Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Hábil produtor, Strausz progride na diversidade do disco 'Spectrum vol. 1'

Resenha de CD
Título: Diogo Strausz apresenta Spectrum vol. 1
Artista: Diogo Strausz
Gravadora: Edição independente do artista
Cotação: * * * *
Disco disponível para download gratuito no site oficial do artista

 Ágil e sagaz, Diogo Strausz apresenta seu primeiro álbum solo no rastro da exposição obtida como produtor de um dos discos mais (justamente) incensados de 2014, Rainha dos raios (Joia Moderna), o impactante segundo álbum da cantora carioca Alice Caymmi. Com capa vintage, Diogo Strausz apresenta Spectrum vol. 1 tem a elasticidade típica de discos de produtores. Cada uma das 12 músicas habita um universo musical todo próprio, sem elo aparente. A liga é o trabalho deste produtor e músico polivalente que se revela compositor promissor. Sim, o carioca Strausz cresce e aparece como compositor neste disco autoral lançado hoje, 27 de janeiro de 2015, em edição digital já disponível para download gratuito e legalizado no site oficial do artista. Strausz assina 11 das 12 músicas de Spectrum vol. 1. A única música de lavra alheia, Se renda, canção pop romântica composta e cantada no disco por Leno (pai de Strausz, a propósito), é sintomaticamente a faixa mais esmaecida do álbum gravado e mixado pelo próprio Strausz no seu estúdio caseiro. Já detectada no arrasador álbum de Alice, a habilidade do homem-orquestra é reiterada neste disco em que todos os violões, guitarras e baixos são tocados por Strausz. Mas as vozes são as dos convidados que povoam o disco de um músico e produtor consciente de sua inabilidade para o canto. Versátil, Strausz surfa na guitarrada que dá o tom de Chibom (Diogo Strausz) - faixa que escapa de ser inteiramente instrumental porque as cantoras Ledjane Motta e Maria Pia gritam a palavra-refrão-título do tema - e se ambienta no clima de western spaghetti evocado pelo toque de sua guitarra em Ítalo (Diogo Strauz), faixa quase vinheta que se afina com o tom de Vendetta (Diogo Strausz), possível trilha de filme de ação sobre a máfia. Primeiro single do álbum, Não deixe de alimentar ostenta groove que remete ao funk dos anos 1970 em clima black Rio. As solistas da faixa são as cantoras Ledjane Motta e Maria Pia, cujas vozes são recorrentes nos coros femininos de Spectrum vol. 1. Elas, as vozes, se fazem ouvir também em FCK, exuberante conexão de Strausz com Apollo, seu parceiro no tema eletrônico que joga no mesmo caldeirão fervente ingredientes de dance music, Kraftwerk, disco music, Giorgio Moroder e do tecnopop dos anos 1980. Também com pegada dançante, porém com toques de soul e rap, Narcissus junta o anfitrião com Keops & Raony, os gêmeos do grupo carioca Medulla. Tema de arquitetura mais sintética, Me ama (Diogo Strausz) expõe Kassin -como Strausz, um produtor de musicalidade polivalente - em faixa pautada pela batida do drum'n'bass e humanizada pela súplica feminina por amor. Em outra galáxia musical, mas também falando de amor, o baladão Right hand of love é parceria de Strausz com Brent Arnold - cujo violoncelo é ouvido na faixa - e com Jacob Perlmutter, cantor britânico de voz grave que aprofunda os versos do tema, cuja orquestração ganha tons progressivamente épicos. Introduzida por poesia dita por Valmir Araújo, Vovô (Diogo Strausz) é envolvida por aura de espiritualidade que adquire tom afro-brasileiro quando o arranjo enfatiza as percussões da faixa. Mas os bons conselhos típicos de autoajuda ("Peça luz para o pior dos inimigos") embutidos na letra bem-intencionada, mas pueril, impedem que Vovô alcance dimensão maior no disco. Com acabamento mais polido, Assombração (Diogo Strausz e Rosa Amanda Strausz) é introduzida por violões que remetem às tradições da música brasileira pré-Bossa Nova, mas cai no samba com toques de choro e com a voz de Danilo Caymmi, evocativa das profundezas do canto do patriarca Dorival Caymmi (1914 - 2008). E por falar na família de origem baiana, é a voz da princesa gauche da dinastia - Alice Caymmi, nome já indissociável da trajetória artística de Diogo Strausz - que encerra Spectrum vol. 1, cantando Diamante (Diogo Strausz), valsa de alto quilate que termina em clima de fanfarra. Enfim, são múltiplas as boas referências do primeiro álbum solo de Strausz. E o fato é que o produtor consegue reiterar seu talento ao alinhavar um cancioneiro díspar que expõe a rica musicalidade latente no trabalho do artista. Mesmo sem unidade, o álbum escancara a força de Diogo Strausz como arquiteto de sons contemporâneos que evocam o passado sem saudosismo e projetam (belo) futuro para o produtor.

