Mauro Ferreira no G1

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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Com Kassin, Clarice migra do mono para estéreo sem perda da mordacidade

Resenha de álbum
Título: Problema meu
Artista: Clarice Falcão
Gravadora: Edição independente da artista
Cotação: * * * *

Produtor ainda envolto em aura hype na imprensa musical do eixo Rio-São Paulo, como se ainda fosse sinônimo de vanguarda, o carioca Alexandre Kassin tem sido o nome mais requisitado para dar a forma a discos brasileiros. Para alguns artistas, como Marcelo Jeneci e Zélia Duncan, prestou grandes serviços. Ao trabalhar com outros, como Erasmo Carlos, o produtor pareceu ter apenas batido ponto no estúdio sem fazer real diferença no som do Tremendão. Com Clarice Falcão, Kassin veio somar. Ao produzir o segundo álbum da multimídia artista pernambucana radicada na cidade do Rio de Janeiro (RJ), Problema meu - lançado hoje, 19 de fevereiro de 2016 - Kassin fez Clarice migrar do som intencionalmente mono do primeiro álbum, não por acaso intitulado Monomania (Casa Byington, 2013), para o som estéreo deste (sedutor) segundo álbum de matizes mais variados não traduzidos pela capa monocromática. Empreitada caseira, Monomania virou viral e projetou a cantora, compositora, atriz e roteirista - na época, integrante do coletivo Porta dos Fundos, do qual já se desligou. Problema meu tem status mais profissional. E tem méritos. Kassin sustenta a leveza pop da obra autoral de Clarice, mas lhe dá mais colorido sem diluir a graça e a mordacidade espirituosa que pautam músicas como Marta (envolta em atmosfera circense no disco) e Irônico. Grande trunfo da safra inédita e autoral de Problema meu, Irônico foi acertadamente a música escolhida por Clarice Falcão para repor o bloco musical na rua com o carnavalizante clipe da faixa, feito com imagens captadas por celulares de amigos e familiares da artista. Dentro do trilho autoral, Clarice se mostra bem mais autoconfiante, capaz de rir dos próprios dilemas afetivos em Escolhi você ("Você foi o que sobrou", ressalta com a habitual ironia em verso da canção pop) e das próprias limitações da obra musical (assunto da autodepreciativa Clarice). Problema meu é disco leve, mas aclimata Se esse bar - música da  safra anterior de Monomania - em apropriado intimismo melancólico de fim de noite. Contudo, a obra autoral de Clarice jamais desaba sobre o peso da existência. O dilema amoroso de Deve ter sido eu se ajustaria a uma trama adolescente da novela juvenil Malhação por ruminar ódios direcionados por ex-namorada (papel da narradora da canção) à atual companheira de um rapaz. "Eu já não amo mais você / Mas eu ainda odeio essa menina", escancara Clarice nos versos iniciais de letra que roça humor negro ao fim. Aos 26 anos, a artista ainda canta problemas seus - e de todos que se enredam em tramas amorosas. "Eu checo as mensagens sete, oito, vinte vezes / Só passou cinco minutos / Eu senti passar três meses", admite em Vinheta, assumindo as ansiedades e cobranças comuns entre amantes na música que acelera ao fim com a velocidade da mente paranoica da personagem da canção. A habilidade de expor sentimentos universais de forma simples e direta certamente vai facilitar a identificação de Como é que vou dizer que acabou? e de outras músicas de temas afins, mesmo que a abordagem tenha tom juvenil. Música do tempo em que Clarice compunha sempre em inglês, Duet tangencia o universo da canção de cabaré em outro indício da diversidade rítmica proporcionada pela conexão da artista com Kassin. Fora do trilho autoral, Clarice soa artificial ao dar voz ao rock A volta do mecenas (Matheus Torreão), mas se ajusta bem ao tom kitsch de Banho de piscina, antiga canção assumidamente brega da lavra do dramaturgo e diretor pernambucano João Falcão, pai da artista. Já I'll fly with you (Luigino D'Agostino, Carlos Montagner, Paolo Sandrini e Diego Leoni) - balada lançada em álbum de 1999 pelo DJ italiano Gigi D'Agostino com o título em francês L'amour toujours - representa salutar esforço de maturidade de uma cantora em evolução, mas ainda inapta para voos emotivos muito altos. De todo modo, Clarice Falcão reafirma estilo e personalidade forte em Problema meu, álbum cheio de encantos amplificados pelo toque moderno de banda que inclui Danilo Andrade (teclados), Diogo Strausz (guitarra, baixo e violão), Fred Ferreira (bateria) e o próprio Kassin, piloto de alguns baixos do disco que tem cordas orquestradas por Sean O' Hagan e metais arranjados por Alberto Continentino. Como resistir a uma composição tão malandra como Vagabunda? Sim, mesmo sem metáforas e sem sequências complexas de acordes, como ironizam versos de Clarice no fecho do álbum, Clarice Falcão tem graça e tem aquele indefinível algo mais que inexiste em cantoras e compositoras mais gabaritadas. Não gosta do som dela? Problema seu!!

