Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Samba gravado por Pitta - com Ana e Elza - reforça o bloco do estereótipo gay

Resenha de single
Título: Será?!
Artista: Rodrigo Pitta
Gravadora: Som Livre
Cotação:


"Vamos abrir devagarinho a porta de cada armário do Brasil!!". O grito carnavalesco dado por Rodrigo Pitta na introdução de Será?! - samba lançado em single posto ontem, 2 de fevereiro de 2016, em rotação no YouTube - já esconde, atrás do armário da brincadeira de Carnaval, a ideia de que gays precisam necessariamente se assumir publicamente. Mas o samba segue outro bloco, tão preconceituoso quanto. Será?! vai atrás do bloco do estereótipo gay que rotula e carimba cidadãos por seguirem determinados padrões de comportamento e estilo. Paulistano, Pitta é um diretor de teatro que vem tentando se fazer ouvir como cantor e compositor desde que lançou há três anos o primeiro álbum, Estados alterados (Som Livre, 2013), sem chamar atenção de público e crítica. Na gravação de Será?!, Pitta recorre a Ana Carolina e a Elza Soares para tentar conseguir tal atenção. As cantoras participam da gravação, como anunciado na capa tropicalista do single. De tom carnavalesco, o samba segue sem inventividade a cartilha do gênero, com sutis toques eletrônicos, com direito a um refrão popular - "Deve ser viado / Deve ser viado / Porque homem tão perfeito / Tá falando no mercado" - e a um punhado de clichês na letra que versa sobre um cara alvo de especulações sobre suposta homossexualidade por se ajustar ao figurino do homem perfeito e polido. É inacreditável ouvir Ana Carolina dar voz a versos como "Essa Coca é mais para Fanta" e "Esse cravo cheira a rosa". Elza tem participação mais discreta na gravação produzida por Arto Lindsay com Rodrigo Coelho. Mesmo assim, as presenças destas duas grandes cantoras do Brasil - ambas identificadas com a defesa das liberdades sexuais - destoam da postura de ambas como cidadãs. Por mais que seja dado um justo desconto para a brincadeira (afinal, é um samba direcionado para o Carnaval), Será?! reforça o coro já forte dos que rotulam e enquadram gays em esterótipos que, no fundo, somente reiteram o preconceito contra homossexuais. O samba é de autoria do próprio Pitta e vai figurar no segundo álbum do artista, PQP - Porque pop ou Pátria que o pariu, feito sob a coordenação artística de Arto Lindsay, com série de produtores (DJ Mau Mau, Guilherme Kastrup, Kassin, Pedro Bernardes e Tutto Ferraz, entre outros), e previsto para ser lançado no segundo semestre deste ano de 2016 pela gravadora Som Livre. Rodrigo Pitta pode não até não ter plena consciência disso, mas Será?! - samba que evoca intencionalmente a célebre marcha Cabeleira do Zezé (Roberto Faissal e João Roberto Kelly, 1963), sucesso do Carnaval de 1964 que vem resistindo ao tempo e às folias - colabora para o fechamento dos armários nacionais com trocadilhos infames como "Se o Diabo veste Prada / Esse aqui veste pra dar". Será que Rodrigo Pitta acha que vai conseguir se firmar como cantor e compositor com este samba-factoide??!! Difícil!...

7 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ "Vamos abrir devagarinho a porta de cada armário do Brasil!!". O grito carnavalesco dado por Rodrigo Pitta na introdução de Será?! - samba lançado em single posto ontem, 2 de fevereiro de 2016, em rotação no YouTube - já esconde, atrás do armário da brincadeira de Carnaval, a ideia de que gays precisam necessariamente se assumir publicamente. Mas o samba segue outro bloco, tão preconceituoso quanto. Será?! vai atrás do bloco do estereótipo gay que rotula e carimba cidadãos por seguirem determinados padrões de comportamento e estilo. Paulistano, Pitta é um diretor de teatro que vem tentando se fazer ouvir como cantor e compositor desde que lançou há três anos o primeiro álbum, Estados alterados (Som Livre, 2013), sem chamar atenção de público e crítica. Na gravação de Será?!, Pitta recorre a Ana Carolina e a Elza Soares para tentar conseguir tal atenção. As cantoras participam da gravação, como anunciado na capa tropicalista do single. De tom carnavalesco, o samba segue sem inventividade a cartilha do gênero, com direito a um refrão popular - "Deve ser viado / Deve ser viado / Porque homem tão perfeito / Tá falando no mercado" - e a um punhado de clichês na letra que versa sobre um cara alvo de especulações sobre suposta homossexualidade por se ajustar ao figurino do homem perfeito e polido. É inacreditável ouvir Ana Carolina dar voz a versos como "Essa Coca é mais para Fanta" e "Esse cravo cheira a rosa". Elza tem participação mais discreta na gravação. Mesmo assim, as presenças destas duas grandes cantoras do Brasil - ambas identificadas com a defesa das liberdades sexuais - destoam da postura de ambas como cidadãs. Por mais que seja dado um desconto para a brincadeira (afinal, é um samba direcionado para o Carnaval), Será?! - samba de autoria do próprio Pitta que vai figurar no segundo álbum do artista, PQP - Porque pop ou Pátria que o pariu, previsto para ser lançado no segundo semestre deste ano de 2016 - reforça o coro dos que rotulam e enquadram gays em esterótipos que, no fundo, somente reforçam o preconceito contra homossexuais. Rodrigo Pitta pode não até não ter plena consciência disso, mas Será?! - samba que evoca intencionalmente a marcha Cabeleira do Zezé (Roberto Faissal e João Roberto Kelly, 1963), sucesso do Carnaval de 1964 que vem resistindo ao tempo e às folias - colabora para o fechamento dos armários nacionais com trocadilhos infames como "Se o Diabo veste Prada / Esse aqui veste pra dar". Será que Rodrigo Pitta acha que vai conseguir se firmar como cantor e compositor com este samba-factoide?! Difícil!

Felipe disse...

a canção aborda o tema gay mais como um deboche do que uma mera zoação, criando um esteriótipo ao público gay, dizendo que todos são perfeitos e querem se casar. Na verdade têm tanta variedade nesse público. finalizando, deixa ser uma canção para este público, mirando só nos gays "perfeitinhos".

Chico disse...

ridículo mesmo, totalmente dispensável

Unknown disse...

Esse compositor deve ser um cara extremamente mal resolvido com a sua sexualidade coitado

Victor Moraes, disse...

Pois é. Eu não consigo entender essa preocupação com a "saída do armário" alheio e como isso pode ter se tornado uma espécie de obrigação de tal meio social. Pior ainda de como estereotipar e escancarar essa "tal obrigação" pode ser positivo para todos, de forma generalizada. É um pensamento bem pequenininho, uma letra bem mesquinha. Mas que bom que não morrerei mais achando que só eu pensava assim.

ADEMAR AMANCIO disse...

Eu já voltei pro armário e não recomendo ninguém sair.

ADEMAR AMANCIO disse...

Eu já voltei pro armário e não recomendo ninguém sair.