Mauro Ferreira no G1

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sábado, 6 de fevereiro de 2016

Produtor de 'Donato elétrico' escreve sobre álbum que João lança em março

Álbum que João Donato vai lançar em março de 2016, em edição do Selo Sesc, Donato elétrico começou a nascer de conversa tida em 2013 pelo compositor e pianista acriano com Ronaldo Evangelista, que veio a produzir o disco no qual o artista apresenta dez músicas inéditas de lavra própria. O próprio produtor escreveu texto sobre o álbum em que Donato - em foto de Caroline Bittencourt reproduzida no encarte do CD - evoca a sonoridade de álbuns da década de 1970 como A bad Donato (Blue Thumb Records, 1970) e Donato / Deodato (Muse Records, 1973). Eis o texto em que Ronaldo Evangelista explica a gênese e o contexto do vindouro disco Donato elétrico:

"Se for pra lembrar, este disco começou a nascer em uma visita à casa de João Donato, na Urca, em 2013. Amigos de já alguns anos, começamos a conversar sobre a ideia de produzir um novo disco. Quando João comentou que o que mais gostaria seria lançar músicas novas, o plano estava formado: gravaríamos um álbum inédito, à moda de seus LPs dos anos 70 como A bad Donato e Donato / Deodato, com intenção elétrica e instrumentos analógicos, ao vivo em estúdio com detalhes de cobertura, feito em São Paulo, com músicos com forte influência de Donato e novos truques na manga – incluindo integrantes do Bixiga 70 (e com base no estúdio deles), mais músicos que tocam com Céu, Anelis Assumpção, Curumin, Tulipa Ruiz, Metá Metá, Otis Trio. Ainda jazz, ainda brasileiro, mas com aquela pegada ressaltando funk, afro, latin – como Donato gosta: um pouco de tudo, tudo a seu modo.

Os sons foram pintando em alguns encontros, de música e de papos e passeios. João aos 80 anos, com mais pique que a maioria dos garotos, animadíssimo com as ideias, encontros, sessões, criações, músicas, todo elétrico. Sem pressa, mas sem perder o foco, as sessões foram acontecendo no estúdio Traquitana, com algumas visitas ao Minduca de Bruno Buarque e ao Navegantes de Zé Nigro, mais detalhes nos estúdios caseiros de Guilherme Kastrup, Gustavo Ruiz, Mauro Refosco (este via Skype de Nova York), sempre privilegiando o ao vivo, buscando timbres quentes e som de fita, com instrumentos e microfones antigos e astral máximo.

Junto com o parque de diversões que eram os diversos teclados (como piano elétrico Fender Rhodes, órgão Farfisa, clavinet Hohner e sintetizadores Pro-One e Moog) à disposição para Donato tocar, vinha todo o aspecto de frescor de gravar em um estúdio diferente, com músicos que ia conhecendo aos poucos, totalmente focado em criar coisas novas. João guiando com sua musicalidade natural o caminho dos grooves, com as linhas espertas de baixo na mão esquerda acompanhando os ricos acordes da mão direita e os ritmos malandros em cada compasso, esbanjando frases melódicas que iam virando arranjos e temas, a banda funcionando como uma máquina de ritmo, potencializando ideias, o combustível especial para as músicas levantarem voo.

Uma tarde, entre passeios, papos e sons pelo bairro do Bixiga, Donato lembrou da vez que recebeu uma ligação de Claus Ogerman certa madrugada em 1965, às vésperas da gravação do álbum The new sound of Brazil. O grande arranjador alemão fazia tranquilamente uma pergunta ou outra sobre as composições de Donato para quais preparava as partes de orquestra, e João ficou surpreso: “Mas Claus, vamos gravar amanhã, como você vai fazer quatro arranjos tão rápido?” “É simples, João: eu escrevo a primeira coisa que me vem à cabeça”. Exatamente 50 anos depois, João oferecia a lembrança com uma lição em sua conclusão: “Tem que estar pensando bem o tempo inteiro.”

