Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Voz dos forrós de duplo sentido, Clemilda sai de cena em Aracaju, aos 78

Talvez somente os moradores do Nordeste do Brasil tenham a real dimensão do sucesso feito por Clemilda Ferreira da Silva (1 de setembro de 1936 - 26 de novembro de 2014) ao longo de seus 50 anos de carreira. Nascida em São João da Lage, cidade do interior de Alagoas, mas criada em Palmeira dos Índios, outra pequena cidade alagoana, Clemilda foi uma das principais vozes da música nordestina de duplo sentido. Genericamente rotulada como forró, essa música de tom malicioso - vertente explorada também por Anastácia, Genival Lacerda e Sandro Becker, entre outros expoentes do subgênero musical - sempre teve bom alcance popular no Norte e Nordeste do Brasil. Mas Clemilda volta e meia gravou músicas que fizeram sucesso em escala nacional. A primeira delas, Prenda o Tadeu (Antônio Sima e Clemilda), deu nome ao álbum lançado por Clemilda em 1985, duas décadas após a então iniciante cantora - já radicada no Rio de Janeiro (RJ) - ter soltado a voz em programa de calouros da Rádio Mayrink Veiga, em 1965. Iniciada na segunda metade dos anos 1960, a discografia de Clemilda foi - assim como sua incursão no mundo da música - semeada a partir do encontro da artista com o sanfoneiro alagoano Gerson Filho (1925 - 1994), que viria a se tornar seu marido. Foi participando de três faixas de um álbum de Gerson, Retalhos do nordeste (RCA-Victor, 1966), que Clemilda debutou em disco, construindo, a partir de então, discografia solo que rendeu títulos como Gerson Filho apresenta Clemilda (RCA Victor, 1967), Rôdero novo (RCA Victor, 1968) e Fazenda Taquari (RCA-Victor, 1969). A partir dos anos 1970, já de volta ao Nordeste, Clemilda passou a fazer shows com Gerson no circuito de forrós da região e a gravar regularmente álbuns lançados com os selos de gravadoras como Continental, Chantecler e Musicolor. Nessa década, o sucesso da cantora foi regional. Na segunda metade dos anos 1980, no embalo do êxito nacional do álbum Prenda o Tadeu (Continental, 1985), Clemilda teve sua imagem propagada em programas de TV das principais emissoras do Brasil. Em 1987, gravou mais uma música que obteve visibilidade nacional, Forró cheiroso, composição assinada por Clemilda em parceria com Miraldo Aragão - popularmente conhecida como "Talco no salão" - que batizou o álbum lançado pela cantora via Chantecler naquele ano. Com a morte de Gerson Filho, em 1994, Clemilda - então já radicada em Aracaju (SE), cidade onde saiu de cena, aos 78 anos, na noite de 26 de novembro de 2014, vítima de complicações derivadas de AVCs, osteoporose e pneumonia - praticamente interrompeu sua carreira fonográfica e reduziu bastante a agenda de shows, concentrando-se na apresentação de programas de rádio e TV em emissoras de alcance restrito a Sergipe. A discografia seria retomada somente em 2004 com o lançamento do álbum Caminhos do prazer (RB Music). O último disco de Clemilda, Forró bom demais, saiu em 2006 via Ouro Records. Neste ano de 2014, as cinco décadas da trajetória artística de Clemilda foram celebradas com a exposição e o documentário intitulados Morena dos olhos pretos, nome do álbum lançado em 1972 por essa cantora que vai permanecer na memória afetiva do povo nordestino e dos admiradores dos maliciosos e bem-humorados forrós de duplo sentido, subgênero no qual Clemilda foi a voz feminina mais expressiva.