10 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Produtor ainda envolto em aura hype na imprensa musical do eixo Rio-São Paulo, como se ainda fosse sinônimo de vanguarda, o carioca Alexandre Kassin tem sido o nome mais requisitado para dar a forma a discos brasileiros. Para alguns artistas, como Marcelo Jeneci e Zélia Duncan, prestou grandes serviços. Ao trabalhar com outros, como Erasmo Carlos, o produtor pareceu ter apenas batido ponto no estúdio sem fazer real diferença no som do Tremendão. Com Clarice Falcão, Kassin veio somar. Ao produzir o segundo álbum da multimídia artista pernambucana radicada na cidade do Rio de Janeiro (RJ), Problema meu - lançado hoje, 19 de fevereiro de 2016 - Kassin fez Clarice migrar do som intencionalmente mono do primeiro álbum, não por acaso intitulado Monomania (Casa Byington, 2013), para o som estéreo deste (sedutor) segundo álbum de matizes mais variados não traduzidos pela capa monocromática. Empreitada caseira, Monomania virou viral e projetou a cantora, compositora, atriz e roteirista - na época, integrante do coletivo Porta dos Fundos, do qual já se desligou. Problema meu tem status mais profissional. E tem méritos. Kassin sustenta a leveza pop da obra autoral de Clarice, mas lhe dá mais colorido sem diluir a graça e a mordacidade espirituosa que pautam músicas como Marta (envolta em atmosfera circense no disco) e Irônico. Grande trunfo da safra inédita e autoral de Problema meu, Irônico foi acertadamente a música escolhida por Clarice Falcão para repor o bloco musical na rua com o carnavalizante clipe da faixa, feito com imagens captadas por celulares de amigos e familiares da artista. Dentro do trilho autoral, Clarice se mostra bem mais autoconfiante, capaz de rir dos próprios dilemas afetivos em Escolhi você ("Você foi o que sobrou", ressalta com a habitual ironia em verso da canção pop) e das próprias limitações da obra musical (assunto da autodepreciativa Clarice). Problema meu é disco leve, mas aclimata Se esse bar - música da safra anterior de Monomania - em apropriado intimismo melancólico de fim de noite. Contudo, a obra autoral de Clarice jamais desaba sobre o peso da existência. O dilema amoroso de Deve ter sido eu se ajustaria a uma trama adolescente da novela juvenil Malhação por ruminar ódios direcionados por ex-namorada (papel da narradora da canção) à atual companheira de um rapaz. "Eu já não amo mais você / Mas eu ainda odeio essa menina", escancara Clarice nos versos iniciais de letra que roça humor negro ao fim. Aos 26 anos, a artista ainda canta problemas seus - e de todos que se enredam em tramas amorosas. "Eu checo as mensagens sete, oito, vinte vezes / Só passou cinco minutos / Eu senti passar três meses", admite em Vinheta mix, assumindo ansiedades e cobranças comuns entre amantes na música que acelera ao fim com a velocidade da mente paranoica da personagem da canção.

Mauro Ferreira disse...

A habilidade de expor sentimentos universais de forma simples e direta certamente vai facilitar a identificação de Como é que vou dizer que acabou? e de outras músicas de temas afins, mesmo que a abordagem tenha tom juvenil. Música do tempo em que Clarice compunha sempre em inglês, Duet tangencia o universo da canção de cabaré em outro indício da diversidade rítmica proporcionada pela conexão da artista com Kassin. Fora do trilho autoral, Clarice soa artificial ao dar voz ao rock A volta do mecenas (Matheus Torreão), mas se ajusta bem ao tom kitsch de Banho de piscina, canção assumidamente brega da lavra do dramaturgo e diretor pernambucano João Falcão, pai da artista. Já I'll fly with you (Luigino D'Agostino, Carlos Montagner, Paolo Sandrini e Diego Leoni) - balada lançada em álbum de 1999 pelo DJ italiano Gigi D'Agostino com o título em francês L'amour toujours - representa salutar esforço de maturidade de uma cantora em evolução, mas ainda inapta para voos emotivos muito altos. De todo modo, Clarice Falcão reafirma estilo e personalidade forte em Problema meu, álbum cheio de encantos. Como resistir a uma composição tão malandra como Vagabunda? Sim, mesmo sem metáforas e sem sequências complexas de acordes, como ironizam versos de Clarice no fecho do álbum, Clarice Falcão tem graça e tem aquele indefinível algo mais que inexiste em cantoras e compositoras mais gabaritadas. Não gosta do som dela? Problema seu!!

Felipe disse...

Este álbum realmente incrível, adorei o som e batidas das canções, e a Ironia da Clarice nas canções ainda me faz gostar mais.

Rafael disse...

Eu tenho altas expectativas para o lançamento desse álbum... Adoro a Clarice e a acho muito talentosa...

Victor Moraes, disse...

Ainda não escutei, mas passei pra dar um parabéns a essa capa! Eu adorei!

Unknown disse...

Acho ela engraçada, mas é a graça de atriz comediante. Ficar em casa ouvindo a voz fraquinha dessa menina, problema meu, não mesmo.

Carlos Lopes disse...

Gostei muito do primeiro, este acho fraco. Só duas canções interessantes, na minha opinião.

Tati disse...

Disco maravilhoso!!! Amei todas as músicas!!!

Carla_ disse...

Parece que canta a mesma música sempre...

Unknown disse...

Ela é única, som bom!