Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Célia dá voz polida às emoções reais do repertório romântico de Roberto

Resenha de CD
Título: Outros Românticos
Artista: Célia
Gravadora: Joia Moderna
Cotação: * * * 1/2

É de Célia uma das melhores e mais perfeitas gravações lançadas neste ano de 2011. Faixa de abertura do disco A Voz da Mulher na Obra de Taiguara, Mudou (Taiguara) ganhou uma interpretação tão precisa que, para os ouvintes do tributo ao compositor uruguaio Taiguara (1945 - 1996), é natural a expectativa criada em torno do álbum em que a cantora dá voz a dez canções gravadas por Roberto Carlos ao longo dos anos 70 - a década em que o Rei mais investiu no romantismo de seu repertório popular. O detalhe é que nenhuma canção de Outros Românticos leva a assinatura de Roberto Carlos. São das lavras de compositores presentes na discografia do cantor naquela época e, nesse conceito, reside o charme do disco idealizado pelo DJ Zé Pedro para sua gravadora Joia Moderna. De cara, o disco já apresenta uma interpretação precisa de Célia para Abandono (Ivor Lancellotti, 1979). Faixa feita somente com a voz da cantora e o piano de Alex Vianna, Abandono indica o caminho simples que nem sempre foi seguido pelo produtor Thiago Marques Luiz. Jogo de Damas (Isolda e Milton Carlos, 1974), por exemplo, ganha a moldura frágil e quase caricata de um tango. Felizmente, Outros Românticos tem lances mais certeiros. Preciso lhe Encontrar (Demétrius, 1970) cresce à medida em que o arranjo do violonista Rovilson Pascoal incorpora o flugelhorn de Amílcar Rocha e sugere o desespero contido nesta canção obscura. Estruturada com trio de piano-baixo-bateria, Nosso Amor (Mauro Motta e Eduardo Ribeiro) expõe a opção de Célia por interpretações polidas que nunca passam do tom. Atitudes (Getúlio Côrtes, 1973) explora mal os metais arranjados pelo saxofonista Marcelo Monteiro enquanto Quero Ver Você de Perto (Benito Di Paula, 1975) ganha ambiência suave que evoca a leveza bossa-novista e que se ajusta bem ao tom resoluto desse samba meio canção retratado em tons de preto e branco. Mais sentimental, Sonho Lindo (Maurício Duboc e Carlos Colla, 1973) se impõe pela melodia tão tristonha quanto bela, valorizada por arranjo minimalista que combina somente o piano de Alex Vianna com o violão de Rovilson Pascoal. Já Uma Palavra Amiga (Getúlio Côrtes, 1970) ganha força no refrão contundente, mas não é das canções mais inspiradas do cancioneiro romântico de Roberto Carlos, estando aquém tanto da intérprete quanto da seleção do disco. Em contrapartida, Vivendo por Viver (Márcio Greyck e Cobel) é das mais lindas baladas do repertório do Rei. Pena que Célia não tenha ido tão fundo na interpretação de Vivendo por Viver como foi em Se Eu Partir (Fred Jorge, 1971), esta, sim, regravada com a dose exata de melancolia e somente com o violão de Rovilson Pascoal em outro registro preciso. Abandono e Se Eu Partir, por si só, já valem este disco que reitera a excelência da voz de Célia, cantora que o Brasil deveria ouvir com mais atenção. Outros Românticos é um disco de emoções reais.

17 comentários:

Mauro Ferreira disse...

É de Célia uma das melhores e mais perfeitas gravações lançadas neste ano de 2011. Faixa de abertura do disco A Voz da Mulher na Obra de Taiguara, Mudou (Taiguara) ganhou uma interpretação tão precisa que, para os ouvintes do tributo ao compositor uruguaio Taiguara (1945 - 1996), é natural a expectativa criada em torno do álbum em que a cantora dá voz a dez canções gravadas por Roberto Carlos ao longo dos anos 70 - a década em que o Rei mais investiu no romantismo de seu repertório popular. O detalhe é que nenhuma canção de Outros Românticos leva a assinatura de Roberto Carlos. São das lavras de compositores presentes na discografia do cantor naquela época e, nesse conceito, reside o charme do disco idealizado pelo DJ Zé Pedro para sua gravadora Joia Moderna. De cara, o disco já apresenta uma interpretação precisa de Célia para Abandono (Ivor Lancellotti, 1979). Faixa feita somente com a voz da cantora e o piano de Alex Vianna, Abandono indica o caminho simples que nem sempre foi seguido pelo produtor Thiago Marques Luiz. Jogo de Damas (Isolda e Milton Carlos, 1974), por exemplo, ganha a moldura frágil e quase caricata de um tango. Felizmente, Outros Românticos tem lances mais certeiros. Preciso lhe Encontrar (Demétrius, 1970) cresce à medida em que o arranjo do violonista Rovilson Pascoal incorpora o flugelhorn de Amílcar Rocha e sugere o desespero contido nesta canção obscura. Estruturada com trio de piano-baixo-bateria, Nosso Amor (Mauro Motta e Eduardo Ribeiro) expõe a opção de Célia por interpretações polidas que nunca passam do tom. Atitudes (Getúlio Côrtes, 1973) explora mal os metais arranjados pelo saxofonista Marcelo Monteiro enquanto Quero Ver Você de Perto (Benito Di Paula, 1975) ganha ambiência suave que evoca a leveza bossa-novista e que se ajusta bem ao tom resoluto desse samba meio canção retratado em tons de preto e branco. Mais sentimental, Sonho Lindo (Maurício Duboc e Carlos Colla, 1973) se impõe pela melodia tão tristonha quanto bela, valorizada por arranjo minimalista que combina somente o piano de Alex Vianna com o violão de Rovilson Pascoal. Já Uma Palavra Amiga (Getúlio Côrtes, 1970) ganha força no refrão contundente, mas não é das canções mais inspiradas do cancioneiro romântico de Roberto Carlos, estando aquém tanto da intérprete quanto da seleção do disco. Em contrapartida, Vivendo por Viver (Márcio Greyck e Cobel) é das mais lindas baladas do repertório do Rei. Pena que Célia não tenha ido tão fundo na interpretação de Vivendo por Viver como foi em Se Eu Partir (Fred Jorge, 1971), esta, sim, regravada com a dose exata de melancolia e somente com o violão de Rovilson Pascoal em outro registro preciso. Abandono e Se Eu Partir, por si só, já valem este disco que reitera a excelência da voz de Célia, cantora que o Brasil deveria ouvir com mais atenção. Outros Românticos é um disco de emoções reais.

