Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 26 de julho de 2012

Catto é destaque no disco que ressalta dengo sensual da obra de Gonzagão

Resenha de CD
Título: 100 anos de Gonzagão - Xamêgo
Artistas: Vários
Gravadora: Lua Music
Cotação: * * * 1/2

 Ao mesmo tempo em que mostrou ao Brasil como se dançava e fazia o baião, Luiz Gonzaga (1912 - 1989) temperou sua obra com a malícia sensual que caracteriza parte da música nordestina. A face mais dengosa do repertório de Lua está exposta em Xamêgo, o segundo dos três CDs do box 100 anos de Gonzagão, produzido por Thiago Marques Luiz - sob a direção musical do violonista Rovilson Pascoal e do baixista André Beduré - para celebrar o centenário de nascimento do Rei do Baião. Com gravações menos reverentes do que as do CD 1 (Sertão, de tom mais tradicional), Xamêgo soa mais descontraído. O jovem cantor Filipe Catto faz jus à honra de abrir o disco, com interpretação precisa de A sorte é cega (Luiz Guimarães, 1967), valorizando cada verso de letra que aborda amor e desejo reprimidos. Aliada à voz segura de Catto, a trama de violões e guitarras faz da gravação um dos grandes destaques do tributo triplo. A arejada produção musical de Yuri Queiroga abre caminho para que sua irmã, Ylana Queiroga (sobrinha de Lula Queiroga), encontre o tom dengoso de Orélia (Humberto Teixeira, 1979). Arretada por natureza, Maria Alcina exercita seu histrionismo em Xamêgo (Luiz Gonzaga e Miguel Lima, 1944), tema que ganha suingue nortista na gravação, outro destaque do disco. Radicado em Nova York (EUA), o grupo Forró in the Dark parece se divertir ao desconstruir o xote O cheiro da Carolina (Amorim Roxo e Zé Gonzaga, 1956). Cantora visceral no palco, Karina Buhr sustenta bem a leveza do baião Xanduzinha (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1950). Já Thaís Gulin nada faz por Balance eu (Luiz Gonzaga e Nestor de Hollanda, 1958). Falta no registro de Gulin a vivacidade posta em Ednardo no baião Vem morena (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1949). Faltou malícia também à interpretação de Gaby Amarantos para Cintura fina (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1950), faixa turbinada pelas programações eletrônicas de Sandro Negão. Uma das joias de maior quilate do baú de Gonzagão, Qui nem jiló (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1950) poderia reluzir mais se o arranjo fosse mais ousado para diferenciar o registro de Ângela RoRo das numerosas abordagens do antológico baião. Da mesma forma, nem a emissão límpida de Jussara Silveira faz Sabiá (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1951) voar alto. Por sua vez, a (ótima) cantora Verônica Ferriani mostra insuspeito domínio do ABC do sertão com sua primorosa interpretação de A letra I (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1953), em gravação feita e assinada com o grupo Chorando as Pitangas. O arranjo do gaitista Vítor Lopes contribui para tornar a faixa uma das melhores do tributo. Em sintonia com sua alma sertaneja, Rolando Boldrin dá sabor interiorano a Açucena cheirosa (Rômulo Paes e José Celso, 1956) em gravação feita com o Regional Imperial.  Já Vânia Bastos dilui a alegria junina de Olha pro céu (Luiz Gonzaga e José Fernandes, 1951) em registro sereno que realça a beleza da melodia do tema e a emissão cristalina da voz da cantora. Célia suaviza a angústia que move os versos de Roendo unha (Luiz Gonzaga e Luiz Ramalho, 1976) com o rigor estilístico que falta ao canto informal de Elke Maravilha, que jamais acerta o tom dengoso d'O xote das meninas (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1953), tema unido na faixa - assinada por Elke com o Trio Dona Zefa - com Capim Novo (Luiz Gonzaga e José Clementino, 1976). Luiz Gonzaga sabia brincar com as coisas do amor e do sexo. Mas a brincadeira somente tem graça quando é musicalmente levada a sério - como faz a maioria dos intérpretes de Xamêgo, com destaque para Filipe Catto e Verônica Ferriani. Sim, é preciso respeitar Januário.

