Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Toquinho segue receita de felicidade nas inéditas de 'Quem Viver Verá'

Resenha de CD
Título: Quem Viver Verá
Artista: Toquinho
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * *

Toquinho é de natureza zen, a julgar por sua música. Distante das lamúrias, sua obra autoral sempre soa leve e em paz com a vida. Em Quem Viver Verá, seu primeiro álbum de inéditas desde Só Tenho Tempo pra Ser Feliz (2003), o cantor e compositor segue sua receita de felicidade em cancioneiro que reitera os cânones de sua obra. "Não brigo com a vida / Ah, não é bom brigar", ensina Toquinho em versos de Quem Viver Verá (Toquinho), o samba que dá título ao disco produzido por Genildo Fonseca sob a direção musical do próprio Toquinho, autor também dos arranjos. O samba predomina no repertório. Às vezes com suavidade de clima bossa-novista, caso da melodiosa Bem-me-Quer (Toquinho), destaque da safra de inéditas autorais criada com inspiração irregular. Às vezes em moldura mais tradicional (à moda do compositor), como em Cilada do Destino (Toquinho) e como em Obra de Arte, parceria de Toquinho com o escritor chileno Antonio Skármeta, autor dos versos surrealistas. Expandindo o leque de parceiros, aliás, o compositor também pôs música em poema de sua filha, Jade Pecci, autora dos versos da marcha Porta do Infinito, faixa que conta com a participação (inexpressiva) da cantora Anna Setton, convidada também de Romeu e Julieta, novidade da obra de Toquinho com Vinicius de Moraes (1913 - 1980) que foi tirada do ineditismo fonográfico em meados deste ano de 2011 no disco em que Toquinho reviveu seu cancioneiro com o Poetinha em tom eletrônico na companhia de Paulo Ricardo. Em universo distinto e distante, o cantor e compositor acerta o passo do frevo em Quero Você (Toquinho), faixa dividida com Ivete Sangalo, estrela da música produzida em escala industrial para o Carnaval baiano. O frevo exala a leveza que pontua o álbum. Talvez por isso mesmo a regravação de Antonico (Ismael Silva) soe tão pálida porque o samba do pioneiro bamba do Estádio pede maior densidade na interpretação. Toquinho tinha pensado em rebobinar Antonico com Zeca Pagodinho, que bateu o pé para pôr voz em Regra Três (Toquinho e Vinicius de Moraes) sem um dos sambas mais batidos da dupla Toquinho & Vinicius. Na sequência, Joana reaviva com lirismo a parceria de Toquinho com Francis Hime. O tema tem como musa inspiradora Joana Hime, filha de Francis e gerente de projetos da Biscoito Fino, gravadora que edita o disco de Toquinho. Há ainda Renascerá a Aurora, versão (assinada pelo próprio Toquinho) de música do compositor italiano Pino Danielle. No todo, Quem Viver Verá - cujo título é grafado com vírgula inexistente de acordo com as regras gramaticais - mantém Toquinho em sua trilha zen.

