Mauro Ferreira no G1

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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

'Marcha de Noé' sobressai na (politizada) safra de concurso que celebra Noel

Resenha de álbum
Título: As melhores marchinhas do Carnaval 2016
Artista: Vários
Gravadora: Edição independente
Cotação: * * *

Reunida em álbum lançado somente em edição digital, a safra de marchinhas do Carnaval deste ano de 2016 resulta mediana, mas o saldo é positivo, a julgar pelas dez finalistas da 11ª edição do já tradicional concurso realizado em âmbito nacional pela Fundição Progresso para revitalizar a produção do gênero. A safra está bem politizada, brincando com temas sérios como a Operação Lava Jato, assunto da espirituosa Hoje tem marmelada, sim, senhor! (Marco Trindade e Maurício Barros Verde), marchinha de origem carioca defendida pelo cantor Alfredo Del-Penho no disco gravado sob a direção musical de Marcelo Bernardes e Ignez Perdigão. Contudo, o maior destaque da safra é A marcha de Noé, composta e cantada por trio formado por Janjão, Gallotti e Nuno Neto. Aliada à boa melodia, a malícia atemporal da letra - que versa sobre folia entre animais com versos realmente divertidos como "A cobra fumava e curtia a maresia / O vagalume apagava e acendia" - faz de A marcha de Noé a campeã deste Carnaval de 2016 no quesito inspiração. Pegando carona no humor negro do noticiário político, Eu não sei de nada - marcha da compositora mineira Claudinha Proton cantada por Mariana Bernardes e Cauê Nardi - também merece menção honrosa. Já Não enche o saco do Chico perde a piada com assunto feito no timing da notícia - no caso, a recente agressão verbal sofrida pelo cantor e compositor Chico Buarque em rua do bairro carioca do Leblon por conta de questões políticas. Com letra escrita com referências a músicas de Chico, como Cálice (Chico Buarque e Gilberto Gil, 1973) e Vai passar (Chico Buarque e Francis Hime, 1984), a marcha de Marcos Frederico e Vitor Velloso - defendida pela dupla de autores com adesão de Marcelo Veronez - não chega a animar o baile para valer. Mas, ao menos, o tema é original e quente. Já Você tinha - marcha composta e cantada por Pedro de Hollanda - foi alvo de acusação de plágio da ideia do refrão (jocoso jogo de palavras armado com a repetição do verso-título "Você tinha"), usado de forma similar pelo compositor Justo D'Ávila na criação de música do grupo carioca Boato na década de 1990. Já O cai cai do Jedi - composta e cantada por Pedro Ivo e Daniel Pereira - recorre a temas da saga Guerra nas estrelas para brincar com questões sexuais. Já O mosquito - marcha do brasiliense Jorge Antunes cantada por Matias Correa - dá mais uma picada na política do Brasil, alvejando o político Eduardo Cunha. Por sua vez, Rosa pequena - composta e defendida pelo carioca Ricardo DGarcia - destoa da maioria das marchas do ano por seguir o bloco do lirismo. Romeu e Julieta, da pernambucana Marizete Silva, reforça a recorrente impressão de que a safra de marchinhas de 2016 é mediana. De todo modo, a realização do concurso de marchinhas da Fundição Progresso - cuja 11ª edição celebra a obra do compositor carioca Noel Rosa (1910 - 1937) -  é (sempre) bem-vinda por motivar a produção do gênero folião.

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Reunida em álbum lançado somente em edição digital, a safra de marchinhas do Carnaval deste ano de 2016 resulta mediana, mas o saldo é positivo, a julgar pelas dez finalistas da 11ª edição do já tradicional concurso realizado em âmbito nacional pela Fundição Progresso para revitalizar a produção do gênero. A safra está bem politizada, brincando com temas sérios como a Operação Lava Jato, assunto da espirituosa Hoje tem marmelada, sim, senhor! (Marco Trindade e Maurício Barros Verde), marchinha de origem carioca defendida pelo cantor Alfredo Del-Penho no disco gravado sob a direção musical de Marcelo Bernardes e Ignez Perdigão. Contudo, o maior destaque da safra é A marcha de Noé, composta e cantada por trio formado por Janjão, Gallotti e Nuno Neto. Aliada à boa melodia, a malícia atemporal da letra - que versa sobre folia entre animais com versos realmente divertidos como "A cobra fumava e curtia a maresia / O vagalume apagava e acendia" - faz de A marcha de Noé a campeã deste Carnaval de 2016 no quesito inspiração. Pegando carona no humor negro do noticiário político, Eu não sei de nada - marcha da compositora mineira Claudinha Proton cantada por Mariana Bernardes e Cauê Nardi - também merece menção honrosa. Já Não enche o saco do Chico perde a piada com assunto feito no timing da notícia - no caso, a recente agressão verbal sofrida pelo cantor e compositor Chico Buarque em rua do bairro carioca do Leblon por conta de questões políticas. Com letra escrita com referências a músicas de Chico, como Cálice (Chico Buarque e Gilberto Gil, 1973) e Vai passar (Chico Buarque e Francis Hime, 1984), a marcha de Marcos Frederico e Vitor Velloso - defendida pela dupla de autores com adesão de Marcelo Veronez - não chega a animar o baile para valer. Mas, ao menos, o tema é original e quente. Já Você tinha - marcha composta e cantada por Pedro de Hollanda - foi alvo de acusação de plágio da ideia do refrão (jocoso jogo de palavras armado com a repetição do verso-título "Você tinha"), usado de forma similar pelo compositor Justo D'Ávila na criação de música do grupo carioca Boato na década de 1990. Já O cai cai do Jedi - composta e cantada por Pedro Ivo e Daniel Pereira - recorre a temas da saga Guerra nas estrelas para brincar com questões sexuais. Já O mosquito - marcha do brasiliense Jorge Antunes cantada por Matias Correa - dá mais uma picada na política do Brasil, alvejando o político Eduardo Cunha. Por sua vez, Rosa pequena - composta e defendida pelo carioca Ricardo DGarcia - destoa da maioria das marchas do ano por seguir o bloco do lirismo. Romeu e Julieta, da pernambucana Marizete Silva, reforça a recorrente impressão de que a safra de marchinhas de 2016 é mediana. De todo modo, a realização do concurso de marchinhas da Fundição Progresso - cuja 11ª edição celebra a obra do compositor carioca Noel Rosa (1910 - 1937) - é (sempre) bem-vinda por motivar a produção do gênero folião.

Unknown disse...

Excessivamente laudatória e apologética, essa marchinha que não anima o baile deveria se chamar "Eu puxo o saco do Chico"... Acho que o compositor e cantor já está bem na idade de saber se defender sozinho!

Unknown disse...

Perfeito Clayton

Claudinha Proton disse...

Agradecida por ser citada em seu blog Mauro Ferreira! Me senti lisongeada pela "menção honrosa!". Um abraço, Claudinha Proton.