Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 25 de julho de 2012

Ayrton, Cátia, Cida, Chico e Geraldo pisam firme no 'Sertão' de Gonzaga

Resenha de CD
Título: 100 Anos de Gonzagão - Sertão
Artistas: Vários
Gravadora: Lua Music
Cotação: * * *

É com a autoridade de ser o discípulo mais legítimo de Luiz Gonzaga (1912 - 1989) que Dominguinhos abre  Sertão - o primeiro dos três CDs do box 100 Anos de Gonzagão, produzido com heroísmo por Thiago Marques Luiz para celebrar o centenário de nascimento do Rei do Baião - com citação de Hora do Adeus (Onildo de Almeida e Luiz Queiroga, 1966) antes de fazer Asa Branca (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1947) bater asas do sertão em voo agalopado orquestrado com as adesões de Amelinha, Anastácia, Ednardo e Geraldo Azevedo. Nessa abertura do tributo, os metais soprados pelos músicos do Meretrio - com arranjo vivaz do trombonista Emiliano Sampaio - sinaliza que pode haver alguma vida nova no Sertão de 100 Anos de Gonzagão. Com 50 gravações inéditas feitas sob a direção musical do violonista Rovilson Pascoal e do baixista André Beduré, autores da maioria dos arranjos, o tributo triplo peca por excessos e pela irregularidade de algumas interpretações. Contudo, o saldo é positivo. Se Elba Ramalho liga o automático ao reviver o xote No Meu Pé de Serra (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1946), Geraldo Azevedo repisa com propriedade a bela Estrada de Canindé (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1950) - na companhia de um elétrico violão arranjado e tocado pelo próprio Geraldo - e o jovem cantor pernambucano Ayrton Montarroyos se revela cantor promissor pela beleza de seu timbre e pela segurança com que embarca no Riacho do Navio (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1955). Se Zezé Motta parece turista acidental n'A Vida do Viajante (Luiz Gonzaga e Hervê Cordovil, 1953), Cida Moreira lança mão de todo seu rigor estilístico para realçar a beleza poética de Acauã (Zé Dantas, 1952) em interpretação serena. Neto de Luiz, Daniel Gonzaga respeita o baião Juazeiro (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1949), prejudicado por arranjo sem vida. Aliás, o índice de acertos é maior quando o artista tem o controle artístico de sua gravação. Chico César pega bem Pau de Arara (Luiz Gonzaga e Guio de Moraes, 1952) no toque de sua guitarra acústica. Em compensação, o grupo paulista Vanguart dá rasante cego por Assum Preto (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1950), tirando toda a beleza e sentimento da toada. Em geral, os temas áridos do sertão de Gonzaga são encarados com mais desenvoltura por quem tem a vivência nordestina e conhece a extensão de uma Légua Tirana (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1949), caso de Amelinha, intérprete que explora a região aguda de sua voz ao percorrer os caminhos melódicos dessa toada. Caso também de Zé Ramalho, cuja voz cavernosa é talhada para narrar A Morte do Vaqueiro (Luiz Gonzaga e Nelson Barbalho, 1963). É por essa vivência nordestina que a paraibana Cátia de França sabe fazer ressoar Vozes da Seca (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1953) e que Anastácia se encontra feliz com Oswaldinho do Acordeom n'A Feira de Caruaru (Onildo de Almeida, 1957). Em contrapartida, Fafá de Belém forja alegria para festejar A Volta da Asa Branca (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1950). Não, tudo em volta não é só beleza no sertão centenário de Lua.

9 comentários:

Mauro Ferreira disse...