6 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Toquinho é de natureza zen, a julgar por sua música. Distante das lamúrias, sua obra autoral sempre soa leve e em paz com a vida. Em Quem Viver Verá, seu primeiro álbum de inéditas desde Só Tenho Tempo pra Ser Feliz (2003), o cantor e compositor segue sua receita de felicidade em cancioneiro que reitera os cânones de sua obra. "Não brigo com a vida / Ah, não é bom brigar", ensina Toquinho em versos de Quem Viver Verá (Toquinho), o samba que dá título ao disco produzido por Genildo Fonseca sob a direção musical do próprio Toquinho, autor também dos arranjos. O samba predomina no repertório. Às vezes com suavidade de clima bossa-novista, caso da melodiosa Bem-me-Quer (Toquinho), destaque da safra de inéditas autorais criada com inspiração irregular. Às vezes em moldura mais tradicional (à moda do compositor), como em Cilada do Destino (Toquinho) e como em Obra de Arte, parceria de Toquinho com o escritor chileno Antonio Skármeta, autor dos versos surrealistas. Expandindo o leque de parceiros, aliás, o compositor também pôs música em poema de sua filha, Jade Pecci, autora dos versos da marcha Porta do Infinito, faixa que conta com a participação (inexpressiva) da cantora Anna Setton, convidada também de Romeu e Julieta, novidade da obra de Toquinho com Vinicius de Moraes (1913 - 1980) que foi tirada do ineditismo fonográfico em meados deste ano de 2011 no disco em que Toquinho reviveu seu cancioneiro com o Poetinha em tom eletrônico na companhia de Paulo Ricardo. Em universo distinto e distante, o cantor e compositor acerta o passo do frevo em Quero Você (Toquinho), faixa dividida com Ivete Sangalo, estrela da música produzida em escala industrial para o Carnaval baiano. O frevo exala a leveza que pontua o álbum. Talvez por isso mesmo a regravação de Antonico (Ismael Silva) soe tão pálida porque o samba do pioneiro bamba do Estádio pede maior densidade na interpretação. Toquinho tinha pensado em rebobinar Antonico com Zeca Pagodinho, que bateu o pé para pôr voz em Regra Três (Toquinho e Vinicius de Moraes) sem um dos sambas mais batidos da dupla Toquinho & Vinicius. Na sequência, Joana inaugura com lirismo a parceria de Toquinho com Francis Hime. O tema tem como musa inspiradora Joana Hime, filha de Francis e gerente de projetos da Biscoito Fino, gravadora que edita o disco de Toquinho. Há ainda Renascerá a Aurora, versão (assinada pelo próprio Toquinho) de música do compositor italiano Pino Danielle. No todo, Quem Viver Verá - cujo título é grafado com vírgula inexistente de acordo com as regras gramaticais - mantém Toquinho em sua trilha zen.

Felipe dos Santos disse...

Hmmm... depende. A obra de Toquinho tem alguns momentos mais preocupados. Não chegam a ser momentos sombrios ou traumatizados, mas são mais sérios.

Por exemplo, "Doce Vida", de 1981, não me parece um disco muito tranquilo. E mesmo "Pequeno perfil de um cidadão comum", parceria com Belchior que o cearense pôs em disco em 1979, não é lá muito "zen".

Agora, concordo plenamente que, no frigir dos ovos, o que o paulistano fez transmite uma tranquilidade admirável. Basta ver a beleza de "Ao que vai chegar". Para não falar de "Aquarela" e "Tarde em Itapoã", atemporais.

E mesmo letras que tinham tudo para resultar em interpretações lamuriosas, como "Caso sério", são bem descontraídas.

Talvez, por isso, Toquinho seja uma figura tão simpática.

Felipe dos Santos Souza

Anônimo disse...

Felipe, é que o Toquinho parece ser um sujeito tão de bem com a vida e simpático que mesmo tendo essas músicas mais densas que vc citou ficou conhecido pelas obras mais amenas, leves.
Ele me lembra o Gill que escreve de vez em quando por aqui. rsrsrsrs

KL disse...

o trabalho dele até 1981 é maravilhoso, irretocável. O que veio depois, porém, não tem nem 1/10 da força e da originalidade que, ao lado de Vinícius, só nos brindou com obras-primas que vão do lírico ao épico com a marca dos gênios.

Larissa Pereira Gouveia disse...

Mauro é preciso fazer uma correção em seu texto: O tema 'Joana' não é um debut,uma inauguração da parceria Francis e Toquinho;parceria que já ocorre - pelo menos registrada - desde o Sonho de Moço(1981)com 'Doce Vida'.
Francis e Toquinho em verdade ,além destas citadas, têm outras composições juntos.

'Joana' é um tema em que Toquinho resolveu homenagear a filha de Francis;fruto de um reencontro após muito tempo sem vê-la.Toquinho fez a primeira parte da melodia e Francis fez a segunda.

Obs:Antes o próprio maestro já tinha um (outro) tema (instrumental) registrado no
'Se Porem Fosse Portanto'(1978),chamado 'Joana' - este com melodia de autoria apenas dele.

Mauro Ferreira disse...

Obrigado, Larissa. Já consertei o texto. Abs, MauroF