Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Força afro de Cozza 'baixa' no terreiro carioca no show de seu terceiro álbum

Resenha de show
Título: Fabiana Cozza
Artista: Fabiana Cozza (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Solar de Botafogo (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 7 de dezembro de 2011
Cotação: * * * * 1/2

Sob a direção musical de Paulão Sete Cordas, Fabiana Cozza pisou firme no quintal carioca e abrandou seu canto afro no terceiro disco, Fabiana Cozza, lançado em novembro de 2011. No show de lançamento do CD, apresentado no Rio de Janeiro (RJ) em 7 de dezembro, a cantora paulista exibe as mudanças vocais em alguns números, nos quais se notam também contenções gestuais, mas a força afro de seu canto baixa no palco e, de certa forma, dá o tom do show. Cozza é intérprete calorosa. Domina a arte de cantar, mas não se deixa amarrar numa camisa de força técnica. Desafiando a ditadura do cool, ela segue a trilha da voz e suor. E, quando o santo baixa, como na demolidora leitura do afro-samba Canto de Ossanha (Baden Powell e Vinicius de Moraes), em que Cozza alterna andamentos e divisões com direito a trechos interpretados a capella, quem vem abaixo é a plateia. No caso, o público que lotou o Teatro Solar de Botafogo para ver a estreia carioca do show dessa cantora-orixá. Sete números depois, acompanhada somente pelo pandeiro do percussionista Douglas Alonso, Cozza quebra tudo em Coisa Feita (João Bosco, Paulo Emilio e Aldir Blanc) em outra interpretação arrasadora. Essa é a Fabiana Cozza a que seu público se habituou a ver em cena. Mas uma outra Fabiana Cozza - de canto mais suave, treinado pelo preparador vocal Felipe Abreu - também baixa em cena com o mesmo rigor estilístico. E o fato é que, ao pisar no quintal carioca, conduzida por Paulão Sete Cordas, Cozza dá voz a joias raras que jaziam esquecidas no baú do samba. Lá Fora (Elton Medeiros e Délcio Carvalho) é uma dessas pepitas que reluzem no palco, abrilhantadas pelas intervenções do clarinete de Nailor Proveta, convidado também do samba-canção Lupiciniana (Wilson das Neves e Nei Lopes). Partido de alto quilate, Sandália Amarela (Wilson Moreira e Nei Lopes) é outro saboroso fruto desse terreiro carioca em que há também a animada Festa do Zé (Sombrinha e Carlinhos Vergueiro). Ao entrar na roda baiana, Cozza ilumina Candeeiro de Deus (Roque Ferreira) com tanta força que o samba - que tem seu ritmo marcado pelas palmas da plateia - que o samba ganha luz adicional. Por ser cantora vocacionada para a cena, aliás, Cozza faz com que seu repertório cresça no palco. Escudo (Wanderley Monteiro e Ivor Lancellotti) já se destacava no disco, mas, em cena, ganha interpretação tão bonita que parece ainda mais inspirado. É o que acontece também com o melodioso samba Eternamente Sempre (Sombrinha e Marquinho PQD). Só que, no palco, o canto de Cozza extrapola o quintal carioca. Toda a latinidade que tempera os afro-sambas da cantora salta aos ouvidos no suingante solo do piano de Edinho Sant'Anna que adorna Xangô te Xinga (Leandro Medina). Com tons e gestuais mais contidos, Cozza dá banho de interpretação neste tema em que se percebe o elo afro que alicerça Santa Bamba (Kiko Dinucci), São Jorge (Kiko Dinucci) - número em que emerge de imediato a força da guerreira cantora - e Le Mali Chez La Carte Invisible, sensível canção em francês do cantor e compositor baiano Tiganá Santana. É a boa surpresa do roteiro ao lado de Caxangá (Milton Nascimento e Fernando Brant), tema que se ajusta bem ao tom intenso da cantora. Em contrapartida, ao fazer a Serenata de São Lázaro (Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro) somente com o piano do convidado Gilson Peranzzetta, Cozza reitera a impressão - deixada no disco - de que a moldura camerística de Peranzzetta, embora refinada, soa inadequada ao tema. Detalhe de show primoroso que, na estreia carioca, pecou somente pelas excessivas intervenções da plateia, às quais a cantora deu corda, o que prejudicou o timing da apresentação. Ao receber seu pai, o sambista paulista Oswaldo dos Santos, na abertura e no bis, feito com renovada abordagem de O Samba É Meu Dom (Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro) na qual voltou à cena o preciso clarinete de Nailor Proveta, Cozza reiterou que pisa no quintal carioca e entra na roda afro-baiana sem deixar de vestir sua própria camisa. É força da natureza!!