É com a autoridade de ser o discípulo mais legítimo de Luiz Gonzaga (1912 - 1989) que Dominguinhos abre Sertão - o primeiro dos três CDs do box 100 Anos de Gonzagão, produzido com heroísmo por Thiago Marques Luiz para celebrar o centenário de nascimento do Rei do Baião - com citação de Hora do Adeus (Onildo de Almeida e Luiz Queiroga, 1966) antes de fazer Asa Branca (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1947) bater asas do sertão em voo agalopado orquestrado com as adesões de Amelinha, Anastácia, Ednardo e Geraldo Azevedo. Nessa abertura do tributo, os metais soprados pelos músicos do Meretrio - com arranjo vivaz do trombonista Emiliano Sampaio - sinaliza que pode haver alguma vida nova no Sertão de 100 Anos de Gonzagão. Com 50 gravações inéditas feitas sob a direção musical do violonista Rovilson Pascoal e do baixista André Beduré, autores da maioria dos arranjos, o tributo triplo peca por excessos e pela irregularidade de algumas interpretações. Contudo, o saldo é positivo. Se Elba Ramalho liga o automático ao reviver o xote No Meu Pé de Serra (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1946), Geraldo Azevedo repisa com propriedade a bela Estrada de Canindé (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1950) - na companhia de um elétrico violão arranjado e tocado pelo próprio Geraldo - e o jovem cantor pernambucano Ayrton Montarroyos se revela cantor promissor pela beleza de seu timbre e pela segurança com que embarca no Riacho do Navio (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1955). Se Zezé Motta parece turista acidental n'A Vida do Viajante (Luiz Gonzaga e Hervê Cordovil, 1953), Cida Moreira lança mão de todo seu rigor estilístico para realçar a beleza poética de Acauã (Zé Dantas, 1952) em interpretação serena. Neto de Luiz, Daniel Gonzaga respeita o baião Juazeiro (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1949), prejudicado por arranjo sem vida. Aliás, o indíce de acertos é maior quando o artista tem o controle artístico de sua gravação. Chico César pega bem Pau de Arara (Luiz Gonzaga e Guio de Moraes, 1952) no toque de sua guitarra acústica. Em compensação, o grupo paulista Vanguart dá rasante cego por Assum Preto (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1950), tirando toda a beleza e sentimento da toada. Em geral, os temas áridos do sertão de Gonzaga são encarados com mais desenvoltura por quem tem a vivência nordestina e conhece a extensão de uma Légua Tirana (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1949), caso de Amelinha, intérprete que explora a região aguda de sua voz ao percorrer os caminhos melódicos dessa toada. Caso também de Zé Ramalho, cuja voz cavernosa é talhada para narrar A Morte do Vaqueiro (Luiz Gonzaga e Nelson Barbalho, 1963). É por essa vivência nordestina que a paraibana Cátia de França sabe fazer ressoar Vozes da Seca (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1953) e que Anastácia se encontra feliz com Oswaldinho do Acordeom n'A Feira de Caruaru (Onildo de Almeida, 1957). Em contrapartida, Fafá de Belém forja alegria para festejar A Volta da Asa Branca (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1950). Não, tudo em volta não é só beleza no sertão centenário de Lua.

lurian disse...

Já tinha ouvido Amelinha interpretar sua Légua tirana, entre prece e lamento, num video do youtube e achado a gravação sublime,o disco só veio realçar o quanto o mercado foi injusto ao colocar tão boa intérprete à margem. Sem dúvidas um dos melhores momentos do disco.
Por outro lado colega de geração de Amelinha e normalmente boa intérprete de Gonzaga, Elba fez uma gravação pálida.
Quanto à Cida Moreira, já gostei mais... algo aconteceu à sua voz que nitidamente não é a mesma da intérprete que gravou de uma forma esplêndida anos atrás "Tempo e artista", permanece a postura.
Anastácia mais que graduada em temas sertanejos é outra que aparece muito bem com os artigos d'A Feira de Caruaru.
No geral ficou bom, esse é o disco mais 'tradicional' em relação aos outros!

André Luís disse...

Mauro, duas correções. No título está "100 Anos de Gonzação". Ajeita o Gonzagão pra não cair na gozação! rsrs

O outro é a palavra "índice", que está escrita "indíce".

ABRAÇO!

Mauro Ferreira disse...

Grato por seu olhar atento, André. Abs, MauroF

Anônimo disse...

Ayrton Montarroyos é o cara. No meio de tanta gente importante fez a melhor gravação desse disco.

maroca disse...

Augusto Flávio (Juazeiro-Ba) Disse:

Mauro, vc só esqueceu de mencionar Filipo Catto, que arrebentou!

Abraços.

Fábio Passadisco disse...

Belo texto Mauro... para um belo (e merecido tributo a Luiz Gonzaga)

Mauro Ferreira disse...

Grato, Fábio. Augusto, Filipe Catto não foi mencionado porque o post em questão é a resenha do CD 1, Sertão, como está especificado no cabeçalho. Amanhã entra a resenha do CD 2. E, na sexta, a do CD 3. Abs, MauroF

Opiniões - show-manifesto disse...

Comprei o disco na Fnac e achei muito bom, exceto a Elke Maravilha que destruiu o Xote das meninas. Mas eu acho lindo o trabalho porque continua o trabalho do meu saudoso amigo Chediak. Ana Mota