♪ Com 12 músicas, selecionadas entre as cerca de 20 gravadas com produção de Luã Mattar e Yuri Queiroga, o 33º álbum da discografia oficial de Elba Ramalho, Do meu olhar pra fora, já está disponível no mercado fonográfico brasileiro com distribuição da Coqueiro Verde Records. A convite da cantora e da gravadora, o editor de Notas Musicais, Mauro Ferreira, assina o texto que apresenta o disco aos críticos e aos formadores de opinião. Trata-se do release, no jargão da imprensa. Eis o texto:
A visão livre de Elba Ramalho nos 
caminhos da música
Em um de seus 
melhores e mais arrojados discos, Do meu olhar pra fora, cantora 
exterioriza humanismo positivista com som pop contemporâneo formatado pelos 
produtores Luã Mattar e Yuri Queiroga
“O meu andar pelo 
mundo
É um andar bem 
profundo
Vai onde tem um 
forró
Uma alegria, uma 
dança
Meu coração não se 
cansa
De uma festa 
encontrar...”
Os versos iniciais da primeira das 12 
músicas do 33º álbum da discografia oficial de Elba Ramalho, Do 
meu olhar pra fora, sintetizam a caminhada desta grande cantora do 
Brasil. Intitulada Olhando o coração, 
a música é uma parceria inédita de Dominguinhos (1941 – 2013) com Climério 
Ferreira que parece feita sob medida para o canto valente da Leoa do Norte. Olhando o coração é um perfeito cartão 
de visitas para introduzir este disco que marca a estreia de Elba na gravadora 
Coqueiro Verde Records. O acordeom de Rafael Meninão se harmoniza com as batidas 
eletrônicas do DJ Dolores e com os pífanos de Dirceu Leite num arranjo que 
remete ao balanço de ritmos como xote e baião com pegada pop contemporânea. 
Mantida na pressão, essa sonoridade pop 
contemporânea é mérito do carioca Luã Mattar e do pernambucano Yuri Queiroga, os 
dois produtores que formataram Do meu olhar pra fora no estúdio 
Gigante de pedra, na cidade do Rio de Janeiro (RJ). Fruto da união de Elba com o 
ator e cantor Maurício Mattar, Luã cresceu e agora aparece como um produtor 
antenado, cheio de jovialidade e de  informações cruzadas com a de Yuri, que já 
havia trabalhado com Elba num dos álbuns da cantora mais aclamados pela crítica, 
Qual o assunto que mais lhe 
interessa?, de 2007. 
A  sintonia entre a cantora e os produtores afinou um dos 
melhores e mais arrojados discos de Elba.
O título do álbum – Do 
meu olhar pra fora, extraído de versos da canção É o que me interessa (Lenine e Dudu 
Falcão, 2008) – traduz com precisão o espírito do disco e o momento de 
maturidade, de colheita, que pauta o canto livre de Elba. Feito com liberdade, 
palavra-chave para o entendimento desse trabalho, Do 
meu olhar pra fora expande o legado dessa celebrada intérprete de veia 
teatral que carrega a bandeira do seu Nordeste com orgulho e com independência 
desde os anos 1970, década em que migrou da Paraíba natal para a cidade do Rio 
de Janeiro (RJ) em busca de maior projeção como cantora. Mas que há muito já 
ficou maior do que o Nordeste.
Com as raízes fincadas na terra de Elba, 
mas com as antenas ligadas no mundo, Do meu olhar pra fora exterioriza o 
humanismo positivista que caracteriza não somente o canto da intérprete, mas 
também o discurso e a postura da cidadã diante da vida e do universo. Elba tem 
pregado sua fé católica no Bem e nos homens de bem. Sem procurar catequizar seu 
imenso público, a cantora vem imprimindo na sua música a harmonia e a paz que 
regem sua vida dentro e fora dos palcos e dos 
estúdios.
