Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 22 de março de 2012

Show 'Pra Desengomar' reitera a evolução de Moyseis em disco (e em cena)

Resenha de show Título: Pra Desengomar
Artista: Moyseis Marques (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Rival (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 20 de março de 2012
Cotação: * * * *

 Assim como o disco Pra desengomar (Biscoito Fino, 2012) representa evolução na obra de Moyseis Marques com inspirado repertório autoral, o show Pra desengomar - cuja turnê nacional estreou esta semana no Rio de Janeiro (RJ) - atesta a evolução em cena deste cantor e compositor carioca que vem fazendo conexões e parcerias com nomes como Zé Renato, Moacyr Luz, Edu Krieger e Leila Pinheiro. A cantora paraense, aliás, foi uma das convidadas da redonda apresentação que agitou o Teatro Rival na noite de 20 de março de 2012. Sob a direção musical do cavaquinista Alessandro Cardozo, maestro da banda que mostrou suingue e interação no número instrumental Pagode jazz Sardinha's Club (Eduardo Neves, Rodrigo Lessa e Mauro Aguiar, 1998), Marques recebeu convidados, cantou todas as 12 músicas de seu recém-lançado terceiro álbum, reviveu sucessos como Pretinha, joia rara (Moyseis Marques, 2009) - que não reluziu com todo seu brilho na apresentação, talvez por ter sido criada fora do universo musical do disco Pra desengomar -  e se comunicou bem com a plateia, falando (somente o necessário) para deixar que a música dê o recado. No caso, um samba cultivado com o sabor dos melhores frutos dos quintais cariocas - e não é por acaso que haja no roteiro poético samba de Luiz Carlos da Vila (1949 - 2008), Oitava cor (1988), parceria do saudoso compositor com Sombra e Sombrinha. Luiz Carlos é da mesma Vila, a da Penha, em que o mineiro Moyseis se criou nas tradições do subúrbio carioca  exaltadas no bis em momento mais interiorizado de voz & violão em que Marques canta Subúrbio (2006) com muito mais propriedade e sentido do que o compositor do tema, Chico Buarque. No todo, a coesa safra autoral apresentada por Marques em Pra desengomar se beneficia em cena do fato de o artista estar dividindo o palco com nove músicos. Ter sopros no palco vitaliza o suingue das duas parcerias de Marques com Edu Krieger, O badabadá do Talarico e Bicho do mato, esta valorizada pela participação da cantora Leila Pinheiro, menos sedutora ao abordar o samba Minha verdade (Ivone Lara e Délcio Carvalho, 1978) na companhia da guitarra eletroacústica de Marques. Sopros à parte, a cozinha da banda é azeitada e tempera os sambas na medida certa. O que precisa ser ajustado é o roteiro. Alocar lado a lado três sambas feitos em tom de tristeza - Entre os girassóis (Moyseis Marques e Edu Krieger, 2009), Piuí (Moyseis Marques e João Martins, 2012) e O lado bom da incerteza (Moyseis Marques e Zé Renato, 2012) - fez o show perder o pique, a pegada e o brilho iniciais, recuperados a partir da luminosa entrada em cena de Ana Costa para dividir com Marques Um samba de amor (Moyseis Marques, 2012). O dueto resultou especialmente bonito. Como especial também foi a entrada em cena de Áurea Martins, reverenciada pelo anfitrião como a grande cantora que é. E, se algum espectador por ventura desconhecesse as qualidades vocais de Áurea, elas foram evidenciadas a partir do momento em que ela abriu a boca para cantar Como o cravo quer a rosa (2012), tema composto por Marques em sua homenagem. A participação de Áurea Martins foi tão emocionante que, na sequência, Moacyr Luz - excelente compositor de voz opaca - pegou carona no clima de emoção e brilhou ao dividir com Marques Meu canto é pra valer (2012), belo samba que inaugura a parceria dos dois compositores. Em seguida, sozinho ao microfone e já momentaneamente fora do quintal carioca, o anfitrião entrou na roda baiana com Pra ter seu bem-querer (Moyseis Marques e Bena Lobo, 2012) e seguiu a batida do baião em Xodó de lamparina (Moyseis Marques e Zé Paulo Becker, 2012). O toque nordestino do tema abriu caminho para que Marques mostrasse sua versatilidade como intérprete pelo universo de Gordurinha (1922 - 1969) e Jackson do Pandeiro (1919 -1982), se aventurando no toque do triângulo em Meu enxoval (1958), parceria dos dois bambas da região (embora creditada oficialmente a Gordurinha e a Almira Castilho, mulher de Jackson). O tom afro-brasileiro da Receita de Maria (Moyseis Marques, 2007) abriu caminho para o toque do ijexá que embala Não deu (Moyseis Marques, 2012), ponto final do roteiro.  Mas, ao voltar para o bis e encerrar para valer o show com Nomes de Favela (Paulo César Pinheiro, 2003), Moyseis Marques - mineiro criado no Rio - marcou mais uma vez a origem suburbana, que alimenta e valoriza seu samba emergente.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Assim como o disco Pra Desengomar (Biscoito Fino, 2012) representa evolução na obra de Moyseis Marques com inspirado repertório autoral, o show Pra Desengomar - cuja turnê nacional estreou esta semana no Rio de Janeiro (RJ) - atesta a evolução em cena deste cantor e compositor carioca que vem fazendo conexões e parcerias com nomes como Zé Renato, Moacyr Luz, Edu Krieger e Leila Pinheiro. A cantora paraense, aliás, foi uma das convidadas da redonda apresentação que agitou o Teatro Rival na noite de 20 de março de 2012. Sob a direção musical do cavaquinista Alessandro Cardozo, maestro da banda que mostrou suingue e interação no número instrumental Pagode Jazz Sardinha's Club (Eduardo Neves e Rodrigo Lessa), Marques recebeu convidados, cantou todas as 12 músicas de seu recém-lançado terceiro álbum, reviveu sucessos como Pretinha Joia Rara - que não reluziu com todo seu brilho na apresentação, talvez por ter sido criada fora do universo musical do disco Pra Desengomar - e se comunicou bem com a plateia, falando (somente o necessário) para deixar que a música dê o recado. No caso, um samba cultivado com o sabor dos melhores frutos dos quintais cariocas - e não é por acaso que haja no roteiro poético samba de Luiz Carlos da Vila (1949 - 2008), Oitava Cor, parceria do saudoso compositor com Sombra e Sombrinha. Luiz Carlos é da mesma Vila, a da Penha, em que Moyseis se criou nas tradições do subúrbio carioca exaltadas no bis em momento mais interiorizado de voz & violão em que canta Subúrbio com muito mais propriedade e sentido do que o compositor do tema, Chico Buarque. No todo, a coesa safra autoral apresentada por Marques em Pra Desengomar se beneficia em cena do fato de o artista estar dividindo o palco com nove músicos. Ter sopros no palco vitaliza o suingue das duas parcerias de Marques com Edu Krieger, O Badabadá do Talarico e Bicho do Mato, esta valorizada pela participação de Leila Pinheiro, menos sedutora ao abordar Minha Verdade (Ivone Lara e Délcio Carvalho) na companhia da guitarra eletroacústica de Marques. Sopros à parte, a cozinha da banda é azeitada e tempera os sambas na medida certa. O que precisa ser ajustado é o roteiro. Alocar lado a lado três sambas feitos em tom de tristeza - Entre os Girassóis (Moyseis Marques e Edu Krieger), Piuí (Moyseis Marques e João Martins) e O Lado Bom da Incerteza (Moyseis Marques e Zé Renato) - fez o show perder o pique, a pegada e o brilho iniciais, recuperados a partir da luminosa entrada em cena de Ana Costa para dividir com Marques Um Samba de Amor (Moyseis Marques). O dueto resultou especialmente bonito.