Sempre guiados pela espontaneidade, as próprias músicas iam sendo batizadas com citações, homenagens, referências, lembranças, piadas, fotografias dos momentos. Resort pintando no último ensaio antes de viajarmos para show em uma cidade onde ficaríamos hospedados em um resort; Urbano graças a uma ligação ruim que entre ruídos transformou “Muy bueno!” em “Urbano?”; Tartaruga nascendo de João cantarolando o bicho de brincadeira; G8 da lembrança do carro Pontiac de um amigo estacionado em Onça de Pintagui.

Com seu ritmo inabalável, a cada presença João transbordava o comportamento zen para a música. Entre as diversas sessões de criação e gravação em estúdio e um total de 25 músicos participando, foram muitos momentos sublimes, como a diversão de Donato nos intensos solos de sintetizador e a beleza de basicamente todos os momentos em que simplesmente tocava seus acordes no Rhodes; todos os solos do disco (piano, synths, trombone, saxes, flautas, trompetes, vibrafone, guitarra) sendo gravados em um take; o nascimento de vários temas em sessões com a cozinha do Bixiga 70 (Décio 7, Marcelo Dworecki, Mauricio Fleury, Cuca Ferreira, mais Guilherme Kastrup, Anderson Quevedo, Richard Fermino); a sintonia e naturalidade de tocar algumas faixas com Zé Nigro e Bruno Buarque; a emoção de ver Laércio de Freitas conduzindo seu arranjo para quarteto de cordas em Frequência de onda. Cereja foi a mix de Victor Rice, encharcando de brindes para aquela audição no fone de ouvido.

No meio do caminho da criação do álbum novo, acabamos fazendo pela primeira vez show do clássico disco Quem é quem, lançado em 1973, coincidência feliz que ajudou a entender mais profundamente não só a criatividade dos arranjos originais como o processo criativo de Donato e contribuiu com o mergulho no som da época. No fim, a intenção original foi cumprida com gosto: só criações originais de Donato, com inspiração e influência mútua de novos músicos que adoram seu som, criado e gravado como se vive - em noites de música muito à vontade."
Ronaldo Evangelista, produtor musical de Donato elétrico.

6 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Álbum que João Donato vai lançar em março de 2016, em edição do Selo Sesc, Donato elétrico começou a nascer de conversa tida em 2013 pelo compositor e pianista acriano com Ronaldo Evangelista, que veio a produzir o disco no qual o artista apresenta dez músicas inéditas de lavra própria. O próprio produtor escreveu texto sobre o álbum em que Donato - em foto de Caroline Bittencourt reproduzida no encarte do CD - evoca a sonoridade de álbuns da década de 1970 como A bad Donato (Blue Thumb Records, 1970) e Donato / Deodato (Muse Records, 1973).

Rafael disse...

O texto só afirma que vem coisa boa por aí... Donato é Donato, é incrível!!!

ADEMAR AMANCIO disse...

João Donato,aquele que não gosta de poesia,segundo a música de Caetano Veloso.

Unknown disse...

Mauro,

Em maio do ano passado, foi lançado no Japão um álbum duplo do Donato chamado Blue Bossa - The Collection of Standards. Apesar do subtítulo, não se trata de uma coletânea, mas de 27 regravações feitas por ele (acompanhado de Luiz Alves, Ricardo Pontes e Robertinho Silva) especialmente para esse disco. Além da faixa-título, o repertório conta com outros standards internacionais, tais como How High the Moon, Smile, Un Homme et une Femme e Frenesi, além de clássicos do próprio Donato, de Tom Jobim e de Djalma Ferreira. Você teria mais informações sobre esse disco?
Abs,
Gilliatt.

Unknown disse...

Mauro,

Em maio do ano passado, foi lançado no Japão um álbum duplo do Donato chamado Blue Bossa - The Collection of Standards. Apesar do subtítulo, não se trata de uma coletânea, mas de 27 regravações feitas por ele (acompanhado de Luiz Alves, Ricardo Pontes e Robertinho Silva) especialmente para esse disco. Além da faixa-título, o repertório conta com outros standards internacionais, tais como How High the Moon, Smile, Un Homme et une Femme e Frenesi, além de clássicos do próprio Donato, de Tom Jobim e de Djalma Ferreira. Você teria mais informações sobre esse disco?
Abs,
Gilliatt.

Mauro Ferreira disse...

Não, Gilliatt, desconheço este disco. Abs, MauroF