18 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Sob a direção musical de Paulão Sete Cordas, Fabiana Cozza pisou firme no quintal carioca e abrandou seu canto afro no terceiro disco, Fabiana Cozza, lançado em novembro de 2011. No show de lançamento do CD, apresentado no Rio de Janeiro (RJ) em 7 de dezembro, a cantora paulista exibe as mudanças vocais em alguns números, nos quais se notam também contenções gestuais, mas a força afro de seu canto baixa no palco e, de certa forma, dá o tom do show. Cozza é intérprete calorosa. Domina a arte de cantar, mas não se deixa amarrar numa camisa de força técnica. Desafiando a ditadura do cool, ela segue a trilha da voz e suor. E, quando o santo baixa, como na demolidora leitura do afro-samba Canto de Ossanha (Baden Powell e Vinicius de Moraes), em que Cozza alterna andamentos e divisões com direito a trechos interpretados a capella, quem vem abaixo é a plateia. No caso, o público que lotou o Teatro Solar de Botafogo para ver a estreia carioca do show dessa cantora-orixá. Sete números depois, acompanhada somente pelo pandeiro do percussionista Douglas Alonso, Cozza quebra tudo em Coisa Feita (João Bosco, Paulo Emilio e Aldir Blanc) em outra interpretação arrasadora. Essa é a Fabiana Cozza a que seu público se habituou a ver em cena. Mas uma outra Fabiana Cozza - de canto mais suave, treinado pelo preparador vocal Felipe Abreu - também baixa em cena com o mesmo rigor estilístico. E o fato é que, ao pisar no quintal carioca, conduzida por Paulão Sete Cordas, Cozza dá voz a joias raras que jaziam esquecidas no baú do samba. Lá Fora (Elton Medeiros e Délcio Carvalho) é uma dessas pepitas que reluzem no palco, abrilhantadas pelas intervenções do clarinete de Nailor Proveta, convidado também do samba-canção Lupiciniana (Wilson das Neves e Nei Lopes). Partido de alto quilate, Sandália Amarela (Wilson Moreira e Nei Lopes) é outro saboroso fruto desse terreiro carioca em que há também a animada Festa do Zé (Sombrinha e Carlinhos Vergueiro). Ao entrar na roda baiana, Cozza ilumina Candeeiro de Deus (Roque Ferreira) com tanta força que o samba - que tem seu ritmo marcado pelas palmas da plateia - que o samba ganha luz adicional. Por ser cantora vocacionada para a cena, aliás, Cozza faz com que seu repertório cresça no palco. Escudo (Wanderley Monteiro e Ivor Lancellotti) já se destacava no disco, mas, em cena, ganha interpretação tão bonita que parece ainda mais inspirado. É o que acontece também com o melodioso samba Eternamente Sempre (Sombrinha e Marquinho PQD). Só que, no palco, o canto de Cozza extrapola o quintal carioca. Toda a latinidade que tempera os afro-sambas da cantora salta aos ouvidos no suingante solo do piano de Edinho Sant'Anna que adorna Xangô te Xinga (Leandro Medina). Com tons e gestuais mais contidos, Cozza dá banho de interpretação neste tema em que se percebe o elo afro que alicerça Santa Bamba (Kiko Dinucci), São Jorge (Kiko Dinucci) - número em que emerge de imediato a força da guerreira cantora - e Le Mali Chez La Carte Invisible, sensível canção em francês do cantor e compositor baiano Tiganá Santana. É a boa surpresa do roteiro ao lado de Caxangá (Milton Nascimento e Fernando Brant), tema que se ajusta bem ao tom intenso da cantora. Em contrapartida, ao fazer a Serenata de São Lázaro (Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro) somente com o piano do convidado Gilson Peranzzetta, Cozza reitera a impressão - deixada no disco - de que a moldura camerística de Peranzzetta, embora refinada, soa inadequada ao tema. Detalhe de show primoroso que, na estreia carioca, pecou somente pelas excessivas intervenções da plateia, às quais a cantora deu corda, o que acabou prejudicando o timing da apresentação. Ao receber seu pai, o sambista paulista Oswaldo dos Santos, na abertura e no bis, feito com renovada abordagem de O Samba É Meu Dom (Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro) na qual voltou à cena o preciso clarinete de Nailor Proveta, Fabiana Cozza mostra que pisa no quintal carioca e entra na roda afro-baiana sem deixar de vestir sua própria camisa. É uma força da natureza.

