Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Livro 'Heróis da guitarra brasileira' perfila virtuoses nativos com pegada

Se a guitarra é uma mulher como sentenciou Erasmo Carlos no título de uma de suas músicas, letrada pelo mineiro Chico Amaral e gravada pelo Tremendão no álbum Rock'n'roll (Coqueiro Verde Records, 2009), o reduto desse instrumento associado ao rock é masculino. Tanto que, dos 75 virtuoses nacionais perfilados com maior ou menor profundidade no livro Heróis da guitarra brasileira, há apenas um nome de mulher, o da heroína paulistana Lucinha Turnbull, guitarrista que chegou a formar dupla com Rita Lee em 1973. Os autores do livro recém-editado pela editora Irmãos Vitale - os jornalistas especializados em música Leandro Souto Maior (também guitarrista, integrante do grupo carioca Fuzzcas) e Ricardo Schott - contam através de breves perfis dos heróis essa história masculina que transborda suor e testosterona e que tem suas origens lá nos longínquos anos 1930, desde antes de o rock ser rock, com ações pioneiras dos violonistas Henrique Brito (1908 - 1935) - músico carioca do Bando dos Tangarás que saiu de cena precocemente, aos 27 anos, mas que viveu o suficiente para adaptar captadores ao violão - e Aníbal Augusto Sardinha (1915 - 1955), o Garoto. Mas - como contam Souto Maior e Schott na introdução do livro - a história da guitarra brasileira se desenvolveu a partir dos anos 1940 com a invenção do pau elétrico pelos baianos Antônio Adolfo Nascimento (1920 - 1978), o Dodô, e Osmar Macedo (1923 - 1997). A partir daí, e sobretudo a partir dos anos 1960, começaram a aparecer os guitar heros brasileiros, perfilados no livro. Os maiores virtuoses têm um título de sua discografia analisado pelos autores - às vezes, o disco de um cantor em que se destaca o toque da guitarra do herói, como é o caso de Tim Maia (Polydor, 1971), álbum no qual se detecta a maestria de Paulinho Guitarra. Por seu tom enciclopédico, o livro Heróis da guitarra brasileira dá valiosa contribuição à bibliografia musical nacional porque jamais se restringe aos virtuoses mais conhecidos e aclamados popularmente, embora estabeleça hierarquias através dos títulos dos quatros capítulos. Esses - Andreas Kisser, Armandinho, Celso Blues Boy (1956 - 2012), Edgard Scandurra, Lanny Gordin, Herbert Vianna, Pepeu Gomes, Robertinho de Recife, Sérgio Dias e Victor Biglione, entre muitos outros - estão obviamente no livro, devidamente destacados. Mas outros virtuoses, talvez mais heroicos por terem feito carreira sem os benefícios da fama, também ganharam perfis e importância no livro. São nomes como Antenor Gandra (autor do solo da canção A lua e eu, gravada em 1976 pelo soulman Cassiano), Faiska, John Flavin (o guitarrista do Secos & Molhados), Gabriel O' Meara, Juninho Afram, Mario Neto e Mozart Mello, entre outros, todos conhecidos em nichos ou somente em estúdios de gravação. A única nota desafinada do livro é ter minimizado a importância de heróis mais recentes como Davi Moraes, Jr. Tostoi, Pedro Baby e Pedro Sá - guitarristas reconhecidamente fundamentais na construção da sonoridade da música brasileira contemporânea e citados de forma bem breve no livro. Sem Pedro Sá, o som da música de Caetano Veloso na fase Cê seria outro e talvez menos sedutor, por exemplo. Mas nada que tire a importância de um livro que, assim como o toque firme das guitarras de seus heróis, tem pegada.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

♪ Se a guitarra é uma mulher como sentenciou Erasmo Carlos no título de uma de suas músicas, letrada pelo mineiro Chico Amaral e gravada pelo Tremendão no álbum Rock'n'roll (Coqueiro Verde Records, 2009), o reduto desse instrumento associado ao rock é masculino. Tanto que, dos 75 virtuoses nacionais perfilados com maior ou menor profundidade no livro Heróis da guitarra brasileira, há apenas um nome de mulher, o da heroína paulistana Lucinha Turnbull, guitarrista que chegou a formar dupla com Rita Lee em 1973. Os autores do livro recém-editado pela editora Irmãos Vitale - os jornalistas especializados em música Leandro Souto Maior (também guitarrista, integrante do grupo carioca Fuzzcas) e Ricardo Schott - contam através de breves perfis dos heróis essa história masculina que transborda suor e testosterona e que tem suas origens lá nos longínquos anos 1930, desde antes de o rock ser rock, com ações pioneiras dos violonistas Henrique Brito (1908 - 1935) - músico carioca do Bando dos Tangarás que saiu de cena precocemente, aos 27 anos, mas que viveu o suficiente para adaptar captadores ao violão - e Aníbal Augusto Sardinha (1915 - 1955), o Garoto. Mas - como contam Souto Maior e Schott na introdução do livro - a história da guitarra brasileira se desenvolveu a partir dos anos 1940 com a invenção do pau elétrico pelos baianos Antônio Adolfo Nascimento (1920 - 1978), o Dodô, e Osmar Macedo (1923 - 1997). A partir daí, e sobretudo a partir dos anos 1960, começaram a aparecer os guitar heros brasileiros, perfilados no livro. Os maiores virtuoses têm um título de sua discografia analisado pelos autores - às vezes, o disco de um cantor em que se destaca o toque da guitarra do herói, como é o caso de Tim Maia (Polydor, 1971), álbum no qual se detecta a maestria de Paulinho Guitarra. Por seu tom enciclopédico, o livro Heróis da guitarra brasileira dá valiosa contribuição à bibliografia musical nacional porque jamais se restringe aos virtuoses mais conhecidos e aclamados popularmente, embora estabeleça hierarquias através dos títulos dos quatros capítulos. Esses - Andreas Kisser, Armandinho, Celso Blues Boy (1956 - 2012), Edgard Scandurra, Lanny Gordin, Herbert Vianna, Pepeu Gomes, Robertinho de Recife, Sérgio Dias e Victor Biglione, entre muitos outros - estão obviamente no livro, devidamente destacados. Mas outros virtuoses, talvez mais heroicos por terem feito carreira sem os benefícios da fama, também ganharam perfis e importância no livro. São nomes como Antenor Gandra (autor do solo da canção A lua e eu, gravada em 1976 pelo soulman Cassiano), Faiska, John Flavin (o guitarrista do Secos & Molhados), Gabriel O' Meara, Juninho Afram, Mario Neto e Mozart Mello, entre outros, todos conhecidos em nichos ou somente em estúdios de gravação. A única nota desafinada do livro é ter minimizado a importância de heróis mais recentes como Davi Moraes, Jr. Tostoi, Pedro Baby e Pedro Sá - guitarristas reconhecidamente fundamentais na construção da sonoridade da música brasileira contemporânea e citados de forma bem breve no livro. Sem Pedro Sá, o som da música de Caetano Veloso na fase Cê seria outro e talvez menos sedutor, por exemplo. Mas nada que tire a importância de um livro que, assim como o toque firme das guitarras de seus heróis, tem pegada.