Mas paz, no dicionário de Elba, rima com 
festa, com dança, com alegria de viver. Formatado com gravações adicionais em 
estúdios de São Paulo (SP), Olinda (PE) e Recife (PE), Do 
meu olhar pra fora não nega a força de sua raça. “Vou fazê, vou fazê / Música pra 
enriquecer / Os corações e o planeta”, dá a pista nos versos arretados de Fazê o quê? (Pedro Luís), música lançada 
pelo coletivo carioca Pedro Luís e a Parede em seu primeiro álbum, Astronauta Tupy, de 1997. Esse misto de 
rap-repente com embolada ganha explosiva batida roqueira no arranjo que combina 
um naipe de metais em brasa com a guitarra de Paulo Rafael e as programações do 
DJ Dolores.
Na sequência, Só pra lembrar é uma parceria inédita do 
compositor paulista Dani Black com a cantora e compositora fluminense Zélia 
Duncan. O acento pop da faixa sublinha a pressão posta pelos produtores Luã 
Mattar e Lula Queiroga no arranjo moldado com cordas orquestradas por Ney 
Conceição e com flauta (do mestre nos sopros Dirceu Leite) que remete ao 
universo musical dos Pífanos de Caruaru (PE). Entre raízes e antenas, Elba dá 
sua voz maturada a versos que brilham como fachos de luz em escuridão 
existencial. Na faixa, a cantora celebra o amor, alento em tempo de esperanças 
cansadas.
Ao mesmo tempo em que faz a festa, com a 
explosão de energia que a tornou uma das cantoras de maior potência e animação 
no palco, Elba Ramalho traz também sossego e acalma pressas em mundo assombrado 
pelas sobras do passado e pelas sombras do futuro. Por isso, a oportuna 
lembrança de É o que me interessa 
(Lenine e Dudu Falcão, 2008) – uma daquelas baladas encantadoras nascidas da 
inspiração melódica do pernambucano Lenine, companheiro de Elba nas andanças 
atrevidas da Leoa – faz todo o 
sentido no disco. A harpa celestial de Cristina Braga sobressai no arranjo 
adequado ao tom mais sereno da canção.
Luxo em qualquer gravação, a harpa de 
Cristina Braga reaparece na faixa seguinte, Nossa Senhora da Paz (Clayton Barros, 
Emerson Calado, José Paes Lira, Nego Henrique e Rafael Almeida, 2002), música 
que traduz o olhar atual de Elba diante do mundo. Mas o tom celestial reside 
mais no sentimento posto pela cantora na interpretação dessa música lançada há 
13 anos pelo já desativado grupo pernambucano Cordel do Fogo Encantado. 
Composição do  primeiro álbum do grupo, 
Nossa Senhora da Paz ganha feitio de 
oração no canto de Elba, mas o incendiário mix de tambores e guitarras do arranjo 
tem a pressão que é motor e marca pop do álbum Do 
meu olhar pra fora.
Instante de melancolia em álbum repleto 
de energia positiva, Contrato de 
separação reconecta Elba com o cancioneiro do cantor, compositor e 
sanfoneiro pernambucano José Domingos de Morais, o Seu Domingos – Dominguinhos, 
para o Brasil. O fato de três das 12 músicas do álbum Do 
meu olhar pra fora levarem a assinatura de Dominguinhos diz muito sobre 
a forte ligação que sempre uniu Elba ao herdeiro de Luiz Gonzaga (1912 – 1989), 
eterno Rei do Baião. Tanto que Elba 
chegou a gravar e assinar um álbum com Dominguinhos. Lançado em 2005, este disco 
teve repertório centrado no cancioneiro autoral de Seu Domingos. Foi uma espécie de best of da obra do sanfoneiro. Mas Contrato de separação não integrou o 
repertório desse disco. O que legitima a inclusão em Do 
meu olhar pra fora dessa canção doída de saudade, composta por 
Dominguinhos em parceria com sua então mulher Anastácia, lançada na voz sublime 
de Nana Caymmi em 1979 e ora revivida por Elba em registro valorizado pelo toque 
magistral do acordeom de Toninho Ferragutti. Esse acordeom tem o poder de evocar 
na faixa todo o rico universo musical de Dominguinhos. É como se o mestre 
estivesse na gravação, evocado pelas teclas manuseadas com precisão por 
Ferragutti.
