Mauro Ferreira no G1

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sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Aos 70 anos, Roberto Carlos oferta em cena o que (seu) público quer receber

Resenha de show
Título: Roberto Carlos
Artista: Roberto Carlos (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Citibank Hall (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 8 de dezembro de 2011
Cotação: * * * 1/2

♪ Aos 70 anos, Roberto Carlos permanece entronizado no posto de cantor mais popular do Brasil. Os ingressos rapidamente esgotados para os seis shows da temporada carioca deste mês de dezembro de 2011 - dois deles agendados em ginásio - indicam que seu reinado é vitalício em determinada faixa de público. Esses súditos fiéis sabem que vão ver o mesmo show tantas vezes visto, mas pouco ou nada se importam com isso. Provavelmente pelo fato de serem tão conservadores quanto seu Rei. Tal conservadorismo reinou na primeira das seis apresentações. Com quase uma hora e meia de atraso, justificada pelo no trânsito que paralisou boa parte da cidade do Rio de Janeiro (RJ) na noite de 8 de dezembro, o cantor entrou em cena para cantar basicamente as mesmas músicas que canta há anos, com os mesmos arranjos urdidos por seu maestro Eduardo Lages. Ninguém reclama porque Roberto Carlos provoca em cena as calculadas emoções esperadas por seu público. Não há riscos. Confortavelmente instalado em sua zona autoral, o Rei mostra sabe até onde pode ir. E vai lá com a força de seu cancioneiro autoral e a beleza de voz ainda em boa forma para seus 70 anos (já há certa perda de viço, mas a afinação e a emissão continuam impecáveis). E o fato é que quase ninguém resiste a músicas como Eu te amo, te amo, te amo (canção de 1968 pontuada no refrão por um insistente "Eu também!" vindo da plateia majoritariamente feminina e de meia-idade), Desabafo (1979) Como é grande o meu amor por você (1967), entre tantas outras já definitivamente instaladas no inconsciente coletivo nacional. Com seu conjunto RC-9 (que na apresentação de 8 de dezembro de 2011 era RC-17, como ressaltou o cantor em cena), Roberto reciclou as habituais emoções. Arranhou seu violão ao cantar Detalhes (1971), soprou o leve vento soul que impulsiona Além do horizonte (1975), saiu momentaneamente da esfera autoral ao recordar a balada de 1986 Amor perfeito (reavivada constantemente por Roberto depois que a canção virou hit em micaretas e trios elétricos na voz de Cláudia Leite e cia.), saudou a mãe recentemente falecida em Lady Laura e fez sua oração de luz com Nossa Senhora, número de alta carga emocional. De novidade, se é que se pode falar em novidade em show de Roberto Carlos a essa altura, houve Pensamentos - a bela canção de 1982 que entrou no roteiro na gravação do show Emoções em Jerusalém, em 7 de setembro - e o longo discurso surrealista sobre o cachorro Axaxá que abriu O Portão. Que somente não foi maior do que a enfadonha apresentação dos músicos da banda. No (já previsível) fim, Jesus Cristo coroa a receita seguida pelo cantor em cena.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

Aos 70 anos, Roberto Carlos permanece entronizado no posto de cantor mais popular do Brasil. Os ingressos rapidamente esgotados para os seis shows da temporada carioca deste mês de dezembro de 2011 - dois deles agendados em um ginásio - indicam que seu reinado é vitalício em determinada faixa de público. Esses súditos fiéis sabem que vão ver o mesmo show tantas vezes visto, mas pouco ou nada se importam com isso. Provavelmente pelo fato de serem tão conservadores quanto seu Rei. Tal conservadorismo reinou na primeira das seis apresentações. Com quase uma hora e meia de atraso, justificada pelo nó no trânsito que paralisou boa parte da cidade do Rio de Janeiro (RJ) na noite de 8 de dezembro, o cantor entrou em cena para cantar basicamente as mesmas músicas que canta há anos, com os mesmos arranjos urdidos por seu maestro Eduardo Lajes. Ninguém reclama porque Roberto Carlos provoca em cena as calculadas emoções esperadas por seu público. Não há riscos. Confortavelmente instalado em sua zona autoral, o Rei mostra sabe até onde pode ir. E vai lá com a força de seu cancioneiro autoral - e quase ninguém resiste a músicas como Eu te Amo, te Amo, te Amo (pontuada no refrão por um insistente "Eu também!" vindo da plateia majoritariamente feminina e de meia-idade), Desabafo e Como É Grande o Meu Amor Por Você, entre tantas outras já definitivamente instaladas no inconsciente coletivo nacional - e a beleza de sua voz ainda em boa forma para seus 70 anos (já há certa perda de viço, mas a afinação e a emissão continuam impecáveis). Com seu conjunto RC-9 (que na apresentação de 8 de dezembro de 2011 era RC-17, como ressaltou o cantor em cena), Roberto reciclou as habituais emoções. Arranhou seu violão ao cantar Detalhes, soprou o leve vento soul que impulsiona Além do Horizonte, saiu momentanemente da esfera autoral ao recordar a balada Amor Perfeito (sucesso reavivado constantemente por Roberto depois que virou hit em micaretas e trios elétricos na voz de Cláudia Leite e Cia.), saudou a mãe recentemente falecida em Lady Laura e fez sua oração de luz com Nossa Senhora, número de alta carga emocional. De novidade, se é que se pode falar em novidade em show de Roberto Carlos a essa altura, houve Pensamentos - a bela canção de 1982 que entrou no roteiro na gravação do show Emoções em Jerusalém, em 7 de setembro - e o longo discurso surrealista sobre o cachorro Axaxá que abriu O Portão. Que somente não foi maior do que a enfadonha apresentação dos músicos da banda. No previsível fim, Jesus Cristo coroa a receita seguida pelo cantor em cena.