5 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Ágil e sagaz, Diogo Strausz apresenta seu primeiro álbum solo no rastro da exposição obtida como produtor de um dos discos mais (justamente) incensados de 2014, Rainha dos raios (Joia Moderna), o impactante segundo álbum da cantora carioca Alice Caymmi. Com capa vintage, Diogo Strausz apresenta Spectrum vol. 1 tem a elasticidade típica de discos de produtores. Cada uma das 12 músicas habita um universo musical próprio, sem elo aparente. A liga é o trabalho deste produtor e músico polivalente que se revela compositor promissor. Sim, o carioca Strausz cresce e aparece como compositor neste disco autoral lançado hoje, 27 de janeiro de 2015, em edição digital já disponível para download gratuito e legalizado no site oficial do artista. Strausz assina 11 das 12 músicas de Spectrum vol. 1. A única música de lavra alheia, Se renda, canção pop romântica composta e cantada no disco por Leno (pai de Strausz, a propósito), é sintomaticamente a faixa mais esmaecida do álbum gravado e mixado pelo próprio Strausz no seu estúdio caseiro. Já detectada no arrasador álbum de Alice, a habilidade do homem-orquestra é reiterada neste disco em que todos os violões, guitarras e baixos são tocados por Strausz. Mas as vozes são as dos convidados que povoam o disco de um músico e produtor consciente de sua inabilidade para o canto. Versátil, Strausz surfa na guitarrada que dá o tom de Chibom (Diogo Strausz) - faixa que escapa de ser inteiramente instrumental porque as cantoras Ledjane Motta e Maria Pia gritam a palavra-refrão-título do tema - e se ambienta no clima de western spaghetti evocado pelo toque de sua guitarra em Ítalo (Diogo Strauz), faixa quase vinheta que se afina com o tom de Vendetta (Diogo Strausz), possível trilha de filme de ação sobre a máfia. Primeiro single do álbum, Não deixe de alimentar ostenta groove que remete ao funk dos anos 1970 em clima black Rio. As solistas da faixa são as cantoras Ledjane Motta e Maria Pia, cujas vozes são recorrentes nos coros femininos de Spectrum vol. 1. Elas, as vozes, se fazem ouvir também em FCK, exuberante conexão de Strausz com Apollo, seu parceiro no tema eletrônico que joga no mesmo caldeirão fervente ingredientes de dance music, Kraftwerk, disco music, Giorgio Moroder e do tecnopop dos anos 1980. Também com pegada dançante, porém com toques de soul e rap, Narcissus junta o anfitrião com Keops & Raony, os gêmeos do grupo carioca Medulla. Tema de arquitetura mais sintética, Me ama (Diogo Strausz) expõe Kassin -como Strausz, um produtor de musicalidade polivalente - em faixa pautada pela batida do drum'n'bass e humanizada pela súplica feminina por amor. Em outra galáxia musical, mas também falando de amor, o baladão Right hand of love é parceria de Strausz com Brent Arnold - cujo violoncelo é ouvido na faixa - e com Jacob Perlmutter, cantor britânico de voz grave que aprofunda os versos do tema, cuja orquestração ganha tons progressivamente épicos.

Mauro Ferreira disse...

Introduzida por poesia dita por Valmir Araújo, Vovô (Diogo Strausz) é envolvida por aura de espiritualidade que adquire tom afro-brasileiro quando o arranjo enfatiza as percussões da faixa. Mas os bons conselhos típicos de autoajuda ("Peça luz para o pior dos inimigos") embutidos na letra bem-intencionada, mas pueril, impedem que Vovô alcance dimensão maior no disco. Com acabamento mais polido, Assombração (Diogo Strausz e Rosa Amanda Strausz) é introduzida por violões que remetem às tradições da música brasileira pré-Bossa Nova, mas cai no samba com toques de choro e com a voz de Danilo Caymmi, evocativa das profundezas do canto do patriarca Dorival Caymmi (1914 - 2008). E por falar na família de origem baiana, é a voz da princesa gauche da dinastia - Alice Caymmi, nome já indissociável da trajetória artística de Diogo Strausz - que encerra Spectrum vol. 1, cantando Diamante (Diogo Strausz), valsa de alto quilate que termina em clima de fanfarra. Enfim, são múltiplas as boas referências do primeiro álbum solo de Strausz. E o fato é que o produtor consegue reiterar seu talento ao alinhavar um cancioneiro díspar que expõe a rica musicalidade latente no trabalho do artista. Mesmo sem unidade, o álbum escancara a força de Diogo Strausz como arquiteto de sons contemporâneos que evocam o passado sem saudosismo e projetam belo futuro para o produtor.

Luca disse...

Hum, esse é protegido do Mauro porque produziu a queridinha Alice Caymmi

Centro Artes Geraldo Pereira disse...

Muito bom!

Valmir Araújo

Raffa disse...

O começo até impressiona, mas depois cai muito! Me pareceu sem unidade.