Mauro Ferreira no G1

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domingo, 5 de junho de 2016

Em duo, Grajew e Paiva revitalizam gingas de salões e terreiros em 'Bailado'

Resenha de álbum
Título: Bailado
Artistas: Daniel Grajew e Marcos Paiva
Gravadora: YB Music
Cotação: * * * * 

Bailado - álbum que marca a estreia fonográfica do duo formado pelo contrabaixista Marcos Paiva com o pianista Daniel Grajew - oferece olhar contemporâneo sobre as gingas dos salões e terreiros que, ao se influenciarem mutuamente no início do século XX, geraram a música popular brasileira de caráter urbano. Por mais que haja até uma valsa melancólica entre os nove temas instrumentais do disco (Saudade, composta por Marcos Paiva com inspiração nos sonhos mineiros que nunca envelhecem), Bailado é disco que cai no suingue que evoca o movimento musical da era de Chiquinha Gonzaga (1847 - 1935) e Ernesto Nazareth (1863 - 1964), pioneiros compositores e pianistas cariocas que ajudaram a moldar música brasileira que bebeu tanto das eruditas fontes dos salões de atmosfera europeia quanto da brejeirice sincopada dos sons negros dos terreiros. Não por acaso, ela e ele são saudados em Bailado com temas originais. O som corta-jaca da maestrina que abriu alas é evocado pelo duo em Gauche (Daniel Grajew), tema em que Grajew revitaliza o toque dos pianeiros da época. Um dos pilares da música que seria rotulada como choro, Nazareth é reverenciado na composição que abre Bailado, O último lundu de Ernesto (Marcos Paiva), tema em que lirismo e balanço se amalgamam em visão onírica dos seminais salões que davam o tom nos tempos do compositor, de cujo cancioneiro referencial o duo recria Tenebroso (1913), belo tango brasileiro - uma nomenclatura comumente usada na época para designar choros - composto com as regiões mais graves do piano. Além do olhar contemporâneo sobre esse tempo ido, Bailado se revela um disco original pela formação de piano e contrabaixo, mola que impulsiona a criação de inusual sonoridade acústica em que o piano de Grajew soa ora serelepe - como em Morro acima, morro abaixo (Marcos Paiva), misto de choro e ragtime - e o contrabaixo também pode cair no suingue, seguindo a linha das baixarias dos violões de sete cordas. Por tratar justamente de uma época em que os ritmos populares penetraram nos salões da música dita erudita, Bailado é disco justo ao reverenciar o compositor, maestro e flautista fluminense Anacleto de Medeiros (1866 - 1907), um dos primeiros a transitar com desenvoltura nos dois ambientes - o popular e o erudito - com a composição de dobrados, marchas, polcas e valsas. Da obra autoral de Anacleto, Grajew e Paiva revitalizam Arariboia, (189?) dobrado feito pelo compositor em tributo ao desbravador índio fluminense Arariboia (???? - 1589). Bailado também segue o passo impressionista do compositor francês Claude-Achille Debussy (1862 - 1918) em Choro vermelho, cujo matiz também tem o tom do jazz. E por falar na tal influência do jazz, 1x7 (Marcos Paiva) celebra um mestre, Radamés Gnattali (1906 - 1988), que soube absorver o jazz de forma brasileira, com música que transitou entre os salões e os terreiros, tal como este inusitado Bailado, disco que mostra a fina sintonia entre o piano pianeiro de Daniel Grajew e o baixo baixaria de Marcos Paiva. Sem nostalgia, o duo soube reanimar o baile que moldou toda a rica música do Brasil.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Bailado - álbum que marca a estreia fonográfica do duo formado pelo contrabaixista Marcos Paiva com o pianista Daniel Grajew - oferece olhar contemporâneo sobre as gingas dos salões e terreiros que, ao se influenciarem mutuamente no início do século XX, geraram a música popular brasileira de caráter urbano. Por mais que haja até uma valsa melancólica entre os nove temas instrumentais do disco (Saudade, composta por Marcos Paiva com inspiração nos sonhos mineiros que nunca envelhecem), Bailado é disco que cai no suingue que evoca o movimento musical da era de Chiquinha Gonzaga (1847 - 1935) e Ernesto Nazareth (1863 - 1964), pioneiros compositores e pianistas cariocas que ajudaram a moldar música brasileira que bebeu tanto das eruditas fontes dos salões de atmosfera europeia quanto da brejeirice sincopada dos sons negros dos terreiros. Não por acaso, ela e ele são saudados em Bailado com temas originais. O som corta-jaca da maestrina que abriu alas é evocado pelo duo em Gauche (Daniel Grajew), tema em que Grajew revitaliza o toque dos pianeiros da época. Um dos pilares da música que seria rotulada como choro, Nazareth é reverenciado na composição que abre Bailado, O último lundu de Ernesto (Marcos Paiva), tema em que lirismo e balanço se amalgamam em visão onírica dos seminais salões que davam o tom nos tempos do compositor, de cujo cancioneiro referencial o duo recria Tenebroso (1913), belo tango brasileiro - uma nomenclatura comumente usada na época para designar choros - composto com as regiões mais graves do piano. Além do olhar contemporâneo sobre esse tempo ido, Bailado se revela um disco original pela formação de piano e contrabaixo, mola que impulsiona a criação de inusual sonoridade acústica em que o piano de Grajew soa ora serelepe - como em Morro acima, morro abaixo (Marcos Paiva), misto de choro e ragtime - e o contrabaixo também pode cair no suingue, seguindo a linha das baixarias dos violões de sete cordas. Por tratar justamente de uma época em que os ritmos populares penetraram nos salões da música dita erudita, Bailado é disco justo ao reverenciar o compositor, maestro e flautista fluminense Anacleto de Medeiros (1866 - 1907), um dos primeiros a transitar com desenvoltura nos dois ambientes - o popular e o erudito - com a composição de dobrados, marchas, polcas e valsas. Da obra autoral de Anacleto, Grajew e Paiva revitalizam Arariboia, (189?) dobrado feito pelo compositor em tributo ao desbravador índio fluminense Arariboia (???? - 1589). Bailado também segue o passo impressionista do compositor francês Claude-Achille Debussy (1862 - 1918) em Choro vermelho, cujo matiz também tem o tom do jazz. E por falar na tal influência do jazz, 1x7 (Marcos Paiva) celebra um mestre, Radamés Gnattali (1906 - 1988), que soube absorver o jazz de forma brasileira, com música que transitou entre os salões e os terreiros, tal como este inusitado Bailado, disco que mostra a fina sintonia entre o piano pianeiro de Daniel Grajew e o baixo baixaria de Marcos Paiva. O baile foi reanimado.

Luca disse...

continuo achando que não tem mercado pra disco de música instrumental no Brasil mas, pela proposta parece ser um trabalho interessante

Steph Oliveira disse...

Este cd é um dos melhores que eu já ouvi! lindo!!!!