Mauro Ferreira disse...

Como especial também foi a entrada em cena de Áurea Martins, reverenciada pelo anfitrião como a grande cantora que é. E, se algum espectador por ventura desconhecesse as qualidades vocais de Áurea, elas foram evidenciadas a partir do momento em que ela abriu a boca para cantar Como o Cravo Quer a Rosa, tema composto por Marques em sua homenagem. A participação de Áurea Martins foi tão emocionante que, na sequência, Moacyr Luz - excelente compositor de voz opaca - pegou carona no clima de emoção e brilhou ao dividir com Marques Meu Canto É pra Valer, belo samba que inaugura a parceria dos dois compositores. Em seguida, sozinho ao microfone e já momentaneamente fora do quintal carioca, o anfitrião entrou na roda baiana com Pra Ter seu Bem-Querer (Moyseis Marques e Bena Lobo) e seguiu a batida do baião em Xodó de Lamparina (Moyseis Marques e Zé Paulo Becker). O toque nordestino do tema abriu caminho para que Marques mostrasse sua versatilidade como intérprete pelo universo de Gordurinha (1922 - 1969) e Jackson do Pandeiro (1919 -1982), se aventurando no toque do triângulo em Meu Enxoval, parceria dos dois bambas da região (embora creditada oficialmente a Gordurinha e a Almira Castilho, mulher de Jackson). O tom afro-brasileiro da Receita de Maria (Moyseis Marques) abriu caminho para o toque do ijexá que embala Não Deu (Moyseis Marques), ponto final do roteiro. Mas, ao voltar para o bis e encerrar para valer o show com Nomes de Favela (Paulo César Pinheiro), o carioca Moyseis Marques marca mais uma vez a origem suburbana que alimenta seu samba emergente.

Rafael disse...

Mas o assunto de hoje também será só sobre o show do Moyseis? Não vai ser comentado outros assuntos, com lançamento de discos nacionais?