Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

'Jeito Felindie' dá elegantes tons pastéis ao cancioneiro do Raça Negra

Resenha de CD
Título: Jeito Felindie
Artista: Vários
Gravadora: Sem indicação
Cotação: * * * 1/2
Disco disponível para audição e download no site Fita Bruta

Tributo indie ao Raça Negra, grupo paulista que despontou nos anos 90 com um samba cheio de teclados, metais e suingue, semente da onda de pagode que inundou o Brasil naquela década, Jeito Felindie dá outras cores ao som do Raça Negra. Idealizado e produzido pelo jornalista Jorge Wagner, o tributo - a ser lançado em breve em formato de CD físico de tiragem limitada - filtra pela estética pop indie o repertório de um grupo que não seguia a fórmula industrializada do pagode. Até pelo fato de ter sido o detonador da explosão do gênero. As composições de Gabú e Luiz Carlos (muitas em parceria com Elias Muniz) exibiam uma assinatura pessoal, valorizada por um suingue diluído, mas irresistível, derivado do sambalanço dos anos 60 e 70.  Das 12 releituras de Jeito Felindie, a da banda carioca Minha Pequena Soundsystem logo sobressai por repaginar Te Quero Comigo (Gabú e Antônio Carlos de Carvalho, 1994) com personalidade e certa ousadia, entre levadas de samba-rock e do electro das aparelhagens. Três cantoras também fazem bonito ao ambientar as canções do Raça Negra em envolvente atmosfera indie sem desconfigurar o ritmo e as melodias dos temas. A pernambucana Lulina dá voz a Cigana (Gabú, 1992) com estilo - o mesmo com que a cantora carioca de pop rock Vivien Benford interpreta Cheia de Manias (Luiz Carlos, 1992). Já a baiana Nana realça a melancolia impregnada em Sozinho (Luiz Carlos e Elias Muniz, 1996), fechando bem o disco, cujo título Jeito Felindie faz trocadilho com Jeito Felino (Gabú, 1992), uma das melhores músicas do Raça Negra, infelizmente destruída no tributo pela dupla carioca Letuce em registro sem alma e sem pegada. Ousadia por ousadia, o trio paranaense Nevilton se sai melhor ao dar tom roqueiro a Vida Cigana (Geraldo Espíndola, 1980). O trio traz para sua garagem a única música fora da seara autoral do Raça Negra, mas de presença justificada no tributo pelo fato de ter sido gravada pelo grupo no álbum Vem pra Ficar (2000). Deste disco, Jeito Felindie repagina também Você Não Sabe de Mim (Luiz Carlos e Elias Muniz, 2000) - música de fase em que o Raça Negra já havia perdido identidade e força no mercado comum da música - no tom pop roqueiro do grupo paulista Radioviernes. Inventiva, a carioca Orquestra Superpopular rebobina Me Leva Junto Com Você (Gabú, 1994) com toques de jazz enquanto o grupo fluminense Amplexos (de Volta Redonda - RJ) joga Quando Te Encontrei (Gabú e Luiz Carlos, 1993) na praia do reggae, mas com o suingue do samba-rock. Por sua vez, o grupo paulista Hidrocor redesenha uma música já originalmente menos sedutora, Deus me Livre (Darci Rossi, Alexandre e Sérginho Sol, 1999), com tons que ressaltam a forte influência do grupo carioca Los Hermanos na cena indie brasileira. Já o cantor curitibano Giancarlo Rufatto põe sua tinta folk em Maravilha (Luiz Carlos e Elias Muniz, 1995) sem soar especialmente marcante no tributo. Também em linha folk, mas com pegada mais pop indie, a banda carioca Harmada dilui a levada de É Tarde Demais (Luiz Carlos e Elias Muniz, 1995) ao imprimir seu toque pessoal na música. Enfim, ao dar elegantes tons pastéis ao som do Raça Negra, Jeito Felindie aproxima universos musicais distintos sem a pretensão de demarcar a superioridade de um sobre o outro, jogando merecida luz sobre grupo subestimado.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rafael disse...

Um ou outro cover ganhou uma abordagem interessante nas vozes dos cantores que participam deste projeto. No mais, o resto não ficou interessante porque o original não ajuda.