leitordomauro disse...

Desculpe Mauro, mas que cantora chata. Pelas fotos se vê a cara de pretensão em ser diva, em ser grande sambista, em ser antológica. Que preguiça. Em francês, em português, em latim, essa cantora eu não aguento.

nieves disse...

Leitordomauro
Gostaria de esclarecer a vc que FABIANA COZZA não prende SER ELA É melhor de todas e a melhor dos ultimos tempos.Não se deve julgar as pessoas apenas por uma fotografia, precisamos conhecer a fundo o Trabalho da cantora,a voz dessa moça é incomparavel. Para se entender e valorizar o trabalho de FABIANA COZZA no minimo tem que ter ter sensibilidade

Anônimo disse...

Eita tambem acho exagero em falar que quer ser diva...ja a vi cantando e dando entrevista é super simples.
PS: Ela canta até com o EMICIDA, nao se importa em ficar agradando.

Marcelo Barbosa disse...

Concordo também! Sobretudo na quarta foto. Sente a pose?
Não adianta que essa daí não me convence e não faz nem um pouco de esforço para ser simpática. SE ACHA!
Abs,

Marcelo Barbosa - Brasília (DF)

Marcelo Barbosa disse...

E está parecendo a Babi, esposa do Arlindo Cruz, com a diferença de que a Babi sempre foi simpática.

Diogo Santos disse...

Também acho que ela lembra fisicamente a esposa do Arlindo... rsrs

Um conhecido a chama de " Mônica Salmaso do samba " - pois ela quase sempre pesa as interpretações. Curiosamente Fabiana é sempre muito simpática nas entrevistas. Ainda não ouvi esse album!

Diogo Santos disse...

" público que lotou o Teatro Solar de Botafogo ... "

Fui verificar e me informei que o teatro tem capacidade para (se muito)200 pessoas ...

Káyon disse...

Pois eu gosto de voz assim: com atitude, sacolejo e ziriguidum. Esse negócio de cantora de samba com vozinha de "sou-tímida-mas-uma-graça" é que eu não aguento.

Ju Oliveira disse...

É impressionante como as pessoas são preconceituosas e superficiais. Mais impressionante ainda é a total casualidade com que expressam publicamente essas suas características tão negativas.

Não gosto da cara dela na foto... É brincadeira!

Fabiana é uma puta cantora, com um trabalho extremamente coerente e rigoroso na sua qualidade.

Além disso tem uma grande presença de palco, suingue, alma e coração, e ainda por cima faz um trabalho totalmente independente, financiado do próprio bolso. Tudo isso pra pode fazer o que quer, sem interferência de ninguém. Sou fã desde 2004 e nunca vi uma apresentação dela que não tenha sido sensacional.