EDELWEISS1948 disse...

CELIA PRA MIM UMA DAS ULTIMAS GRANDES CANTORAS SURGIDAS NO BRASIL. O DISCO É OTIMO. PARABÉNS CELIA.

lurian disse...

Mauro você tem absoluta razão quando afirma que uma das mais ou senão a mais bela gravação do ano foi "Mudou", Célia fez algo perfeito, na medida exata.
Esse pra mim é um dos grandes discos do ano, sem dúvidas, ao lado de "Recanto" da Gal Costa.
Regravar músicas marcadas não é nada fácil. Abandono, ficou na medida também, assim como Atitudes, Nosso amor e a belíssima Vivendo por Viver. Enfim fica dificil escolher as melhores. Também guardei a mesma impressão quanto a Jogo de damas, ficou um pouco over, no mais o disco é lindo e vale de presente pra qualquer coração romântico nesse natal.
Que grande fase está a Célia, sem dúvidas uma das maiores intérpretes hoje.

Jeferson Garcia disse...

Mauro, pela 1ª vez vou discordar de vc.
To apaixonado pelo CD.
É daqueles que você não consegue parar de ouvir.
E fico a me perguntar: Que país é esse que permite que uma cantora do náipe da Célia tenha ficado tanto tempo de castigo pela indústria do disco?
Mas nem tudo está perdido, vide 0s 3 últimos cds preciosos e as participações em tributos bacanas como o citado Taiguara, além do Natal Bem Brasileiro, Maysa e Dolores.
Salve Célia!

Johnny Cesar disse...

Mauro, esse cd é tão bonito que eu não paro de ouvir desde que ganhei, não tenho um senso crítico tão apurado quanto o seu por isso para mim, ele é perfeito. Eu também não sei como o Brasil não conhece Célia como deveria conhecer. Talvez porque ela não faça o povo tirar os pés do chão. E também concordo que esse tá ao entre os melhores de 2011, deu para acreditar que o melhor ficou para o fim. Abraço

santana disse...

De minha parte sempre ouço Célia com muita atenção (e todo o prazer).

Mais um pra conferir.

Tiago disse...

Pra mim ele está entre os 5 melhores do ano!! Discaço!!

leitordomauro disse...

A voz de Célia a serviço das canções gravadas por Roberto Carlos nos anos 70, é um luxo de não se esquecer. Como bem disse o Mauro em sua crítica, Célia é uma cantora que nunca passa do tom. Na lista dos discos do ano.

Tombom disse...

Ouvindo Célia e lendo a crítica de MF... Disco de "emoções reais"... Concordo. Célia merece ser mais ouvida pelo Brasil inteiro. Bem-vinda maturidade dessa cantora!

Luca disse...

essas músicas são lindas, e Célia é uma senhora cantora mas esse povo que ouviu o disco deve ter baixado, não vi à venda aqui em sp ainda

Tombom disse...

Eu, por exemplo, comprei o novo CD de Célia semana passada na Compact Blue... junto com o "Dose Dupla" que reúne os 2 primeiros álbuns da cantora. Aliás este "Dose Dupla" está com uma remasterização abafada, sem nuances e qualidade bem sofrível em algumas faixas... vale mais como curiosidade, ou para fãs incondicionais.

noca disse...

Cantora perfeita e divina.O Brasil não conheceu nem conhece Celia porque nasceu em um pais preconceituoso,infelizmente.

CN disse...

Sou absolutamente suspeito para falar de Célia. Em minha opinião, uma das maiores cantoras do mundo. Interprete sofisticada e versátil, que canta tudo bem: samba, samba canção, jazz, blues,fado, baladas, boleros, mas, especialmente, canções românticas. A idéia do projeto é ousada, pois o resultado poderia respingar , mas é de uma elegância absurda. Célia nunca passa da medida, nem soa over sem deixar de ser intensa. Arranjos delicados, leituras fortes, arrebatadoras. Excelente álbum. Parabéns, Thiago, Ze Pedro, equipe e , claro, CÉLIA.
Carlos Navas

KL disse...

não ouvi, e já gostei. Hoje, até que enfim, musa totalmente cult, oh, yes!

flavio ricci disse...

O que adianta gravar uma preciosidade dessa se depois somos obrigados a ficar baixando na net simplesmente por não encontrarmos o cd original em lugar nenhum. Jóia Moderna ta na hora de repensar a logistica de seus produtos.

KL disse...

Flavio,

Digite no Google o nome de álbum, que redirecionam para a distribuidora. É que são edições limitadas os álbuns da Joia Moderna. Daí, fica meio difícil mesmod e encontrar nas lojas. Eu sempre vejo nas prateleiras da Livraria Cultura.

Abraço!

Leolongobardi disse...

Quero o meu CD urgenteeeee........