5 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Talvez somente os moradores do Nordeste do Brasil tenham a real dimensão do sucesso feito por Clemilda Ferreira da Silva (1 de setembro de 1936 - 26 de novembro de 2014) ao longo de seus 50 anos de carreira. Nascida em São João da Lage, cidade do interior de Alagoas, mas criada em Palmeira dos Índios, outra pequena cidade alagoana, Clemilda foi uma das principais vozes da música nordestina de duplo sentido. Genericamente rotulada como forró, essa música de tom malicioso - vertente explorada também por Anastácia, Genival Lacerda e Sandro Becker, entre outros expoentes do subgênero musical - sempre teve bom alcance popular no Norte e Nordeste do Brasil. Mas Clemilda volta e meia gravou músicas que fizeram sucesso em escala nacional. A primeira delas, Prenda o Tadeu (Antônio Sima e Clemilda), deu nome ao álbum lançado por Clemilda em 1985, duas décadas após a então iniciante cantora - já radicada no Rio de Janeiro (RJ) - ter soltado a voz em programa de calouros da Rádio Mayrink Veiga, em 1965. Iniciada na segunda metade dos anos 1960, a discografia de Clemilda foi - assim como sua incursão no mundo da música - semeada a partir do encontro da artista com o sanfoneiro alagoano Gerson Filho (1925 - 1994), que viria a se tornar seu marido. Foi participando de três faixas de um álbum de Gerson, Retalhos do nordeste (RCA-Victor, 1966), que Clemilda debutou em disco, construindo, a partir de então, discografia solo que rendeu títulos como Gerson Filho apresenta Clemilda (RCA Victor, 1967), Rôdero novo (RCA Victor, 1968) e Fazenda Taquari (RCA-Victor, 1969). A partir dos anos 1970, já de volta ao Nordeste, Clemilda passou a fazer shows com Gerson no circuito de forrós da região e a gravar regularmente álbuns lançados com os selos de gravadoras como Continental, Chantecler e Musicolor. Nessa década, o sucesso da cantora foi regional. Na segunda metade dos anos 1980, no embalo do êxito nacional do álbum Prenda o Tadeu (Continental, 1985), Clemilda teve sua imagem propagada em programas de TV das principais emissoras do Brasil. Em 1987, gravou mais uma música que obteve visibilidade nacional, Forró cheiroso, composição assinada por Clemilda em parceria com Miraldo Aragão - popularmente conhecida como "Talco no salão" - que batizou o álbum lançado pela cantora via Chantecler naquele ano. Com a morte de Gerson Filho, em 1994, Clemilda - então já radicada em Alagoas (SE), cidade onde saiu de cena, aos 78 anos, na noite de 26 de novembro de 2014, vítima de complicações derivadas de AVCs, osteoporose e pneumonia - praticamente interrompeu sua carreira fonográfica e reduziu bastante a agenda de shows, concentrando-se na apresentação de programas de rádio e TV em emissoras de alcance restrito a Sergipe. A discografia seria retomada somente em 2004 com o lançamento do álbum Caminhos do prazer (RB Music). O último disco de Clemilda, Forró bom demais, saiu em 2006 via Ouro Records. Neste ano de 2014, as cinco décadas da trajetória artística de Clemilda foram celebradas com a exposição e o documentário intitulados Morena dos olhos pretos, nome do álbum lançado em 1972 por essa cantora que vai permanecer na memória afetiva do povo nordestino e dos admiradores dos maliciosos e bem-humorados forrós de duplo sentido, subgênero no qual Clemilda foi a voz feminina mais expressiva.

Marcelo Barbosa disse...

Mauro,

Um reparo: Aracaju e não Alagoas/SE.
Que Deus possa confortar os familiares da Clemilda. As músicas citadas pelo Mauro foram grandes sucessos dos anos 80. Abs

Mauro Ferreira disse...

Grato pelo toque, Marcelo. abs

Luca disse...

foi uma cantora de dois sucessos só pelo que li aqui

lurian disse...

Clemilda era de um tempo em que os sentidos eram insinuadas ao invés de serem escrachadas. Estava ai seu mérito, o chiste, a homofonia, o jogo de palavras, a ironia, ao invés dessa coisa grotesca que se tem escutado em alguns ritmos ditos populares.