Mauro Ferreira no G1

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sábado, 4 de abril de 2015

Reis e Teixeira fazem ressoar a voz do coração em DVD de som sincero

Resenha de CD e DVD
Título: Amizade sincera II
Artista: Renato Teixeira & Sérgio Reis
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * * *

Por mais que haja natural propósito mercadológico na produção de um segundo volume de Amizade sincera, projeto que une os cantores Renato Teixeira e Sérgio Reis, o som soa sincero. Artistas surgidos na década de 1960, Reis e Teixeira já tinham cantado juntos, mas somente em 2010, com a edição do primeiro volume desse grande encontro, cruzaram seus caminhos fonográficos na longa estrada da vida sertaneja. A caminho dos 70 anos, a serem completados em maio deste ano de 2015, Renato Teixeira - compositor de Romaria (1977), música eternizada na voz de Elis Regina (1945 - 1982) - é um dos pilares que vem mantendo de pé a canção ruralista brasileira ao lado de nomes como Almir Sater. Já perto dos 75 anos, a serem festejados em junho, o paulistano Sérgio Reis se fez ouvir em pleno reinado da Jovem Guarda, mas, como outros artistas do movimento pop de 1965, seguiu trilha sertaneja a partir dos anos 1970. Registros do show gravado ao vivo em 10 de junho de 2014 na Quinta da Cantareira, em Mairiporã (SP), em apresentação de caráter aconchegante restrita a convidados dos artistas, o CD e o DVD Amizade sincera II fazem passeio afetivo pelo universo de uma música caipira que tem se conservado imune ao sotaque pop imperante no atual mercado sertanejo. Mas sem fechar os ouvidos para talentos da nova geração. A exposição na abertura do DVD da bela canção Deus e eu no sertão (Victor Chaves, 2004) - sucesso da dupla Victor & Leo solado na voz ainda em forma de Renato Teixeira - mostra ausência de preconceitos na seleção de repertório regido pela fraternidade. Canção de Teixeira, Eu e meu irmão é a faixa que tem aberto os trabalhos promocionais da gravação ao vivo. Não por acaso, a sempre pungente Canção da América (1979), de Milton Nascimento e Fernando Brant, fecha o DVD, com o público seguindo os artistas para a área externa da Quinta da Cantareira. Até esse congraçamento final, Sérgio Reis - que entra em cena tocando seu berrante, quando Teixeira já está no palco - leva sozinho a Folia de rei (Arnaud Rodrigues e Chico Anysio, 1974), achado do repertório caboclo. Mesmo que sua voz já tenha perdido viço, o sentimento está inteiro. É sobretudo com a voz do coração que Renato Teixeira e Sérgio Reis cantam músicas que soam como temas folclóricos - Cuitelinho (motivo de domínio público recolhido por Paulo Vanzolini e Antônio Xandó), Chuá chuá (Ary Pavão e Pedro de Sá Ferreira) e Cálix bento (Tavinho Moura) - e recebem convidados como Toquinho (em três números) e Amado Batista (em dois). Intérprete de melodramas populares, Batista se ambienta bem no universo sertanejo de músicas como Pingo d'água (João Pacífico e Raul Torres) e Viola cabocla (Tonico e Piraci). Toquinho também está à vontade, tocando violão em Cuitelinho e revivendo com a dupla músicas como Na boca da noite (1967), bissexta parceria sua com o compositor paulistano Paulo Vanzolini (1924 - 2013), e reerguendo A casa (Vinicius de Moraes, 1980). Enfim, a música é sincera e a amizade é verdadeira, legitimando esse reencontro sertanejo.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

♪ Por mais que haja natural propósito mercadológico na produção de um segundo volume de Amizade sincera, projeto que une os cantores Renato Teixeira e Sérgio Reis, o som soa sincero. Artistas surgidos na década de 1960, Reis e Teixeira já tinham cantado juntos, mas somente em 2010, com a edição do primeiro volume desse grande encontro, cruzaram seus caminhos fonográficos na longa estrada da vida sertaneja. A caminho dos 70 anos, a serem completados em maio deste ano de 2015, Renato Teixeira - compositor de Romaria (1977), música eternizada na voz de Elis Regina (1945 - 1982) - é um dos pilares que vem mantendo de pé a canção ruralista brasileira ao lado de nomes como Almir Sater. Já perto dos 75 anos, a serem festejados em junho, o paulistano Sérgio Reis se fez ouvir em pleno reinado da Jovem Guarda, mas, como outros artistas do movimento pop de 1965, seguiu trilha sertaneja a partir dos anos 1970. Registros do show gravado ao vivo em 10 de junho de 2014 na Quinta da Cantareira, em Mairiporã (SP), em apresentação de caráter aconchegante restrita a convidados dos artistas, o CD e o DVD Amizade sincera II fazem passeio afetivo pelo universo de uma música caipira que tem se conservado imune ao sotaque pop imperante no atual mercado sertanejo. Mas sem fechar os ouvidos para talentos da nova geração. A exposição na abertura do DVD da bela canção Deus e eu no sertão (Victor Chaves, 2004) - sucesso da dupla Victor & Leo solado na voz ainda em forma de Renato Teixeira - mostra ausência de preconceitos na seleção de repertório regido pela fraternidade. Canção de Teixeira, Eu e meu irmão é a faixa que tem aberto os trabalhos promocionais da gravação ao vivo. Não por acaso, a sempre pungente Canção da América (1979), de Milton Nascimento e Fernando Brant, fecha o DVD, com o público seguindo os artistas para a área externa da Quinta da Cantareira. Até esse congraçamento final, Sérgio Reis - que entra em cena tocando seu berrante, quando Teixeira já está no palco - leva sozinho a Folia de rei (Arnaud Rodrigues e Chico Anysio, 1974), achado do repertório caboclo. Mesmo que sua voz já tenha perdido viço, o sentimento está inteiro. É sobretudo com a voz do coração que Renato Teixeira e Sérgio Reis cantam músicas que soam como temas folclóricos - Cuitelinho (motivo de domínio público recolhido por Paulo Vanzolini e Antônio Xandó), Chuá chuá (Ary Pavão e Pedro de Sá Ferreira) e Cálix bento (Tavinho Moura) - e recebem convidados como Toquinho (em três números) e Amado Batista (em dois). Intérprete de melodramas populares, Batista se ambienta bem no universo sertanejo de músicas como Pingo d'água (João Pacífico e Raul Torres) e Viola cabocla (Tonico e Piraci). Toquinho também está à vontade, tocando violão em Cuitelinho e revivendo com a dupla músicas como Na boca da noite (1967), bissexta parceria sua com o compositor paulistano Paulo Vanzolini (1924 - 2013), e reerguendo A casa (Vinicius de Moraes, 1980). Enfim, a música é sincera e a amizade é verdadeira, legitimando esse reencontro sertanejo.