Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 8 de março de 2012

Riva transita densa pela suingante rota latinoamericana traçada por 'Idílio'

Resenha de CD
Título: Idílio
Artista: Marina de la Riva
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * * 1/2

Logo aos primeiros acordes de Añorado Encuentro (Piloto Bea e Vera Morua), faixa que abre o segundo álbum de estúdio de Marina de la Riva, o trombone de Raul Souza e o piano de Pepe Cisneros ambientam a gravação em clima íntimo, quase jazzy, que evoca outras eras, outros tempos musicais. De certa forma, a faixa anuncia o tom denso de Idílio. Após repisar a ponte Brasil-Cuba no álbum de estreia lançado em 2007, Riva amplia, encorpa e refina tal rota em direção à América Latina, terra dos compositores de Idílio, muitos deles nascidos em países de língua hispânica. O trânsito por trilhas mais densas se revela eventualmente perigoso porque temas como Ausência (Vinicius de Moraes e Marília Medalha) pedem intensidade que o canto afinado de Riva nem sempre alcança. Tal canto realça a poesia da abolerada Canción de las Simples Cosas (Armando Tejada Gómez e César Isella) - faixa gravada em Cuba, em 2009, com virtuoses locais como o baixista Fabian Garcia Caturla - e expõe com precisão a sensualidade contida na dolente Como Duele Perderte (Flores). Curiosamente, o registro minimalista da toada  Assum Preto (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) - cuja secura é ressaltada pelo baixo acústico e o arco pilotados por Fábio Sá - é a faixa mais surpreendente e mais bonita de Idílio, disco batizado com tema de Titi Amadeo, compositor de Porto Rico. Em outro momento de ousadia estilística, a cantora carioca evidencia a melancolia contida em versos do samba Juracy (Antonio de Almeida e Cyro de Souza). Contudo, Idílio não nega o suingue da música latinoamericana. Estúpido Cupido (Howard Greenfield e Neil Sedaka) - sucesso dos anos 50 propagado por Celly Campello (1942 - 2003) na mesma versão de Fred Jorge rebobinada por Riva - é envolvido no balanço do mambo em arranjo esperto que atenua a sensação de que falta jovialidade e graça ao canto de Riva para encarar tema para sempre associado ao universo adolescente. Inédita do cubano Amaury Gutiérrez, Voy a Tatuarme é guaguancó, ritmo derivado da rumba.  Muñeca (Eddie Palmieri) é salsa que evoca o reinado de Celia Cruz (1925 - 2003), de cujo repertório Riva ambienta a suingante Dile que Por Mi No Tema (T. Smith) em clima de cabaré da primeira metade do século 20. Em seara brasileira, Idílio pisa no terreiro com Deixa que Amanheça (Oswaldo Santiago), samba do repertório de Emilinha Borba (1923 - 2005) que Riva traz para roda de choro a reboque do arranjo do violonista Luizinho 7 Cordas. Por fim, meio deslocada no repertório, há a releitura moderninha de sucesso kitsch da cantora Diana, Meu Lamento, revivido com arranjo de Pupillo na versão original em espanhol, Voy a Guardar Mi Lamento (Raul Vasquez). Álbum de sonoridade refinada, Idílio reitera a habilidade de Riva para abordar a música latinoamericana com classe.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Logo aos primeiros acordes de Añorado Encuentro (Piloto Bea e Vera Morua), faixa que abre o segundo álbum de estúdio de Marina de la Riva, o trombone de Raul Souza e o piano de Pepe Cisneros ambientam a gravação em clima íntimo, quase jazzy, que evoca outras eras, outros tempos musicais. De certa forma, a faixa anuncia o tom denso de Idílio. Após repisar a ponte Brasil-Cuba no álbum de estreia lançado em 2007, Riva amplia, encorpa e refina tal rota em direção à América Latina, terra dos compositores de Idílio, muitos deles nascidos em países de língua hispânica. O trânsito por trilhas mais densas se revela eventualmente perigoso porque temas como Ausência (Vinicius de Moraes e Marília Medalha) pedem intensidade que o canto afinado de Riva nem sempre alcança. Tal canto realça a poesia da abolerada Canción de las Simples Cosas (Armando Tejada Gómez e César Isella) - faixa gravada em Cuba, em 2009, com virtuoses locais como o baixista Fabian Garcia Caturla - e expõe com precisão a sensualidade contida na dolente Como Duele Perderte (Flores). Curiosamente, o registro minimalista da toada Assum Preto (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) - cuja secura é ressaltada pelo baixo acústico e o arco pilotados por Fábio Sá - é a faixa mais surpreendente e mais bonita de Idílio, disco batizado com tema de Titi Amadeo, compositor de Porto Rico. Em outro momento de ousadia estilística, a cantora carioca evidencia a melancolia contida em versos do samba Juracy (Antonio de Almeida e Cyro de Souza). Contudo, Idílio não nega o suingue da música latinoamericana. Estúpido Cupido (Howard Greenfield e Neil Sedaka) - sucesso dos anos 50 propagado por Celly Campello (1942 - 2003) na mesma versão de Fred Jorge rebobinada por Riva - é envolvido no balanço do mambo em arranjo esperto que atenua a sensação de que falta jovialidade e graça ao canto de Riva para encarar tema para sempre associado ao universo adolescente. Inédita do cubano Amaury Gutiérrez, Voy a Tatuarme é guaguancó, ritmo derivado da rumba. Muñeca (Eddie Palmieri) é salsa que evoca o reinado de Celia Cruz (1925 - 2003), de cujo repertório Riva ambienta a suingante Dile que Por Mi No Tema (T. Smith) em clima de cabaré da primeira metade do século 20. Em seara brasileira, Idílio pisa no terreiro com Deixa que Amanheça (Oswaldo Santiago), samba do repertório de Emilinha Borba (1923 - 2005) que Riva traz para roda de choro a reboque do arranjo do violonista Luizinho 7 Cordas. Por fim, meio deslocada no repertório, há a releitura moderninha de sucesso kitsch da cantora Diana, Meu Lamento, revivido com arranjo de Pupillo na versão original em espanhol, Voy a Guardar Mi Lamento (Raul Vasquez). Álbum de sonoridade refinada, Idílio reitera a habilidade de Riva para abordar a música latinoamericana com classe.

Ednei Martins disse...

Não, não não!

Rafael disse...

De quem á a autoria das faixas "Y" e "Idílio"? Não consegui achar nenhuma informação na net sobre isso.