5 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Ao mesmo tempo em que mostrou ao Brasil como se dançava e fazia o baião, Luiz Gonzaga (1912 - 1989) temperou sua obra com a malícia sensual que caracteriza parte da música nordestina. A face mais dengosa do repertório de Lua está exposta em Xamêgo, o segundo dos três CDs do box 100 Anos de Gonzagão, produzido por Thiago Marques Luiz - sob a direção musical do violonista Rovilson Pascoal e do baixista André Beduré - para celebrar o centenário de nascimento do Rei do Baião. Com gravações menos reverentes do que as do CD 1 (Sertão, de tom mais tradicional), Xamêgo soa mais descontraído. O jovem cantor Filipe Catto faz jus à honra de abrir o disco, com interpretação precisa de A Sorte É Cega (Luiz Guimarães, 1967), valorizando cada verso de letra que aborda amor e desejo reprimidos. Aliada à voz segura de Catto, a trama de violões e guitarras faz da gravação um dos grandes destaques do tributo triplo. A arejada produção musical de Yuri Queiroga abre caminho para que sua irmã, Ylana Queiroga (sobrinha de Lula Queiroga), encontre o tom dengoso de Orélia (Humberto Teixeira, 1979). Arretada por natureza, Maria Alcina exercita seu histrionismo em Xamêgo (Luiz Gonzaga e Miguel Lima, 1944), tema que ganha suingue nortista na gravação, outro destaque do disco. Radicado em Nova York (EUA), o grupo Forró in the Dark parece se divertir ao desconstruir o xote O Cheiro da Carolina (Amorim Roxo e Zé Gonzaga, 1956). Cantora visceral no palco, Karina Buhr sustenta bem a leveza do baião Xanduzinha (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1950). Já Thaís Gulin nada faz por Balance Eu (Luiz Gonzaga e Nestor de Hollanda, 1958). Falta no registro de Gulin a vivacidade posta em Ednardo no baião Vem Morena (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1949). Faltou malícia também à interpretação de Gaby Amarantos para Cintura Fina (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1950), faixa turbinada pelas programações eletrônicas de Sandro Negão. Uma das joias de maior quilate do baú de Gonzagão, Qui Nem Jiló (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1950) poderia reluzir mais se o arranjo fosse mais ousado para diferenciar o registro de Ângela RoRo das numerosas abordagens do antológico baião. Da mesma forma, nem a emissão límpida de Jussara Silveira faz Sabiá (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1951) voar alto. Por sua vez, a (ótima) cantora Verônica Ferriani mostra insuspeito domínio do ABC do sertão com sua primorosa interpretação de A Letra I (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1953), em gravação feita e assinada com o grupo Chorando as Pitangas. O arranjo do gaitista Vítor Lopes contribui para tornar a faixa uma das melhores do tributo. Em sintonia com sua alma sertaneja, Rolando Boldrin dá sabor interiorano a Açucena Cheirosa (Rômulo Paes e José Celso, 1956) em gravação feita com o Regional Imperial. Já Vânia Bastos dilui a alegria junina de Olha pro Céu (Luiz Gonzaga e José Fernandes, 1951) em registro sereno que realça a beleza da melodia do tema e a emissão cristalina da voz da cantora. Célia suaviza a angústia que move os versos de Roendo Unha (Luiz Gonzaga e Luiz Ramalho, 1976) com o rigor estilístico que falta ao canto informal de Elke Maravilha, que jamais acerta o tom dengoso d'O Xote das Meninas (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1953), tema unido na faixa - assinada por Elke com o Trio Dona Zefa - com Capim Novo (Luiz Gonzaga e José Clementino, 1976). Luiz Gonzaga sabia brincar com as coisas do amor e do sexo. Mas a brincadeira somente tem graça quando é musicalmente levada a sério - como faz a maioria dos intérpretes do CD Xamêgo, com destaques para Filipe Catto e Verônica Ferriani.

lurian disse...

Pela primeira vez gostei de uma versão do Filipe Catto, sempre achava ele meio forçado e histriônico, mas ele acerta realmente ao cantar no tom e com jeito A sorte é cega, fez muito bem.
Verônica Ferriani a cada nova interpretação só vem confirmar que é a melhor cantora/intérprete da nova geração.Essa sim é "arretada", como diria Aracy de Almeida: 5 paus!!! - (leia-se: nota máxima) pra ela!!!

Marcelo disse...

Verônica canta com sentimento e afinação. Não engana, não é metida a cool, não complica o meio campo!! Enfim...Verônica Ferriani é tudo de bom!!!!

Luca disse...

Já saquei que o Mauro protege esse Felipe Catto como protege sua queridinha Roberta Sá

maroca disse...

Augusto Flávio (Juazeiro-Ba) Disse:

Luca, nesse caso não há como protege-lo. Filipe Catto fez a melhor gravaçao dentre todos que estão aí no tributo, tem muito joia mandando bem no disco. Mas Filipe deixou todo mundo zonzo e extasiado.