Ouvir e não gostar, tudo bem. Agora usar preconceitos bestas pra desmerecer o trabalho de uma artista que nem conhece passa da conta.

Pra quem tiver cabeça e coração abertos e amor pelo samba, recomendo FABIANA COZZA sem pestanejar.

Ótimos posts como sempre, Mauro. Abração!

Carlos Cardoso disse...

Tem certos comentários que não acredito que estou lendo!!

Marcelo Barbosa disse...

Só para esclarecer que já OUVI os dois primeiros discos, inclusive cheguei a adquirir o segundo (Quando o céu clarear), mas devolvi. Não gostei.
E aqui é um espaço democrático, caso não goste de determinados comentários é simples: basta pular, ignorar ou então se contentar. Abs,

Marcelo Barbosa - Brasília (DF)

PS: E a minha implicância com a referida cantora deveu-se a uma entrevista ao programa Sarau, com Chico Pinheiro. Ali ela mostrou toda sua "simpatia".

Johnny Cesar disse...

Mas precisa mesmo derrubar a moça? Deixa ela fazer o trabalho dela,se não gosta é só não ouvir, não ir ao show, não assistir entrevistas, não ler a crítica do Mauro e depois também criticá-lo porque ele disse que gosta...
É tudo tão simples mas o povo precisa detonar alguma da vez...
Se até a Calcanhoto pode cantar e fazer show de samba porque as outras não podem?
Quando eu vejo que o Mauro postou sobre alguém que eu não gosto eu vou na barra de rolagem e desço um pouco para encontrar algo sobre alguém que eu realmente tenha interesse. Meu tempo é tão curto para eu ficar lendo e comentando sobre a vida, a carrera, o cd , o dvd ou o show de quem não me interessa e por isso procuro aproveitá-lo com as coisas que me fazem bem.
Obrigado Mauro, abraço!!!

Marcelo Barbosa disse...

Agindo da maneira que age o artista é que se encarrega de cavar a própria cova.

Káyon disse...

Já me disseram que o universo do samba anda cheio de malas-madrinhas, rancores e nhem-nhem-nhens. A parte das malas e rancores eu já tinha visto. Agora entendi o tal do nhem-nhem-nhem.

KL disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
RURIK VARDA disse...

Há poucos meses assisti a um show da Célia no Sesc Vila Mariana em São Paulo, cuja convida era Fabiana Cozza. Confesso que não conhecia o seu trabalho, embora já tivesse lido algo sobre ela.
Devo dizer que fiquei muito bem impressionado com a sua performance. Não me lembro agora de todas as músicas que cantou. Recordo-me apenas de "Pintura sem Arte" do Candeia (que já foi gravado lindamente pela Alcione) e gostei da bastante da sua interpretação.
Cresci ouvindo as vozes encorpadas de Elza Soares, Alcione, Beth Carvalho, Clara Nunes, Clementina (Ave, Kelé!!!), D. Ivone Lara, então, sem querer desmerecer ninguém, venho sentindo falta de uma cantora de samba que reúna uma presença cênica interessante, com estilo e voz marcantes. Ouvi falar bem da Luíza Dionísio (tenho cd e tudo) mas nunca tive oportunidade de ouvi-la ao vivo. Das que venho ouvindo até agora, Fabiana foi a que mais me agradou.
Quanto à personalidade dela, penso que as mulheres são muito cobradas quanto têm uma postura muito autoconfiante. Para homens assim, normalmente as pessoas dizem: “esse é o cara!”

Abraço a todos.

Anônimo disse...

A questão da implicância com a Fabiana é que ela é realmente boa. Entende de canto e de música, tem sensibilidade apurada, inteligência, unicidade. Se ela emgrecesse e colocasse "as penas de fora" como fez a Maria Rita e fugisse do Afro, como todas fazem, seria adorada por todos.