Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


domingo, 28 de outubro de 2012

William Magalhães tira sabor da salada mista de Sabah em Amor Canalha

Resenha de CD
Título: Amor Canalha
Artista: Karla Sabah
Gravadora: LGK Music / Microservice
Cotação: * *

Herdeiro do suingue da banda carioca Black Rio, o multi-instrumentista William Magalhães foi recrutado por Karla Sabah para fazer a produção musical e os arranjos do quarto álbum solo da cantora e compositora, Amor Canalha, lançado neste mês de outubro de 2012 pela LGK Music com distribuição da Microservice. Ao pilotar as programações e quase todos os instrumentos das 14 faixas do disco, produzido sob a direção artística de Sabah, Magalhães acabou forjando suingue black sem alma, plastificado, que tira o sabor da salada mista experimentada pela artista em repertório que vai de balada soul de Tim Maia (1942 - 1998) - New Love, pérola escondida no quarto álbum do Síndico, Tim Maia (1973) - a dois temas do cancioneiro desencanado do grupo paulista Ultraje a Rigor, Volta Comigo (Roger Rocha Moreira, 1989) e Zoraide (Roger Rocha Moreira,1985), passando por canção antiga do repertório de Roberto Carlos, Pra Ser Só Minha Mulher (Ronnie Von e Tony Osanah, 1977), já revisitada por Otto em disco de 2003. Com a ressalva de que Zoraide cai bem no balanço do disco, o fato é que quase nada seduz. As acaloradas músicas inéditas do disco - Já É (Johan Luzi, William Magalhães e Karla Sabah), ambientada em clima de samba-funk com a cuíca adicional de Mafram do Maracanã, e Click no Meu Link (Johan Luzi, William Magalhães e Karla Sabah) - estão em sintonia contemporânea com o tom popular do nome do disco Amor Canalha, cuja eletrônica faixa-título é parceria de Sabah com Meg&Nil. Mas o baile black de Sabah jamais chega a empolgar. Se há algum resquício de verdade na interpretação de Mamãe Coragem (Caetano Veloso e Torquato Neto, 1968), a melhor faixa de disco cheio de tropeços, a abordagem de Minha (Cartola, 1976) dilui toda a beleza e poesia do samba de Cartola (1908 - 1980) ao enquadrá-lo na linha suingante que padroniza o repertório. Não me Quebro à Toa (Oswaldo Melodia, 2008) e Mulher que Não Dá Samba (Paulo Vanzolini, 1974) - duas joias que mereciam sair do baú - já haviam mostrado no começo do álbum que Sabah cai no samba sem propriedade e sem intimidade com o gênero. O fato de a faixa Baby (Caetano Veloso, 1968) ter tido sua produção confiada a Thomas Gruetzmacher sinaliza que Sabah talvez pudesse ter diversificado o time de produtores e músicos do disco para que o eclético repertório do CD tivesse tido suas nuances valorizadas. Do jeito que o repertório de Amor Canalha foi tratado, balada de Tim Maia soa parecida com canção de Ronnie Von e samba de Cartola. Falta alma...

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Herdeiro do suingue da banda carioca Black Rio, o multi-instrumentista William Magalhães foi recrutado por Karla Sabah para fazer a produção musical e os arranjos do quarto álbum solo da cantora e compositora, Amor Canalha, lançado neste mês de outubro de 2012 pela LGK Music com distribuição da Microservice. Ao pilotar as programações e quase todos os instrumentos das 14 faixas do disco, produzido sob a direção artística de Sabah, Magalhães acabou forjando suingue black sem alma, plastificado, que tira o sabor da salada mista experimentada pela artista em repertório que vai de balada soul de Tim Maia (1942 - 1998) - New Love, pérola escondida no quarto álbum do Síndico, Tim Maia (1973) - a dois temas do cancioneiro desencanado do grupo paulista Ultraje a Rigor, Volta Comigo (Roger Rocha Moreira, 1989) e Zoraide (Roger Rocha Moreira,1985), passando por canção antiga do repertório de Roberto Carlos, Pra Ser Só Minha Mulher (Ronnie Von e Tony Osanah, 1977), já revisitada por Otto em disco de 2003. Com a ressalva de que Zoraide cai bem no balanço do disco, o fato é que quase nada seduz. As acaloradas músicas inéditas do disco - Já É (Johan Luzi, William Magalhães e Karla Sabah), ambientada em clima de samba-funk com a cuíca adicional de Mafram do Maracanã, e Click no Meu Link (Johan Luzi, William Magalhães e Karla Sabah) - estão em sintonia contemporânea com o tom popular do nome do disco Amor Canalha, cuja eletrônica faixa-título é parceria de Sabah com Meg&Nil. Mas o baile black de Sabah jamais chega a empolgar. Se há algum resquício de verdade na interpretação de Mamãe Coragem (Caetano Veloso e Torquato Neto, 1968), a melhor faixa de disco cheio de tropeços, a abordagem de Minha (Cartola, 1976) dilui toda a beleza e poesia do samba de Cartola (1908 - 1980) ao enquadrá-lo na linha suingante que padroniza o repertório. Não me Quebro à Toa (Oswaldo Melodia, 2008) e Mulher que Não Dá Samba (Paulo Vanzolini, 1974) - duas joias que mereciam sair do baú - já haviam mostrado no começo do álbum que Sabah cai no samba sem propriedade e sem intimidade com o gênero. O fato de a faixa Baby (Caetano Veloso, 1968) ter tido sua produção confiada a Thomas Gruetzmacher sinaliza que Sabah talvez pudesse ter diversificado o time de produtores e músicos do disco para que o eclético repertório do CD tivesse tido suas nuances valorizadas. Do jeito que o repertório de Amor Canalha foi tratado, balada de Tim Maia soa parecida com canção de Ronnie Von e samba de Cartola. Falta alma...

Rafael disse...

Adoro a Sabah desde a época que ela formou dupla com Daniele Daumerie, dupla essa chamada Bad Girls, formada ainda nos idos anos 90. Por falar nisso onde anda a Daniele Daumerie?

Voltando a Karla, seu último disco "Cala A Boca E Me Beija" é ótimo! Bem instropectivo e inspirador. Não sabia que ela iria lançar este ano disco novo.

Rafael disse...

Não se deve esquecer também que Karla fez parte do ótimo grupo Afrodite Se Quiser, grupo esse que poderia muito bem voltar a ser formado!

Luca disse...

o Ultraje tem uma obra bacana que precisa ser revista sem preconceito