Das três músicas de Dominguinhos 
cantadas por Elba em Do meu olhar pra fora, duas são 
inéditas em disco. 
Além  de Olhando o 
coração, a outra novidade é Nos ares 
de Lisboa – Passarinho enganador, fado que mostra que, tal como o canto de 
Elba, a obra de Dominguinhos sempre cruzou oceanos rítmicos, sem fronteiras, 
embora esteja sempre associada ao universo musical da Nação Nordestina. Da lavra poética do 
compositor cearense Fausto Nilo, os versos da música são cantados por Elba em 
dueto com a portuguesa Carminho, a mais aplaudida cantora de fado da atualidade. 
A cumplicidade feminina das intérpretes é fundamental para realçar toda a beleza 
dessa canção que embute a melancolia típica dos fados na travessia que a conduz 
do sertão aos ares de Lisboa pelo toque do acordeom de Toninho Ferragutti, do 
bandolim de Armandinho e da viola portuguesa de Diogo Clemente, músico lusitano 
especialmente convidado para tocar no disco.
A rota pop universal do CD Do 
meu olhar pra fora inclui escala na Jamaica, feita através da Bahia. Árvore é iluminado reggae de autoria do 
cantor e compositor baiano Edson Gomes, lançado pelo autor em seu terceiro 
álbum, Campo de batalha, de 1991. 
Gomes é um dos artistas brasileiros mais compromissados com a ideologia positiva 
do reggae. Na gravação de sua música por Elba, os metais abrilhantam a abordagem 
da cantora. De certa forma, é como se a árvore do título simbolizasse a figura 
da própria Elba, balançando com suas raízes em suas andanças sobre a terra, 
munida de amor e música.
Inédita de Chico César, gravada por Elba 
com a participação do cantor e compositor paraibano, Patchuli perfuma o baile pop da cantora 
no toque vigoroso de metais orquestrados por Nilsinho Amarante. Nessa faixa, 
como em muitas outras do disco Do meu olhar pra fora, Elba parte do 
Nordeste para alcançar o mundo. E, nessa viagem pop por sons universais, o 
destino mais surpreendente é o apontado por La noyeé, música feita pelo compositor francês Serge 
Gainsbourg (1928 - 1991) há 44 anos para a trilha sonora do filme Romance de um ladrão (Iugoslávia / França / Itália, 1971). O criativo arranjo da faixa, que dialoga de forma 
moderna com as tradições da chanson 
française, é de Marcelo Jeneci, músico polivalente que toca piano, acordeom 
e cravo nessa gravação que se conecta, pelo idioma francês, como registro de La vie en rose (1945) - sucesso da 
cantora francesa Edith Piaf (1915 – 1963) – feito por Elba há 24 anos para um 
álbum em que também ampliou seus horizontes estéticos, Felicidade urgente, produzido em 1991 
por Nelson Motta.
De 
Paris, o disco migra para a lama do mangue pernambucano, revolvida com a 
oportuna regravação de Risoflora 
(Chico Science, 1994), música menos badalada do primeiro álbum da banda 
pernambucana Nação Zumbi, pedra fundamental do movimento recifense dos anos 1990 
batizado de Mangue Beat. Ao dar voz a 
Risoflora, Elba faz brotar uma 
pungente declaração de amor de um caranguejo arrependido que promete se 
regenerar. Para quem não sabe, Risoflora é música feita pelo compositor 
pernambucano Chico Science (1966 – 1997), mentor da Nação, para reconquistar o 
amor de uma ex-namorada, Maria Eduarda Belém, apelidada Maria Duda. Sem anular o 
romantismo, bissexto no universo incandescente do Mangue Beat, o arranjo da gravação de 
Elba é inserido em ambiência noise de 
progressiva intensidade.
