a releituras mais ou menos inspiradas de intérpretes mais ou menos capacitados para encará-la. Gonzagão é pop!!

6 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Terceiro CD do box 100 Anos de Gonzagão, tributo triplo produzido por Thiago Marques Luiz para celebrar o centenário de nascimento de Luiz Gonzaga (1912 - 1989), Baião põe em evidência os timbres da guitarra e das programações de Rovilson Pascoal, diretor musical do projeto (em função dividida com o baixista André Bedurê). Mais do que as interpretações em si do elenco convidado, o que salta aos ouvidos são as tentativas de repaginar o baião - gênero que projetou e consagrou Gonzagão na virada dos anos 40 para os 50 - com arranjos de tom contemporâneo. Essa abordagem mais atual pauta os registros de Baião (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1949), Imbalança (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1952) e Paraíba (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1950) - clássicos defendidos com correção por Wanderléa, Paulo Neto e Marcia Castro, respectivamente. Zeca Baleiro imprime sua personalidade musical no disco ao revitalizar Respeita Januário (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1950) como balada de alma roqueira. Nem tudo é baião, a rigor, no repertório deste CD de conceito mais frouxo. Caracterizada como polca em sua gravação original de 1949, Lorota Boa (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) é o veículo ideal para a manifestação do espírito lúdico de Silvia Machete em ótima gravação valorizada pelo trompete de Sidmar Vieira e os efeitos de Tatá Aeroplano. Originalmente um coco, Siri Jogando Bola (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1956) faz China marcar golaço ao conectar (mais uma vez) Pernambuco com o mundo. Outro coco, Derramaro o Gai (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1950) faz explodir a influência de Lenine no som do grupo 5 a Seco. Título mais recente e desconhecido do cancioneiro de Gonzaga, Deixa a Tanga Voar (Luiz Gonzaga e João Silva, 1985) é ambientado em gostoso clima nortista na gravação de Ela. Presença emblemática no elenco por ter sido rotulada como a Princesinha do Baião nos anos 50 pelo próprio Luiz Gonzaga, Claudette Soares põe dengo e bossa em Baião de Dois (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1950) em gravação realçada pelo arranjo suingante do B3 Organ Trio, grupo que assina a faixa com Claudette. Silvia Maria reitera sua técnica primorosa em belo registro do xote Mangaratiba (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1956), dividido com DaLua. Escorado na pegada roqueira da Banda Monomotor, cujo som evoca a era do iê-iê-iê, Edy Star (se) diverte no pot-pourri que agrega Dezessete e Setecentos (Luiz Gonzaga e Miguel Lima, 1945), O Torrado (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1950) e Calango da Lacraia (Luiz Gonzaga e Jeová Portella, 1946). Por fim, Nation Beat veste Madame Baião (Luiz Gonzaga e David Nasser, 1951) com roupa indie, deixando a sensação de que o maior mérito deste 100 Anos de Gonzagão é mostrar que a obra de Luiz Gonzaga é tão grande e tão universal - ainda que paradoxalmente enraizada no Nordeste do Brasil - que resiste bem a releituras mais ou menos inspiradas de intérpretes mais ou menos capacitados para encará-la. Gonzagão é pop!!

bruniuhhh disse...

Adorei as ver~soes de Paulo Neto, da Márcia, Machete, China e Ela (que não conhecia). Já o 5 a Seco fez um grande erro tirando o humor de "Derramaro o Gái"

Rafael disse...

As versões da Márcia, da Machete e do Edy Star ficaram muito boas mesmo.

Fábio Passadisco disse...

Gonzagão é pop!

Abraços Mauro.

maroca disse...

Augusto Flávio (Juazeiro-Ba) Disse:

Mauro, pelo menos aqui no Nordeste, a música Deixa a tanga voar, foi muito executada em 1985 juntamente com Forró nº 1 com a participação de Gal Costa, ambas do disco Sanfoneiro macho, as quais foram carro chefe do disco. Pelo menos aqui ela é conhecidíssima.

Abraços.

Nelson disse...

E as gravaçōes de Gonzaga seguem insuperáveis. Apesar do tempo. Impressionante.