No fim, 
Ser livre arremata o disco com o 
reforço do conceito de liberdade que pautou a criação do álbum Do 
meu olhar pra fora. A música é parceria inédita do bamba Arlindo Cruz 
com Zeca Pagodinho. Mas quem espera ouvir um samba – especialidade dos 
compositores cariocas – vai se deparar com uma canção de tom etéreo, viajante, 
condizente com a bela arte gráfica do disco, assinada por Daniel Edmundson. O 
arranjo de Ivo Senra foi urdido somente com o mix da guitarra de Luã Mattar com as 
programações e sintetizadores pilotados pelo próprio 
Senra.
“Vou 
romper de vez as algemas
(...)
Caminhar pelos bons caminhos
Num jardim com flor 
sem espinhos”.
Os 
versos de Ser livre se conectam com 
os de Olhando o coração pela mesma 
fina sintonia que liga as 12 músicas do disco. Em última instância, Do 
meu olhar pra fora é álbum conceitual sobre a caminhada de sua cantora 
ao longo de quatro décadas. Um andar atrevido que fez o canto bravo de Elba 
Maria Nunes Ramalho se fazer ouvir em todo o Brasil, desconstruindo a imagem 
masculinizada da mulher paraibana que estava enraizada no imaginário nacional 
com doses maciças de feminilidade, energia e valentia. Nascida em 17 de agosto 
de 1951, 
a  Leoa 
sobreviveu na selva das cidades com uma voz que ganhou graves, maturidade, 
experiência e, sobretudo, liberdade nessa caminhada. Do 
meu ohar pra fora é fruto de tudo isso. É mais um firme passo de Elba 
Ramalho em direção ao infinito, ao eterno. Se os pés estão fincados nas suas 
raízes orgulhosamente nordestinas, as antenas captam os sinais do mundo e o 
espírito segue livre pelos caminhos do amor e da 
música.
Mauro 
Ferreira
Fevereiro de 
2015

 
10 comentários:
♪ Com 12 músicas, selecionadas entre as cerca de 20 gravadas com produção de Luã Mattar e Yuri Queiroga, o 33º álbum da discografia oficial de Elba Ramalho, Do meu olhar pra fora, já está disponível no mercado fonográfico brasileiro com distribuição da Coqueiro Verde Records. A convite da cantora e da gravadora, o editor de Notas Musicais, Mauro Ferreira, assina o texto que apresenta o disco aos críticos e formadores de opinião.
Mauro, quantas estrelas você dá para o álbum?
Achei o disco bom, mas não é um dos melhores que a Elba já fez... Gostei da versão de "Contrato de Separação".
Não há como negar a beleza do canto de Nana Caymmi em "Contrato de separação",de Dominguinhos e Anastácia.É com certeza a melhor intérprete dessa canção.Mas também gostei do registro de Zizi Possi em "tudo se transformou",de Alcione,em Eterna alegria ao vivo e agora,Elba.Que bom grandes cantoras reverenciam o talento do grande mestre Domingos!
Mauro, cadê Gravitacionallllllllllll? estava super ansioso por essa música... =/
Gustavo,
Gravitacional está no DVD Cordas, Gonzaga e Afins com participação especialíssima de Marcelo Jeneci e que deve ser lancado no segundo semestre.
Grande CD! Vai ficar marcado na longa carreira dela. Elba merece! Que venham outros!
Gustavo, como já lhe responderam, 'Gravitacional' foi composta por Jeneci para o show 'Cordas, Gonzaga e afins'. Elba nunca disse que a música entraria em 'Do meu olhar pra fora'. Abs, obrigado, MauroF
Ouvi o álbum ontem no you tube gostei de quase tudo que ouvi menos de duas músicas mais não tira o brilho e o grande.trabalho de Elba neste álbum ...muito sucesso que ela merece
huuum, agora faz sentido. de fato, tem um vídeo no youtube, com a participação do Jeneci, maravilhoso!
Obrigado pela informação!! ;)
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